A aluna nova



- É inacreditável! – exclamava Mary Ann enquanto arrumava os vários potes com mudas de plantas carnívoras em prateleiras na estufa particular da professora de Herbologia.
- Para mim eles são mais sapos do que dragões! – riu-se Vicky do outro lado da sala, onde arrumava potes de doces em um armário.
- Diga isso além dessas quatro paredes e será chutada sem dó para fora de Hogwarts! Não importa seu nome ou quanto dinheiro tem sua família!
- Acha que sou boba ao ponto de fazer uma coisa dessas?... O que esse aluno fez?
- Pelo que eu ouvi, ele espirrou uma gota de algum ingrediente da sua poção nas vestes de Doumajyd durante a aula.
- Só isso? São realmente desprezíveis... Ops, mais um vencido. A professora Karoline devia prestar mais atenção no seu estoque! Nenhuma loja vai querer comprar se eles estiverem vencidos!
- Eu como depois. – disse Mary – Deixa aí em cima da mesa.
Vicky era uma aluna do quinto ano da Corvinal. Apesar de ser inteligente, muitas vezes deixava a sua empolgação falar mais alto do que o bom senso. Ela e Mary Ann sempre ajudavam a excêntrica professora de Herbologia com a sua pequena produção de doces feitos com produtos naturais. Na verdade, quem realmente se interessava pelo assunto era Vicky, já Mary apenas ajudava para poder ficar ali, afastada por um tempo do interior da escola. Além de Vicky ser sua amiga de infância, ela era imensamente mais preferível do que suas terríveis colegas de classe.
- Você aparece agüentar bem.
- Mas eu já passei mal uma vez. – comentou Mary.
- Não estou falando do doce vencido!
- Hum?
- Não sei como você consegue deixar que eles se comportem dessa maneira na sua frente!... Você sempre me protegia se me maltratasse, lembra? Quando éramos pequenas, brincando no parque, e aqueles meninos pegaram o meu sorvete. Quando aqueles moleques do bairro corriam atrás de mim por eu ser estranha. Quando, na escola primária trouxa, zoavam comigo pelo mesmo motivo. E mesmo nas férias você ainda soca qualquer um que se atreva a implicar comigo por eu não entender alguns costumes trouxas... Ninguém aqui conhece esse seu lado!
Mary olhou em volta da estufa, um pouco desconcertada com o que a amiga dissera, e tentou se explicar:
- Eu realmente quis socar eles, jogar toda a minha paciência para o alto e ser expulsa orgulhosamente de Hogwarts, mas...
- É por causa da sua família, não?
- É... – concordou ela suspirando.
Mary vinha de uma família trouxa, que trabalhara para os pais de Vicky há muitos anos, e que sabiam sobre o mundo mágico desde muito tempo. Por terem convivido com a família de Vicky, seus pais tinham orgulho de serem considerados por pessoas tão extraordinárias. Eles ficaram ainda mais orgulhosos quando Mary demonstrou ter poderes mágicos e quando os pais de Vicky conseguiram com que ela entrasse em Hogwarts, como uma protegida da família. Por isso, seus pais tinham uma dívida enorme com os de Vicky, e ficariam imensamente desapontados se Mary Ann desistisse de tudo por causa de quatro garotos arrogantes.
Logo depois do primeiro ano, quando ficou conhecendo como era realmente Hogwarts, ela estava disposta a contar tudo para seus pais e desistir, mas então Vicky chegou com a notícia de que decidira entrar para Hogwarts e lhe mostrou uma revista. Lá estava, em grandes proporções e se mexendo, como todas as fotos mágicas, a figura da mulher mais linda que Mary já tinha visto na vida. Empolgada, Vicky explicou:
- Essa é a Sharon Seymour! Ela se formou em Hogwarts um ano antes de você entrar! Hoje ela é representante do Ministério na França, além de ser uma modelo mundialmente famosa desde que freqüentava a escola! Ela não é linda?
Mary Ann ficara encantada com aquela pessoa, uma das bruxas mais famosas do mundo. Ao lado da foto, havia uma entrevista exclusiva, feita pela revista, onde uma das frases se destacou do resto do texto aos olhos dela: ‘O meu conselho para a nova geração de Hogwarts é: sejam sempre vocês mesmos, assim não terão arrependimentos!
E assim, disposta a enfrentar o que quer que fosse para se tornar uma pessoa como Sharon Seymour, Mary voltou para o seu segundo ano em Hogwarts.
Pensou que ainda poderia ser feliz, mesmo adiando a escola e toda a sua ostentação sem sentido, odiando seus colegas de classe cruéis e todos os professores que não davam um basta naquilo. Mas agora, o que ela mais odiava era ela mesma, que não conseguia dizer nada diante daquilo tudo.


