A Viagem



A viagem




O nome sra. Malfoy não lhe caía bem, avaliou. Na loja, onde o movimento era quase nenhum, ela acabava de arrumar o que sobrara do carregamento. Os mineiros tinham voltado a suas concessões no dia anterior, depois do casamento que fora um grande evento na cidade. Agora, tudo estava quieto demais. Olhou para as sacas que ainda estavam encostadas a parede dos fundos da loja, pensando em colocar o que havia dentro delas de maneira mais atrativa para os compradores. Mas quem, ali, iria querer um conjunto de xícaras de café, ou ainda, as roupas de baixo femininas? Não havia mulheres na cidade! Apenas ela mesma, Mei-Li e algumas índias. E nenhuma delas costumava usar o tipo de roupas de baixo que tinham vindo no carregamento.

O acordo do condutor da carroça com seu pai fora o de comprar e trazer tudo o que estivesse disponível e Arthur devia ter imaginado que em determinado momento, tudo poderia ser vendido. Dan tornara a partir para buscar outro carregamento e dissera a ela que, se tudo desse certo, o próximo chegaria dentro de duas semanas. Mas Ginny duvidava que pudesse confiar naquele homem. Ainda mais porque o homem poderia fornecer mercadorias a todas as outras minúsculas cidades como aquela, que havia pela região. Landerfelt transportava sua própria mercadoria, tinha seus empregados, Jed e Leon Packett, os dois grandalhões que tinham tentado tirar as coisas da carroça.

Ginny respirou fundo, pensando no concorrente desleal. Estava cansada do trabalho de limpeza que fizera na loja. Ainda tinha sua varinha, mas não queria chamar a atenção do ministério para ela, pra falar a verdade não podia, estava entre trouxas, tinha que agir como uma, o que se não fosse por Mei-Li estaria em apuros, metade do que vendia na loja Ginny não sabia o que era. Precisava, agora, apenas esperar pelo novo carregamento e usar o resto de mantimentos que lhe tinham restado. Mas se havia alguém que sabia fazer todos os mantimentos de uma casa, mesmo sendo poucos, esse alguém era Ginny. Quando a mãe, Molly, morrera Ginny teve que aprender a economizar, não só no dinheiro como nos mantimentos, e nunca soube como a mãe fazia para transformar os poucos alimentos que tinham em uma mesa farta aos olhos. Mei-Li a ajudar bastante. A chinesinha e seu pai tinham ajudado Arthur também, quando ele adoecera. E Ginny era-lhes agradecida por isso. Vickery, o advogado, também fora gentil com ela, oferecendo sua casa para que ela pernoitasse até ter dinheiro para voltar a Inglaterra, mas Ginny recusara, sabendo que a esposa do advogado voltaria em breve e que não gostaria de vê-la sob o mesmo teto que o marido. Além do mais, havia um cômodo nos fundos da loja, com um pequeno fogão, uma cama e um fogareiro a lenha. Um lugar simples, pelo menos não havia ratos.

Ginny foi até a janela da frente da loja e olhou para a de seu concorrente,do outro lado da rua. Landerfelt não aparecera desde sua briga com Draco no dia anterior. Talvez, com Malfoy longe, ele se mantivesse mais calmo e compassivo, afina, havia movimento suficiente na cidade para duas lojas iguais. De repente, o advogado apareceu diante de seus olhos, na rua. Pouco depois, ele entrava na loja.

- Sr. Vickery! Que satisfação em vê-lo! – Ginny cumprimentou. Ele tirou o chapéu, mas não sorriu como Ginny.

- Sra... Malfoy... – começou, mas Gina o interrompeu:

- Pode me chamar pelo primeiro nome, se quiser.

- Muito bem, então... Gina. Vim apenas para ver se estava bem. Não acho que seja seguro para você ficar aqui. Minha esposa voltará de São Francisco em breve e tenho certeza de que ela também pensará como eu. Gostaria de insistir para que fosse para minha casa.

- Eu agradeço, sr. Vickery, mas não há motivos para se preocupar. Estarei bem aqui. Sabe, andei pelas ruas de Londres durante muito tempo e posso garantir que sei me defender muito bem.

- Tenho certeza que sim e vejo que é tão corajosa quanto seu pai. – Ele, por fim, sorriu. – Sabe, você não se parece em nada com a primeira sra. Malfoy. – Gina encarou-o, já sem sorrir.

- Está me dizendo que Draco já foi casado? – surpreendeu-se. – O que aconteceu a ela?

- Aconteceu?

- Sim... Suponho que deva ter morrido, não?

- Ah, sim claro! Ele não teria se casado com você se não fosse assim... – Gina pensou por instantes, analisando a possibilidade de Malfoy ser capaz de bigamia, mas afastou tal idéia. Ofereceu um banco ao advogado, dessa forma encorajando-o a prosseguir a conversa. – Sabe, ela morreu de cólera – explicou ele. – Não fazia sequer seis meses que Malfoy a trouxera para a América.

