INFLUÊNCIAS DA NATUREZA
Acabara de chegar o primeiro dia de setembro.
Um vento agradável e uniforme passava pelos campos do vilarejo, carregando folhas e pequenas pétalas das rosas que acabavam de desabrochar. O bosque, como de costume nessas épocas, era coberto por um tapete de folhas cor bronze, camuflando vários pequenos animais nativos. Os pássaros raramente paravam de exibir seus talentos para os arranjos musicais, passavam grande parte do dia sonorizando todo o bosque.
Harry Potter, vestido com roupas trouxas, caminhava ao lado de Letícia pelos terrenos de sua propriedade. Ela estava encantadora. Usava sandálias, um vestido branco e um fino diadema de prata da testa. Os cabelos dourados esvoaçavam.
- Você viu? – perguntou Letícia – Alguns garotos por aí estavam aprontando com os turistas! – abafou um risinho – Estavam usando produtos das Gemialidades Weasley! Era um Enrolador de Língua!
- Coitados! – o garoto rira, mas não estava muito animado – Mas não seria um caso para o Departamento para o Uso Indevido de Artefatos Mágicos?
- Ah, não, não! O efeito não durou muito. Acho que o produto estava com defeito. Durou apenas alguns minutos, mas foi bastante engraçado! – a garota sorriu – Você não parece muito animado... Não gosta de sair comigo?
- É claro que gosto, quem não gostaria? – questionou ele – Não é por isso. Mesmo tendo passado quase um mês do incidente em Newham, eu ainda não me recuperei. Mas deixe pra lá, não falaremos disso.
- Ah, Harry. Você não quer falar sobre isso comigo? Quem sabe eu possa ajudar – a sua mão tocava suavemente o braço de Harry, que estremeceu.
- Ah, não, Letícia. Não me sinto muito bem com isso. Olhe! Já tinha visto esse lugar? Maravilhoso, não?
- É realmente lindo – Letícia contemplava o belo campo que Harry apontara. Vários carvalhos antigos estavam em um canto ou outro. Alguns pássaros cantavam, e no Oeste, por detrás de algumas montanhas, o sol estava se pondo. Havia algumas nuvens e o espetáculo do pôr-do-sol era incrível: por baixo, as nuvens eram de um laranja vivo, na parte de cima eram brancas como a neve. O céu era alaranjado, alguns raios dourados fulguravam, o que fazia o riacho próximo reluzir – Nunca tinha visto esse lugar. Perto da minha casa há um lugar belo também. Tem uma cachoeira, e nadamos junto com os peixes! É delicioso! Qualquer dia desses você tem que ir comigo lá.
- Irei, com certeza – A face de Harry corou - Mas esse lugar é incrível. Fico aqui às vezes, pensando. Me faz lembrar de Hogwarts. – Harry agora dera uma pausa para pensar que anos antes, nesse exato momento, ele estava em algum dos carros no trem do Expresso de Hogwarts, rumo aos anos letivos mais divertidos que vivera. - Lembro das tardes de verão que ficávamos embaixo de alguma árvore em frente ao lago. Mesmo que fosse para estudar, lá pelo menos eu relaxava. É estranho... Quando eu era mais novo e quando Dumbledore estava vivo – deu uma pausa novamente – eu me sentia mais seguro, ou pensava que realizar meus objetivos era uma tarefa mais fácil. Ele agora é apenas um quadro, muito mais enigmático... Ele não é o mesmo de antes.
- É, você me falou dele. Ele devia ser incrível, não é? Eu digo... Devia ser um grande bruxo.
- Dumbledore é tudo o que eu queria ser, ou talvez até mais. Ele devia ter tantas outras qualidades que eu não presenciei. Como eu queria me preocupar apenas com provas, relatórios, com o Filch, o zelador de Hogwarts, com as travessuras do Pirraça... Com o quadribol.
- É – os dois se sentaram numa pedra, e Letícia pousou sua mão na perna de Harry – Espero que eu consiga te alegrar um pouco, Harry, e que eu consiga fazer você pensar apenas em coisas boas!
E então ela correu. Foi uma cena maravilhosa, digna de muitos sonhos bons. O vento batia em seu rosto, seus cabelos esvoaçavam, o vestido branco ondulava, e sua graciosidade e alegria eram contagiantes. Ela seguia rindo, rodando, descendo a suave colina. Harry olhou, e correu também, gargalhando. Por um tempo, mesmo que por pouco tempo, sentiu-se feliz e leve novamente.
Conseguiu alcançá-la, com delicadeza segurou seu braço e deixaram-se cair. Ficaram ali, na beira do rio, olhando para o céu, que escurecia e começava a revelar pontos brilhantes, os quais iluminariam a noite.
