TB, 3ª etapa



Crianças Infelizes

- Para a próxima etapa avaliaremos suas habilidades cognitivas! – anunciou o apresentador para as cinco competidoras restantes no palco – Cada uma de vocês terá que fazer um discurso diante da platéia sobre o tema... – ele acenou com a varinha em direção ao painel e as palavras foram trocadas – Crianças infelizes! Iremos ter um intervalo de quinze minutos, e esse será o tempo que vocês terão para elaborar seus discursos! Boa sorte, garotas!


***


De volta ao camarim nos bastidores, Mary passou apressada por uma Sarah desolada, que estava largada de qualquer jeito em uma cadeira ainda com a roupa do desfile. Mas sem tempo para poder dizer qualquer coisa, ou mesmo para contar que fora Candy que rasgara a sua roupa enquanto a distraia com aquele papo-furado de estar torcendo por ela, ela correu para uma mesa onde já haviam pergaminho e penas a disposição das competidoras para elaborarem seus discursos.
Ela realmente não era boa em dissertar sobre algo, quanto mais elaborar um discurso. E o tema também não ajudava muito.
- Mary?
Era a noiva novamente, e não havia como Mary simplesmente se jogar em baixo da mesa para fugir dela.
- Eu queria dizer que você realmente foi muito esperta! – disse ela, não tendo mais aquela aparência chocada que tivera quando Sarah contara sobre Doumajyd e Mary.
- Ah... Obrigada. – agradeceu Mary, achando que seria a melhor coisa a se fazer, já que não esperava por aquilo.
- Você foi muito esperta! – continuou ela – Eu provavelmente teria desistido! Fiquei realmente impressionada!
Mary estava sendo elogiado pela pessoa que ela julgava ser a mais perfeita naquela competição. A pessoa que estava no mesmo nível de Sharon e Christinne e a bruxa que havia sido escolhida para ser a noiva de Doumajyd pela própria senhora Doumajyd.
- Mas eu queria que soubesse que o Chris estando apaixonado ou não por você, eu sou sua noiva! – acrescentou ela, sem se desfazer do seu tom nobre e educado – E eu voltei para ganhar esse concurso.
Pronto, era elogio de mais e é claro que deveria haver algo por trás daquilo, pensou Mary suspirando.
- E se você gosta mesmo do Chris, é um motivo a mais para eu não me deixar vencer!... Então, vamos nos esforçar ao máximo e que vença a melhor, ok? – ela estendeu a mão para Mary, como se estivesse propondo um acordo.
Mary encarou a mão estendida dela por algum tempo e então a apertou. Era extremamente justo e não havia como ela discordar.
- Boa sorte! – acrescentou Karina com um sorriso brilhante, e se afastou para fazer o seu discurso.
Mary voltou a sentar na cadeira pestanejando e, por um tempo, esquecendo completamente do que tinha que fazer. Com isso não percebera que Sarah havia puxado uma cadeira e sentado ao seu lado.
- Sabia que ela foi indicada pela mãe do Chris? – perguntou ela de repente, assustando Mary que ainda não a havia percebido – Mas mesmo tendo a aprovação da mãe, não é o mesmo que ter a atenção do filho!
- Mas ela é realmente perfeita... – resmungou Mary, sem conseguir tirar os olhos do pergaminho vazio em frente a ela.
- Você vai ganhar, Mary! – disse Sarah com uma certeza que parecia ser absoluta, puxando o pergaminho e a pena para que ficasse entre elas – Eu vou te ajudar!
- Por quê?! – perguntou Mary surpresa com aquela atitude dela e suspeitando que seria algo como o que acontecera com a Candy.
- Não é óbvio? Se essa Karina ganhar e ficar com o Chris, eu não terei a mínima chance! Mas se você ganhar, eu ainda poderei ter esperanças!
Mary não conseguiu encontrar palavras para dizer algo, e o máximo que fez foi dar um sorriso amarelo.
- O que está esperando? – perguntou Sarah a forçando a pegar a pena – Vamos começar logo! Você está ficando sem tempo!
Sarah poderia ser muito estranha e ter feito coisas horríveis, mas, tivera motivos, e isso não fazia dela uma pessoa totalmente ruim. E foi de bom grado que Mary aceitou a única ajuda que poderia ter naquele momento.


