Capítulo 2



CAPÍTULO 2


Aos poucos, sua mente foi se tornando consciente. Percebeu que o sol já havia nascido, pois mesmo com as pálpebras fechadas, podia detectar a luz que preenchia o ambiente em que estava. Manteve os olhos fechados por alguns segundos ainda, e enquanto isso imagens começaram a brotar em sua mente.

Se via no escritório de Tidwell, acertando a sua contratação pelo Ministério Britânico. Jack pede licença e se levanta. Um barulho de porta sendo aberta. Em seguida, o som de algo, ou melhor, alguém, caindo no chão.
A voz de Jack se faz ouvir, seguida por uma voz feminina. A última voz lhe parece familiar. Silêncio. Resolve ver o que está acontecendo, saber quem é a dona da voz, olha em direção a porta.

“Merlin! É ela. É Ginny”. Sabia que ao decidir voltar para a Inglaterra a encontraria, mas não imaginava que seria tão rápido, logo no seu primeiro dia de retorno. Não pode deixar de reparar em como ela estava linda, “Ela sempre foi linda”. A expressão do rosto de Ginny, indicava surpresa, espanto. Parecia que ela estava vendo uma assombração.

Depois de segundos de silêncio, o chefe dos aurores perguntou a ela se havia algum problema. De início a moça gaguejou, o que Harry achou extremamente adorável, depois, já recuperada do susto, em seu rosto se imprimiu uma expressão de... desprezo.

Ela desviou o olhar, se encaminhou até a mesa e jogou os papéis em cima desta. Outra vez Tidwell fez uma pergunta que soou, mais como uma afirmação. Se eles se conheciam. Imediatamente Harry respondeu. É claro que a conhecia, e muito bem. Se dirigiu a garota, perguntando como ela estava.

A palavras que ela proferiu em seguida estavam carregadas de sarcasmo e de forçada cortesia, o que o deixou extremamente sem graça. “O que esperava? Que ela chorasse e corresse para seus braços, agradecendo por você ter voltado?”, disse a voz da sua consciência. É claro que não! A conhecia bem demais pra esperar que ela fizesse tal coisa.

Então, ela fez menção de se retirar. Antes de ele conseguir freiar o impulso, pediu para que Ginny o esperasse, pois também estava de saída. Ela estacou segurando a porta que já estava meio aberta.

No que mais parecia uma ordem, Jack Tidwell perguntou se Ginny não se importava de acompanhá-lo. Harry percebeu que a garota travava uma batalha mental sobre o que responder. Por fim, concordou, e após se despedir de Tidwell, caminhou em direção a porta. Segurou a maçaneta e fez um sinal silencioso para que a moça passasse primeiro.

Caminhavam juntos em silêncio, até que ele se dirigiu a ela tentando iniciar uma conversa. A maneira como ela o respondeu, o entristeceu, um nó se formou na sua garganta e ele se calou.

Ao chegarem ao átrio do Ministério, à guisa de despedida ela disse que dali ele poderia seguir sozinho. Ele agradeceu, e novamente obteve uma reposta sarcástica. Ginny deu-lhe as costas e novamente um impulso comandou seus atos. Segurou o braço da garota e fez com que ela voltasse a encará-lo.

Dessa vez conseguiu segurar o impulso, que queria impeli-lo a beijá-la na hora em que seus olhares se encontraram. Imagem dos momentos em que estiveram juntos foram despertadas e agora inundavam sua mente.
A mão fria com que segurava o braço da moça, se aqueceu com o calor que emanava do corpo dela. A encarou, e novamente o pensamento “Merlin! Como ela está linda”, brotou em sua mente.

Ao mesmo tempo que parecia, ela não parecia com a Ginny que há sete anos atrás ele deixou na Inglaterra. Os olhos castanhos, o nariz delicado, a boca vermelha de lábios cheios e o queixo bem desenhado ainda estavam lá, emoldurados pelos cabelos rubros e levemente anelados, porém já não havia a menina, ela dera lugar a uma bela mulher, de feição elegante, determinada e orgulhosa.

Automaticamente, foi aproximando os rostos. Sem que percebe-se, passou a olhar fixamente para a boca cor de carmim da ruiva. Sua respiração passa a ser acelerada, ofegante. Seus poros suam, deixando as mãos, a parte superior da fronte, a nuca e suas costas levemente úmidas. E calor, muito calor é o que ele sente.

