Inimigos Poderosos
Na primeira aula do dia do sexto ano, herbologia na estufa cinco, uma roda de alunos discutia animadamente enquanto a professora preparava os equipamentos que seriam utilizados.
- A tarja vermelha não veio hoje. – comentou um deles se referindo à Mary.
- Depois do que ela fez ontem, acho que ela não vai mais aparecer.
- O D4 não vai deixar isso barato!
- Ela já deve estar no fundo do lago!
Sarah olhou assustada para os colegas no mesmo momento em que a professora Karoline mandava todos se sentarem em seus lugares para poder começar a aula.
***
Mary abriu os olhos com dificuldade e tudo o que conseguiu distinguir entre as bordas escuras da sua visão foram vultos sem formas definidas, de pessoas vestidas de preto. Eles falavam alguma coisa, mas ela só conseguiu entender duas frases antes que tudo voltasse a ser escuridão e silêncio: ‘um caso difícil’ e ‘temos que ser rápidos’.
***
Como se tivesse sido ordenada por uma força superior, Mary despertou totalmente e olhou em volta assustada. Estava repousada em uma majestosa poltrona na sala mais luxuosa que ela já vira na vida. O teto era totalmente de mármore trabalhado até os mínimos detalhes e um lustre enorme de cristal pendia do meio dele. Os móveis e os objetos espalhados pela sala tinham a aparência de ter um preço inestimável, e na sua frente havia um espelho digno de estar no quarto de um rei. Mas o que a surpreendeu mais era o que esse espelho mostrava.
A princípio, ela não reconheceu seu próprio reflexo, e ficou chocada ao perceber que aquela imagem era dela mesma. Não era o mesmo reflexo da garota com cabelos escuros presos em tranças e de uniforme que ela via todas as manhãs no seu quarto em Hogwarts.
Seu cabelo estava preso em um penteado que ela só havia visto em refinadas festas de casamento. Estava usando um vestido preto para festa que poderia estar na capa da revista mais glamorosa de moda. Haviam brincos em suas orelhas, anéis em seus dedos, pulseira em seu braço e um colar em seu pescoço. Todos com pedras preciosas de tanto tamanho e brilho que estavam muito longe de parecerem falsas. E, além de tudo isso, quando ela começou a notar os detalhes, percebeu que seu rosto tinha, de certa forma, mudado: a maquiagem a deixara completamente fora do seu padrão costumeiro e normal.
- O... o que significa isso? – murmurou ela abobada com o que via.
Foi então que notou uma outra imagem refletida no espelho que fez seu sangue gelar.
Sentado no fundo da sala e parecendo deliciar-se com a surpresa dela, estava Doumajyd sorrindo.
- O que pretende com isso?! – perguntou ela furiosa virando-se para ele.
- Vou cancelar. – disse ele ainda sorrindo, com uma calma que não parecia ser normal dele.
- Minha declaração de guerra não foi brincadeira!
- Cem mil galeões! – anunciou ele.
- ... Aham?
- É a conta de tudo o que está usando.
- Ce-cem mil?! – ela quase se engasgou olhando para si mesma como se pudesse encontrar uma etiqueta que confirmasse aquilo.
- Produção, cabelo, maquiagem, vestido, jóias. Tudo isso somam cem mil galeões. – explicou ele.
- Que absurdo! Quer me deixar endividada pelo resto da vida?!
- Não é preciso. – ele se levantou de onde estava e andou, ainda calmamente, pela sala – Eu posso lhe dar tudo isso e o que mais você quiser.
- Como? – ela não acreditava no que estava ouvindo – ...Por que está rindo?! Acha que eu quero essas coisas?! – ela começou a tirar as jóias com raiva e de uma forma um tanto atrapalhada.
- Então por que ficou tão admirada? – inquiriu ele, deixando de sorrir com aquela tranqüilidade atípica e voltando a ser o Doumajyd estúpido de sempre – Ficou admirada, não ficou?!
- Eu-
- O coração das pessoas pode ser facilmente comprado pelo dinheiro! – ele cortou a defesa dela – Você é uma pessoa normal e não está indiferente a isso! Sorria! Você está feliz, não está?! Vestindo todas essas coisas caras! Vamos, sorria! – ela permaneceu calada diante do discurso dele, e isso o enfurece – SORRIA!
- VOCÊ É IDIOTA?! – explodiu ela – Há algum motivo para sorrir?! Mesmo com todas essas coisas caras que eu nunca vou poder ter na vida, eu não estou nem um pouco feliz!... Há coisas nesse mundo que o dinheiro não pode comprar! – ela sibilou essa última frase e terminou em tom de desafio – Eu não vou perder! Não me trate como uma garota qualquer! – e saiu correndo da sala antes que fosse capaz de pegar o espelho e quebrá-lo em mil pedaços na cabeça dele.
***
- O que acontece com esse cara?! – Mary seguiu andando furiosa por um imenso corredor – Idiota! Dá para sorrir na frente dele?! – ela olhou em volta, menos cega pela raiva, e se deu conta que não sabia onde estava.