- Então ele não é daqui...?

- Não, não, Inglaterra.

- Entendo... – Gina já havia desconfiado por razão de seu sotaque.

- O nome dela era Pansy Rogers Parkison. – Vickery prosseguiu. – E dizem que era muito linda. – Num gesto instintivo, Ginny passou as mãos pelos cabelos desalinhados e pela parte da frente do vestido velho.

- Parece que gostava de coisas luxuosas. – acrescentou o advogado.

- E, mesmo assim, casou-se com um comerciante de peles?

- Ao que parece sim... mas o mistério sempre cercou Malfoy. Quando chegou aqui não parecia saber muita coisa, mas logo estava caçando peles como ninguém. É incrível a habilidade que ele tem. – disse, pensativo. – Ainda que nunca ninguém tenha o visto matar algum animal, ele simplesmente aparecia com pele.

- E como o senhor sabe dessa história? Foi Malfoy quem lhe contou?

- Ah, não! Ele não é do tipo que fala sobre a família, ou qualquer coisa pessoal. Matt Robinson foi quem me disse. – Ginny sorriu ao lembrar do rapaz.

- Ele é bem divertido. – comentou.

- De fato. Sabe, dizem que Draco Malfoy é filho de um homem muito rico, alguém importante. Não sei ao certo se um político ou um banqueiro, lá no leste. Na verdade ninguém sabe ao certo.

Gina lembrou-se de que perceber certo refinamento no modo de ser do Draco, muito embora ele parecesse fazer questão de disfarças isso. Era como se fizesse o possível para parecer alguém que não era de fato Mas, com certa tristeza, lembrou-se de que não importava agora, já que ele se fora para sempre. Pouco depois, quando o advogado se despediu e saiu novamente para a rua, ela ficou olhando-o pensativa, lembrando-se do que soubera sobre seu marido. Lembrou-se do beijo que ele lhe dera e que fora o primeiro que Gina recebera na vida. Tinha vinte e dois anos e nunca antes havia sido beijada... E seu marido, que não era, na realidade, seu real marido, partira, porque essa sempre tinha sido sua intenção.

Olhou para a outra extremidade de rua e viu o padre que os casara. Mei-Li lhe explicara o que ele era. Gina entendeu como um homem de Deus, que se transformara também em mineiro. Tinha muito respeito por ser quem era, Gina apenas o achava um certo tipo de conselheiro. Não conseguiu entender o que Mei-Li lhe falara sobre religião. Porém, sentiu uma culpa assomar-se em seu peito. Brincar com qualquer coisa que fosse do poder de Deus não era brincadeira para ela. Gina murmurou, pedindo perdão ao padre por ter se casado diante dele apenas por interesse. Um casamento que não existia, de fato, que nunca existiria, porque Draco se fora para o Alasca e ela partiria em breve de volta a Inglaterra...




Draco aguardava no cais, ao lado do navio, o Golden Eagle, e resistia a vontade de retirar a miniatura de seu bolso. Nem mesmo sabia por que a comprara. Olhara para a imagem de Gina Weasley havia dez minutos, mas mesmo assim, tirou-a, do bolso e olhou-a novamente.
- Você é um idiota, Malfoy. – murmurou, tornando a guardar a miniatura. Fora duro com Gina no dia anterior e arrependia-se agora. Estava irritado, mas não com ela, seu próprio comportamento o deixava exasperado. Lembrava-se de como se surpreendera ao vê-la defender Mei-Li. Admirava a coragem e a determinação numa mulher e admirava aqueles intensos olhos castanhos que Gina possuía. Sentiu vontade de pegar a miniatura mais uma vez, mas conteve-se. Não devia preocupar-se com ela. Era uma mulher sozinha numa cidade hostil, mas saberia como se defender. E ele, Draco, tinha seus próprios planos de vida. Mulheres significavam problema. Pansy mostrara-lhe isso claramente. Ele viveria a vida que queria, com a qual sempre sonhara mesmo fechado na escola rígida para a qual seu pai o enviara. A Califórnia já não lhe servia, estava estragada pela febre de outro. Mas o Alasca... Um lugar novo, não corrompido por trouxas e nem bruços... Uma grande aventura!

Viu-se, de repente, irritado, olhando outra vez para a imagem de Gina na miniatura. A vida que pretendia ter não servia para uma mulher, para crianças... Guardou a miniatura e passou os olhos ao redor, pela multidão que como ele, aguardava a partida do navio. Draco se impacientava, como o cavalo,que relinchava e se agitava com a multidão. Pensava no dinheiro que dera ao marinheiro, como suborno, para que este o deixasse entrar no navio como clandestino. Então, onde estaria aquele sujeito agora, com o dinheiro para levar o cavalo e possibilitar sua viagem?