- Harry?
- Sim, Letícia.
- Você estava assustado?
- Quando?
- Em Newham, na Igreja que você falou. Você só falou que foi perigoso.
- Não, acho que eu não estava assustado. Eu estava com ódio, um ódio que crescia dentro de mim – Harry apertou com força um tufo de grama – Muito rancor estava guardado dentro de mim e tudo explodiu em segundos... Não foi uma boa experiência. E o problema é que não terminou. E parece que vai demorar para terminar.
- Porque?
- Eu não peguei o Snape. Ele conseguiu fugir.
- E como isso aconteceu? Você é tão forte – Harry sorriu ao escutar isso.
- Eu vou contar – disse Harry – Afinal de contas, eu não consigo esconder nada de você.
E assim Harry contou tudo, desde o sonho até o St. Mungus, onde levou a freira ferida. O Ministério não o havia condenado , uma vez que estava apenas fazendo o seu trabalho, mas deu uma dura advertência em sua atitude precipitada, porque ele poderia ter causado alguma morte ou provocar um colapso na sociedade bruxa. Com sorte, conseguiram novamente abafar o caso, mas eles não sabiam até quando conseguiriam fazê-lo. Arthur havia dado outro sermão em Harry, falando por horas o que ele havia feito e como isso era perigoso. Lembrou o garoto do que ele havia falado, de se aconselhar e não agir sozinho, ao que Harry apenas pediu desculpas.
Molly estava assustada e não desgrudava os olhos de Harry, mesmo Arthur achando que ele não faria de novo, não depois de tudo que aconteceu. Rony e Hermione também ficaram de olho em Harry. Pelo menos o garoto não estava tão frio, mas ainda assim evitava falar de Snape e de seus planos, ainda se sentia culpado pela freira.
Os dois continuavam deitados, agora completamente cobertos pelo manto azul escuro da noite e Harry falava, a quem Letícia escutava atentamente.
- Harry, você tem que se orgulhar por isso! – Letícia virou sua linda face para fixar o rosto de Harry. – Você é corajoso, nem todos fariam isso, você é realmente...
- Sim? – Perguntou ele, encarando os olhos extremamente belos da garota.
- ... Perfeito! - Letícia deitou-se de lado e usou seus finos e delicados dedos para acariciar os cabelos do garoto. Harry sentiu um frio na barriga, o mesmo animal que habitara ali anos antes parecia despertar, um leve arrepio se manifestou por toda extensão de seu corpo – Qualquer menina seria a garota mais sortuda do mundo... Ao seu lado, Harry!
Ambos abriram um pequeno sorriso sincero, Harry não sabia decifrar o que estava sentindo, não era a mesma coisa que sentia por Gina ou o que pensou sentir por Cho. Era algo novo e bastante intrigante ou maravilhoso, essa seria a palavra.
- Valeu... – Suas palavras eram miúdas e tensas, encarava os olhos da menina a menos de dez centímetros dos seus.
Os lábios de Harry secavam-se mais rápido que o normal, ao menos pensara ele. Uma fina neblina noturna deixava a grama cada vez mais úmida, e a lua prateada deixava a noite mais bela. Corujas pareciam observar de longe os dois ali na beira do rio, deitados na noite.
- Harry... – Disse Letícia baixinho depois do que pareceram horas de silêncio e observações. – Não sei se você já está pronto para isso – engoliu em seco.
O rosto da menina se aproximava vagarosamente, as entranhas de Harry estavam confusas, o bicho que agora dominava sua barriga não parava de se contorcer.
O lábio do garoto estava paralisado, seus olhos estavam vidrados nos olhos da garota e ele percebia seus lábios se aproximarem... Quase lá... Já podia quase sentir.
Até que uma forte rajada de vento apareceu, fazendo rodar as folhas. Grossas gotas d'água despencavam. O céu havia fechado e eles nem haviam percebido.
Letícia e Harry acordaram do transe e se levantaram correndo para debaixo de uma nogueira, se protegendo da chuva.
- Não vimos o tempo passar! – Sorriu Letícia enxugando o rosto com a mão. Seu vestido branco estava levemente transparente.
- É, foi ótimo passar o dia com você!
- Teremos mais chances de sairmos juntos, não?
- É claro! – Harry segurou firme na mão da garota. – Sua mãe já deve estar preocupada...
- Aparatamos de novo? – Letícia alegrou-se ainda mais. – Algum dia vai me ensinar isso, Harry!
E os dois deixaram a nogueira, que serviria para pássaros se abrigarem da chuva.
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