A tentativa de ajuda de Mary



Christinne, explicou para a professora de transfiguração que havia requisitado Mary Ann como ajudante por um tempo e por isso ela perdera a aula. E para que a mentira ficasse mais convincente, Mary realmente faltou todas as suas outras aulas da tarde para ajudar a irmã mais velha de Doumajyd, do Departamento de Relações Internacionais do Ministério, com o seu trabalho na escola.
Pelo que ela explicara para Mary, Hogwarts estudava a possibilidade de trazer alunos de fora do país, e assim ganhar mais status do que já possuía. Era trabalho dela ser a mediadora do Ministério nesse assunto, e para isso ficaria uma semana resolvendo questões burocráticas na escola.
- Na minha turma tem uma aluna que veio da França. – comentou Mary enquanto a ajudava a analisar velhos documentos de registro da escola na biblioteca – O nome dela é Sarah Swan.
- Swan? – Christinne procurou pelo nome nos vários pergaminhos – Ah, aqui está... Realmente ela veio da França... Mas a nacionalidade dela é inglesa, então não é o mesmo caso desses alunos que virão.
- Hum... – Mary voltou a ordenar os documentos.
Na verdade, nunca tinha falado com Sarah a respeito disso. Ela não tinha sotaque ou qualquer coisa além do sobrenome que a classificasse como uma francesa legítima.
- Pronto! – Christinne se espreguiçou na sua cadeira e deu por encerrado suas atividades do dia.
Mary olhou para o relógio da biblioteca. Já era quase a hora do jantar.
- Obrigada por me ajudar hoje, Mary! – agradeceu Christinne guardando tudo o que estava espalhado com um gesto da sua varinha. – Com a sua ajuda eu dei conta desse trabalho monótono em uma tarde! A partir de amanhã eu já posso iniciar a próxima etapa!
- Não foi nada. – disse ela e acrescentou meio sem graça – Foi você que me ajudou primeiro...
- O idiota do meu irmão parece ter a incomodado muito, não?
Ela não respondeu, preferia o silêncio a mentir. Então a irmã acrescentou sorridente:
- Mas não se preocupe, qualquer problema que você tiver com ele pode sempre me chamar!
- Não, – ela se apressou em dizer – você deve ser muito ocupada no Ministério e ficar a importunando só por causa de implicâncias aqui na escola não é certo!
- Verdade?... Pois eu achei que temos o mesmo cheiro.
- Che-cheiro? – Mary se lembrou de ter ajudado a professora Karoline quando teve aula nas estufas de manhã e cheirou as mangas das vestes para verificar se não havia algo estranho.
A oficial do Ministério achou muita graça nessa reação dela e comentou:
- Você é tão inocente quanto o Chris! Talvez ele esteja mesmo apaixonado por você!
Mary ficou chocada com a afirmação e no mesmo instante Christinne levantou-se e pegou suas coisas dizendo:
- Bom, vou indo. Pode me procurar sempre que precisar!
Mary Ann agradeceu mais uma vez e a observou sair majestosamente da sala. Ela já tinha visto algo assim uma vez, quando esteve na casa do Doumajyd e encontrou aquela bruxa de meia idade. Porém, de alguma forma, elas não eram nem um pouco parecidas.


***


- Ainda zangado comigo? – perguntou Christinne ao entrar na ala do D4 no Salão Principal, onde Doumajyd estava matando tempo sem fazer nada, ainda com o uniforme de quadribol.
- Por que veio aqui? – questionou ele em tom zangado, como se a última coisa que esperasse era a irmã ali em Hogwarts.
- Trabalho. – respondeu ela simplesmente, sentando em uma das outras poltronas e abrindo o Profeta Diário que trazia consigo.
- E como vão as coisas com o velho?
- Ninguém chama seu cunhado de velho, Chris!
- Pra que se importar com alguém que você nem gosta?
- Estou feliz agora que me acostumei.
- Mas estava claro que você não queria se casar.
- É mesmo?... E você quer que eu me divorcie e fique junto de você de novo?
- Não diga coisas ridículas!
Ela riu, parecendo se divertir imensamente em estar ali conversando com ele.
- Até quando vai ficar aqui? – quis saber ele.
- Por volta de uma semana... Não fique com essa cara solitária, eu voltarei em breve!
- Não precisa voltar!
- Sabe, Chris, – começou ela achando que seria um bom momento para introduzir o assunto – você gosta daquela garota?
- Ahn? – ele se fez de desentendido.
- Aquela que você estava perseguindo?
- Por que essa pergunta repentina?! – respondeu ele de forma agressiva, mas não conseguindo disfarçar que ficara sem graça – Não tem como gostar daquela sangue-ruim!
- Hummm... – ela riu folheando o jornal, fazendo cara de quem sabia muito mais do que ele imaginava.
- O quê?! – perguntou ele intrigado com a reação dela.
- Se você não for mais gentil com ela, certamente ela vai o deixar!
- Isso não tem nada a ver!
- Se você tiver problemas amorosos pode sempre me perguntar.
Eles ficaram em silêncio, ela folheando o jornal e ele tentando não parecer preocupado com o que ela falara. Então, ele respirou fundo, se preparando para dizer algo muito importante, e começou:
- Sabe, eu-
- Ah! Olha! – ela o cortou mostrando algo no jornal – É a Sharon! Ela está aqui também, não? Tenho que falar com ela!...