- Leon disse que, assim que o marido se fosse, eles iriam acabar com ela. Queima-la. – Ouviu e um arrepio passou-lhe a espinha. Voltou-se para ver o mineiro que falara a um colega.

- É mesmo? – dizia o outro. – Bem, isso seria o mais provável de acontecer... Afinal, naquela cidade, basta uma fagulha para tudo pegar fogo não é? – e riu, malicioso. Draco aproximou-se dos homens e tocou o ombro do que falara primeiro, e o sujeito voltou-se, já protestando:

- Ei, companheiro, espere na fila!

- De quem estava falando? – Draco indagou, sem solta-lo. O homem percebeu do que ele falava e, mesmo contrariado, explicou:

- Da garota inglesa.

- E quem foi que lhe disse que os homens da cidade iriam queima-la?

- O condutor de carroças. Ele nos contou na noite passada, no bar. Por que?

- O sujeito disse que quem contou a ele foi um tal de Leon. – interferiu o outro homem. – O patrão dele não gosta de estrangeiros que venham concorrer com ele nos negócios.

- E Dan Dunnet disse isso a vocês ontem a noite? – Draco imaginava que, na próxima vez que visse o condutor, quebraria mais do que seu nariz...

- É. Foi Dunnet, exatamente! Mas... por que quer saber? Conhece a moça? – Draco olhou-os com firmeza, antes de responder apenas:

- É, eu a conheço.




Talvez houvesse ratos, pensou Gina, sentando-se na cama e espreitando ao redor. Como não havia uma janela no quartinho dos fundos da loja, ela deixara a porta de conexão aberta e uma fresta de luar que iluminava a parte da frente chegava a alcançar os fundos.

Ouviu o som novamente, como o arranhar de madeira. Saiu da cama tocando o chão com os pés, sentindo-o gelado. Estendeu os braços, tentando encontrar a cadeira em que deixara o vestido e o xale, mas não tocou nada. Sabia que não podia acender o lampião, pois assim assustaria o roedor. Da loja, um som mais forte chegou a seus ouvidos, fazendo-a arrepiar-se. Se era um rato era um bem grande. Tateou a mesa de cabeceira, onde deixara a sua varinha. Vickery lhe entregara uma espingarda e alguns outros pertences de Arthur, mas Gina não sabia usa-lo.

Foi devagar até a porta de conexão, varinha apontada diante do corpo. Sentia muito frio e chegava a tremer. Olhou para a loja vazia, mas a sensação de que alguma coisa, ou alguém, estava lá, continuava a agita-la. Esperou que seus olhos se ajustassem a pouquíssima luminosidade e passou-os pelas prateleiras e por todos os cantos possíveis. Nada... Poda ter sonhado com ratos, imaginou. Foi então que os passos humanos chamaram-lhe a atenção. Voltou-se em sua direção e, sem pensar, ergueu mais a varinha e soltou um feitiço estuporante. Um segundo depois e o intruso aiu sobre ela. Com um grito apavorado, gina caiu enquanto lutava com sujeito. Os joelhos fortes dele colocavam-se sobre suas pernas, prendendo-a junto ao chão.

- Solte-me, seu infeliz! – gritava ela, enquanto tentava atirar novamente. Sem conseguir, fez o primeiro movimento que veio a sua mente: pegou uma das latas de querosene nas prateleiras e atingiu-o.

- Maldita seja! – ouviu e reconhece a voz de imediato. A mão do homem apertou-lhe tanto os punhos que quase a fez chorar de dor. Gina viu-se, de repente, a mercê do homem, com ambas as mãos presas acima de sua cabeça.

- Humpf... Deus! – murmurou.

- Não, errou! Tente de novo! – o rosto dele estava muito próximo e Gina podia sentir-lhe a respiração.

- Malfoy!

- Isso mesmo!

- Mas...

- E então, já parou?

- Com o que? E... solte-me! – Ele saiu de cima de seu corpo, permitindo que se erguesse.

- Parar com tentativa de me matar. – explicou. – Há leis contra esse tipo de atitude, sabia? É um crime e tanto aqui em Tinderbox se uma mulher mata o marido.

- Marido... – ela zombou. Alcançou o lampião que estava sobre o balcão e acendeu-o, enquanto Malfoy também se levantava. Uma janela aberta explicava o frio intenso e também a facilidade que ele tivera para entrar. Gina fechou-a e trancou-a, perguntando:

- O que está fazendo aqui?

- Acho que posso perguntar a mesma coisa. Você deveria estar dormindo na casa de Vickery.

