O PALPITE CERTEIRO
Fora da sala de Scrimgeour, Harry já pedira o mais rápido possível um mandato à secretária do Ministro. Ele precisava descobrir se este desaparecimento tinha alguma coisa a ver com Snape. E o quanto mais rápido fizesse isso, melhor. Voltando ao gabinete, se lembrou que deveria chamar Moody para a tarefa. Em meio àquela confusão de intenso transito de pessoas que era a sessão de aurores, Harry procurou por Moody e o encontrou sentado em seu gabinete, seu olho-mágico dentro de um copo com água e a sua perna mecânica em cima da mesa. Moody resmungava algo parecido com “...aquele idiota!” e também “...isso não para de travar!” enquanto tirava e colocava o olho-mágico repetidamente.
- Moody?!
- Potter!
- Nós temos que ir a Notomday investigar o desaparecimento de Stephen Baungartem. Você leu a notícia?
- Ah! Li sim. Um caso muito normal. Mas a situação não exige uma investigação, pelo menos, não por enquanto. Ele desapareceu pelo que sabemos, ontem à noite, não? E Baungartem não é nenhum bruxo tão especial assim que mereça tanta atenção... Deve ter sido um feitiço mal feito ou...
- Snape está por trás disso. – disparou Harry. – Eu acho.
- Snape? – Moody ficara surpreso. – O que Snape iria querer com Baungartem? – ele levara o corpo para frente e apontava o dedo indicador. – Acho que você está ficando obcecado, garoto.
- Não, não estou. – disse Harry indignado. – Moody! Snape é capaz de tudo, você sabe disso. Ele é um foragido de Azkaban. O que acha que ele estaria fazendo? Bebendo água de côco numa praia paradisíaca? Não, ele está nas sombras se escondendo e vivendo de chantagens. – Harry terminava sua eloqüência num sussurro grave. – Com certeza tem o dedo dele nessa história.
- Hunf... – fungou Moody. Parecia contrafeito ao concordar com Harry. – Pode ser.
- Você vai ver que tem. – afirmou Harry veemente. Um dos memorandos que sobrevoavam as cabeças dos aurores fez uma manobra, e logo deu uma descida vertical bicando com força a testa de Harry. Ele o apanhou e o abriu. – Está pronto. Já temos o mandato de investigação. Podemos ir agora.
- Está certo. Vá buscá-lo, Potter, enquanto eu coloco minha perna.
Harry correu o mais rápido que pôde para buscar o mandato. Quando voltou, Moody já o esperava na porta da sessão de aurores. Sua bengala na mão e o olho-mágico girando na órbita. Os dois seguiram pelos elevadores e desceram até o Átrio onde aparataram para Notomday.
Ao abrir os olhos, Harry pôde notar que Notomday era mais uma cidade pequena. As ruas eram de pedras e parecia ter apenas uma rua principal. Os poucos comércios que havia estavam abertos, mas era escassa a quantidade de pessoas andando pela rua. Ninguém pareceu notar que duas pessoas apareceram do nada. Harry pegou o mandato de seu bolso e releu o endereço “Rainbow Road, 24”.
- Acho que fica fora da cidade.
- Perguntaremos a alguém, então. Vá na frente, Harry, ficarei de olho.
Harry e Moody se adiantaram. A arquitetura da cidade tinha aparência antiga. Como se tivesse parado no tempo. Por um instante fez Harry lembrar de Hogwarts. Havia eletricidade, mas os moradores optaram em conservar os antigos archotes nas paredes de pedra. Em frente a uma barbearia, um senhor muito velho, de roupas gastas, lia um livro tão velho quanto ele. Os dois exalavam cheiro de museu. Ao se aproximar, Harry pigarreou. O velho levantou a cabeça para ver de onde surgira o barulho, mas levou um susto ao avistar Moody. A imagem do bruxo realmente não era muito agradável. E pelo visto, também, ele esquecera de tentar esconder seu olho-mágico.
- Hã... por favor, senhor. – Harry deu um passo à esquerda procurando esconder Moody da visão do velho. – O senhor poderia me dizer onde fica Rainbow Road?
- Hã??? – O velho pareceu, finalmente, ter visto Harry. E ficou confuso com a surpresa.
- A Estrada Rainbow. O senhor sabe onde fica?
- Estrada Rainbow? – o velho tinha a voz esganiçada e rouca; a boca mole e enquanto falava suas bochechas frouxas balançavam ferozmente. – Ela passa pelo bosque que tem aqui atrás – e apontou com seu dedo torto para trás da cabeça. – O senhor deve seguir essa rua até o final e pegar a esquerda.
- Muito obrigado!
Harry e Moody continuaram a caminhada em direção ao final da rua. Harry arriscou dar uma olhada rápida para trás. O velho estava absorto na imagem excêntrica do bruxo. A boca mole totalmente aberta. Caminharam, o que pareceu a Harry, mais ou menos dois minutos até chegar ao final da rua. No lado direito havia uma praça e uma pequena igreja. Parecia que desabaria a qualquer instante de tão velha: caibros à vista, todos podres; pedras, madeiras quebradas e corroídas; vidros estilhaçados. Ver a Igreja lembrou Harry de um incidente que há pouco lhe ocorrera. Sentiu-se envergonhado.
- Ali. – rosnou Moody. – Vamos logo.
A rua de pedras em paralelepípedos fazia uma curva para a esquerda e, depois de uns cem metros, não havia mais pavimentação, apenas chão batido. A estrada adentrava num emaranhado de árvores altas e imponentes. O sol estava a pino e muito forte, porém, quando os dois entraram nas sombras das árvores, pareciam estar num outro mundo. Um lugar que, sem dúvida, um bruxo escolheria para viver. Era fresco, por que tinha sombras e uma brisa agradável corria por ali. Andaram por pouco tempo e logo avistaram uma cabana de dois andares e porão muito bem cuidada. Parecia ser a única moradia do lugar. Era tal, a casa de Stephen Baungartem.
