TB, 1ª etapa



Seus Talentos

Depois de Mary ter seguido para os bastidores da competição, Doumajyd também havia se separado dos outros dragões com o pretexto de ir ao banheiro. E realmente fora para lá, mas tudo o que precisava era de um tempo para se acalmar e pensar no que fazer.
Sua mãe estava mesmo disposta a não dar chances para Mary. Mandar que Karina Crowley entrasse para a competição era o mesmo que acabar com as chances de todas as competidoras em conseguir chegar ao primeiro lugar.
Não conseguindo encontrar nenhuma outra alternativa, ele pegou a sua esfera para falar com a irmã. Ela precisava saber disso antes que...
Doumajyd sentiu uma presença atrás dele e, antes que pudesse fazer qualquer coisa, tudo ficou escuro.


***


Entrar nos bastidores, na sala onde as competidoras tinham a sua disposição tudo o que precisavam para se preparar, foi como um abalo sísmico na confiança de Mary. Saber, daquela forma inesperada, que Chris tinha uma noiva, não foi nada comparado a surpresa que ela teve ao ver as garotas que ela teria que superar para chegar ao final do Totalmente Bruxa. Naquela sala estavam reunidas não só as beldades de Hogwarts como as garotas que eram o orgulho de toda a poderosa, rica e imponente Sociedade Bruxa.
Mary ficou parada na entrada sem saber o que fazer. Muitas das competidoras estavam sentadas diante de espelhos arrumando os cabelos, retocando a maquiagem, ajeitando suas vestes, recitando encantamentos, consultando bolas de cristal... Toda aquela agitação, em se mostrarem melhores e mais bonitas que as outras, fez com que Mary se sentisse deslocada e completamente sem jeito.
Certo, ela havia recebido um tratamento por parte de Christinne antes de vir. Seu cabelo estava arrumado como nunca esteve, seus rosto estava devidamente maquiado e suas vestes novas lhe serviam perfeitamente bem. Mas uma boa aparência não era o bastante para conseguir superar qualquer uma das que estavam ali.
Ela engoliu em seco e arriscou dar um passo a frente, andando e tentando reconhecer alguém entre todas, até que achou um rosto familiar, apesar de não ser um rosto que lhe agradasse:
- Sarah! – ela se apressou para chegar até onde a garota estava.
Esta usava a varinha para ajeitar os cachos em seus cabelos e para fazer com que o laço rosa, que era a sua marca registrada, ficasse perfeito neles. Ela Parecia uma garotinha alegre e encantadora, mas assim que ouviu o seu nome, virou para Mary estreitando os olhos e sibilou:
- Enquanto estivermos aqui somos inimigas! Por isso não fale comigo tão facilmente! – e levantou-se, saindo de um jeito gracioso com o nariz empinado, cuidando para esbarrar em Mary no caminho.
- Inacreditável... – resmungou Mary apertando o braço dolorido onde Sarah havia lhe batido – Ela realmente é uma estranha...
- Não acredito nisso! – uma voz esganiçada veio de trás dela – Como deixaram alguém como você entrar?!
Mary virou-se e se deparou com a líder loira das meninas da sonserina a encarando com uma expressão de desprezo total.
- Olá... Can-da-lla. – Mary leu o nome no crachá dela e não conseguiu evitar a risada – Como se pronuncia isso?
- É só Candy, Mary-sem-graça! – rosnou ela e saiu praticamente espumando de raiva.
- Melhor ter um nome comum e sem graça do que algo que precise de legenda para ser entendido... – resmungou Mary, sentando-se no lugar onde Sarah estivera.
E então ela viu, um pouco mais a frente dela, Karina Crowley se preparando, e não pôde deixar de reparar melhor nela. Ela era exatamente como deveria ser uma noiva de um bruxo poderoso como Doumajyd: bonita, inteligente e totalmente perfeita. Ela deveria inclusive ter algo de vella, pois parecia exatamente como as figuras dessas criaturas mágicas que Mary tinha visto em seus livros.
Afundada nesses pensamentos, foi um choque quando Mary percebeu que a garota acenava alegremente para ela pelo seu reflexo no espelho. Sem graça, Mary sorriu também e retribuiu o cumprimento, dando meia volta e indo para um outro canto, onde não pudesse mais ser vista. Com certeza Karina deveria estar pensando que ela era uma amiga do D4, e nem sonharia o que ela poderia ter alguma relação com Doumajyd.
Essa idéia fez com que Mary se sentisse um pouco culpada. Afinal, mesmo ela não sabendo desse compromisso de Doumajyd, e dele nunca ter feito a gentileza de lhe contar, a errada da história parecia ser ela.
- Todas prontas? – pediu um bruxo com um crachá, que indicava que ele era da produção, entrando na sala – Por favor, sigam pelo corredor e se preparem para subir ao palco. Formem uma fila conforme os seus números, ok? Vocês têm cinco minutos!
Mary respirou fundo e procurou se concentrar em seus problemas mais urgentes, como tentar vencer o Totalmente Bruxa.


