O Acordo
O Acordo
Draco era o único homem em Tinderbox que a recusaria, e assim o fez, mandando-a de volta à casa de Vickery e depois de algumas horas sem dormir, ainda não se sentia bem com a decisão que tomara. Agora, à luz do dia, parecia-lhe ter sido muito tolo de sua parte. Afina, antes, tivera a mesma idéia... Casar-se com Gina por interesse, tanto seu quanto dela. Então, quando propusera o acordo, porque simplesmente não aceitara?, perguntava-se. Talvez por que tinha sido ela a fazer a proposta. Porque, no momento em que Gina proferia aquelas palavras, Draco se lembrara de Pansy Parkinson, da alta sociedade de Londres...Gina lançara-lhe um sorriso doce, decente, mas tudo que ele fora o sorriso cheio de interesse de Pansy.
Meneou a cabeça, sentindo-se um grande idiota. Não estava em Londres e a filha de Weasley não estava querendo tirar proveito de mais uma das grandes negociatas de seu pai. Esse capítulo de sua vida tinha ficado para trás. Estava terminado.
Junto suas coisas, olhando ao redor, à procura do cavalo, mas lembrou-se de que o perdera para Landerfelt. Praguejou em voz baixa e resignou-se a seguir em direção ao entreposto de mulas, esperando conseguir uma carona para o Forte Sutter. Precisava sair da cidade antes que se arrependesse e acabasse acertando as contas com Landerfelt de um modo nada trouxa, ou ainda, aceitando a proposta de Gina. Ela estava bem longe de se parecer com Pansy, mas não era tão inocente quanto lhe parecera a principio, ponderou. Lembrava-se de que, quando Vickery lhe dissera que o pai tinha morrido, ela não derramara uma só lágrima. Que tipo de mulher reagiria assim à morte do pai? Um pai amoroso, preocupado com o futuro dos filhos, como fora Arthur. A cena que vira no túmulo do comerciante, na noite anterior, não o enganava. Ela não chorara, estava com o rosto molhado porque estava na chuva, mas seus olhos estavam límpidos e claros como os de um predador...
Não, Gina Weasley não era a filha chorosa e nobre que imaginara a principio, mas talvez tivesse se precipitado ao recusar a proposta que lhe fizera. Afinal, ela se casaria com qualquer um se estivesse, de fato, determinada a manter a loja. Lembrava-se de que algo não fazia na conversa que tinham tido na noite anterior. Gina dissera que teria de ser ele. Ele ou nenhum outro. Por quê? Qualquer homem serviria para o plano que ela tinha em mente.
Parou de andar, erguendo o rosto para o céu muito azul de outono, e num impulso, voltou-se para a casa de Vickery. De repente, a imagem de Gina, de seu corpo frágil, mas bonito, de seus cabelos avermelhados, de seus olhos intensos, o atingiu. E permitiu-se sorrir de leve, enquanto sua mente analisava uma pergunta: por que não? Poderia, assim, conseguir o dinheiro para sua passagem e dar a Landerfelt o que ele merecia...
Gina colocou as mãos sobre os olhos, para protege-los do sol, e olhou para o local onde Draco Malfoy havia passado a noite. Agradeceu a Merlim por ele ter recusado sua oferta. Devia estar completamente fora de si quando a fizera, analisou. Fora um grande erro.
Colocou o xale ainda úmido sobre os ombros e deixou a casa de Vickery, seguindo pela estrada que a separava do resto da cidade. Fora uma pena ter dormindo tanto. Custara a pegar no sono, e quando por fim, conseguira, tivera sonhos pecaminosos... Draco estava carregando-a nos braços, para dentro da loja de seu pai, depois partilhando com ela um pedaço do bolo de casamento, e então olhando-a de modo ardente e profundo, quando se fechavam dentro das cortinas de sua cama de casal...
