Pré-TB, 3ª etapa



A ponto de desistir

- Aaaahhhh... Não dá! – lamentou-se Mary para o seu próprio reflexo no vidro, enquanto via as luzes da cidade passar por ele – Se eu continuar assim, não vou ter a mínima chance de ganhar...
Ela estava em um ônibus para voltando para a sua casa, sentada no último banco. Precisava do seu quarto e da sua cama por pelo menos uma noite, para recuperar as forças, e também estava preocupada com sua família.
Eles haviam apoiado a entrada dela no concurso e prometeram que fariam o melhor possível até lá para continuarem com um lar. Seu pai conseguia alguns trabalhos temporários e com isso pagava a comida e contas essenciais. No mais, viviam em completa privação do que antes costumavam ter.
Pensando nisso, Mary sabia que não poderia desistir. Todos tinham muita esperança nela: sua família, Christinne, Vicky, os Dragões... Doumajyd principalmente, apesar dele não estar ajudando em nada.
Foi então que ela sentiu que a sua esfera, a nova que ganhara de Doumajyd, começava a esquentar em seu bolso. A primeira pessoa que lhe veio à mente foi o dragão, cuspindo fogo por ela ter fugido. Mas, sendo ele ou não, não poderia deixar de atender o chamado, já que conhecia bem as conseqüências. Temendo que a esfera começasse a soltar fumaça como da última vez, Mary a pegou discretamente e a escondeu atrás do banco, para que nenhum dos outros ocupantes do ônibus a visse conversando com uma bolinha de vidro.
Mas, para a sua surpresa, a figura que apareceu não era de ninguém que ela esperava:
- Vicky?! Como conseguiu uma esfera?!
- Olá, Mary. – cumprimentou Vicky, de uma maneira séria que a deixou com um mau pressentimento – Eu peguei a do Simon emprestada. Escuta, Mary, aconteceu algo horrível!
- O quê?! – perguntou Mary apavorada.
- Os pedidos da professora Karoline foram todos cancelados e estão sendo devolvidos! Há potes e mais potes de doces entulhados na estufa e ninguém os quer!
Demorou um tempo para Mary entender o que a amiga havia dito, mas então ela ligou isso ao que estava ocorrendo com ela própria:
- Não me diga que...
- Sim! Por influência da Senhora Doumajyd! Ela descobriu que a professora Karoline foi a única que ficou contra a sua expulsão de Hogwarts!
- Não acredito... Até a professora, Karoline?... E você, Vicky?!
- Acho que ela não tem como simplesmente conseguir que me expulsem de Hogwarts, mas estou me prevenindo. Simon está me ajudando a ficar longe de problemas e coisas que possam ser usados contra mim... como o caso do Kevin...
- E a professora Karoline, como está?
- Muda. Não fala mais nada. Chorou muito quando os potes foram devolvidos sem explicação, e agora não fala mais. Ela até está sendo substituída nas aulas e eu tenho medo de que a mandem embora por isso... Preciso ir, Mary! Tenho que devolver a esfera e voltar para o meu dormitório antes do toque de recolher. Eu precisava pelo menos avisar você sobre isso, já que nenhum dos outros alunos estão com pena da professora... Até!
E a pequena imagem de Vicky sumiu.
Mary guardou a esfera no bolso e se afundou no banco. Até onde a Senhora Doumajyd iria para derrubá-la?


***


A resposta para a sua pergunta não demorou a ser respondida.
Assim que Mary pisou na esquina da rua em que morava, percebeu uma movimentação estranha ali. Logo em frente ao seu conjunto residencial estava parado um caminhão onde eram carregados alguns móveis. Foi com um choque que Mary percebeu que se tratava dos móveis da sua casa.
- O que... – mas ela não conseguiu terminar o que quer que fosse perguntar.
As vozes suplicantes de seus pais descendo as escadas a fizeram se esquecer de avançar, e ela permaneceu no mesmo lugar enquanto assistia a cena.
- Vocês nos prometeram mais um tempo! – disse sua mãe furiosa para um cara que parecia coordenar a recolha dos móveis.
- Vamos pagar com certeza! – afirmava seu pai desesperado – Por favor, esperem por mais um tempo!
Os vizinhos se reuniam em suas janelas e assistiam ao escândalo comentando aos cochichos.
- Vocês já tiveram muitas chances! – disse o homem, conferindo uma prancheta – Não podem pagar a dívida e nem mesmo morar aqui! Esses móveis vão ser parte do pagamento, mas ainda ficará para trás uma boa parte sem contar os juros!
- Por que estão sendo tão cruéis?! – sua mãe exigiu saber.
- Não pergunte para mim, madame! Apenas sigo ordens. – respondeu o homem em um tom sarcástico – Vocês devem ter deixado alguém muito irritado e essas são as conseqüências!
Tinha sido a senhora Doumajyd, sem dúvidas. Ela ainda não havia dado trégua em destruir a sua vida e para isso envolvia pessoas como a professora Karoline e fazia com que seus pais sofressem daquela maneira.
Mary apertou as mãos com raiva, mas não disse uma palavra. Não podia se denunciar ali. Seus pais acreditavam que ela estava dando duro para tentar ganhar o Totalmente Bruxa.
Mas... depois de tudo o que ela já havia treinado, estudado e praticado, ainda assim era algo muito distante para ela conseguir alcançar. Era exatamente como Doumajyd havia falado: ela não sabia fazer nada, não tinha a mínima chance... Então, para que continuar?...
Talvez, o melhor a se fazer fosse admitir derrota para a senhora Doumajyd e pedir para que ela deixasse todos em paz, que deixasse de atormentar a vida dela e das pessoas que estavam a sua volta.
Foi pensando nisso que Mary retornou pelo mesmo caminho que viera.