***


- Vamos iniciar agora a terceira etapa do 34º Totalmente Bruxa! – anunciou o apresentador depois do intervalo, quando todos os juízes já haviam voltado para seus lugares.
As outras três escolhidas fora as primeiras a apresentar seus discursos. Mary, espiando o palco dos bastidores, assistiu a todos eles e procurava ver como elas faziam para discursar. O tom de voz que usavam, os gestos e o que falavam, tudo poderia ajudá-la. Mas foi na vez de Karina que ela prestou mais atenção.
Ela falara sobre a diversidade de crianças no mundo e como elas sofrem das mais variadas formas. Ela contou sobre uma viagem que fizera com a escola para uma região da África assolada por guerras entre os trouxas, e como as crianças eram as que mais sofriam pelas conseqüências dessas disputas, muitas vezes completamente sem sentido para elas. Ao concluir, todos os juízes não pouparam aplausos, mostrando como ela havia sido excelente.
Mary engoliu em seco. Ser a última não ajudava em nada na sua confiança. Mesmo pensando que ela tinha feito um bom trabalho no seu rascunho, não havia pensado em crianças infelizes assim como Karina e as outras candidatas fizeram. Ela havia sido muito mais simples que elas, e não teve uma visão tão ampla sobre o assunto.
- A próxima será a número 28, Mary Ann Weed! – anunciou o apresentador, e a platéia bateu palmas para que ela entrasse.
Reunindo toda a sua coragem, Mary subiu ao palco e se posicionou em frente a uma espécie de microfone antigo que era usado para ampliar a sua voz para que todos pudessem escutá-la.
Nervosa, começou:
- Há algum tempo, eu estou vivendo com minha família em uma residência da empresa em que meu pai trabalhava. Porém, começamos a enfrentar alguns problemas, e hoje, nem mesmo podemos considerar nossas coisas como nossas. Mas, mesmo sem uma casa para viver, nós continuamos sendo uma família, e vamos superar esses problemas juntos. Eu adoro meus pais e meu irmão e sei que sempre posso contar com eles, e tenho certeza que nunca estarei sozinha, por mais que o mundo tente me fazer acreditar no contrário.
Muitas pessoas na platéia comentaram que, falar de si mesma, não era fazer um discurso sobre crianças infelizes. Porém, Mary continuou, não se deixando abater:
- Por isso, penso que o mais necessário para crianças infelizes, é ter esse apoio de sua família. O mundo seria muito melhor para as crianças de hoje, se as de ontem tivessem sido felizes. Se tivessem tido uma família calorosa com a qual pudessem contar. – ela terminou e prendeu a respiração, esperando pela reação geral.
Aos poucos, os aplausos começaram e logo eles encheram todo o lugar. Ela poderia ter abordado um lado totalmente diferente do assunto, mas conseguira cumprir com o que fora pedido, e os juízes parecia ter gostado.