Havia fumaça na chaminé e as cortinas das janelas estavam entreabertas. O que confirmava que a irmã de Baungartem ainda não fora embora. Uma bela escadaria de pedra levava à porta da frente. Os dois bruxos subiram, e tocaram a campainha. Houve um movimento rápido atrás da porta e um baque seco de algo pesado caindo no chão. A porta se escancarou.
Uma mulher de cabelos castanhos e compridos apareceu na porta, com os olhos muito escuros e arregalados. Tinha fortes olheiras. Decerto não dormira à noite.
- Manuelles Baungartem? – Perguntou Harry, com o documento oficial do Ministério nas mãos. – Boa tarde! Somos do Ministério da Magia e viemos investigar o desaparecimento de...
- Você é Harry Potter? – interrompeu a bruxa. Olhava sem cerimônia para a cicatriz na testa de Harry.
- Hã... Sou sim. E este é Alastor Moody. Somos aurores. Poderíamos...
- Entrem, por favor. – apressou-se a mulher. E deu espaço para que os dois passassem.
A casa por dentro era muito aconchegante e agradável. As cores que predominavam eram todas em tons pastéis. E estava tudo em ordem, nenhum sinal de que houvera alguma luta de resistência. A mulher ofereceu um sofá para que eles sentassem, mas só Harry aceitou. Moody preferiu continuar de pé. Sentando-se na poltrona em frente a Harry, a senhora Baungartem esfregava as mãos, muito nervosa.
- A senhora poderia nos relatar o que aconteceu ontem à noite?
Manuelles respirou fundo antes de começar a falar.
- Ontem, recebi uma coruja do meu irmão me convidando para vir aqui à noite para tomar chá. Sabe, somos muito amigos, gostamos de conversar.
- A que horas você recebeu este convite?
- Devia ser umas quatro horas da tarde, se eu não me engano. Quando vim para cá já eram oito da noite.
- E como se encontrava a casa quando chegou aqui? – perguntou Moody.
- Bem... Normal. Ou quase. – ela pareceu confusa. – O gato do meu irmão, Eugênio – ela deu um pequeno sorriso encabulado -, é como se chama, miava desesperado chamando minha atenção. Eu procurava meu irmão por toda a casa, estava assustada, não queria dar bola pra um gato mimado. Mas até que, finalmente, eu notei que o gato estava com um comportamento estranho. Ele miava e quando olhava para ele, ele corria para o porão. Resolvi segui-lo. Lá dentro ele foi direto para baixo da escada. Ah! Como fui tola. Havia um alçapão em baixo da escada e eu não tinha visto.
- Você tinha conhecimento deste alçapão? – quis saber Moody.
- Não, não tinha. – lamentou-se ela. – Desci o alçapão esperando encontrar meu irmão. Mas só encontrei uma sala subterrânea muito suja. Foi daí então que eu senti falta...
- Falta...? – disse Harry. – Do que a senhora sentiu falta? – Perguntou Harry, ansioso.
- Meu irmão tinha muito orgulho de um livro. Um livro que eu nunca soube como ele conseguira. Ele era grande com capa de couro preto e letras em ouro branco. Ele era lacrado com ouro branco também.
- Um livro? O que tinha neste livro?
- Eu não sei. Nunca li. O livro só abria através de um encantamento muito antigo, só meu irmão sabia. Me lembro que ele dizia: “Este livro revela todos os segredos de uso e conta todas as maravilhas que aquela Arte é capaz de fazer.” Não tenho idéia de que Arte é esta de que ele falava. – terminou ela pensativa.
- Não seria, talvez, um objeto? – arriscou Harry.
- É... Poderia, eu acho. Sempre tive a maior curiosidade quanto aquele livro, mas ele não me deixava ver o que tinha dentro. Falava que quanto menos pessoas soubessem da existência dele, melhor. Então, quando eu cheguei naquela sala subterrânea encontrei um cofre aberto e vazio. Acho que ele guardava o livro lá.
- Moody? – Harry virou-se para ele. No mesmo instante, o olho-mágico girou e mirou para baixo.
- Sim. Tem um cofre. Não parece ter sido arrombado. Seu irmão tinha algum envolvimento com Artes das Trevas?
- Minha nossa! Não! Meu irmão sempre foi um bom bruxo. Meio excêntrico, mas um bom bruxo. Vocês vão encontrá-lo, não vão? Estou tão preocupada. – falou a bruxa às lágrimas.
- Faremos o possível para encontrá-lo. – Harry se levantou. – Quaisquer notícias que recebermos avisaremos a senhora. E se lembrar de mais algum fato importante, por favor, nos procure.
- Sim, sim. – ela se levantou também. – Ah! Que cabeça a minha! Esqueci-me de oferecer um chá. Vocês aceitam?
- Agradecemos, mas precisamos ir. – disse Moody. – Temos muito trabalho a fazer.
- Muito obrigado, senhora Baungartem! – agradeceu Harry.
- Imagine! Eu que agradeço por Harry Potter estar trabalhando no caso do meu irmão. – disse ela empertigada.
Harry ficou sem jeito. Sentia o olho de Moody na sua nuca e preferiu não dizer mais nada. Mas por dentro um turbilhão irrefreável de euforia se espalhava pelo seu corpo. Ele estava certo. Snape estava por trás disso. Porém, agora, havia algo mais para se preocupar. O suposto livro “que revela todos os segredos de uso e conta todas as maravilhas que aquela Arte é capaz de fazer”.
O Espelho de Ojesed. Só podia ser.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!