TB, 4ª etapa



Juízes Especiais

- Onde você tinha se metido?! – perguntou MacGilleain para Doumajyd assim que ele e Nissenson o alcançaram na entrada, logo no começo dos bancos da platéia.
- Tive problemas com a velha de novo.
- Ela não dá uma trégua nem durante a competição? – perguntou Nissenson.
- Pelo menos você chegou para a final. Mary ficou feliz. – comentou Hainault Vamos.
- Vou ficar aqui. – disse o dragão decidido, se escorando na parede e cruzando os braços – Vou assistir daqui.
Os outros três se entreolharam e deram os ombros, sabendo que não adiantaria insistir. O apresentador anunciou que as finalistas iriam voltar para o palco para o inicio da última etapa do Totalmente Bruxa, e MacGilleain e Nissenson apressaram-se em voltar para os seus lugares.
- O que vai fazer se a Karina ganhar, Chris? – perguntou Hainault para Doumajyd.
O líder do D4 pensou um pouco e respondeu:
- Eu acredito na Weed.
Hainault se preocupou com o tom de certeza na resposta, mas mesmo assim não falou nada e voltou para o seu lugar.


***


- E, como de costume no Totalmente Bruxa, nossa última fase traz algo inesperado para as competidoras... Para esse ano, contamos com a ajuda de nossos... Juízes Especiais! – o apresentador falou a última frase como se chamasse, e no mesmo instante o palco foi invadido por crianças que se reuniram em um grupo no meio do palco, todas sorridentes e acenando para a platéia.
Mary e Karina encararam a cena de bocas abertas, não imaginando o que teriam que fazer com eles. Todas vestiam o mesmo uniforme, que Mary reconheceu imediatamente como o que os Dragões usavam na pré-escola. Isso significava que eram crianças bruxas e de famílias ricas.
- Ser uma Totalmente Bruxa significa também pensar na próxima geração! – continuou o apresentador – Vocês terão meia hora para brincar com essas crianças em uma sala nos bastidores preparada especialmente para essa tarefa! – com um aceno de sua varinha, ele fez com que as letras no painel fossem trocadas pelas imagens de uma sala ampla, repleta de coisas variadas – Com qual delas será que as crianças irão se divertir mais? Nossos juízes especiais decidirão! Podem começar!
Ao sinal do apresentador, Karina se adiantou e cumprimentou as crianças:
- Olá, como vão vocês? Querem se divertir hoje?
- Siiiiim! – responderam as crianças em coro.
- Então me sigam!
Mary percebeu diante disso que precisava fazer algo do tipo para ganhar a confiança delas e tentou:
- Oi!
As crianças a encaram e Mary deu um sorriso amarelo. Na verdade, nunca estivera em uma situação como aquela. Não tinha primos, seu irmão era apenas três anos mais novo que ela e Vicky quase da sua idade. Definitivamente não sabia lidar com crianças.
- Você é idiota? – perguntou um menino cansando de esperar que ela dissesse algo a mais.
As outras crianças riram dela e então seguiram Karina para os bastidores, deixando Mary para trás.
O choque de ser chamada de idiota por alguém que tinha menos da metade da sua altura deixou Mary atordoada por alguns segundos.
- NÃO FIQUE PARADA AÍ, IDOTA! – berrou Doumajyd do fundo da platéia.
Ela balançou a cabeça para se recuperar e então seguiu as crianças.
Sabendo lidar com miniaturas de bruxos ou não, ela daria um jeito. Tinha milagrosamente chegado até a final e não seriam esses monstrinhos que a fariam desistir.


***


Ao abrir a porta da sala especial, Mary ouviu uma melodia e várias vozes cantando uma música de natal. Era Karina usando o mesmo piano que usara na primeira etapa cantando com as crianças. Todas estavam tão encantadas com o piano que não perceberam que ela estava entrando na sala.
Porém, ao dar o primeiro passo, decidida a chamar a atenção dos juízes especiais, ela foi cercada por quatro meninos mal encarados.
- Eu ouvi dizer que você é uma sangue-ruim! – disse um rindo e demonstrando um certo desprezo por ela, como se ela fosse digna de pena.
Estranhamente, para Mary, ele lhe lembrou muito Nissenson.
- Não em diga que não sabe fazer nada? – perguntou outro surpreso.
Mary encarou o segundo e imediatamente se lembrou de MacGilleain.
- Você consegue fazer algo, sangue-ruim?! – perguntou ainda outro de uma forma agressiva e debochada, exatamente igual ao Doumajyd.
O quarto apenas observava, não dizendo nada, mas indiscutivelmente acompanhando os amigos, assim como Hainault fazia.
- São exatamente iguais ao D4... – ela resmungou, não conseguindo segurar.
- O que foi, idiota?! – perguntou o mini-Doumajyd.
‘Talvez...’, Mary pensou, tendo uma idéia, e perguntou:
- Quantos anos vocês tem?
- Sete! – responderam os quatro juntos.
Mary riu, imitando os sorrisos desdenhosos deles e disse em tom de superioridade, colocando as mãos na cintura:
- Bem, eu tenho dez a mais que vocês, pirralhos!
- Isso só faz de você uma velha! – respondeu o mini-Hainault.
- Está se gabando do que exatamente, sua sangue-ruim velha e pobre?! – riu-se o mini-Doumajy.
- I-inacreditável... – engasgou-se Mary.