Olhou para os lados assustada como se alguém tivesse ouvindo seus pensamentos, e com a face vermelha e quente. Continuou seu caminho e, ao entrar na Rua Principal, sentiu que muitos olhares mineiros a seguiam, conforme se encaminhava para a loja de Landerfelt. Tinha de se acostumar com aqueles olhares. Não fora diferente em São Francisco e ra para lá que pretendia ir, pelo menos por algum tempo. Tinha, apenas, que ser firme, já que não havia outra alternativa no momento. Venderia a loja e as terras de seu pai pelo dinheiro que Landerfelt quisesse lhe dar, coisa que devia ter feito no dia anterior, quando ele lhe oferecera aquelas moedas, mas seu orgulho falara mais alto.
Sua mãe teria sido prática e vendido tudo. Mas ela era mais parecida com o pai. Negou de leve com a cabeça, diante da estupidez que reconhecia em si mesma, mas parou de repente de andar, notando que havia uma certa confusão mais a frente. Diante da loja de Landerfelt, uma carroça lotada estava parada, com Mei-li sentada sobre a montanha de mantimentos e equipamentos de mineração, gritando com dois homens que tentavam descarregar tudo que estava embaixo dela.
Gina encaminhou-se para lá, juntando-se a outras pessoas que já observavam a cena. Mei-li a viu e sorriu logo, gritando:
- Srta. Gina, venha depressa! Carroça com mantimentos e ferramentas! Landerfelt quer roubar! – ela chutou o ombro de um dos homens que tentava retirar uma saca de baixo de seus pés. – Não deixar! Carroça nossa!
Gina aproximou-se.
- Nossa? – estranhou. – Mas não fiz nenhum pedido...
- Landerfelt me ofereceu o dobro do que Weasley deixou como depósito. – disse um homem de aparência rude que estava quase a seu lado. Gina reconhecia-o de Forte Sutter, onde dormira havia três dias. Era o condutor da carroça.
- Está dizendo que meu pai pagou adiantado por estas mercadorias?
Mei-li assentia vigorosamente. Depois começou a praguejar em chinês para os homens que ainda tentavam esvaziar a carroça. Um deles, empregado de Landerfelt, segurou-a pelo calcanhar, sorrindo, malicioso, enquanto ela perdia o equilíbrio. As pessoas que observavam nada fizeram para detê-lo e Gina espantou-se diante do mundo novo que estava conhecendo ali, onde solidariedade parecia não existir.
- Hei, você! – chamou ela, fazendo com que o homem se voltasse e abrisse ainda mais o sorriso de dentes apodrecidos. Mas nesse instante, o condutor da carroça segurou-a pelo braço com força, assustando-a.
Um tiro ressoou pela cidade e Gina teve um sobressalto, sentindo seu coração disparar. Quase que imediatamente, o homem que segurava Mei-li foi erguido no ar e lançado contra a frente da loja de Landerfelt, espatifando os vidros.
- Merlim! – Gina murmurou, as mãos sobre a boca.
O homem que ela vira conversando com Draco no dia anterior subia na carroça e arrancava Mei-li lá de cima. Gina estava a ponto de gritar por socorro, mas deteve-se ao perceber a expressão de alegria no rosto da chinesinha. Notando que ainda estava presa pela mão bruta do condutor, Gina recomeçou a lutar por soltar-se, dizendo:
- Largue meu braço, seu brutamontes!
- Tire as mãos dela se não quiser morrer agora mesmo! – ameaçou uma voz que ela já conhecia bem.
O condutor obedeceu de pronto, mas, mesmo assim, o punho fechado de Draco atingiu-o em cheio no rosto. Um golpe firme, seguro, que jogou o homem no chão. E como se esse tipo de coisa fosse absolutamente comum na cidade, dois dos observadores ergueram o corpo pesado do sujeito, colocando-o sobre a frente destruída da loja.
- Você... o matou. – Gina murmurou, vendo a expressão feroz no rosto de Draco. Nunca tinha visto um duelo de trouxas.
- Não. Ele apenas desmaiou, mas vai ficar bem. – ele a encarava e sua expressão se suavizava um pouco. O escandaloso sonho que tivera com ele horas antes voltou-lhe à mente e fez com que Gina corasse violentamente.
- Ainda... está aqui... – conseguiu comentar.