***


No café da manhã do outro dia, Mary estava comendo sua torrada e tomando seu suco de abóbora quando a costumeira revoada de corujas irrompeu pelo teto. Para a sua surpresa, uma das corujas da família de Vicky pousou na sua frente com um embrulho pesado. A princípio, ela achou que era algo para a amiga, já que ela ainda não tinha descido do seu dormitório. Mas ficou surpresa quando viu um bilhete preso ao embrulho, onde estava escrito seu nome com a caligrafia de sua mãe. Quase se engasgando com a torrada, ela pegou o bilhete e leu:


Olá querida! É a mamãe! Peguei uma coruja emprestada, não é fabuloso?
Está se divertindo? Papai foi para o centro a negócios ontem e trouxe seus doces preferidos para lhe mandarmos. Mas seu irmão os comeu antes que o alertássemos que não era para fazer isso. Para compensar, mamãe fez doces caseiros para você!
Continue se esforçando, bruxinha! Boa sorte com os estudos!



Rindo, Mary abriu o embrulho de onde tirou uma caixa pequena de madeira escura envernizada, repleta de desenhos de flores coloridas. Ela reconheceu imediatamente um dos tesouros da sua mãe, que ela havia ganho de sua avó no dia em que se casara com seu pai.
O fato de sua mãe ter mandado os doces feitos por ela mesma, naquela caixinha, para que ela se esforçasse na escola, deixou Mary com o coração apertado. Ela agradeceu imensamente a sua mãe e comeu um dos doces aproveitando todo o sabor. Foi quando ouviu uma voz familiar vinda de trás dela:
- Não, obrigada, vou ficar aqui.
- Ora, vamos garota! Nós não mordemos!
Era a aluna transferida, que havia sido selecionada na noite anterior para a Sonserina, sendo cercada por alguns alunos mal encarados do sexto ano da sua casa. Queriam que ela se sentasse com eles, e ela se encolhia apavorada contra a parede, visivelmente tremendo.
Sem pensar duas vezes, Mary Ann correu em socorro dela:
- Oi! Pode sentar aqui comigo! – e a livrou dos garotos, a puxando com ela para a mesa da Grifinória.
- Obrigada. – ela se sentou aliviada ao seu lado.
- Sem problemas.
- Eu não me dou bem com garotos. – ela se justificou ela – Para falar a verdade, ainda não consegui me acostumar com essa escola.
- Se acostumar? Por acaso você não é uma... nascida trouxa?
- Claro que não! – ela riu – Oh, que horror! O que são essas coisas estranhas? – perguntou ela espantada olhando para a caixa.
Mary olhou para a caixa não entendendo onde estava o ‘estranho’.
- São doces caseiros. – informou então.
- Doces... daqueles feitos em sua própria casa?
- ...Sim.
A aluna olhou admirada para a caixa, como se fosse a primeira vez que via algo assim.
- Realmente, você é uma bruxinha rica. – Mary se lamentou e então ofereceu, empurrando a caixa para a colega – Quer um? Pode pegar.
- Posso mesmo?
- À vontade.
A garota pegou um doce com cuidado e experimentou.
- Huuum, que delícia!
- Verdade? Foi minha mãe que fez!
- Sua mãe deve ser uma pessoa maravilhosa!
Mary sorriu contente com o elogio, e indicou para que ela se servisse novamente dizendo:
- Sou Mary Ann Weed, mas pode me chamar só de Mary.
- E eu sou Sarah Swan. Pode me chamar de Sarah!