***


No telão no palco, eram mostradas as imagens de Karina tocando o piano e conseguindo a atenção geral das crianças.
- Parece que ela compete sozinha. – comentou Nissenson.
E no mesmo instante apareceram as imagens de Mary falando com os meninos e a sua voz pode ser ouvida por todos do salão:
- Vocês são pirralhos que nunca ganharam dinheiro por conta própria! – ela deu um empurrão rápido nas testas de cada um, dois por vez – Não sejam tão convencidos!
Um murmúrio geral de desaprovação percorreu a platéia. Mas na torcida de Mary, somente risos foram ouvidos.
- Nós já ouvimos algo parecido, não? – perguntou MacGilleain entre risos.
- E como! – ajudou Nissenson.
Doumajyd apenas ria sozinho no seu canto no fundo.


***


Irritados com a atitude de Mary, e também não achando nada interessante em ficar cantando com Karina, os quatro meninos passam a revirar os brinquedos da sala, para encontrarem algo que valesse a pena brincar.
Mary percebeu que nada do que encontravam parecia agradá-los. Haviam vários tipos de brinquedos, muitos deles trouxas, e esses eram os que eles jogavam longe sem nem mesmo os olharem direito. Quando uma peteca veio rolando até o seu pé, ela teve uma idéia que poderia dar certo.
- Ah, vocês são tão inúteis... – disse pegando a peteca e mantendo o tom desdenhoso contra eles – Nas suas casas só devem ter daqueles brinquedos mágicos que funcionam sozinhos, não é? – ela conseguira a atenção deles, que pararam de revirar os brinquedos para verem o que a sangue-ruim ousava falar com eles – Garanto que vocês nem sabem fazer... isso! – ela começou a jogar a peteca de uma mão para a outra e a fazia dar giros e pulos no ar, não a deixando cair de jeito nenhum.
Os meninos assistiram aquilo sem esconderem o espanto. Como que ela conseguia fazer aquelas coisas sem uma varinha?
- Nossa... – resmungaram os quatro, sem se darem conta.
- ... É claro que eu consigo fazer isso! – disse o mini-Nisseson – Me dá aqui essa coisa!
- À vontade... – Mary entregou a peteca rindo.
Ele tentou três vezes, mas em todas a peteca caiu sem nem mesmo ele ter conseguido bater uma segunda vez nela.
- Affff, você nem consegue fazer uma coisa simples dessas! Como podem ficar se vangloriando por serem puros sangue se nem consegue bater em uma peteca?! – desafiou Mary – São só um bando de crianças mimadas! – e ela começou a gargalhar de uma forma estridente, para os deixar ainda mais irritados – Duvido que você consigam me acompanhar em brincadeiras de trouxas!
E aquelas foram como palavras mágicas. Um instante depois Mary estava em uma intensa guerra de bolinhas contra os meninos. Quando as bolinhas acabaram, eles partiram para um pega-pega em que tombos, escorregões e tropeços faziam parte do divertimento. Então Mary achou uma bicicleta entre os brinquedos e logo estavam os cinco passeando pela sala. Mesmo não sendo nada seguro ela pedalar com os quatro pendurados na bicicleta, eles estavam se divertindo de uma forma que nunca haviam feito antes.
O piano de Karina não pôde contra os gritos, berros e risadas do grupo, e a bagunça que eles faziam logo chamou a atenção das outras crianças. Essas esqueciam completamente de que aquilo não eram brincadeiras adequadas para boas crianças como elas, e logo ficavam encantadas com o que Mary e os meninos faziam.
Os mini-D4 fizeram com que Mary se desequilibrasse e os cinco caíram rolando pelo chão. Mesmo rindo do tombo, nenhum deles conseguia mais levantar, por estarem exaustos.
- Você... não está... nada mal... para uma... velha. – comentou o mini-MacGilleian, mal conseguindo respirar.
- Vocês também... não são... nada mal para... pirralhos. – disse Mary, ofegando – Eu... na agüento mais...
- Nãããooo! – protestaram as outras crianças, abandonado Karina e o piano e correndo para ela.
Todas elas cercaram Mary e falavam ao mesmo tempo que também queriam brincar de guerra de bolinhas, pega-pega e andar de bicicleta.
- Tudo bem! Tudo bem! – Mary tentava se salvar de um sufocamento, já que todas as crianças estavam praticamente pulando nela e agarrando suas vestes – Eu brinco! Eu brinco!
Ela lançou um olhar para todas aquelas carinhas ansiosas e achou que estaria morta até conseguir atender a todos os pedidos. E como poderia brincar com todos ao mesmo tempo? Foi então que ela viu uma corda jogada no chão e teve outra idéia. Mas precisaria de...
Mary abriu um sorriso ao ver Karina sentada no piado, completamente sozinha e com uma expressão de derrotada, olhando para acena sem saber o que fazer.
- Anhm... Karina? Que tal me ajudar aqui? – perguntou ela lhe mostrando a corda.