- É estou.
- Mas achei que tinha partido para o Alasca...
- Eu ia... Quero dizer, eu vou. Mas há algo que preciso fazer primeiro.
Gina ficou à espera, percebendo que ele vacilava.
- Bem, eu...
Gritos irados interromperam a conversa. Os mineiros que tinham se reunido diante da loja dispersaram-se de imediato. Surpresa, Gina voltou-se para ver que, na ponta da rua, Landerfelt aparecia, avançando contra todos em seu cavalo. Apegou diante da loja, enraivecido, gritando:
- Mas... o que aconteceu por aqui? – E voltou-se raivoso, contra Draco.
- Esse carregamento é meu. – disse ele, tranqüilo.
- Seu? – Gina estranhou, sem perceber que Landerfelt fizera a mesma indagação exatamente ao mesmo tempo que ela.
- Exato. Arthur Weasley pagou por tudo isso há duas semanas. Eu estava presente quando ele pagou.
Landerfelt deixou a raiva de lado, para ser irônico:
- E o que isso importa agora? Está morto e enterrado!
- Então, pode devolver o dinheiro que meu pai pagou, sr. Landerfelt! – Gina pensava rápido.
- É claro. – o comerciante concordou, acendendo um charuto.
- Ótimo. Quero também conversar com o senhor sobre a loja e a terra em que ela se encontra. Estava imaginando que...
- Ela estava imaginando que gostaria de ficar com tudo, por enquanto. – Draco interferiu.
- Ficar com tudo? – mais uma vez, as vozes de Gina e Landerfelt soaram juntas, nas mesmas palavras. Mas foi ele quem acrescentou:
- Ela não pode ficar com nada! É a lei!
Draco deu um passo a frente, fazendo-a imaginar que poderia agredir também o comerciante, como fizera com o condutor.
- É, ouvi dizer. – comentou ele, sem erguer os braços. – Mulheres solteiras não podem ser donas de nada...
- Exatamente! – Landerfelt concordou, exultante. Draco continuava firme, controlado, e Gina admirava tal qualidade.
- Todos sabemos o que a lei diz. – ele prosseguiu, calmo – mesmo assim, ela fica com a loja e este carregamento. Alias, nós ficamos.
- Nós? – ela murmurou, sem entender. Draco aproximou-se dela e comentou, para Landerfelt.
- A sra. Malfoy e eu ficamos com tudo. – E passou o braço direito sobre os ombros dela, sem cerimônias.
- O quê? – o charuto escorregou da boca de Landerfelt. Desta vez a surpresa foi tão grande para Gina que ela nem teve coragem para usar a mesma palavra do comerciante. Mas seus lábios estavam abertos, numa expressão pasma.
- Vamos nos casar ainda esta manhã. – Draco acrescentou, como se fosse a coisa mais simples do mundo. E olhando-a firme, indagou: - Não é assim? – ela sentiu que, de repente, suas pernas estavam fracas demais. Draco amparou-a, apertando a mão que lhe tocava cintura, para que Landerfelt não percebesse sua reação.
- Mas que história é essa agora? – protestou o comerciante, colocando o charuto mais uma vez na boca.
- Não é história. É fato. – Draco rebateu – A lei não diz que uma mulher casa não possa administrar negócios, ainda mais se seu marido for seu sócio. Assim, nós nos casamos e somos os dois donos de tudo.
- Mas você tinha dito... – Gina começou, sendo logo interrompida por ele:
- Mudei de idéia.
- Não há um pastor na cidade e o mais próximo fica a milhas daqui. – Landerfelt observou, em tom triunfante. Havia raiva em seus olhos e Gina chegou a estremecer. Mei-li apareceu, então, como surgida do nada e, em sua graça oriental, sugeriu:
- Sr. Vickery casa. Ele homem da lei. – E, olhando para Gina, sorriu e ofereceu: - Você vem agora. Nós deixar tudo pronto.
