Bruxa Madrinha
Como estava ficando comum nesses últimos dias, Mary Ann sentiu o chão afundar sob seus pés quando ela entrou na sala onde estava sendo realizada a festa de boas vindas para a Sharon Seymour. Todos estavam vestidos a rigor para a mais do que formal festa. Somente ela estava ali, parada na entrada, com suas vestes escolares, felizmente com o remendo no casado concertado de uma forma magicalmente descente.
- Ah, que horror, Mary! Como pode aparecer aqui vestida assim? – perguntou a líder das meninas implicantes da Sonserina chegando perto dela usando o típico tom de sarcasmo novamente.
- Mas, vocês disseram que...
- E você acreditou?!
A três riram abertamente dela e voltaram a se misturar com o resto dos convidados, que agora já haviam notado a presença daquele ser deslocado entre eles. Mary cerrou os punhos e quase trincou os dentes de raiva, mas não se deixou abalar. Seguiu decidida para a mesa onde havia vários docinhos e começou a encher um prato, sem muita frescura. Já que já estava fazendo papel de idiota, iria pelo menos esperar pelo o verdadeiro motivo para qual decidira vir: ver Sharon Seymour.
Foi então que ela ouviu vozes de fãs histéricas anunciarem para todos:
- D4!!!
Ela olhou para a entrada e lá vinham, como se estivessem em um grande desfile, Doumajyd, Nissenson e MacGilleain, com as roupas de gala para bruxos mais deslumbrantes que ela já vira. O líder, como sempre, dando um jeito de demonstrar ser um rebelde pelo estilo de suas roupas.
Ao passar pela mesa dos doces, Doumajyd viu Mary segurando o prato com uma montanha de doces e deu um sorriso de descrença, revirando os olhos e seguindo para o outro lado do salão. Segurando as bordas do prato, como se imaginasse que aquele fosse o pescoço do líder do D4, Mary procurou uma mesa afastada em um dos cantos da sala, e começou a devorar sem piedade os seus doces.
Depois de um tempo, alguém se aproximou dela. Ainda mastigando um bolinho de creme, Mary olhou para cima e se deparou com um bruxo elegante sorrindo para ela.
- Você é amiga da senhorita Seymour? – perguntou ele galantemente.
Mary estava terminado de engolir o bolinho para tentar responder o mais educadamente possível quando ouviu alguém se antecipando em sua resposta:
- Na verdade, ela é uma penetra aqui de Hogwarts. E bem famosa, não é mesmo meninas?
As outras duas do trio confirmaram o que a líder delas dissera.
- A fama dela já conta com... cinco abortos. – comentou a de cabelos cacheados fingindo que fazia a conta nos dedos.
- Com licença. – disse o bruxo saindo com um sorriso amarelo.
- Qual é a de vocês?! – perguntou Mary se levantando e quase derrubando os doces no chão – Então aquela faixa foi coisa das três idiotas?!
- Está suspeitando da gente? – perguntou a líder incrédula.
- Que horror! – fizeram coro as outras duas.
- Quem aqui é um horror? Eu ou vocês?! – desafiou Mary – O que eu fiz para vocês me atacarem desse jeito?!
- Você é um incômodo! – acusou de uma forma venenosa a líder – Sempre indo atrás do Ryan Hainault!
- Para sermos merecedoras do D4, – explicou a ruiva – usamos muito tempo e dinheiro!
- Nós não somos do mesmo nível que você! – declarou a outra.
- Aliás, por que está na nossa escola, sangue-ruim?! Se você não tem dinheiro ou nome não deveria estar!
- Isso não é da conta de vocês! – Mary disse alto e chamou a atenção de alguns convidados, inclusive de Doumajyd que passou a observar atentamente o que estava acontecendo.
- Vá embora! – falou a líder no mesmo tom de desafio que Mary usava – Se você não quer que o seu amado Hainault ria de você!... – então ela sorriu de um jeito sinistro e complementou com um jeito de quem entendida do assunto – Mas com certeza ele nem liga para meninas feito você!
No mesmo instante todos começam a aplaudir e Mary olhou o que estava acontecendo. De cima de uma escadaria ao fundo da sala, que provavelmente dava aos aposentos preparados especialmente ela, estava Sharon Seymour, de braços dados com Hainault. Ele vestia vestes prateadas e parecia estar feliz como nunca fora, deixando Mary de queixo caído.