A boca dela parece chamar a sua. Ele morde os lábios numa forma de conter a vontade de tomá-los. Com receio passa a aproximar seu corpo do corpo da ruiva. Se já sentia calor, agora sente ainda mais.

A vê fechando os olhos. E assim, a imagem dela se torna mais perfeita. A mão que segurava o braço da moça, vai se movendo para baixo lentamente até tocar a cintura fina de Ginny. A outra mão vai repousar do outro lado, e como Ginny não reage a isso, ele se atreve a enlaçar a cintura da moça com seus braços.

O encaixe entre seus braços fortes e a cintura fina dela, é perfeito, como se tivessem sido feitos para isso. Agora, o seu rosto está mais próximo do dela, ele sente a respiração acelerada e quente dela, incidindo em sua boca e seu queixo.

A vontade de beijá-la, aumenta, porém o receio que tinha em relação a reação que ela poderia ter, o impedem de fazê-lo. Se concentrando para impedir que seus lábios buscassem os dela, vai lentamente desviando o rosto até posicioná-lo próximo a curva do pescoço da ruiva.
Sobe os braços lentamente, até que alcancem o meio das costas da ruiva, e aperta o abraço. É capaz de sentir as batidas do coração dela, em descompasso com as suas, porém tão acelerados e intensas quanto.

Repousou seu rosto na curva do pescoço a sua frente, e então passa a sentir o aroma tão característico dela, o aroma floral que desde o sexto ano o delicia. Sua respiração desacelera, pois ele inspira profundamente, afim de aspirar mais o perfume dela. “Merlin! Como eu senti falta desse cheiro, faz tanto tempo”, o que era pra ser um pensamento, é proferido pela sua boca sem que ele perceba.

Imediaamente, ele sente o corpo dela se retesar. E após alguns instantes, ela se afasta bruscamente do abraço. O calor confortante que sentia enquanto a tinha nos braços, é substituído por um frio congelante, assim que ele a olha e observa o seu rosto e suas orelhas tão vermelhos quanto os seus cabelos, um indicativo de raiva tão característica dos Weasleys, e olhar mortal que ela lhe lança.

A sensação de frio se intensifica, tornando-se quase insurpotável quando ela dispara:

-Espero que esteja satisfeito com os serviços do Ministério da Magia Britânico, Senhor. Volte sempre que precisar, só não lhe garanto que serei eu, o funcionário que irá lhe atender. Passe bem, um bom dia.

E logo em seguida se retira andando elegantemente, emanando poder, o que ele não pode deixar de achar irresistivelmente charmoso. “Como ela fica linda nervosa!”, com esse pensamento suspira profundamente, ao mesmo tempo que passa a mão pelos cabelos negros, os deixando mais bagunçados. Um sorriso triste e cansado surge em seus lábios.

Se dirigiu para a saída do Ministério, por onde chegou à Londres trouxa. Acenou para um táxi e informou ao motorista seu destino, o endereço do Caldeirão Furado.

Ainda deitado na cama do quarto que alugara no dia anterior, abriu os olhos, piscou algumas vezes até se acostumar a luz. Levantou o tronco, e tateou o criado mudo que ficava do lado esquerdo da cama, a procura dos óculos. Ao encontrá-los, os encaixou no rosto e se espreguiçou, para depois sair da cama e se encaminhar ao banheiro para tomar um banho.

No chuveiro, uma voz proferiu em sua mente “Você realmente pensava que tudo seria menos complicado, não é?”, aumentando o sarcasmo da pergunta ao soltar uma risadinha zombeteira.
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Após tomar o café resolveu andar pelo Beco. Tinha chegado ao Caldeirão Furado no dia anterior ainda pela manhã, só que não tinha ânimo nenhum para um passeio. Ao chegar, cumprimentou Tom, que ainda era atendente da bar, alugou um quarto e pediu uma refeição.

Depois que terminou de comer, subiu para o quarto, tomou um banho e desabou na cama. A viagem de volta tinha sido realmente cansativa e os acontecimentos daquela manhã esgotaram o resto de suas energias.

Caminhava calma e distraidamente quando de repente se chocou com alguém. A pessoa se desequilibrou, deixou as sacolas que carregava caírem, e antes que fosse de encontro ao chão, Harry a segurou.