***


Ao pisar no palco, Mary sentiu que não foi a única das competidoras a gelar diante da imensa platéia. Enquanto o apresentador da competição anunciava, uma após a outra as garotas entravam e se colocavam em seus devidos lugares para se apresentarem, o mais brilhante possível, aos que vieram assistir.
- Aqui estão, senhoras e senhores, a mais nova geração de bruxas e feiticeiras! – começou o apresentador do seu lugar ao lado do palco – Olhem muito bem para elas, porque cada uma tem um futuro brilhante à frente, e com certeza ainda serão lembradas por seus feitos!... Mas, hoje, iremos escolher apenas uma como a maior representante entre todas! A bruxa que será o símbolo da magia e que passará a ser um exemplo para a nossa sociedade! Senhoras e senhores, o 34º Totalmente Bruxa está começando!
Luzes, fagulhas e fumaça coloridas, em conjunto com uma orquestra de instrumentos mágicos, fizeram um pequeno espetáculo de abertura e recebeu uma explosão de aplausos da platéia. Nem mesmos as candidatas mais sérias conseguiram esconder o deslumbramento diante do que viam. Mas antes que elas pudessem esquecer completamente do que estavam fazendo ali, o apresentador continuou:
- E agora vamos receber a nossa diretora do comitê do Totalmente Bruxa que tem algumas palavras a dizer sobre a competição!
Uma bruxa desaparatou do meio da mesa dos jurados, que ficava bem enfrente ao placo, e aparatou onde estava o apresentador, para que pudesse ficar visível a todos.
- Senhoras e senhores, sejam bem vindos a mais uma edição do Totalmente Bruxa!... – ela voltou-se para as candidatas – Inteligência, beleza e magia são as qualidades que eu peço que demonstrem aqui, conforme a tradição das nossas competições. Porém, nesse ano, temos uma pequena mudança, devido ao grande número de candidatas. Ao invés das tradicionais três etapas, teremos uma etapa a mais, de caráter eliminatório...
A bruxa continuou o seu discursos sobre o objetivo do Totalmente Bruxa, um breve histórico sobre as outras edições e mais algumas coisas que Mary não prestou atenção, por já ter ouvido tudo de Christinne. Então aproveitou para dar uma olhada disfarçada pela platéia. E seus olhos visivelmente se arregalaram quando ela conseguiu ver uma faixa colorida balançando que dizia: ‘ARRASA MARY!!!’.
- O que é... – ela não teve tempo de terminar de resmungar a pergunta, pois a cabeça do seu irmão surgiu atrás da faixa.
Ele, percebendo que ela o havia visto, chamou por alguém e logo sua mãe e seu pai apareceram também, acenando alegremente para ela.
Mary estava tentando descobrir como eles haviam chegado ali quando viu, ao lado deles, Vicky e a professora Karoline sorridentes, e a explicação foi automática. Atrás delas, Mary reconheceu Nissenson e MacGilleain, nenhum olhando para ela, mas sim analisando as outras competidoras e provavelmente decidindo quais delas era mais bonita. Ao lado deles estava Hainault, assistindo a tudo quieto e parecendo indiferente, como era normal dele, mas indiscutivelmente olhando para ela. E ao lado dele... estava um banco vazio.
Onde Doumajyd teria se metido? Não poderia vir pelo menos torcer para ela logo de início?!... Mas as palavras da bruxa, seguida por aplausos, fizeram com que Mary voltasse sua atenção para o placo.
- Congratulo todas vocês que se esforçaram ao máximo a chegar aqui e dêem os seus melhores! Boa sorte!
A bruxa voltou para o seu lugar e o apresentador continuou:
- Então para a primeira etapa... – com um aceno de varinha, ele fez com que um telão descesse logo atrás dele, onde apareceram o símbolo, o nome e a edição da competição, e as palavras ‘1ª Etapa: Seus Talentos’ – Pedimos que façam o que queiram! Cada uma de vocês terá um minuto para mostrar seus talentos! Metade das candidatas serão eliminadas depois dessa fase, então procurem fazer o melhor!
- O quê?! – engasgou-se Mary baixinho para que ninguém ouvisse – Talentos?!
Uma outra pessoa que trabalhava da produção, indicou que as competidoras deveriam voltar para os bastidores e retornar ao palco conforme fossem chamadas, e todas saíram. Mary ainda deu uma última olhada para o lugar vazio de Doumajyd, na esperança de que ele tivesse aparatado para lá naquele espaço de tempo, mas o banco continuava vazio.