As duas terminaram com os doces juntas e Mary se sentiu muito feliz com aquele momento. Finalmente tinha conseguido conhecer alguém na escola que não estava sobre a influência e dominação do D4, finalmente tinha conseguido alguém que ela poderia considerar uma colega de classe.
As duas estavam tão empolgadas conversando que foi um susto quando elas perceberam que a maioria dos alunos já haviam ido para as aulas. Ainda tomando o restante do seu suco, Sarah pegou seus livros de cima da mesa e se levantou dizendo:
- É melhor nos apressarmos, ou-
Mas ela não pôde terminar a frase. Assim que se pôs de pé, bateu em alguém, e derramou todo o conteúdo que ainda havia em seu copo. Seus livros caíram no chão em seguida, assim que percebeu com que ela havia trombado. Era Christopher Doumajyd, líder do D4.
Ele analisou o tamanho do estrago em seu uniforme e a encarou sibilando:
- Que tipo de cumprimento foi esse?
- Me desculpe! – ofegou Sarah, quase que em um soluço – Eu posso consertar! Eu sei de um feitiço que-
- QUEM LHE PEDIU UM FEITIÇO?! – ele avançou com fúria para cima dela, que se encolheu de medo – O ESTRAGO JÁ FOI FEITO!
- Calma aí, Chris! Não assuste assim a pobre garota bonita. – disse Nissenson chegando até eles e se pondo atrás dela.
- Olha o rostinho bonito dela. – ajudou MacGilleain também se juntado ao amigo, e admirando Sarah de perto – Se você fosse uns dez anos mais velha... Por acaso tem alguma irmã mais velha?
Doumajyd lançou um olhar ameaçador para os dois:
- Saiam!
- Que frieza, cara. – comentou Nissenson saindo seguido por MacGilleain, os dois desistindo de tentar impedir o amigo.
Doumajyd se curvou para poder encarar uma Sarah encolhida nos olhos e disse:
- E se eu pegar pneumonia e morrer? Eu, Christopher Doumajyd, o herdeiro do nome que sustenta a atual economia do mundo bruxo?! Você por acaso pensou no futuro da nossa comunidade mágica?!
Ela não respondeu, apenas abaixou a cabeça, prestes a desabar no choro.
- NÃO PENSOU?! – ele berrou a pergunta.
- PÁRA! – em um impulso de puro instinto, Mary levantou-se da mesa.
Todos os que ainda estavam no salão se voltaram para ela, com uma expressão muda de surpresa diante da ousadia daquela bolsista. Percebendo isso, Mary tentou consertar o terrível erro pedindo educadamente:
- Por favor, perdoe-a. Ela não fez de propósito.
Doumajyd lhe encarou, da sua diferença de altura de quase duas cabeças dela, com um olhar mortal. Ele parecia estar a ponto de lhe lançar a pior das maldições imperdoáveis.
Depois de um rápido momento de silêncio e tensão no ar, que para Mary pareceram séculos, Doumajyd respirou de um jeito ameaçador e saiu, dando a volta por ela. Ela se encolheu quando ele passou, se preparando para qualquer tipo de agressão, mas o dragão apenas saiu sem dizer uma única palavra.


***


Desse momento em diante, Mary rezou para que pudesse ter uma vida pacífica na escola. Mas no final, ela acabou caindo no jogo deles. Ao chegar ao seu lugar na sala de transfiguração, lá estava a Tarja Vermelha, cor de sangue, com letras negras garrafais que diziam: cortesia do D4.
Lá fora no corredor, um aluno saia correndo e anunciava para toda a escola:
- A TARJA VERMELHA! MARY ANN WEED DO SEXTO ANO GANHOU A TARJA VERMELHA!!!

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