Antes de poder sequer abrir a boca para se desculpar, o moreno ouviu uma voz impaciente se dirigindo a ele:

-Minha Morgana! O Sr. não olha por onde anda não? Quase me levou ao chão. – ao reparar que as sacolas que antes segurava, agora estavam no chão, a criatura se desesperou e começou a recolher o conteúdo que havia escapado dos pacotes, livros – Meus livros! Dá próxima vez, vê se olha por onde anda, para evitar causar danos ao patrimônio dos outros.

Harry não agüentou e começou a gargalhar. Só podia ser. A pessoa irritada a sua frente era uma bela mulher de olhos castanhos, cabelos lanzudos da mesma cor e feições delicadas.

O moreno se surpreendeu ao reparar que o abdômen da moça estava protuberante, indicando uma gravidez já em estado avançada, isso o deixou realmente feliz.

Ao ouvir a gargalhada de Harry, a mulher se irritou ainda mais:
-Francamente! O Sr. ainda tem coragem de rir de mim! Isso é um absurdo...
-Se acalme Hermione, isso pode fazer mal para o bebê.

As últimas palavras tiveram o efeito de calar a mulher, que pela primeira vez encarou a pessoa em que tinha trombado. Os olhos se arregalaram, ela largou as sacolas novamente no chão e sua boca abria e fechava como a de um peixe buscando ar no seco.

Os olhos brilharam, marejados por lágrimas. Ela sorriu e se jogou em cima do homem o abraçando. Em meio a risos e choro, ela segurou o rosto do rapaz entre as duas mãos e disse com a voz embargada:

-Harry! Harry! Eu não acredito, é mesmo você?

-Em carne, osso, cabelo e cicatriz – falou, emocionado.

-Merlin! Que saudade de você, seu teimoso! – disse a garota, e em seguida o abraçou novamente.

-Eu também estava com saudade de você.

-Vem! Vamos sentar em algum lugar para podermos conversar. Ali naquele restaurante – disse Hermione pegando a mão de Harry o arrastando em direção ao lugar – É bom que seja num restaurante, por que ai enquanto agente conversa, eu faço uma boquinha, estou morrendo de fome.

Harry riu.

-A convivência com Rony esta lhe influenciando. Quer dizer, você ainda está com o Ron, não está? – perguntou o moreno de maneira ansiosa.
-Eu não devia nem lhe responder Harry Potter... – disse a morena, impaciente – É claro que eu estou com o Ron. Você acha que eu deixaria outra pessoa fazer isso comigo? – disse ela passando a mão na barriga, enquanto já entravam no restaurante.

-É claro que não! Foi uma pergunta realmente idiota, desculpe – respondeu sem graça.

-Tudo bem, está desculpado – disse Hermione se divertindo com a falta de jeito do amigo.

Escolheram uma mesa próximo a janela. Harry gentilmente afastou uma das cadeiras para trás, oferecendo-a a Hermione, que sorriu e se sentou. Harry se sentou em uma cadeira em frente a morena. Fizeram o pedido e iniciaram a conversa:

-E então? Me conte as novidades, Mione.

-Nada disso, conte-me você as novidades.

-Mas eu não tenho nada de novo pra contar.

-Como não? Você passou sete anos fora e vem me dizer que não tem nada de interessante pra contar?! Conte o que você fez, o que aprendeu, quem conheceu, tudo. – dizendo isso Mione, colocou os cotovelos na mesa e apoiou o queixo nas mãos, olhando para Harry com expectativa.

-Bom, como você sabe eu fiz um teste para entrar numa Academia de Magia que é especializada em estudo contra as Artes das Trevas, fui pra uma ilha que fica ao Norte da Escócia fiquei lá por quatro anos, os outros três anos passei viajando, conhecendo outras escolas, China, Cuzco, Egito, Himalaia, todas em lugares isolados, invisíveis aos olhos dos trouxas. A única coisa que fazia era estudar. Não fiz muitos amigos, estava sempre me mudando... – foi interrompido por uma risadinha de Hermione.

-Você não vai querer me convencer que você que nunca se importou muito com estudos enquanto estávamos em Hogwarts, virou um homem ávido por conhecimento?