***


Mary Ann entrou confiante na sua torre de desabafo, segurando firmemente o lenço que Hainault lhe dera nas mãos, como se fosse um amuleto. Mas mesmo desejando com todas as suas forças encontrá-lo ali, não havia nem sinal dele. Só o vento frio entrava uivando pela janela.
Ela olhou para o céu cinzento e gritou, amassando os lenços nas mãos:
- EU QUERO VER!!!
Então permaneceu estática, como se pudesse ver as suas palavras serem levadas para longe com o vento. E foi assim que sentiu que alguém havia parado ao seu lado. Virando-se depressa, ela deu de cara com Hainault:
- Quem você quer ver?
- Eu... anhm...
Mary ficou extremamente sem graça. Havia preparado dezenas de formas de falar com ele para várias situações, menos aquela. Então disse a primeira coisa que lhe veio à mente:
- Há quanto tempo, não?...
Ela preparou-se para lhe entregar o lenço, e estava a meio caminho de fazer isso quando ele disse:
- Sabe, a Sharon tem estado ocupada com seus assuntos para voltar para a França. A mãe dela veio aqui no castelo para tentar convencê-la a não ir... – ele recostou-se na janela, com as mãos dentro dos bolsos do casaco, olhando com o seu típico jeito indiferente e calmo para a paisagem.
- Ela... realmente vai voltar? – perguntou Mary tentando não transparecer que já sabia do assunto, desistindo de entregar o lenço e o guardando discretamente. – Hum... tudo bem assim?
- Ela só faz o que pensa. – disse ele soando um tanto triste.
Mary ficou surpresa e ao mesmo tempo sentiu um aperto no coração.
Desde que ela conhecera o D4, no seu primeiro ano, Hainault sempre fora o calado indiferente dos Dragões. Depois de conhecê-lo melhor esse ano, ela meio que tinha percebido que ele era assim por diversas razões e que na verdade não era uma má pessoa. E quando a Sharon chegou, ela descobriu um Hainault totalmente diferente, que sorria e demonstrava toda a sua alegria. Mas agora, ele estava triste e desolado como ela nunca havia visto uma pessoa ficar na vida. E isso a deixou triste também.
Sem que qualquer um dos dois percebesse, Doumajyd estava na entrada da torre, apenas observando silenciosamente a cena. Porém, quando ele a viu esconder o lenço de Hainault e ficar triste por ele, o dragão saiu desanimado.
- Mas, se ela for, – disse Mary pensando em alguma forma de ajudar – você não poderá vê-la de novo...
- Quer vê-la? – perguntou Hainault de repente.
- Quê?
- Você estava gritando que queria ver alguém? Era ela, não? A pessoa que você admira... Quer ir agora? Eu a levo lá.
- Bem eu...
Ela não a queria ver. Não queria ver a pessoa que deixava ele daquele jeito. Mas ao perceber que tudo o que ele queria era usá-la como pretexto para poder vê-la também, Mary não conseguiu dizer não. Pelo menos assim, ela teria a chance de conversar com Sharon e tentar de alguma forma convencê-la a não abandoná-lo.


