O ZELADOR DE HOGWARTS
As Torres de astronomia ao alto do castelo desenhavam um formato imperial, o lago bem próximo dali nunca estivera tão calmo, nenhum animal aquático parecia ir à superfície.
Em tempos de férias de verão Hogwarts parecia inabitável os irritantes gritos e passos pelos corredores faziam muita falta. Paredes de pedras e os velhos quadros falantes ainda eram bem cuidados por todo o colégio. Escadarias mexiam de um lado para o outro, velas malmente acessas deixavam o lugar ainda mais nostálgico.
“Argo, esse é o momento certo para que faça o trabalho, aproveite que todos estão na festa do Sr. Potter!
Ass: Você sabe!
PS: Não deixe que lhe peguem!”
Os olhos grandes e esbugalhados do velho Filch se apertavam ao ler o pedaço de pergaminho recém tirado dos pés de uma coruja de igreja, que a pouco pousara em seu ombro.
O zelador fazia sua vigília noturna pelo terceiro andar seguido por sua gata, que raramente se pronunciava em um miado.
- Madame Nora, temos um grande trabalho... – Gaguejou ele embolando o pergaminho no bolso.
Suas roupas eram de se comparar a um mendigo, uma grande capa marrom cobria a velha e rasgada camisa amarelada, a qual já fora branca nos tempos de meninice. O homem esquelético seguiu caminhando pelo pátio mancando, suas expressões não pareciam ficar diferentes, mas seu coração acelerava a cada passo.
- Não sou nenhum aluno do 1º ano! Da próxima vez...
- Ah! Filch, larga disso, esse castelo é tão grande e não tem ninguém para me distrair...
- Vá caçar corujas... mas se te pegar de novo tentando me assustar, ah, Pirraça, vai ter que se mudar para outra escola! – Exclamou Filch passando por dentro do poltergeist que usava o crânio de um javali no lugar da cabeça. Madame Nora arrebitou o focinho e fez o mesmo.
- Essa gata é de dar medo! – Disse Pirraça adentrando uma das paredes.
Filch dobrou o último corredor e atingiu o interior de Hogwarts, seu coração parecia que ia sair pela boca, devia ser por isso que ele tanto torrava os dentes. Suas calças ameaçavam cair a todo minuto, o que fazia o homem tropeçar na própria bainha. A bengala que em dias de aula ele adorava bater firme ao chão, agora era levada hasteada em sua mão.
Além de Pirraça, ninguém mais cruzara o caminho de Filch até chegar às masmorras, Nora arfava, afinal corria para acompanhar os passos rápidos e longos do dono.
- É aqui! Se não estiver aqui, só no quarto dele! – Exclamou Filch como se Nora fosse alguém que pudesse compreender-lhe.
A mão ossuda e extremamente suja apanhou um molho de chaves da cintura, mirou varias vezes algumas prateadas ou douradas, mas só conseguiu rodar a fechadura com uma miúda no fim do molho. Abriu a porta que dava acesso a sala onde caldeirões e balanças velhas eram amontoados ao centro. As cadeiras estavam enfileiradas seguindo até uma pequena mesa rústica mais a frente.
Filch adentrou rapidamente o local, esbarrou em duas carteiras e direcionou-se ao velho armário na quina da sala. Os livros doados por antigos alunos preenchiam a maioria do espaço, mas ainda tinham algumas poções penduradas a uma caixa de aço mais escondida.
Madame Nora desaprovava o que o dono fazia apenas usando o olhar, o que cortava o coração de Filch, mas ele continuou mexendo e se esforçando para ler os minúsculos nomes nos vasinhos.
- Amor... Ten... cia... Não! – Colocou o vidro encima da mesa. – Mort...o... Vi.. vo! – Colocou ao lado do anterior.
Filch continuou ali por mais dez minutos, madame Nora rodava seus pés incontrolavelmente e ele seguia espiando as letrinhas nos vidros. Até que um pequeno vidro transparente com um líquido dourado no seu interior, o fez apertar ainda mais o olhar e gritar “Achei!”.
O mais depressa que podia, ele colocava as outras poções nos lugares que estavam antes, se certificou que tudo estava do jeito que encontrara, concertou as duas carteiras, saiu da sala e a trancou em seguida.
Uma expressão de alivio e alegria agora era bastante decifrável em sua face.
- Filch! – Uma mulher gorducha e baixinha usando um roupão verde-limão acabara com a felicidade do homem ao interceptá-lo no meio do corredor da Grifinoria.
- Sra. Sprout, er... não estava em lugar nenhum... estava nas masmorras... não.. não, estava no 3º, pergunte ao Pirra...
- O que houve com você, Filch? Comeu uma amora estragada?! – Interrogou a professora estranhando o nervosismo do zelador. – Só quero que vá ao meu quarto tirar aqueles diabretes, não há feitiço que parem aqueles bichos... pediria ao professor Lupin, mas com a festa da nova casa do Sr. Potter, ele não chegara tão cedo.
- Era isso?! – Filch dera um suspiro de alivio. – A sim, agora mesmo! Esses diabretes deviam ser extintos!
Sprout, Filch e Nora desceram as escadas conversando sobre os pequenos animaizinhos que irritavam muito os professores no verão.
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