***


A platéia olhava pasma para as imagens no telão, que mostravam Mary e Karina brincando com todas as crianças de pular corda. Apesar de muitos não conhecerem a brincadeira.
Vicky explicava para a os Dragões e para a professora Karoline como os trouxas costumavam usar a corda para brincarem, como elas fizeram muito isso quando eram crianças, e como era divertido.
- O tempo acabou, senhoras e senhores! – anunciou o apresentador, tirando as imagens do painel – Agora vamos chamar as nossas finalistas e os nossos juízes especiais e decidir quem será a 34ª Totalmente Bruxa!


***


Quando as finalistas foram novamente posicionadas no palco, uma de cada lado, e os juízes especiais organizados no meio dele, o apresentador começou em tom de suspense:
- Senhoras e senhores... todas as etapas foram completadas. Agora, a grande vencedora do 34º Totalmente Bruxa será escolhida! – a platéia irrompeu em aplausos e ele teve que esperar para conseguir se fazer ouvir – Nossos juízes especiais decidirão! – ele desceu do seu posto e foi até a frente das crianças – E então com que será que vocês se divertiram mais? Eu vou contar até três e vão em direção à moça que vocês escolheram, ok?... – sons de tambores – Um... Dois... TRÊS!
A platéia, como um todo, prendeu a respiração, mas nenhuma das crianças saíram do lugar.
- O que aconteceu? – perguntou o apresentador – Vou contar até três, ok?... Um... dois...
- Eu gostei das duas! – anunciou o mini-Doumajyd.
- É! – ajudou o mini-Nissenson – Eu também!
E logo todas elas estavam dizendo a mesma coisa, que não poderiam escolher porque as duas eram legais e divertidas. Sem saber o que fazer diante daquilo, o apresentador pediu ajuda:
- O que podemos fazer agora, diretora?
Os juízes conversam entre si por um tempo e então a diretora ficou de pé a anunciou:
- Bom, vamos considerar isso um empate. Portanto, a vencedora deverá ser escolhida pela soma total de pontos!
A platéia aplaudiu, demonstrando apoiar a decisão. Porém, os aplausos foram menos intensos por parte da torcida de Mary, por saberem que isso não seria favorável a ela.


***


Depois de um tempo, os juízes finalmente terminaram de contar seus votos e de somar os totais. A platéia já estava ansiosa, mas nada se comparava a ansiedade das duas finalistas no palco. Mary apertava as mãos disfarçadamente, e tentava não olhar para seus pais, Vicky e a professora, os Dragões e muito menos para Doumajyd, que ainda estava escorado na parede lá no fundo. Aqueles minutos que se passaram até a decisão pareceram horas, e foi um alívio quando a diretora finalmente se levantou do seu lugar e se encaminhou até o lugar do apresentador:
- Pela soma total dos votos, – anunciou ela – a vencedora do 34º Totalmente Bruxa é... Karina Crowley!
A explosão de aplausos entusiasmados da platéia foi quase geral. Somente a torcida de Mary batia palmas devagar, como se o anúncio ainda não estivesse totalmente processado.
Lá no fundo, Doumajyd fechou os olhos respirando fundo e deixou a cabeça bater na parede.
- Eu... perdi?... – Mary perguntou inconscientemente para si mesma, ao ver que um manto vermelho e um ramalhete de flores surgiram para Karina.
Esta agradecia aos aplausos com um sorriso enorme e pequenas reverências de cabeça, como uma verdadeira nobre.
- Porém, – continuou a diretora, aumentando a intensidade da sua voz para que pudesse competir com a algazarra da platéia – como nossos juízes especiais decidiram por um empate, não podemos deixar a senhorita Weed sem nada. A senhorita Crowley ganhou o título de Totalmente Bruxa, mas o prêmio em dinheiro será igual para as duas! E como a senhorita Crowley já está completando os seus estudos, a senhorita Weed também ficará com a bolsa para concluir seus estudos em Hogwarts!
Mary tentou segurar a vontade de sair pulando do palco e correr até seus pais para comemorar. Não conseguira o primeiro lugar, mas o título não era a sua prioridade. Tinha conseguido o prêmio e com isso as dívidas de seus pais poderiam ser pagas e ainda poderia terminar seus estudos em Hogwarts e se formar.
Diante daquele anuncio, e vendo a felicidade de Mary, Doumajyd apenas murmurou:
- Muito bem, Weed. – e saiu do lugar, sem ser notado.

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