***


Ao entrarem na ala de Hogwarts onde Sharon estava, um dos seguranças indicou o quarto no andar superior. Lá onde ocorrera a festa de boas vindas, estava também uma bruxa com vestes da alta sociedade, conversando com alguém na lareira.
- É a mãe da Sharon. – comentou Hainault para Mary a guindo para que subisse as escadas.
Ele bateu na porta e logo depois Sharon a abriu. Mary percebeu que o seu sorriso não foi imediato ao ver Hainault, mas foi sincero ao vê-la.
- Ela queria agradecê-la. – disse ele e acrescentou saindo – Vou cumprimentar a sua mãe.
Sem tirar os olhos dele se afastando, Sharon convidou Mary para entrar. O cenário do quarto estava bem diferente sem as várias roupas espalhadas por todos os lados. Elas estavam quase todas incrivelmente dentro da mala de Sharon, e algumas ainda estava fora esperando para serem devidamente guardadas.
- Desculpe a bagunça. – pediu ela fazendo várias caixas de sapatos levitarem e entrarem sem dificuldades na mala – Mas não posso mais abusar da hospitalidade de Hogwarts, mesmo o diretor falando que posso permanecer o tempo que eu quiser...
Agora sem as roupas servindo como poluição visual no quarto, Mary reparou em pequenos detalhes que tinham passado despercebidos naquela noite. Como dois porta-retratos ao lado da cama. Ela se aproximou para vê-los e viu que eram todos de crianças.
- São o D4 e eu. – comentou Sharon vendo o que ela estava olhando. – No primeiro sou eu com todos eles e no segundo eu e o Ryan.
Na primeira foto haviam quatro garotinhos com vestes bruxas de no mínimo seis anos e uma menina mais velha no meio deles, todos se mexendo sem parar, como era de se esperar de crianças saudáveis se reunindo para retratos. No segundo havia uma foto da mesma menina agarrando em um abraço apertado o menino de cabelos dourados, que sorria parecendo extremamente feliz, nada preocupado com a falta de dois dentes da frente.
Mary encarou aquela última fotografia. Nunca havia visto aquele sorriso em Hainault e não imaginava que um dia ele já havia sorrido daquela maneira. E aquilo era com certeza por causa da Sharon. Então ela confirmou algo que já estava em seus pensamentos desde o dia da festa de boas vindas: tentar conquistar o seu Cavalheiro de Olhos Frios, era uma batalha perdida para ela. Não importava o quanto Mary passara a gostar de Hainault naqueles últimos dias e se ele fosse ou não para ela o seu Cavaleiro. Aqueles dois tinham uma história muito antiga juntos, e estavam mais ligados do que ela poderia imaginar. Não se tratava apenas de Sharon ser uma mulher incrível e ela apenas uma sangue-ruim maltratada em Hogwarts, mas sim de que Hainault a conhecia a vida toda e só tinha olhos para ela.
Então, sentindo que só havia uma forma de ajudar, ela perguntou:
- Vai mesmo partir?
- Eu não quis ir para a casa da minha família. – disse Sharon guardando na mala o restante de roupas que estava em cima da cama – Sabia que se eu fosse, eles encontrariam um modo de me prender lá até que eu mudasse de idéia! Meus pais – ela verificou, dando uma olhada pelo quarto, o que mais ainda faltava ser guardado – não aceitam muito bem o meu modo de pensar e de ver o mundo.
- Por favor, não volte para a França! – pediu Mary de repente em um impulso, deixando Sharon surpresa, e acrescentou – Pelo Hainault! Eu quero que você fique! Sempre que eu o encontrava na torre, ele estava esperando ansiosamente pela sua volta! Toda a vez que ele fala de você, seu rosto se ilumina e ele sorri! Mas... desde que você decidiu voltar para a França, ele parou de ir lá. Quando eu o encontrei de novo depois da festa, estava prestes a chorar!
Parado do lado de fora do quarto, encostado na parede ao lado da porta entreaberta, Hainault escutava calado.
- Se você voltar para a França, – continuou Mary – ele não será mais o mesmo. Eu sinto isso! Por isso, por favor, fique! Eu imploro! – e ela se ajoelhou no tapete felpudo que revestia o chão em volta da cama.
Sharon permaneceu estática diante da situação e de tudo o que ouvira. Respirando fundo, ela pegou a garota pelos ombros e a fez levantar, dizendo:
- Me desculpe, mas eu não posso realizar esse seu desejo.
- Mas...
- Sabe, as pessoas vivem pensando ‘Ah, se eu tivesse agarrado aquela chance?’, mas eu não gosto de me lamentar pelo que eu não fiz. Não quero viver me arrependendo. Quero ser eu mesma, vivendo da forma que eu escolhi... Consegue compreender?
Mary compreendia perfeitamente e pensava da mesma maneira, e se sentiu envergonhada do que tinha acabado de fazer:
- ...Entendo. Eu disse coisas que não deveria, me desculpe.
- Fiquei feliz de verdade por você se preocupar com alguém importante para mim... E sobre o Ryan, – disse ela ajeitando o casaco de Mary, e acrescentou piscando o olho – conto com você!
Mary concordou com a cabeça e se despediu apressadamente, para poder sair dali o mais rápido possível. E ao passar pela porta foi agarrada pelo braço por Hainault e arrastada para fora.


***


- O que pensa que estava fazendo?! – perguntou o dragão perplexo assim que os dois já estavam bem afastados da ala da modelo.
- Vo-você ouviu? – engasgou-se Mary.
- Eu não a trouxe aqui para isso!
- Mas... – ela percebeu que, longe de estar agradecido pela tentativa de ajuda dela, ele estava furioso.
- Foi por mim?! O que é isso?! Não cause incômodos!
- Incômodo?! – agora ela ficara indignada, tinha feito aquilo para tentar ajudá-lo.
- Ficar de joelhos... – ainda resmungou ele como ela tivesse feito a coisa mais humilhante do mundo.
- Espera, eu-
- Como você consegue?! Eu não posso acreditar!
Ela percebeu que ele queria dizer ‘como você consegue e eu não?!’, e essa foi a gota d’água para ela, que explodiu:
- Você só fica fazendo essa cara triste ao invés de reagir! Percebe que, se você a deixar ir agora, talvez nunca mais tenha outra chance! Vai perdê-la para sempre!
- Isso não é da sua conta! – ele gritou – Não preciso da ajuda de uma sangue-ruim como você! Eu não deveria ter a ajudado desde o começo! Vá embora!
Ela respirou furiosa diante daquilo. Se era assim que ele pensava, ótimo!
Mary Ann deu meia volta e saiu bufando, repetindo para si mesma que nunca mais na vida olharia para Ryan Hainault, dragão do D4.
Então passou a mão pelo rosto e percebeu que chorava.

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