***


- Onde está o Chris? – perguntou MacGilleain para Hainault – Ele perdeu toda a abertura!
- Ele disse que ia ao banheiro quando entramos. – explicou o Dragão da Grifinória – Mas está demorando...
- Provavelmente ele está nervoso. – disse Nissenson – Afinal, a Karina Crowley está aqui.
- Quem é essa? – perguntou Vicky desconfiada, virando-se subitamente para encarar o dragão.
Nissenson indicou quem era a garota entre as competidoras:
- Aquela loira, mais alta que as outras, está vendo?
- Estou. – disse a garota encontrando quem ele indicava.
- É a noiva do Chris.
- QUÊ?! – perguntaram ela e a professora Karoline surpresas.
- Na verdade, – ajudou MacGilleain – foi um compromisso que os pais deles fizeram quando os dois ainda eram crianças.
- Ainda isso... – lamentou-se Vicky, analisando a tal Karina de cima a baixo– Mary tem chances contra ela?
Nenhum dos dragões ousou responder.


***


Doumajyd recobrou a consciência, mas demorou um pouco até conseguir perceber onde estava.
Uma corda grossa mantinha seus braços presos firmemente ao corpo, e sua cabeça latejava. Estava deitado em um banco que reconheceram como sendo da carruagem da sua mãe e isso o fez pular e tentar se levantar para ver o que estava acontecendo. A carruagem estava em movimento e havia alguém mais com ele lá dentro, alguém encapuzado.
- MAS QUE DROGA! – berrou ele tentando se soltar – QUEM É VOCÊ E O QUE PRETENDE ME AMARRANDO ASSIM?!
- Por favor, acalme-se, senhor Christopher. – pediu o encapuzado.
- Richardson? – perguntou Doumajyd não entendendo – O QUE ESTÁ FAZENDO, IDIOTA?! – e ele se jogou dando uma cabeçada no secretário, única forma de bater possível para ele naquele estado.
Ainda tonto pelo ataque repentino, Richardson tentou desviar de outro enquanto explicava:
- Sua mãe deseja lhe falar algo antes do resultado da competição!
- ESSA MERDA DE VELHA DE NOVO! – Doumajyd tentava chutar, mesmo com os pés presos, para conseguir de alguma maneira se livrar das cordas – O QUE ELA QUER?!
- Acalme-se, por favor! – quase chorava o secretário tentando escapar dos ataques de fúria.


***


Mary tremia. Cada candidata que saia do grande camarim nos bastidores para ir enfrentar o seu 1 minuto, parecia saber exatamente o que fazer. Uma tinha cantando uma ópera, outra dançara balé, outra voou e fez acrobacias com vassoura, outra fizera um sapateado em companhia com mais dois pares de botas encantados, outra conseguira transfigurar perfeitamente o apresentador três vezes. Candy fez com que seu cabelo mudasse várias vezes de cor e formato usando um encantamento de varinha. Karina Crowley tocou magnificamente bem um piano mágico que brilhava em cores diferentes conforme o tom da melodia. Sarah Swan fez uma bela coreografia usando fitas de luzes e fagulhas que saiam da sua varinha.
Todas essas coisas incríveis só deixavam Mary mais nervosa. Ela realmente não sabia fazer nada naquele estilo e não tinha um talento especial. Não havia como ganhar das outras, e assim seria eliminada logo na primeira etapa.
- Droga... o que eu vou fazer?... – ela torcia as mãos, sentada em um canto logo que a candidata 27 foi chamada.
Ela seria a próxima e tinha um minuto para pensar no que fazer.
- Senhorita Weed? – alguém lhe chamou.
Mary desgrudou seus olhos das mãos para ver quem era e tomou um susto ao ver Kevin na sua frente:
- Você?!
O bruxo a encarou por um tempo e então perguntou:
- Me conhece?
- Anhm, não desculpa. Me enganei. – desculpo-se ela sem graça, percebendo que era somente alguém semelhante.
- Sou da produção da competição e vim perguntar se precisa de algo para a sua apresentação?
- Não... – respondeu ela desanimada – Acho que eu nem vou me... – E, como se a visão repentina de Kevin iluminasse aquele espaço geralmente inativo da sua cabeça reservado às idéias brilhantes, Mary deu um grande sorriso e continuou – Na verdade eu preciso sim!