- Podem deixar que eu vou busca-lo! – O rapaz que tirara Mei-li da carroça e arremessara o empregado de Landerfelt pela vitrine apareceu ao lado de Draco e deu-lhe alguns tapinhas amigos nas costas. – Na verdade, acho que sou o padrinho. Matt Robinson, senhora. – apresentou-se, tomando a mão de Gina e sacudindo-a com força. – Estarei de volta num segundo. – E saiu correndo.
- Você não vai escapar com essa, Malfoy. – Landerfelt ameaçou, tomando as rédeas de seu cavalo. E, olhando com odeio para Gina, acrescentou: - E nem você! – Draco chegou a avançar contra o comerciante, e durante tensos segundos, o silêncio foi total. Mas nada mais sério aconteceu e Landerfelt montou, partindo a galope dali, quase atropelando alguns mineiros que estavam por perto observando a cena.
Gina, então, voltou-se para Draco e ele simplesmente perguntou:
- Era o que você queria, não? Casar-se, ficar com a loja, ganhar algum dinheiro para poder voltar à Inglaterra...
- É que eu... – ela assentiu, sentindo-se uma idiota, mas ele não a deixou falar.
- Então, estamos acertados. – E apertou-lhe a mão direita como se acabasse de selar um contrato. – Quero a mula, o cavalo e o dinheiro que fizermos hoje mesmo. Agora, na verdade.
- Mas o condutor tinha dito que... – ela olhou para o homem que ainda estava deitado junto à loja e que tinha o nariz sangrando, definitivamente quebrado – meu pai não pagou por tudo, fez apenas um depósito...
Draco foi até o condutor, que acabava de recobrar consciência, e disse, em tom firme:
- Não se preocupe. Dan vai esperar para receber seu dinheiro, não vai Dan? – e colocou o pé sobre o joelho do sujeito, fazendo certa pressão.
- Claro! O que quiser, Malfoy! – exclamou o homem, sabendo que deveria colaborar.
- E vai, também, entregar outra carroça cheia, na loja, em dedicação.
- O quê? – desta vez, o que Malfoy queria pareceu demais ao condutor. Mas, como todo o peso de Draco estava no pé que lhe pressionava o joelho, aquiesceu: - Está bem, está bem!
Gina engoliu em seco. Estava ali, parada, com a impressão de que vivia um sonho ruim. Nunca imaginaria que alguém pudesse ser daquele jeito que Malfoy era. Seus irmãos nunca fariam isso. Mei-li tomou-lhe a mão e puxou-a consigo para o acampamento chinês.
- Vamos aprontar! – disse a garota, sorrindo. – Mei-li ajuda.
Draco seguiu-as com o olhar e disse, ainda, enquanto elas se afastavam:
- Vou deixar-lhe o dinheiro suficiente para que possa seguir com a loja. Esteja aqui em uma hora para o casamento. Preciso alcançar um barco, ainda.
Mei-li fechou a cortina simples da janela sem vidros no casebre onde disse viver com seu pai e seus irmãos.
- Sem mãe. Quatro irmãos. – explicou ela, a seu modo. Gina pensou por uns instantes e murmurou:
- Como eu... – passou os olhos ao redor, notando os objetos estranhos, pouco comuns na vida ocidental. Notou também o cheiro diferente no ar, exótico, adocicado.
- Sentar. – Mei-li pediu, apontando para o chão recoberto por um carpete. – Eu arrumo cabelo selvagem.
- Selvagem? – Gina passou as mãos pelas ondas revoltas e ignorou o pedido da chinesinha. – Meu cabelo está bem assim. Além do mais, nem é um casamento de verdade.
- É sim. Draco Malfoy é um homem de verdade. Você mulher de verdade também. – Gina sentiu vontade de sorrir. Draco era uma homem de verdade, com certeza. Seu comportamento nessa manhã mostrara o quanto era firme em seus propósitos e o quanto sabia lutar por eles. Ele a protegera, primeiro contra os abusos do condutor, depois contra as ameaças de Landerfelt.
Sentiu um aperto no estômago cada vez que se lembrava. Nenhum homem jamais se importara em protege-la a não ser seus irmãos, mas eles não contavam, eram sua família, era de se esperar que agissem assim. Draco havia sido galante, mas de um modo distante e frio. Como se toda aquela situação fosse um negócio no qual se vira forçado a entrar.