-Era a única coisa que eu tinha pra fazer. E por incrível que pareça foi o que eu fiz. Eu tinha um objetivo ao decidir ir para esses lugares...

-Se afastar da gente...

-Mione, é claro que não foi pra isso. Eu fui pra tentar descobrir o que era aquele maldito véu, tentar descobrir se havia um jeito de trazer Sirius de volta – disse, em um fôlego só.

-Harry, você sabia que não tinha como. Dumbledore disse isso pra você no quinto ano – disse a morena exasperada.

-Eu sei o que Dumbledore disse – ao falar o nome do professor, sentiu um aperto no peito – Mas Lupin, que foi quem me indicou a prova, disse que eles conheciam muito sobre Magia Antiga, que se eu quisesse realmente fazer isso, saber mais sobre o véu, era lá que eu devia começar, não que ele tenha concordado com minha idéia de ir, é claro.

-E você descobriu alguma coisa?

-Eu li muita coisa, os professores das escolas em que estive, me disseram muita coisa, mas nos fins da contas, nada de conclusivo, nada que indique que haja uma chance de recuperar o que, ou quem, atravessou o véu.

-Sinto muito.

-Tudo bem. Eu já consegui superar a frustração. Mas a minha viagem foi proveitosa, aprendi muita coisa. Bibliotecas imensas, com volumes que não existem em nenhuma outra biblioteca do mudo. Livros de magos egipícios, gregos, persas, manuscritos de Merlin.

-Que empolgante, isso é realmente fantástico, com certeza, eu iria adorar – disse a morena com os olhos brilhando de empolgação.

-Tenho certeza que sim – devolveu Harry, com um sorriso –Agora você! Já falei muito de mim, o que tem feito?

-Além de estar casada com Ron e grávida?

-Uhum...

-Me formei na Academia de Medibruxaria há quatro anos e agora trabalho no St. Mungos.

-Quando você e Ron se casaram?

-Há um ano e meio. O tempo mais feliz da minha vida – disse Mione com um sorriso – Mas não deixe Ron saber que eu disse isso, o ego dele não precisa ser mais alimentado.

Harry gargalhou.

-Tudo bem. E ele? O que anda fazendo? Trabalhando como auror, é claro, quando fui embora tínhamos terminado o primeiro ano de curso.

-Nada disso! Você não vai acreditar... nem eu acredito. Depois que... bem, depois que...

-Fui embora – completou.

-É! Depois que você se foi, ele largou a Academia de Aurores e resolveu assinar contrato com um time pequeno de quadribol. Com o fim da Guerra, os campeonatos voltaram a acontecer e o esporte virou a sensação do Mundo Bruxo. Confesso, que não aceitei muito bem a idéia dele...

-Posso imaginar. Largar um emprego garantido no Ministério para se aventurar no quadribol. Você deve ter discutido bastante com ele – disse Harry divertido, interrompendo o discurso da amiga.

-Eu não discuti com ele! – respondeu a morena, ofendida – só tentei mostrar a ele, que essa talvez não fosse uma boa escolha, oras!

-Posso imaginar, você tentando convencê-lo... aos gritos – ao terminar de dizer isso Harry caiu na gargalhada.

-Francamente, Harry! Se você continuar me interrompendo eu não falo mais nada.

O moreno fez um gesto, simulando que estava fechando a boca com um zíper. Se segurando para não rir.

-Continuando... – disse Mione lançando um olhar mortal ao rapaz – ele jogou durante um ano nesse time, que era da segunda divisão. Depois um outro time, também pequeno, mas da primeira divisão o contratou. Nesse ele jogou por dois anos, até que foi contratado pelo Chuddley Cannons, onde joga atualmente – terminou, o relato com um sorriso.

Harry também sorriu e disse:

-Ele deve estar muito feliz, sempre foi fanático pelo Chuddley.

-Pois é! Ele adora mesmo. Inclusive está viajando com o time, foram jogar duas partidas nos Estados Unidos, estão voltando amanhã.

-Que ótimo! Gostaria de revê-lo, também estou com saudades daquele ruivo, mas não diga isso pra ele, como você mesma disse, o ego dele não precisa ser alimentado – disse em tom de brincadeira – Será que podemos marcar alguma coisa? Um jantar, um almoço, sei lá, qualquer coisa pra reunir o trio novamente. O que acha? – perguntou sorrindo.

