A preocupação dos Dragões



- Mary não vem hoje? – perguntou a professora Karoline entrando na estufa, como sempre, de uma forma espalhafatosa.
- Não. – informou Vicky, que usava luvas de couro para colocar terra com adubo nos vasos novos que a professora trouxera depois das férias de natal – Ela foi convidada para uma festa na cidade.
- Que pena... – lamentou-se a professora com um suspiro exagerado – As coisas são tão animadas aqui quando as duas estão fofocando...
- Sei... Ela pediu desculpas, mas ela tinha que ir ou os seus colegas de sala a atormentariam pelo resto do ano. Desde daquele boato sobre ela e Doumajyd estarem saindo, ela passou de rejeitada para o centro das atenções, mesmo não querendo.
- Boato? Mas o próprio líder do D4 não confirmou o namoro?
- É o que ele pensa. Parece que nesse natal Mary e ele acertaram as coisas-
- Eles passaram o natal juntos?!
- Não! – Vicky apressou-se em explicar antes que a professora tirasse conclusões precipitadas – Ele apareceu na casa dela, mas foi só na noite em que chegamos, depois foi embora.
- Aaaah... Mas então ele está sério, não? Todos estão falando que-
- Professora! Não dê ouvidos para as fofocas dos outros quando você tem a protagonista a sua frente! Mary contou que foi tudo uma confusão!
- Desculpa, querida. Mas isso tudo é tão interessante que até os professores estão comentando! – a professora gargalhou alegremente e saiu cantarolando para os fundos da estufa.
Vicky revirou os olhos e voltou a se concentrar na sua tarefa.
- Olá! – disse alguém entrando sem cerimônias na estufa e a assustando.
Vicky levantou o rosto sujo de terra e ficou estática segurando um dos vasos em uma das mãos e uma pá cheia de adubo na outra. Eram nada mais nada menos do que dois dos Dragões, se redimindo a entrarem no local de trabalho de um professor.
- A Weed está aí? – perguntou MacGilleain dando uma olhada geral em volta e reparando nos doces etiquetados nas prateleiras. – Nos disseram que ela vem aqui depois das aulas.
- Ela não vem hoje. – respondeu Vicky ainda os encarando surpresa, nunca achara que chegaria a falar com qualquer deles.
- Vocês são amigas? – perguntou Nissenson, que não parecia nada contente em estar ali.
- Somos amigas de infância. – disse ela corajosamente e com orgulho, pensando no que acontecera com Sarah, mas não querendo negar.
MacGilleain e Nissenson se entreolharam, provavelmente confirmando mentalmente algo que já haviam discutido antes, e encolheram os ombros, como se dissessem que não teriam outra escolha.
- Então você vem passear com a gente. – anunciou MacGilleain indo até ela e a fazendo largar o vaso e a pá, e lhe tirando as luvas.
- Quê?!
- Não temos muito tempo, se apresse! – Nissenson ajudou o amigo a empurrando em direção a porta.
- EI! ESPERA! PROFESSORA! SOCORRO!
- O que está acontecendo aqui?! – perguntou a professora, vindo correndo dos fundos da estufa – O que pretende fazer com a minha ajudante?
- A pegaremos emprestada por alguns instantes. – falou Nissenson parando com uma Vicky relutante na porta.
- Que besteira! – ela empunhou sua varinha, demonstrando toda a sua autoridade de professora – Não podem fazer isso! Não permito!
- Esses doces estão à venda? – perguntou espertamente MacGilleain.
- Estão. – bufou a professora lhe lançando um olhar mortal.
- Eu vou comprar!... Todos os doces daqui!
Imediatamente a expressão assassina da professora voltou ao normal e ela disse para Vicky com uma voz doce:
- Vá com cuidado, querida.
- PROFESSORA! – protestou Vicky, sendo segurada pelos braços e empurrada por Nissenson para fora.
- Quanto fica tudo? – perguntou MacGilleain tirando uma bolsa de couro de dragão do casado das vestes, tilintando à galeões.
- Tão parecido... – murmurou a professora o olhando de perto – Com o homem que eu amava antes...
Sem entender, MacGilleain continuou esperando pela resposta sorridente.