Ainda pensando nele, Gina sentou-se devagar no chão. Estava entrando num casamento porque precisava dele para assumir a loja do pai. Quanto a Draco... do que ele precisaria?, indagou-se, de repente. O que ele ganharia num casamento ao qual se recusara na noite anterior? Dois animais e algum dinheiro? Não era tanto assim para justificar seu trabalho, já que pretendia deixar a cidade o quanto antes.
- Mei-li, por que acha que Malfoy esteja se casando comigo? – indagou, imaginando que a chinesinha poderia ter uma idéia.
A garota lidava com a cabeleira ruiva de Gina e pensou antes de responder:
- Ele gosta. Eu vejo.
- Não, não acho que seja isso... Malfoy não gosta de mim, deixou isso bem claro ontem a noite. – ela se lembrava do tipo de descompostura que ouvira de Draco e que a fizera sentir-se envergonhada, suja até. Os olhos dele estavam duros, seus lábios tinham uma expressão hostil. – Não, não... Ele deve ter um bom motivo para estar agindo assim. – No entanto, Gina não conseguia imaginar o que poderia ser.
- Malfoy precisa dinheiro. Para pagar barco. – Mei-li sugeriu. Gina voltou-se para encara-la.
- Como assim? Ele já não tem o dinheiro?
- Dinheiro se foi, cavalo também. Pagamento de dívida.
- Ele devia dinheiro a alguém?
Mei-li murmurou algumas palavras em chinês e, pelo tom baixo e raivoso de suas palavras, Gina percebeu que devia estar discursando mais alguns palavrões em seu idioma.
- Ele paga Landerfelt. – explicou a moça, falando mais alto. – Mas não divida Malfoy. Divida Cheng, meu papai.
- O que? – Gina não conseguia acreditar que Draco tivesse usado o dinheiro de sua passagem para pagar dividas alheias. Mei-li, porém assentiu, confirmando a história.
- Papai com problemas. Ter jogo de cartas, contra lei...
- Jogo de cartas?
- Apenas homens brancos podem...
- Ah, já sei! Apenas homens brancos podem ter esse tipo de negócios aqui em Tinderbox. – a raiva e frustração no rosto da chinesinha foram uma boa resposta. A mente de Gina trabalhava furiosamente. ‘Trouxas mais idiotas’, pensou.
- Jogo bom, desde que Landerfelt ganha. – disse ela, irritada. – Mas ele perdeu muito para homem. Muitas moedas! Malfoy paga Landerfelt para papai meu não perder casa nem emprego.
- Está querendo dizer que Landerfelt iria... Mas que homem...
- Sim, ele sujo! Mau! – Gina levantou-se e espiou a janela sem vidros, afastando a cortina de leve. Draco e seu amigo Matt estavam descarregando a carroça na rua enlameada. Muitos mineiros estavam junto deles, gritando seus oferecimentos pela mercadoria. Ela estava impressionada com o fato de que os homens quisessem pagar preços altos. Ainda não entrara na loja de Landerfelt, mas adivinhava que, nela os preços deveriam ser ainda mais altos. Não vira nenhum freguês naquela loja desde que chegara, no dia anterior. Era estranho.
Gina viu quando Malfoy pegou algo no meio dos estilhaços de vidro da antiga vitrine e entrou na loja, para sair pouco depois, tendo evidentemente, comprado o que guardava agora no bolso da camisa. Imaginou quanto dinheiro ele poderia fazer naqueles últimos minutos de venda das mercadorias da carroça e indagou-se se Draco, de fato, lhe deixaria dinheiro suficiente para sustentar-se até a chegada do próximo carregamento. Também não sabia se o condutor manteria a palavra que dera. Mei-li juntou-se a ela, na janela.
- Ele bom homem. – disse, sorrindo. Nenhum dos homens que ela conhecera em Londres, com exceção de seus irmãos, teria usado fruto de suas economias para salvar a vida de um estrangeiro e sua família.
