Mais um encontro com o Dragão

Mais um encontro com o Dragão



No dia seguinte, Doumajyd jogou uma grande mala em cima da sua cama e, usando a varinha, começou a mover todo o conteúdo do seu guarda-roupa para ela. Já havia quase terminado com isso quando alguém entrou sem cerimônias, o assustando.
- Olá. – disse Hainault vendo a cena por um segundo e depois sentando em uma poltrona ao lado da cama.
- Você me assustou! – reclamou o líder do D4 – Por que não está em Hogwarts?
- Porque você não está lá. – respondeu ele, como se fosse óbvio.
- Eu... eu estava planejando falar com vocês logo que eu terminasse isso aqui. – resmungou Doumajyd, enquanto arrancava as gavetas do seu armário e despejava todo o conteúdo delas dentro da mala.
- Hum... – limitou-se Hainault percebendo o quebra-cabeça montado, ainda no chão do quarto, mas não falando nada a respeito do que o amigo estava fazendo.
Doumajyd procurava guardar na mala o que tinha no quarto como se estivesse fazendo algo rotineiro. Porém, não conseguia esconder sua agitação de Hainault, que perguntou calmamente depois do dragão escorregar no quebra-cabeça e cair todo atrapalhado no chão:
- O que aconteceu, Chris?
Desistindo de fingir que estava tudo normal, Doumajyd sentou no mesmo lugar em que tinha caído e começou a falar sem jeito, procurando olhar para todos os lugares, menos para o amigo:
- Ryan, eu preciso que você me faça um grande favor.
- Um favor?
- Eu confio em você e acho que é o único que pode fazer isso por mim!
Hainault o encarou por um tempo, como se estivesse tentando usar legimância para descobrir o que o outro estava pensando, e então perguntou:
- Por acaso... você está desistindo da Mary?
- Por que eu deveria desistir dela?! – perguntou Doumajyd rindo de um jeito nervoso, tentando disfarçar que essa pergunta o assustara mais ainda do que a visita surpresa.
- Então o que foi?
- Eu... Primeiro, quero deixar bem claro que não vou dar a Weed para você!
Hainault riu por ele ter falado isso como se fosse um menino egoísta e Mary um pedaço de chocolate ou coisa parecida.
- Mas... ela não disse ainda de qual de nós dois ela realmente gosta. – continuou ele pensando nisso e parecendo preocupado – Então se ela disser que gosta de você, eu não vou poder fazer nada...
Doumajyd se perdeu em pensamentos, como se estivesse repassando detalhes de tudo o que tinha acontecido naquele ano. Então Hainault ficou de pé, com as mãos nos bolsos do casaco, e lembrou ao amigo:
- Então, qual é o favor?


***


Mary acordou cedo no outro dia e foi direto para a estufa de doces, vazia e silenciosa sem a professora Karoline passeando e cantarolando feliz como costumava fazer. Mesmo sem uma autorização prévia da dona, ela usava o equipamento da professora para preparar algo que havia pensado a noite antes de dormir para levar ao seu encontro.
Tinha decidido que precisava agradecer Doumajyd com algo além de palavras, mas o que dar para alguém que tinha tudo o que queria?... Então, quando estava quase caindo no sono, uma lembrança, de uma conversa de antes de começar o seu treinamento para o Totalmente Bruxa, pipocou na sua cabeça e ela soube exatamente o que poderia fazer.
- Ele vai estar morto se não aceitar depois de todo esse trabalho! – resmungava ela com o rosto sujo e farinha, enquanto trabalhava na grande mesa de madeira.
- Mary! – Vicky entrou correndo, praticamente chutando a porta – Chegou uma carta dos meus pais! Eles estão avisando que o cerco contra a sua família parece ter terminado e que seu pai foi readmitido ao antigo trabalho!
- Sério?! – Mary arrancou a carta das mãos da amiga e a leu de uma forma desesperada, para confirmar o que tinha ouvido.
- O que está fazendo? – perguntou Vicky olhando torto para toda a bagunça da estufa.
Mas Mary não a ouviu. Doumajyd tinha conseguido! De alguma forma, convencera a mãe dele a parar de destruir todos os que estavam envolvidos com ela!
- Mary, que cheiro de queimado é esse? – insistiu Vicky.