Porém, o sorriso morreu, ao perceber que Hermione parecia estar desconfortável.

-Mione, você está se sentindo bem?

A amiga deu um sorriso amarelo, sua face ficou levemente tingida de vermelho, mostrando que estava envergonhada, e apertava as mãos, mostrando nervosismo.

-Mione?

Hermione pigarreou antes de falar:

-É... Harry. Bem... é que eu... bem, não acho que seja uma... bem, boa idéia, pelo menos não por enquanto – disse a morena, fazendo uma careta – Você sabe que Rony é um tantinho assim... – fez um gesto com o indicador e o polegar – rancoroso... não essa palavra faz ele parecer um velho amargo – Harry riu pelo nariz, enquanto ela procurava uma palavra melhor

– Teimoso, isso, essa palavra se encaixa melhor – disse a morena em um tom baixo, como se dizendo aquilo só pra ela mesma e voltou a falar num tom mais alto – Bom, Rony é um tantinho teimoso. Quando você foi embora ele se sentiu muito mal, a priori ficava triste pelos cantos. Depois ele meio que... bem... ficou com raiva, ainda mais depois que... – se interrompeu – bem, até me pediu pra não falar mais de você. Desculpe... – terminou a morena se encolhendo na cadeira.

-Tá tudo bem Mione – deu um sorriso triste – era de se esperar. Quando fui embora não me despedi, nem falei pra ele quando prestei o exame pra Academia, ele deve ter se sentido traído. Nem sei como você está conversando comigo depois do que fiz.

-Confesso que fiquei meio chateada com sua atitude, mas eu já te perdoei...

-Você sempre perdoa as besteiras que eu faço...

-É porque você é o irmão que eu nunca tive, digamos que minha tolerância seja maior quando se trata de você – disse, carinhosa

-Obrigado. Você também é como uma irmã pra mim... – disse pegando uma das mãos da amiga e depositando um beijo carinhoso no local - ...assim como o ruivo. Vocês dois foram a primeira família de verdade, que eu tive.

Uma lágrima desceu pelo rosto de Hermione.

-Essa gravidez está me deixando emotiva demais – disse enquanto enxugava a lágrima com a mão, depois deu um sorriso – não se preocupe Harry, como eu disse, por enquanto não é uma boa idéia, mas eu vou conversar com Ron assim que ele chegar, vou acostumá-lo com a sua volta aos poucos e vou tentar convencê-lo a pelo menos escutar você.

-Eu sei que vai conseguir, o seu tentar sempre significa que você vai conseguir – a garota lhe sorriu meio sem graça, mas também orgulhosa de sua capacidade – Falando em família, como vão os seus pais e os Weasleys?

-Meus pais estão ótimos, estão extasiados com a idéia de se tornarem avós, assim como o Sr. e a Sra. Weasley, se bem que eles já estão acostumados...

-É verdade – concordou o moreno.

O garçom se aproximou da mesa trazendo o pedido. Por um tempo a conversa cessou naquela mesa, tudo que se escutava eram os barulhos que Hermione fazia com pratos, talheres e copos, enquanto comia avidamente os mais de três pratos que havia pedido.

Em determinado momento, Harry parou de comer pra ficar olhando a amiga se saciar. Esta percebendo que estava sendo observado, parou de atacar os pratos a sua frente, levantou a cabeça e encarando o amigo perguntou, com a boca levemente cheia:

-O que foi? – a voz saiu grave e abafada.

-É que eu estou levemente espantado com a sua fome. Fiquei com receio da sua refeição não ser suficiente, e resolvi parar de comer a minha para, em caso de necessidade, cedê-la para você – disse o moreno com um sorriso zombeteiro impresso nos lábios, empurrando seu prato em direção a amiga de maneira afetada.

Hermione gargalhou com a gracinha do amigo, e em meio as risadas soltou:

-É porque você não viu... – Harry reparou que ela não conseguiu continuar, a crise de riso tinha se intensificado - ...era realmente engraçado de se ver... aiaiai...

Depois que a amiga se recuperou, o moreno disse:

-Ia me esquecendo, tenho sim, uma novidade pra te contar...

-Qual? – perguntou com expectativa.

-À partir de segunda-feira, faço parte da equipe de Aurores do Ministério da Magia Britânico – disse empolgado.