- É, ele é bom sim. – concordou, num murmúrio.
- Ah, e ele também. – Gina voltou-se percebendo que os olhos da chinesinha estavam fixos no amigo de Draco e em seu jeito rude, mas cativante.
- Acho que, daqui a pouco, devemos voltar para... o casamento. – disse, soltando a cortina.
- Você não pronta. Vestido todo errado. Eu arrumo.
- Estou bem assim, Mei-li. Já lhe disse, nem é um casamento de verdade... É só um arranjo pra que eu possa ficar com a loja. – a garota abanou a cabeça, parecendo inconformada.
- Então vamos, se você não importa aparência.
Mei-li abriu a porta tosca do casebre e as duas saíram para o sol que brilhava alto. E caminhando por entre o barro, seus pensamentos voltavam a Inglaterra e a vida que tivera, dedicando-se ao pai e aos irmãos após a morte de sua mãe, afinal, era a única mulher da família, duvidava que seus irmãos conseguissem cozinhar um ovo sem a presença feminina dela, mas ainda assim, sempre pretendera ter sua vida, encontrar um bom homem, que a respeitasse e a amasse. Passou por alguns homens que se encaminhavam para fora da cidade com os suprimentos que Draco acabara de lhes vender, e imaginou que aquilo não era exatamente o que pretendera para si quando pensara no futuro. Quando chegaram mais perto do meio da rua, pareceu-lhe óbvio que a noticia de seu casamento já se espalhara. Como não havia quase mulheres, casamentos deviam ser algo raríssimo por ali. Talvez, até, o seu fosse o primeiro...
Os donos dos comércios locais, muitos mineiros e trabalhadores apareceram de todos os cantos da cidade, juntando-se no pátio ao lado do cemitério, onde a cerimônia seria realizada. Assim que Gina e Mei-li chegaram, Draco voltou-se e reclamou:
- Demoraram.
- Já estou pronta, se você também está. – respondeu Gina, muito séria.
Matt Robinson apareceu, então, entregando um maço de flores a ela. Mei-li sorriu, mas Malfoy franziu as sobrancelhas, parecendo aborrecido.
- Muito bem, vamos em frente. – Draco instigou, olhando para a casa do advogado. – Onde está Vickery?
- Pelo que eu soube, Landerfelt enviou-o a Hangtown para tratar de alguns negócios... – Matt interferiu. A expressão no rosto de Draco, mistura de raiva e alivio, exprimia exatamente os sentimentos de Gina.
- Mas achei alguém que pode fazer melhor do que Vickery – Matt acrescentou, sorrindo e apresentando um mineiro, que deu alguns passos para junto de Draco e Gina. Ninguém ali pareceu reconhecer o sujeito, que devia ser novo na cidade, suas roupas ainda estavam bem novas e sua pele não se mostrava queimada com a dos homens que ali viviam em busca de ouro. O homem olhou para todos e depois centralizou sua atenção em Gina e Draco.
- Vamos, padre, prossiga! – Matt instigou.
- Padre? – Draco exclamou, vendo que o estranho retirava uma bíblia de dentro da pequena mochila que trazia. Gina olhava confusa, ela não sabia o que era um padre, o casamento bruxo era totalmente diferente. Olhou para Draco, sem saber o que fazer, e como se ele lesse sua mente, pegou sua mão forte, para ampara-la.
- Depois eu te explico. – sussurrou ele a olhando de um modo estranho. – Só confie em mim. – Em perfeito latim e com leve sotaque irlandês, o padre, começou:
- In nomine patris, et filii, et spiritus sancti, Amen. – A cerimônia foi rápida e Gina fez tudo que Draco sussurrava para ela fazer, fez isso quase sem sentir.
- E as alianças? – Matt indagou, com ar inocente, recebendo um olhar fuzilante de Draco.
- Não temos. – disse ele, bem baixo, mas em tom firme.
- Não tem importância. Não é estritamente necessário. – explicou o padre.
- É só isso, então? Estamos casados? – Draco quis saber.