Olhou por uma janela e não reconheceu a paisagem. Não fazia a mínima idéia de que lugar era aquele e a sua localização no mapa.
- Onde... onde está meu uniforme? – ela lembrou subitamente.
Precisava sair dali, mas primeiro tinha que encontrar o seu uniforme para poder se livrar de todas aquelas coisas. Sem saber onde ele poderia estar, Mary começou a abrir todas as portas que encontrava e a se embrenhar cada vez mais pelo labirinto de corredores.
Quem aquele arrogante pensava que era para tirar alguém da escola? Pior, seqüestrar alguém?! Por que aquilo não tinha outro nome, era totalmente um seqüestro. Até onde ele pensava que o seu poder ia além do direito e dever de um aluno em permanecer na escola durante as aulas?!
Furiosa, ela abriu uma porta de madeira pesada e entrou no que parecia ser um escritório. Estava quase fechando a porta novamente quando percebeu os porta-retratos atrás da escrivaninha. Eram todos da mesma mulher e todas as fotos se mexiam, mais do que confirmando que ali era uma residência bruxa. Em uma a mulher estava com o uniforme de Hogwarts, no que parecia a sua formatura pela Sonserina. Em outras ela estava com roupas de festa em várias ocasiões. Uma com roupas comuns de bruxa, mas não menos luxuosas e na última estava vestida de noiva.
- Que pessoa linda... – admirou-se Mary de boca aberta já estando, sem perceber, em frente à escrivaninha. – Não! Não é hora para isso! – ela balançou a cabeça e saiu da sala correndo.
Mais uma vez ela voltou a procurar por uma saída. Já havia perdido as contas de por quantos quartos imensos passara, quantas salas como aquela do espelho, quantos corredores repletos de retratos gigantes da família Doumajyd, quantos salões de festa de dar inveja até mesmo a Hogwarts com seu único salão. Até então chegar a uma grande escadaria de mármore, e se sentou nos degraus ofegando, cansada de tanto andar.
- Isso aqui não é normal! – murmurava ela completamente desorientada, não sabendo mais para onde ir – É INACREDITÁVEL!!!
Como se as suas palavras fossem a ordem mágica, as imensas portas de entrada para o hall no final da escadaria se abriram e por ela entrou uma comissão de bruxos. Em meio a eles, estava uma bruxa distinta de meia idade, que avançou majestosamente para a escadaria.
- Com-com licença. – Mary se apressou em ficar de pé e tentou pedir ajuda – Eu não acho o meu-
Com um gesto de ordem da bruxa, dois dos bruxos da comissão deixaram suas posições e cada um pegou um dos braços de Mary, a arrastando com eles.
***
Do andar superior, Christopher Doumajyd observava Mary Ann ser arrastada, com seu devido uniforme remendado, para fora da mansão e os seguranças da sua mãe indicarem secamente a saída para ela. Ele passou a mão instintivamente pelo nariz que ainda estava dolorido, e uma cena, já bem antiga, passou pelos seus pensamentos na mesma hora:
NÃO SEJA TÃO CONVENCIDO, CHRIS!, gritou aquela voz estridente tão familiar na sua mente e ele se lembrou de rolar pelo chão do seu quarto com a força do soco.
Agora era a segunda vez que aquilo tinha lhe acontecido, mas...
Uma porta foi aberta no final do corredor e a entrada da comissão de bruxos cortou o fio do seu pensamento.
- Marque a reunião com o Ministro para amanhã de manhã. – ordenou a bruxa de meia idade para um bruxo de óculos que tomava nota de cada palavra que ela dizia – E lhe diga que outro atraso será imperdoável... Ah, você está aí. – comentou ela ao ver Doumajyd recostado ao lado da janela.
- É apenas isso que tem a dizer para o filho que não vê há seis meses?
- Tenho muito trabalho para fazer. – disse ela impaciente – Espero que volte para Hogwarts que é onde você deveria estar agora.
Sem dizer mais nada, Doumajyd deu meia volta a saiu, cerrando os punhos escondidos dentro dos bolsos do casado.
***
Mesmo sendo quase final de outubro e o vento de outono já estar soprando há algum tempo, o frio daquele lugar parecia ser muito mais rigoroso do que em Hogwarts. Mary se agasalhou o melhor que pôde em seu casaco remendado e seguiu para os grandes portões de ferro, que se abriram sozinhos para que ela saísse.
Aqueles bruxos mal encarados haviam lhe falado para andar três quilômetros até chegar à uma estação e quando ela explicou que tinha sido seqüestra por Doumajyd, eles apenas lhe entregaram algum dinheiro bruxo para ela poder pagar a passagem até Hogsmeade.
- Inacreditável... – ela lamentou-se olhando para os galeões na mão.
Quando os portões de ferro se fecharam com um estrondo atrás dela, como se até eles dissessem que ela não era bem vinda ali, finalmente pôde ter uma visão ampla da mansão do líder do D4 e seu queixo caiu:
- Essa casa é do tamanho de um mundo!... – ela suspirou ainda olhando para aquilo – Ah droga... acho que fiz inimigos muito, muito, muito poderosos...
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!