- E deixar que entrem em minha loja durante a noite e levem tudo que resta? Não, mesmo! – Gina olhava-o irritada, querendo que ele se fosse. Afinal, quem ele pensava que era para entrar ali, aquela hora, daquela forma? Mas algo na maneira como Draco a olhava alertou-a. Foi depressa até o quartinho e voltou, já com o xale em torno do corpo. Podia jurar que ele ria por baixo daquela expressão séria que se forçava a manter.

CREC! Draco olhou para seus pés, Gina prendeu a respiração, ele tinha pisado em sua varinha, pensando muito. – Acho que as prateleiras daqui não estão em melhor estado. – disse, fingindo que a varinha era uma lasca de madeira somente. Com o coração pulando, pensou ‘Ele é trouxa, não vai perceber’ mas Draco ainda olhava atentamente para a varinha. Ela foi até o local e pegou os restos de sua varinha e jogou no lixo, depois pegaria e veria se tinha conserto. – Não devia estar no barco? – perguntou, mudando de assunto. Draco demorou a responder, encarando-a de uma forma estranha, enfim murmurou:

- Qualquer homem em seu juízo perfeito estaria. Mas não sou normal, sou?

- Mas o navio... Achei que você...

- Há outro navio dentro de um mês. E, nesse, eu estarei a bordo, pode escrever!

- Um mês! – E... o que pretende fazer durante esse tempo? – Draco caminhou em sua direção, muito ´serio, e Gina deu dois passos atrás, subitamente apavorada. – Certamente, não pretende... – começou. Ele a tomou pelos braços, murmurando apenas:

- Fique de lado.

- O quê? – Gina notou que ele não a olhava, mas sim, para a porta logo adiante.

- Parece haver muito a fazer por aqui durante um mês. – Gina não entendeu, mas seguiu a direção do olhar dele, notando que a porta fora forçada. Malfoy foi até lá e tocou a fechadura arrombada. – Viu Leon por aqui? Ou quem sabe, seu irmão, Jed? – perguntou. Gina engoliu em seco, reconhecendo os nomes dos homens de Landerfelt.

- Não, não os vi. Por quê? – Vozes na rua desviram atenção de ambos. Uma tocha apareceu do lado de fora da loja e logo o rosto de Matt Robinson surgiu atrás do vidro. Dois outros homens vinham com ele e todos traziam armas. Malfoy abriu a porta.

- O que está havendo? – perguntou.

- Nos é que queremos saber. – Matt notou o sangue na testa do amigo, a marca da lata que Gina tinha batido nele. – Ouvimos um barulho alto...

- Foi um acidente. – Draco explicou. – A srta. Weasley... quero dizer... Gina, deixou cair algumas latas, enquanto arrumava as prateleiras.

- As duas da manhã? – Matt olhou-os preocupado. – Vocês estão bem?

- Estamos ótimos. – Matt assentiu, mas não acreditava na história.

- Então, acho melhor voltarmos todos para a cama, certo? – sugeriu. – Pelo que vejo, decidiu não ir para o Alasca, afinal... – Draco murmurou uma maldição e bateu a porta na cara do amigo. Gina por sua vez, achou que já ouvira o bastante. E cruzando os braços, olhou-o, numa atitude que sempre funcionava quando repreendia os irmãos. Draco encarou-a como se não passasse de um estorvo em maior importância.

- E agora? – ela quis saber.

- Acho que devemos dormir e...

- Não. Quero saber por que voltou e quais são suas intenções.

- Meus motivos não são da sua conta. Quanto a minhas intenções... Tenho um mês até outro vapor partir. Você precisa de proteção e eu, de dinheiro. Vou ficar e trabalhar na loja para conseguir o suficiente e partir daqui! – Gina pensou por instantes, depois rebateu:

- Não preciso de proteção.

- Muito bem, então, parto de manhã bem cedo.

- Não, espere! – Malfoy parou, a mão na fechadura quebrada, e voltou-se para encara-la, à espera. – Eu... acho que está bem, então, mas... o quartinho é muito pequeno para nós dois. Vai ter que dormir fora. – Achava melhor colocar a situação dessa forma.

- Assim está bem para mim. – Draco concordou, saindo para a noite.

- Então... boa noite, sr. Malfoy.

Draco torceu os lábios, aborrecido.

- Boa noite, sra. Malfoy. – respondeu, irônico, sem olhar para trás.





Desculpem a demora, mas eu não tive muito tempo essa semana, mas no fim, até que esse capitulo não foi tão dificil assim. O próximo é que está me dando certos probleminhas, mas acredito que até sexta eu posto ele, sem falta. Até porque minha fic não tem beta, o que é mais rápido, e por isso, me desculpem os erros gramaticos.



O próximo capitulo só vai mostrar mais a convivência dos dois na loja, e no casamento. :)
Continuem comentando, é muito importante pra mim.

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