***


Cinco minutos antes do relógio da praça marcar uma hora, Mary parou em frente a ele, segurando contente um embrulho em forma de caixa. Apesar de todos os problemas que tivera para terminar o que fizera para Doumajyd, ela tinha conseguido a tempo, e mal esperava para ver a cara que ele iria fazer ao abrir o pacote.
- Mary?
Ela olhou em volta procurando pela voz conhecida até que avistou Hainault vindo em sua direção.
- Ryan! O que está fazendo aqui?
- Eu preciso falar com você.
Ele parou na sua frente, com um ar um pouco diferente do que sempre costumava ter ao falar com ela. Parecia querer conversar seriamente sobre algo. Diante disso, o contentamento de Mary com o encontro sumiu e a preocupação tomou seu lugar.
- Eu estou esperando o Doumajyd...
- Ele não vem e me pediu para vir no seu lugar.
- O quê?! – perguntou Mary espantada com a notícia.
- Podemos nos sentar ali para conversarmos melhor? – perguntou ele apontando para um banco na praça.
Mary concordou e o seguiu enquanto perguntava para tentar entender:
- Mas ele me disse que viria! O que aconteceu?
Hainault a fez sentar antes de começara falar e então contou:
- Eu falei com ele hoje de manhã. Ele me pediu para entregar isso. – ele tirou do bolso do casado uma caixinha retangular e um rolo de pergaminho selado com o símbolo dos Doumajyd.
Mary pegou os dois, ainda encarando e esperando uma explicação melhor e mais desenvolvida do dragão.
- ...Ele vai embora. – declarou Hainault, e esperou no mínimo uma reação explosiva dela.
- ... Co-como? – perguntou ela pestanejando, como se não tivesse entendido.
- O Chris vai para os Estados Unidos hoje.
- Como assim? Ele vai viajar?
- Não. Ele vai morar lá com a mãe.
Mary riu nervosa, pedindo:
- É brincadeira, não é?
- Não, Mary, é verdade.
- ...O que significa isso? – perguntou ela com uma voz fraca, vendo que era realmente algo sério – Por que ele vai?
O dragão respirou fundo e começou a repetir o que tinha ouvido naquela manhã do próprio Doumajyd:
- Parece que a mãe do Chris lhe fez uma proposta.
- Uma proposta?
- Sim. Desde que a Christinne se casou e saiu de casa, a mãe do Chris tenta convencer ele a estudar Administração Bruxa fora do país, para poder assumir definitivamente o seu posto de líder dos negócios da família. Mas o Chris sempre dizia que primeiro iria terminar os estudos em Hogwarts e que teria tempo para pensar no que fazer depois. Na verdade, ele nunca quis abandonar o D4, por isso sempre evitava esse assunto com a mãe. Mas a senhora Doumajyd vê estratégias em tudo, e usou você e o Totalmente Bruxa para convencê-lo. Ela propôs que, se você não ganhasse, ela pararia de atormentar a sua família somente se ele fosse para Nova York com ela. Assim, ele poderia salvá-la mesmo se você não conseguisse superar a Karina.
Mary estava chocada demais com aquilo tudo. Isso explicava o sumiço dele durante e depois do evento, o porquê de ele não ter aparecido na comemoração e também o porquê que ele estava daquele jeito ontem ao chamá-la para o encontro.
- O Chris tinha certeza que você ganharia, e apostou tudo nisso. Mesmo se você perdesse, pelo menos não estaria mais em problemas, por isso ele aceitou a oferta.
- Mas... mas ele vai mesmo? – perguntou ela ainda processando tudo o que ouvira.
- Hoje no final da tarde, na carruagem da senhora Doumajyd.
- Eu... eu me sinto uma idiota! – confessou Mary, não sabendo se ria ou chorava – Eu fiquei comemorando e nem sabia que... – ela se perdeu em pensamentos por alguns instantes – ...não há como ele voltar atrás, não é?
- Não.
- E ele não veio no encontro por que...
- Porque ele poderia perder a determinação em cumprir com a sua palavra se a viesse. – ele conclui a frase, como que para confirmar os pensamentos dela.
- Então... você vai ficar comigo hoje?
Hainault a encarou, tentando adivinhar onde ela queria chegar com aquele pedido.
- Daquela vez, quando você estava todo triste por causa da Sharon, eu não me empenhei em tentar animar você?... Pois agora é sua vez.
- Mas... tudo bem assim?
Foi a vez de Mary o encarar procurando o sentido da pergunta.
- Tudo bem deixar ele ir assim?
- O que eu posso fazer? – ela perguntou com uma voz triste – Ele decidiu que iria cumprir a promessa, não? Ele fez isso por mim e eu vou respeitar a decisão dele... eu vou. – ela repetiu para si mesma.
Hainault olhou determinado para ela e disse:
- Vá atrás dele!
- O quê?
- Se você realmente gosta dele, deve ir atrás dele onde quer que ele vá! Vai ficar satisfeita só assistindo pela sombra o que ele faz?!
Mary ouviu essas palavras como se fosse um eco distante que ela já havia escutado uma vez.
- Considera-se um homem assim?! – perguntou ele rindo, e a fazendo lembrar que era o que ela própria havia dito para ele – Lembra? Aquele dia na estação quando eu fui para a França?... Que tal falar dos seus sentimentos dessa vez, Mary Ann Weed?
Mary ainda o olhava, tentando analisar rapidamente tudo o que implicaria se a resposta fosse ‘eu irei’.
- Não pense muito! – Hainault levantou indicando para ela uma carruagem que esperava na calçada logo no começo da praça e acrescentou sorrindo – Eu sabia que você precisaria de um empurrão...

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