- Viu? – disse a de cabelos cacheados – O que ele vai querer com alguém como você se ele já tem uma mulher perfeita como a Sharon Seymour?
- Se você entendeu, vá embora, sangue-ruim! – sibilou a líder, entornando toda a bebida que havia na taça que segurava na cabeça de Mary, e foi logo imitada pelas outras duas, que riram alegremente. – Aaah, desculpa! – pediu ela, falando alto para que o os outros presentes ouvissem e verificassem o que estava acontecendo – A mão escorregou!
- Não fique nervosa e comece a dar socos! – ajudou a outra – Afinal, não quer estragar mais ainda a festa da Sharon, não?
Vendo aquilo, Doumajyd saiu de onde estava para se aproximar, mas Hainault surgiu ao lado de Mary no mesmo instante. As alunas da Sonserina pararam de rir imediatamente e encaram o dragão, sem saberem o que fazer.
Ele lançou seu olhar frio sobre as garotas que automaticamente deram um passo para trás. Então olhou para Mary, que se encolhia, esperando levar um sermão por estar de uniforme e ter atrapalhado a festa.
- Você parece estar molhada. – comentou o dragão gentilmente oferecendo um lenço.
Mary agradeceu de uma forma quase que inaudível e aceitou o lenço.
- Meninas! – Sharon apareceu atrás das garotas, fazendo com que elas se sobressaltassem – Eu agradeço muito por estarem aqui, mas não acham que já passou da hora de vocês voltarem para os seus quartos?
Ela estralou os dedos e imediatamente os seguranças que estavam na porta apareceram e arrastaram as três, que esperneavam e se defendiam fazendo um escândalo em altos brandos, para fora. Então a bruxa olhou para Mary e lhe lançou um sorriso que dizia com todas as palavras que estava feliz por conhecê-la:
- Pode vir comigo um pouco, Mary Ann?
- Co-como sabe meu nome? – perguntou ela totalmente desconcertada por estar ali, naquele estado, finalmente vendo em carne e osso a pessoa que ela mais admirava no mundo bruxo.
- Sem perguntas agora! – Sharon a pegou pelo braço a levou com ela, passando por todos os convidados que abriam caminho.
Doumajyd lançou um olhar inquisidor para Hainault que apenas sorriu e voltou a sua atenção para os convidados.
***
- Por-por que me ajudou? – quis saber Mary depois de ter usado o banheiro de Sharon para lavar a cabeça.
Sharon a tinha levado para os aposentos especialmente preparados para ela e, obviamente, aumentado pelo menos dez vezes do seu tamanho original para que toda a bagagem da modelo coubesse lá. Havia apenas uma mala desfeita em cima na cama, mas haviam cabides e mais cabides com as mais variadas roupas espalhados por todo o quarto. Sharon a mandara sentar quietinha em um banco estofado em frente a uma penteadeira, enquanto ela escolhia algo entre esses cabides.
- O Ryan disse que havia uma garota interessante. – comentou ela finalmente achando algo que lhe agradasse – Percebi que era você logo que a vi... Fiquei surpresa! – exclamou ela vindo até Mary com um vestido branco rodado, feito de um tecido brilhante – Ele nunca se interessa pelos outros e até fez aquilo por você! Ele é incrível, não?... Talvez ele goste de você!
- Não! – ela se apressou em dizer como se fosse a coisa mais impossível do mundo, lembrando que as meninas da Sonserina insinuaram que Sharon e Hainault estavam juntos – Definitivamente não!
A bruxa riu alegremente e lhe entregou o vestido. Mary permaneceu olhando para aquele vestido lindo de forma abobada, enquanto a modelo foi até um outro canto do quarto e voltou com uma caixa.
- O que acha desses? – ela perguntou abrindo a caixa.
Mary encarou o par de sapatos mais bonitos que ela já tinha visto na vida. Ele era todo trabalhado com pequenas pedras brilhantes e pareciam ter custado uma pequena fortuna.
- É inacreditável... – balbuciou Mary encantada pelos sapatos.
- Então vão ser estes!
- Na-não! Eu não posso! Você não deve...
A modelo fez um sinal para que ela parasse de falar e disse olhando sonhadoramente para o nada:
- Em Paris, dizem que as garotas devem usar sapatos que as façam voar. E então, eles as levarão à lugares magníficos!
Mary permanecia imóvel, segurando o vestido e os sapatos.
- Hoje, – anunciou Sharon – eu vou ser a sua Bruxa Madrinha! Vou fazer você brilhar como nunca brilhou! E o melhor: não vai durar só até a meia-noite!