***


Todos na platéia aguardavam ansiosamente pelo que veriam na próxima apresentação quando a candidata 28 foi chamada para subir ao palco.
Então ela entrou, seguida por um cara com crachá que indicava que trabalhava na produção da competição, e parou no meio do palco.
- Ai, ai... o que ela pretende fazer? – perguntou MacGilleain, se ajeitando no seu banco para poder ver melhor.
- Eu vou demonstrar para todos como podemos lidar com pessoas inconvenientes sem precisarmos usar uma varinha! – anunciou ela para a platéia.
- O que? Nada de magia? – surpreendeu-se Nissenson.
- Ela é muito boa nisso! – comentou Vicky rindo.
- Interessante. – disse Hainault.
Mary se afastou do bruxo da produção e disse:
- Vamos supor que eu estou distraída aqui calmamente olhando para a paisagem quando um pervertido aparece e me agarra por trás. – ela fez um sinal para que o bruxo avançasse, mas ele permaneceu parado, como quem não havia entendido – Pode vir, não tem problema. – sussurrou ela para ele.
Mesmo contrariado, ele fez o que ela mandara, a agarrando por trás.
Sem pestanejar, Mary lhe deu uma cotovelada na altura do fígado.
- Mark, na pré-escola. – Vicky começou a narrar para os dragões – Nunca mais tentou nos assustar depois disso.
Quando o bruxo a soltou pelo golpe que levara, Mary agarrou o braço dele e o puxou para frente, fazendo com que ele passasse por cima dela e caísse estatelado na sua frente.
- Paul, na segunda série. – continuou Vicky – Ele costumava nos empurrar do balanço.
O bruxo levantou, meio tonto, e recebeu um sinal de Mary para atacá-la novamente, agora pela frente. Mas antes que ele pudesse chegar perto dela, ela o chutou na canela e o fez desequilibrar e cair de boca no chão.
- Ted, no meu segundo ano de Hogwarts. Ele era um chato!
Decidindo que não iria se deixar derrotar assim por uma garota, o bruxo levantou mais uma vez. Nesse meio tempo, Mary havia afastado os pés, arregaçado as mangas da sua veste, e já estava no seu segundo pulinho. Quando ele avançou, ela fez o mesmo e lhe deu um soco no nariz, fazendo com que ele rolasse pelo chão e ficasse estendido, derrotado.
- Líder do D4 e Kevin! – Vicky bateu palmas, se divertindo imensamente com aquilo.
Hainault riu também e os outros dois dragões ainda olhavam para o palco de bocas abertas, provavelmente se perguntando se ser boa de briga poderia ser considerado como um talento.
A platéia e os juízes aplaudiram, mas não era possível definir se eles haviam aprovado ou não a apresentação dela. Mesmo assim, Mary ajeitou as mangas das vestes, agradeceu a platéia, e então partiu em socorro do bruxo, pedindo desculpas e o ajudando a se levantar para poderem voltar aos bastidores.


***


Ao final da primeira etapa, todas as candidatas foram novamente chamadas ao palco para ser anunciado quem seriam as escolhidas.
Karina e Sarah foram as primeiras da lista, e as duas avançaram para frente do palco sendo recebidas por aplausos da platéia.
Mary apertou as mãos com forças, tentando disfarçar o nervosismo. Apesar de ter achado no início que era uma boa idéia mostrar a melhor coisa que sabia fazer, não estava muito convencida se agradara ou não os juízes. Definitivamente não mostrara muita beleza ou graciosidade como às outras escolhidas, então as suas chances deveriam ser mínimas.
Ela espiou a platéia, para o lugar onde estavam a sua família, Vicky, a professora e os Dragões. Mas Doumajyd ainda não estava lá.
- E número 28! – anunciou o apresentador com tom de ponto final.
Mary precisou ser cutucada por uma das candidatas para perceber que seu número havia sido anunciado e, com a sensação de estar sonhando, ela seguiu para junto das escolhidas.
Porém, muitos da platéia discordaram dessa escolha dos juízes e reclamavam abertamente contra ela. Então a diretora do comitê ficou de pé e explicou os motivos da classificação:
- Por estar atenta ao que diz o Código de Sigilo da Magia sobre termos que nos defender sem o uso de magia em caso de agressões e ataques de trouxas, Mary Ann Weed passou na primeira fase!
Com esse anuncio, todos os que torciam por ela ficaram de pé aplaudindo entusiasmados, e Mary agradeceu com um imenso sorriso.
Ela tinha conseguido, passara para a segunda fase. Conseguira ficar entre as melhores. Estava a frente de garotas como Candy, que já haviam sido desclassificadas... Mas ainda havia mais três etapas para superar.

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