-Que maravilha, Harry! – disse Hermione, animada, de maneira forçada.

Harry não entendeu a reação.

-Mione, você não parece, exatamente maravilhada com a idéia.

-Bem...

-Já aprendi que quando você vem com esse “bem”, seguido de uma pausa, boa coisa não vai dizer – disse o moreno desanimado.

-Bem... Erm... É que...

-Mione, acabe logo com essa agonia pelamordeMerlin! – disse exasperado.

-HarryvocêsabequeaGinnytambémtrabalhalá? – soltou a morena de uma vez, como se quisesse se livrar logo daquilo.

-Como é?

Hermione respirou fundo e repetiu com mais calma:

-Harry você sabe que a Ginny também trabalha lá? – disse enquanto olhava fixamente o amigo com um ar de expectativa, esperando sua reação.

-Eu sei. A encontrei ontem na sala do chefe dos aurores, enquanto acertava minha contratação – disse querendo imprimir um ar de casualidade a sua pergunta, mas sem obter sucesso. As imagens da manhã do dia anterior voltando a sua mente.

Novamente instantes de silêncio na mesa.

Hermione, então resolve arriscar:

-E...?

-E o quê, Mione? – disse o moreno, que se recostou no espaldar da cadeira, retirou os óculos, que ficaram pendurados numa mão, enquanto esfregava os olhos com a outra.

-Vocês... conversaram? – perguntou, apreensiva.

-Não... Quer dizer, sim. Fiz a ela perguntas do tipo “como vai? E a família?”, essas coisas de cortesia, ao menos EU, fui cortês, ela sempre me dava respostas mal criadas e cheias de sarcasmo. – disse, enquanto colocava os óculos no rosto.

-Só isso?

Harry apertou os olhos ao encarar a amiga.

-Você não vai me deixar em paz, até tirar todos os detalhes de mim, não é?

A morena fingiu pensar por uns instantes, e depois sacudiu a cabeça.

Harry deu um suspiro.

-Nós... Na verdade, eu... a abracei.

Hermione arregalou os olhos que agora brilhavam, mostrando que ela estava ávida por mais.

-O que eu queria na verdade era beijá-la, mas não me comportei como um grifinório, ou seja, não tive coragem para fazê-lo, então só a abra... – foi interrompido, quando Hermione lhe estendeu a palma da mão, em um sinal de pare.

-Harry, eu tenho que fazer um comentário. Eu não sei se o poder do meu olhar foi potencializado ou se foi você que mudou nesses sete anos. Eu nunca lhe arranquei um confissão tal facilmente.

-Agora, que fez o seu comentário relevante, eu posso continuar? – perguntou de maneira irritada.

-Eu tinha que falar, estou grávida meus desejos não podem ser recusados, nem mesmo por mim – sorriu marota, mas ao encontrar o olhar assassino do amigo, parou de sorrir e disse séria – Continue.

-Obrigado - disse ainda irritado – Eu a abracei, mas ela não fez nada, não me abraçou, mas também não recuou.

Parou de falar, as imagens e as sensações que o abraço lhe causou, voltaram a invadir sua mente. Foi retirado do delírio pela voz de Hermione.

-E como você se sentiu?

Um suspiro. O olhar que havia se fixado em um ponto qualquer, atrás da amiga, voltou a encará-la.

-Vou resumir tudo em uma palavra: certo. Foi isso, senti que eu e ela ali, abraçados, ou melhor, eu a abraçando, era a coisa mais certa do mundo.

Silêncio

-Não, pra ser sincero, só cheguei a essa palavra, a essa conclusão, hoje mais cedo, enquanto estava no banho. O que senti ontem enquanto a estava a abraçando foi uma grande vontade de beijá-la, vontade de mantê-la nos meus braços pra sempre.

Novamente silêncio. Harry voltou a olhar para um ponto atrás de Hermione, enquanto ela refletia sobre as palavras do amigo. Após algum tempo, a morena quebrou o silêncio:

-E agora? O que você pensa em fazer? Se é que você pensa em fazer alguma coisa.

-Durante o meu primeiro ano longe, eu pensava muito nela. Então passei o ano seguinte me convencendo de que tinha que esquecê-la, eu tinha a magoado demais pra que, se um dia eu voltasse pra Inglaterra, ela me aceitasse de volta. Tive sucesso, consegui me convencer de que havia acabado. Do terceiro ano em diante, não pensei mais na nela, me forcei a não pensar, a não lembrar do que tinha vivido com ela, além do que, os fantasmas que eu tinha pra combater me mantinham ocupado.