***
A festa continuava normalmente, ninguém querendo comentar sobre o ocorrido e todos voltando suas atenções para o D4, já que a principal homenageada estava ausente. De repente, uma exclamação começou a se apossar dos convidados como se fosse uma onda, conforme eles olhavam para as escadarias.
Hainault e Doumajyd, que estavam conversando animadamente com o secretário do atual Ministro da Magia, e que fora colega de classe da Sharon, viraram ao mesmo tempo para conferir o que estava acontecendo.
Lá estava Sharon, radiante como sempre esteve em todas as capas de revistas e, ao seu lado, uma cabeça mais baixa, estava Mary, não sabendo para que lado olhar e parecendo extremamente desconfortável por estar no centro das atenções.
Ela usava o vestido branco e os sapatos com brilhantes, além de estar perfeitamente maquiada, com os cabelos escovado e cacheados nas pontas, presos com uma tiara também de brilhantes. Também usava jóias emprestadas por sua Bruxa Madrinha. Se Sharon estava majestosa como a rainha da festa, Mary agora poderia ser considerada a princesa, digna de toda a atenção que estava recebendo.
Sendo guiada por Sharon, por que de outra forma ela provavelmente desceria capotando as escadarias por ainda estar estupefata com a situação, Mary chegou até embaixo, onde Hainault já estava em seu posto, esperando pelas duas com um enorme sorriso.
***
Doumajyd permaneceu abobado todo o tempo desde que se virou e viu Sharon no topo das escadarias com Mary totalmente produzida ao seu lado. Ele lembrava exatamente de como ela ficara aquele dia quando a levara para a sua mansão, tentando comprar sua bandeira branca. Mas agora, apesar de ser uma situação parecida, era totalmente diferente. Havia uma aura contrária ao daquele dia e ele tentava entender por que de tamanha diferença.
Quando ela desceu as escadas e Hainault encontrou com as duas, o líder dos Dragões ouviu o amigo dizer:
- Você está magnífica, Mary. – e ele ofereceu a mão para acompanhá-la pelo salão, exatamente como ele tinha feito com Sharon antes.
Diante do elogio e da mão estendida de Hainault, Mary parecia que havia se derretido toda, e aceitou a oferta sorrindo de um jeito que a deixava muito mais bonita do que já estava.
Doumajyd então lembrou da expressão furiosa dela naquele dia lhe gritando ‘VOCÊ É IDIOTA?! Há algum motivo para sorrir?!’, e não gostou nada de a ver sorrindo tão facilmente e com tanta intensidade para Hainault.
- Ryan! – chamou ele, se aproximando de onde os dois estavam e demonstrando no tom de fala todo o seu descontentamento – Quem lhe deu permissão para falar com ela? Ela recebeu a Tarja Vermelha!
- Você continua inconveniente quando não precisa, não é mesmo Chris? – comentou Sharon ficando entre eles, em uma típica pose de irmã mais velha interferindo em uma briga de meninos.
- Mesmo sendo você, Sharon, – ele sibilou – Eu não permito que fale assim comigo!
- Então, – Hainault se pôs na frente da modelo – Eu não perdoarei quem falar assim com a Sharon!
Não podendo agüentar aquele cúmulo, Doumajyd perdeu sua compostura e extravasou toda a raiva que estava acumulando contra o amigo nos últimos dias, lhe dando um soco. Hainault, tanto pelo soco como pela surpresa de realmente o ter levado, caiu no chão. Mas imediatamente, ele se colocou em pé, como se desafiando o líder a repetir o gesto. E era exatamente o que Doumajyd estava para fazer quando Mary pulou nele, na tentativa de pará-lo, e os dois rolaram pelo chão.
Um silêncio imenso reinou por alguns segundos no salão, até os convidados entenderem o que havia acontecido. Então, conforme conferiam a cena, um murmúrio e exclamações começaram a irromper entre todos.
- Sério?! – riu-se MacGilleain, quase não se agüentando com o que via.
Nissenson limitou a balançar a cabeça como se aquela fosse a cena mais impossível de se acontecer no mundo. Sharon continuava rindo alegremente e Hainault parecia chocado.
Ao rolarem pelo chão, Doumajyd acabara ficando em cima de Mary, com seus rostos colados. E, apesar de ser algo totalmente e inacreditavelmente acidental, aquilo era, sem sombra de dúvidas, um beijo entre os dois.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!