***


Ela entrou devagar na casa de Hainault, cuidando para não fazer o mínimo barulho. Os elfos já deveriam estar dormindo. Ela só teria que...
- Resolveu voltar, desajeitada, burra e sem-graça Weed? – perguntou Doumajyd surgindo na frente dela, cruzando os braços e dizendo o insulto com um sorriso cruel.
Mas Mary continuou séria. Tinha muita coisa agora na sua cabeça e não eram as provocações do dragão que a tirariam do sério.
- Doumajyd... realmente, vou parar. Não dá mais.
- O quê?! – perguntou ele surpreso.
- Minha inimiga é poderosa demais. – desabafou ela – Ela está atacando de todos os lados! Até a professora Karoline!
O dragão continuou a encarando, como se estivesse esperando que ela dissesse tudo o que tinha para dizer.
- Se eu continuar indo contra ela, só vou piorar as coisas. – ela disse com voz fraca, não conseguindo o encarar mais.
- Perdeu a coragem? – perguntou ele, fazendo pouco de tudo aquilo – Então você realmente é uma fraca, não? Pateticamente cedendo à pressão da velha.
- E o que é que você sabe?! – perguntou ela, com uma voz esganiçada, quase gritando – Você é extremamente rico e esse é o seu poder! Sempre viveu confortavelmente em uma mansão e nunca teve que ver seus pais implorando para que não levassem embora as suas coisas para pagar uma dívida! – sem perceber, ela começou a chorar – Você nunca sofreu! O que sabe sobre isso?!
- Tem razão! – admitiu ele, rindo – Eu nunca vou entender como que uma pobre sangue-ruim feito você se sente!
Fora o bastante. Mary ficou com tanta raiva que o soco em Doumajyd foi praticamente automático.
O garoto permaneceu um tempo com o rosto virado pelo impacto, que não fora muito forte. Mas então ele voltou a encará-la e disse, demonstrando não estar nem um pouco zangado com aquilo:
- Essa é a Weed! É assim que você é e tem que continuar sendo! Essa Weed que não deixa que os outros façam pouco dela. Aquela que coloquei acima de todas as outras garotas!
E foi com se tudo tivesse parado em volta dela.
Então era isso que ele pretendia desde o começo a irritando daquela maneira? Que ela tivesse a mesma determinação que tivera quando decidiu que não seria passível ao D4?
- Contanto que você tenha esse seu poder de sangue-ruim pobre e orgulhosa, – ele continuou sorrindo – tudo ira ficar bem!
- Seu idiota! – reclamou ela enxugando o rosto molhado.
Por que ele simplesmente não falava ao invés de ficar fazendo aquele jogo?
- Não começa a chorar de novo! – pediu ele esfregando a cabeça dela como se ela fosse uma menininha chorona – Prefiro ver você sorrindo.
Ela ficou com raiva dela mesma por estar chorando o que só fez com que a intensidade das lágrimas aumentasse. Achando que fora sua culpa aquela reação, Doumajyd a abraçou tentando acalmá-la.
- Eu só trago problemas para todo mundo! – lamentou-se ela – A professora Karoline pode ser expulsa e estão levando nossas coisas embora!
Doumajyd ficou em silêncio por alguns instantes e então disse:
- Simon me avisou sobre a professora e disse para não me preocupar que Adam havia dado um jeito. Você sabe que aquele cara gosta de mulheres mais velhas e deve estar interessado na professora. – ele riu – Parece que ele convenceu o pai de Simon a comprar aqueles doces e revendê-los nas lojas de poções. Quanto a sua família, Ryan estava em contato com seu irmão e ficou sabendo do que estava acontecendo. Agora a pouco ele esteve aqui para avisar que já resolvera o problema com os móveis e que para proteger sua família deixou seguranças por perto, para garantir que irão cumprir o prazo que deram para pagar a dívida... Weed? – ele a fez olhara para ele – O D4 está do seu lado! Não tem nada a temer! Continue sendo a mesma, porque eu acredito em você!... Já falei que você tem meu ‘zelo’ de aprovação! É óbvio que você é a melhor!
Mary pestanejou, tentando entender o que ele havia falado por último:
- Não seria ‘selo’ de aprovação
- Você entendeu o que eu disse! – disse ele procurando não demonstrar que estava sem graça.
Ela não pode evitar e riu.
- Não se preocupe, Weed! Pessoas de Saturno podem fazer milagres no último momento!
Mary não se sentiu muito segura disso. Mas em nenhum momento até agora desejou tanto que as bobagens que Doumajyd dizia não fossem somente bobagens.