***


Mary olhava em volta e pensava no que estava fazendo naquele lugar. Definitivamente ela não era um deles, nunca fora. Estaria muito melhor enfiada lá na estufa ajudando Vicky e ouvindo as alucinações da professora Karoline do que estando ali, naquele tumulto de gente, vozes e sons. A festa era de um aluno de Hogwarts, então ela achara que seria algo mais como comemoração entre amigos, entre o próprio pessoal da escola. Mas aquilo estava muito mais para uma boate do que qualquer outra coisa.
Ela viera com algumas meninas da sua sala que antes nunca haviam lhe dado mais atenção do que ao lixeiro da sala de aula. Porém, eram as únicas conhecidas suas ali e era muito melhor estar entre elas do que sozinha no meio daquelas pessoas estranhas. O assunto variava entre a última moda bruxa de Paris e em qual país elas iriam passar as férias de verão esse ano, ou seja, estavam muito além das possibilidades comunicativas de Mary.
Ela deu um bocejo disfarçado e pensou mentalmente em uma desculpa para ir embora. Fizera a sua parte, havia comparecido, agora eles não poderia usar o argumento de que ela recusava a todos os seus convites. Estava se preparando para iniciar o seu discurso de despedida quando uma das frases das meninas chamou toda a sua atenção e lhe fez esquecer de tudo o que iria falar:
- Não parece com o Hainault?
- Parece sim!
Mary olhou para onde as meninas indicavam discretamente.
Encostado em uma parede estava um bruxo que com certeza não era um aluno de Hogwarts. Ele parecia estar entediado também e olhava em volta como se não achasse nada interessante para fazer.
- Ele... – Mary murmurou, não conseguindo desviar os olhos dele.
Aquele bruxo poderia ser facilmente confundido com Ryan Hainault, mesmo em Hogwarts. A única diferença parecia ser o cabelo mais comprido do que o verdadeiro. Então, os olhos dele se encontraram com os de Mary e ela rapidamente desviou os seus, envergonhada.
Balançando a cabeça para sair do transe em que caíra ao vê-lo, Mary repetiu mentalmente “Esqueça o Ryan Hainault! Esqueça-o de uma vez!”.
- Olá.
As meninas ao seu lado levantaram-se repentinamente em uma onda de empolgação que fez com que Mary olhasse em volta assustada, procurando a causa. Era nada mais, nada menos que o mesmo bruxo de antes, chegando sorridente até elas.
- As moças não querem dançar um pouco? – perguntou ele galantemente.
Quase em coro elas responderam que sim e apressaram-se em deixar seus copos de bebidas em qualquer lugar para segui-lo.
- Você não vem também? – perguntou ele para Mary que ainda não havia processado o convite.
- Eu... – ela olhou em volta procurando por uma desculpa – Eu preciso ir ao banheiro! Com licença! – e fugiu o mais rápido que pôde de perto dele.


***


- O Chris não é do tipo que enxerga as coisas a sua volta. – explicou Nissenson para Vicky – Embora eu ache que estaria tudo bem se os dois ficassem juntos, não quero que o Chris vá tão fundo nisso.
- Acho que isso é entre os dois! – Vicky procurou uma maneira de defender o lado da amiga – Não acho que devemos interferir.
- Está tudo bem se eles estiverem só brincando. – comentou MacGilleain – Mas se ficar sério, haverá problemas, entende?
- Não. Não entendo! – a garota cruzou os braços e olhou para o lado, demonstrando todo o seu mau humor por ter sido praticamente seqüestrada.
Os três estavam nos terrenos de Hogwarts, perto do lago, em um lugar onde poderiam conversar tranquilamente sem ninguém lhes importunar. Mesmo com a neve cobrindo o chão e do vento frio que soprava em volta, nenhum deles parecia se importa com isso.
- Não entende? – Nissenson começou a perder a paciência, a encarando com um olhar mortal.
- Eu não entendo! – repetiu ela colocando as mãos na cintura e devolvendo o olhar de uma forma ameaçadora – Com licença! – e saiu afundando os pés furiosamente na neve.
- Espera! Ainda não-
- Deixa, Adam. – Nissenson impediu o amigo – Essa garota é do tipo que não meu dou bem de jeito nenhum! Teimosa, mesmo quando sabe que pode estar errada...


***


Mary nunca se arrependera tanto de ir a uma festa, e incluindo nessa conta a festa da Sharon, onde Doumajyd havia lhe beijado. Ela se escorou cansada em um canto, onde ninguém prestaria atenção nela, e tentou pensar em uma maneira de sair desapercebidamente. Então, viu alguém familiar passar entre os convidados.
- Sarah? – ela murmurou tentando ver as feições da moça entre as várias pessoas juntas, coisa que parecia impossível.
Porém logo concluiu que era impossível. Sarah nunca se vestiria daquela maneira espalhafatosa. Aquela roupa caberia muito bem em uma daquelas meninas nojentas da Sonserina, mas não na tímida e recatada Sarah Swan.
- Está com sede?
Seus joelhos quase dobraram com o susto que levou quando o bruxo parecido com Hainault parou na sua frente, lhe oferecendo um copo com cerveja amanteigada.
- Na-não obrigada. – ela recusou gaguejando, mas não achando uma brecha para escapar – Eu não bebo essas coisas.
- Não é alcoólico, não se preocupe.
Mary sabia perfeitamente disso, mas o cara não se tocava que ela não queria nada dele. Sem opção, e achando que assim poderia fugir, ela pegou o copo, mas tomou somente um gole.
O bruxo sorriu e olhou em volta, dizendo:
- Festa animada, não?
- Hum... – limitou-se Mary, segurando o copo com as duas mãos bem próximo ao seu rosto, fingindo que olhava para ele enquanto pensava em uma maneira de fugir.
- Pode beber. Não vai fazer mal algum... Com esse frio é bom tomar bebidas fortes para esquentar.
Mary tomou mais um gole, dessa vez maior, pensando que, se iria sair, uma bebida que esquentasse cairia bem.
- Que tal irmos um pouco lá para fora?
- Ahn?
- Lá fora. Onde podemos conversar melhor.
- Eu, na verdade, estou com as minhas amigas e-
- É só um pouco, elas não vão se importar.
Ele passou um braço em volta dos ombros dela e a forçou a andar.
- Ei! Eu...
Mary sentiu uma coisa estranha que ia do seu estômago para a cabeça. No mesmo instante suas pernas fraquejaram e, se não fosse pelo aperto nos ombros do bruxo, ela teria caído ali no chão.
- O que está...
Tudo a sua volta começou a rodar e Mary já não conseguia fixar o olhar em nada.
- Eu...
As palavras se perdiam em sua cabeça e ela não conseguia mais pensar racionalmente em nada. Então tudo ficou escuro.

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