- Sim. – respondeu o padre, sorrindo. – Pode beijar a noiva. Gina arregalou os olhos. Com certeza, Malfoy não o faria, imaginou.
- Isso mesmo! Beije a noiva! – alguém gritou, em meio à multidão. O açougueiro da cidade sorriu e sugeriu:
- Eu a beijarei por você se não for homem bastante para faze-lo, Malfoy!
- Venha, sra. Malfoy. – disse Draco, segurando-a pelo braço e levando-a consigo até diante da loja que fora de seu pai e onde o cavalo que pertencera a ele estava amarrado. Ao que parecia, ele já vendera a mula.
- Você está mesmo decidido a seguir nessa aventura maluca para o Alasca, então? – Matt indagou, seguindo-os, junto a Mei-li.
- Estou sim! – Malfoy respondeu, olhando-o, irritado. – Por que acha que tudo isso aconteceu?
- Imaginei que estivesse agindo assim para ajudar a srta. Weasley... sra. Malfoy, quero dizer.
- A sra. Malfoy conseguiu o que queria: meu nome. É sempre o que querem não? Todas elas. E eu também consegui o que queria. – Ele continuava caminhando, a mão apertando o braço de Gina. – Além do mais, não acho que a sra. Malfoy precise de ajuda com a loja, ela está indo muito bem sozinha. – Gina esforçava-se por seguir os passos largos dele. Mas tropeçou num montinho de lama e, quando se deu conta, os braços de Draco já a seguravam, evitando que caísse. Mas fora apenas uma reação instintiva dele, raciocinou. Se tivesse tido a chance de pensar, ele a deixaria ali mesmo, com a cara afundada no barro.
- Então, já conseguiu dinheiro suficiente – ela murmurou, compreendendo suas palavras. – Para a passagem... – Malfoy franziu o cenho.
- O que sabe a respeito disso?- indagou.
- Nada... Eu apenas...
Ele a soltou, já que recobrara o equilíbrio, e mostrou a sacolinha de couro que tirou do bolso.
- Sim já tenho o suficiente para minha passagem. – esclareceu. – Se vender o cavalo em Sacramento, terei ainda mais. Aqui há mais do que o necessário para você viver muito bem até o próximo carregamento. Há muitas coisas da carroça que não foram vendidas porque não tem utilidade imediata para os mineiros. Está tudo na loja de seu pai.
- Minha loja. – ela corrigiu.
- Exato. Eu tinha esquecido.
Os mineiros que tinham ficado para trás tornavam a aproximar-se; o açougueiro insistia:
- Vamos Malfoy! Beije-a! Está com medo da mulher? – muitas vozes se juntavam a dele, em exclamações parecidas. Matt e Mei-li apenas observavam, sorrindo, mas Gina não achava a situação nada divertida. Nem queria permanecer ali e passar por tola. Deu as costas a Malfoy e começou a encaminhar-se para a loja do pai, agora sua.
Mas segundos depois, foi praticamente erguida do chão. A boca de Draco estava sobre a sua, logo em seguida, num beijo que nada tinha de gentil. Ela lutou por soltar-se, mas foi inútil, pois as mãos dele seguravam-lhe as costas e a nuca com força. E seu último pensamento antes de parar de se debater foi o de que o trabalho de Mei-li em seus cabelos tinham sido à toa, pois eles estavam soltos agora, devido a pressão da mão de Draco.
Então, quando ele a soltou, no meio da rua enlameada, Gina notou que sua respiração estava muito difícil. Draco , por sua vez, já lhe dava as costas, montando no cavalo que pertencera a seu pai, e saindo da cidade rumo ao oeste. E apenar quando ele se tornou um pequeno pontinho negro no horizonte, Gina deu-se conta de que aquela seria a última vez que o veria. A última vez que veria seu marido, Draco Malfoy...
Bom gente, esse capitulo foi o mais longo que eu escrevi e também o mais complicado, já que eu não faço idéia de como seja um casamento bruxo. Então foi assim... mas o próximo capitulo estara melhor! =]
Obrigado e continuem lendo!
Beijosss ;*
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