-Ou seja, fugiu – concluiu Hermione.

-É...

-Mas e agora, Harry? Estou lhe perguntando o que você vai fazer agora?

-Quando decidi voltar a Inglaterra...

-Harry, você tá dando muita volta, seja objetivo, simplesmente responda a pergunta que te fiz – disse levemente irritada com a enrolação do amigo.

-Eu sei que você está com medo de que eu fuja do assunto como eu sempre faço, ou costumava fazer, mas pode ficar tranqüila, a sua pergunta vai ser respondida – disse divertido.

-Humf... acho bom.

-Então, quando decidi voltar a Inglaterra, juro que não tinha intenção de procurá-la, nem por um momento pensei nisso, voltei porque o curso tinha acabado e estava com saudades de casa, dos Weasleys, de você e de Ron, saudade de tudo e de todos.

Harry suspira.

-Só que quando a vi, tudo que eu achei ter esquecido, despertou! O que eu achei que tinha superado, estava só adormecido. E quando a abracei, voltou com todas as forças. E agora, eu é que me pergunto, o que eu faço? Por que antes de você fazer a mesma pergunta, eu ainda não tinha pensado nisso.

-Como assim? – perguntou a morena confusa – E esse discurso todo?

-Eu estava tentando me ajudar e ao mesmo tempo lhe dando informações pra você me ajudar.

-Você disse a minutos atrás que iria responder a minha pergunta.

-Não! O que eu disse era que sua pergunta seria respondida, em nenhum momento disse por quem – respondeu com um sorriso maroto – a entendida de sentimentos sempre foi você, eu mudei, mas nem tanto.

-Francamente! – foi o que Hermione disse, antes de começar a analisar as palavras do amigo. Enquanto, sua maquinaria cerebral estava a todo vapor, Harry a encarava, por fim ela se pronunciou.

-O que os olhos não vêem o coração não sente! – anunciou de maneira decidida.

-Ahn? Um ditado trouxa é tudo que você tem a me oferecer?
Mione revirou os olhos, bufou e em seguida disse:

-Harry, é simplesmente isso. Você, enquanto esteve distante de Ginny, achou que a tinha esquecido. Lutou pra não pensar nela. Foi isso, anos de isolamento, sem ter nenhum contato com ela, o que permitiu que seu amor adormecesse. O fato é que você não deixou de amá-la, isto está claro.

Deu um tempo para que o amigo absorvesse o discurso, em instantes voltou a falar:

-Dito isto, vou mudar minha pergunta, você quer lutar por ela? Pelo amor dela?

Harry não respondeu de imediato. “Como pude ser tolo o suficiente para achar que a tinha esquecido?”. As imagens do abraço voltaram a povoar sua mente. Lembrou da sensação de bem estar que o inundou quando estava com a ruiva em seus braços. E então, respondeu.

-Quero! Quero lutar por ela, quero o amor dela de volta. Eu quero mais que tudo. – disse, decidido.

-Você está disposto a lutar por ela? Por que eu te digo, não vai ser nada, nada, fácil. – Hermione disse séria.

Harry engoliu em seco, sabia como a ruiva podia ser difícil. “E o que importa? O que ela tem de difícil, eu tenho de persistente, eu a quero e vou lutar por ela”.

-Estou, Mione! Estou disposto a lutar por ela. – respondeu de maneira firme.
Hermione lhe sorriu ternamente, segurou suas mãos e disse entusiasmada:

-E eu estou disposta a ajudá-lo!

Ainda segurando as mãos da amiga, levantou do seu lugar e se agachou ao lado da cadeira em que ela se sentava.

-Muito obrigada minha irmã – dizendo isso, se aproximou da morena e beijou-lhe demorada e carinhosamente a bochecha. Soltou uma de suas mãos, das mãos de Mione a pousou sobre a barriga protuberante, abaixou a cabeça e se dirigindo ao bebê, disse – sua mãe é o máximo!

Hermione riu e abraçou o amigo.




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N/A: Pessoas vamos comentar para eu poder saber se devo ou não continuar postando a fic.

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