***


Enfim, o dia do Totalmente Bruxa tinha chegado.
Depois do que havia acontecido aquela noite, Mary deu tudo de si para conseguir completar o seu treinamento e poder se apresentar como uma candidata decente. Nas últimas semanas, ela manteve o ritmo de aulas sem reclamar ou se deixar perder as esperanças novamente. E o resultado disso tudo a deixara mais confiante.
A competição seria realizada em Hogsmeade e reuniria bruxas de todo o país. Mesmo as que não conseguiram entrar como competidoras vinham somente para assistir e torcer. Por isso, grande parte dos alunos de Hogwarts estavam presentes na frente do prédio. Este tinha um grande painel que anunciava magicamente o Totalmente Bruxa e seus patrocinadores.
- D4!!!! – as vozes estridentes das meninas formaram uma avalanche de gritos que acompanhou o grupo formado por Mary, Doumajyd, Hainault, Nissenson e MacGilleain assim que eles chegaram no lugar.
Os seguranças do evento precisaram fazer uma corrente para evitar que um bando de bruxas histéricas pulassem em cima deles e para conseguirem fazer com que os cinco chegassem inteiros até o interior do prédio
- E isso é só por que vocês são o D4. – resmungou Mary – Se elas soubessem que você sabe tocar piano, falar francês e fazer todas aquelas coisas perfeitamente, ficariam pasmas.
- Eu acho que todas as fãs de Doumajyd sabem disso, Mary. – riu-se Hainault.
- Isso é porque eu sempre tive uma educação em ‘eclência’! – vangloriou-se Doumajyd.
- Realmente, – Mary riu – essa sua educação em excelência teve alguns furos, não?
Eles chegaram à mesa onde eram conferidas as inscrições e onde cada competidora recebia seu número e um crachá com seus dados.
- É isso aí, Mary! – disse MacGilleain – De agora em diante só podemos ficar na platéia!
- Faça o seu melhor, Cogumelo! – pediu Nissenson.
- Não vá fazer nada idiota! – ordenou Doumajyd.
- CHRIS!
Os cinco se entreolharam e olharam e volta, procurando por quem havia chamado o líder dos Dragões.
Foi então que uma garota alta, loira e sorridente se aproximou deles, sendo seguida por bruxos mal encarados que provavelmente eram seus seguranças.
- Ka-karina? – gaguejou Doumajyd, parecendo extremamente surpreso em ver a moça ali.
- Quanto tempo! – exclamou ela parando em frente a eles – Esteve bem? Ah, estão todos aqui! Como vão? Faz tempo que eu não vejo todos!
Mary reparou que, apesar dela aparentar ser do mesmo nível que os Dragões, como ela era diferente das outras meninas ricas de Hogwarts. A única descrição que conseguia achar para descrever a beleza dela e as suas maneiras era de que ela era uma espécie perfeita de dama.
- Por que está aqui? – perguntou Doumajyd perplexo e ao mesmo tempo parecendo desconfortável com aquela situação.
Enquanto os outros três a encaravam em silêncio, como se estivessem esperando que algo acontecesse daquele encontro repentino, Mary era a única que estava completamente perdida e esquecida.
- Para que mais eu viria, Chris? Competir é claro! – respondeu ela com um grande sorriso e de uma forma muito educada – Sua mãe me indicou para participar, então eu voltei correndo da Beauxbatons para competir!
Diante daquilo, o líder do D4 ficou sem ter o que falar.
- Bem, vejo vocês depois! Preciso ir! – e ela saiu, andando perfeitamente, como a instrutora de Mary tentou inutilmente ensiná-la a andar.
- Tinha que ser a mãe do Chris... – disse Nissenson, como se fosse algo ruim.
- Uma bomba que não esperávamos! – MacGilleain encarou os outros, como se dissesse que tinham um grande problema.
- Anhm... quem era ela? – Mary tentou se interar sobre o assunto.
- Karina Crowley. – informou Hainault para ela – Um grande nome na nova geração da sociedade bruxa. Ela é filha de um antigo Ministro da Magia e... é a noiva do Chris.
Mary não acreditara no que havia acabado de ouvir, então encarou Doumajyd pedindo uma explicação:
- O quê?
Mas o dragão limitou-se a desviar o olhar, o que confirmava o que Hainault havia dito.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.