***


- Agora serão anunciadas as duas finalistas! – cantou o apresentador, depois das cinco competidoras estarem devidamente posicionadas no palco – E com a palavra, a diretora do comitê de organização do Totalmente Bruxa!
A bruxa novamente foi até o lugar onde o apresentador ficava para poder anunciar as decisões dos juízes para toda a platéia:
- Primeiramente, uma jovem que soube descrever com precisão a situação atual do mundo, não somente o mágico como o trouxa. Todas gostariam de cumprimentá-la, senhorita Crowley, por sua excelente percepção!
A platéia aplaudiu e Karina deu um passo à frente, agradecendo com um aceno gentil de cabeça. Então a diretora continuou:
- Porém, tivemos muitas dificuldades para escolher a segunda finalista, já que todas foram bem. Então, resolvemos fazer uma coisa diferente: deixar que a outra finalista seja escolhida pela sorte!
Não fora somente a platéia que ficara surpresa com a decisão, mas todas as competidoras restantes. Depender totalmente da sorte era arriscado demais para elas. Principalmente para Mary, que não havia tido o mínimo vestígio de sorte dos pés as pontas dos seus cabelos nos último tempo
- E agora? – disse Vicky baixinho – Isso é justo?
- A Mary não foi exatamente bem em seu discurso... – comentou Nissenson.
- Acha que assim ela tem mais chances? – perguntou MacGilleain para Hainault, mas ele não respondeu.
- Para isso, – continuou a diretora – vocês irão escolher uma dessas quatro bolas douradas. – com um aceno de varinha da bruxa, quatro bolas douradas, do tamanho de balaços, surgiram no palco, flutuando a um metro do chão – Somente uma não estará vazia! – com outro aceno de varinha da bruxa, todas as bolas começaram a fazer um círculo no ar, para que fossem misturadas diante da platéia, e não deixassem dúvidas de que haveria favorecimento – E somente uma será a escolhida! – as bolas pararam novamente, enfileiradas – Por favor, escolham uma.
As quatro competidoras adiantaram-se para escolherem. Mary acabou ficando com a última.
- Muito bem, – disse a diretora – Quando eu contar até três, vocês podem abri-las!... Um... dois... TRÊS!
As quatro abriram as bolas douradas, mas somente de uma voou vários passarinhos de papéis azuis, que estouraram em pedaçinhos e se espalharam pelo ar.
Vicky, a professora, os Dragões e a família de Mary explodiram em gritos de alegria quando o rosto de Mary ficou cheio de papel picado.
- Eu... eu fiquei para a final! – exclamou ela não acreditando no que acabara de ver.
As outras competidoras foram convidadas a se retirar do palco e somente Karina e ela permaneceram nele.
- NÃO É JUSTO! – gritou alguém da platéia – A NÚMERO 17 TINHA SIDO MELHOR!
- TAMBÉM NÃO CONCORDO! – disse outro.
- A ROUPA DELA ESTAVA TODA RASGADA AQUELA HORA! – ajudou Candy – E ELA É UMA SANGUE-RUIM!
E outros gritos de protesto se seguiram:
- OS JUÍZES FORAM SUBORNADOS!
- AS OUTRAS FORAM MELHORES!
- SEJAM JUSTOS!
- NÃO PODEM DECIDIR AS COISAS PELA SORTE!
- FAÇAM O SEU PAPEL E JULGUEM DIREITO!
E então um coro ergueu-se quase que geral contra Mary, que encarava aquilo sem saber o que fazer:
- FORA! FORA! FORA! FORA!
Karina continuava com seu sorriso gentil, nem de longe pretendo fazer algo para ajudá-la.
Vicky e a professora Karoline tentavam em vão explicar para as pessoas perto delas que Mary merecia estar na final.
Os Dragões apenas olhavam, sabendo que não poderia fazer todas aquelas pessoas mudarem de idéia.
Os pais e o irmão de Mary se abraçavam com a faixa, rezando para que tudo desse certo.
Mas o coro continuava entoando:
- FORA! FORA! FORA! FORA! FORA! FORA!
- CALEM A BOCA, SEUS IDIOTAS!!!
As paredes do lugar tremeram com a intensidade daquele berro, o que fez com que todos parassem e olhassem em volta assustados. Então várias pessoas apontaram para o fundo, na entrada, onde alguém estava segurando a varinha na altura do pescoço para que sua voz fosse magicalmente ampliada:
- HÁ ANOS ESSE CONCURSO VEM ESCOLHENDO QUEM É A MELHOR BRUXA! – rosnou Doumajyd – PESSOAS COMUNS... CALEM A BOCA!
O coração de Mary quase pulou para fora do seu peito quando ela viu quem era.
- MARY!
- O quê? – perguntou ela, se assustando com o impacto da voz dele em tom de ordem com uma intensidade dez vezes maior.
- CONTINUE ARREBENTANTO! EU ESTAREI AQUI!
Ela abriu um sorriso enorme não conseguindo conter a alegria em vê-lo ali a ajudando e torcendo por ela.
Diante disso, o sorriso de Karina desapareceu, pois confirmara por si mesma o que Sarah havia lhe dito no camarim.

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