Totalmente Bruxa
- Tem certeza de que já está melhor? – perguntou Doumajyd preocupado, entregando para Mary um copo com suco e sentando-se no lugar em frente a ela na mesa.
- Hum-hum... – confirmou ela ainda fungando, aceitando o suco.
Sem saber o que poderia fazer diante daquela reação de Mary, o dragão a levara para um restaurante ainda aberto, mas com poucas pessoas. Sentaram-se em uma das mesas mais afastadas, que ficava ao lado de uma grande janela, e ele tentava encontrar algum meio de acalmá-la.
Mary já não soluçava, e usava os guardanapos que Doumajyd lhe trouxera para limpar o rosto.
- Desculpa, eu... – ela tentou, mas ainda não conseguia pensar em algo concreto para falar.
- Sabe... – começou Doumajyd, meio sem jeito, percebendo que ela não iria conseguir começar sozinha – Faz um bom tempo que a gente não se vê, não?
- É mesmo. – Mary deu um sorriso fraco.
- Na noite em que você saiu de Hogwarts eu fiquei na Torre de Astronomia. Se você tivesse me falado que... – ele percebeu que estava prestes a por a culpa nela por não o ter avisado da expulsão e parou, mudando de assunto – Eu queria mostrar Saturno para você...
- Saturno? – perguntou ela confusa, limpando o nariz em mais um guardanapo.
- É. Saturno, o planeta.
- ...E ficou me esperando a noite inteira por causa disso?
- É por que nós somos saturnianos! – exclamou ele como se fosse algo óbvio.
Mary riu, não conseguindo evitar essa reação, principalmente diante da expressão alegre de Doumajyd em lhe contar isso.
- Saturnianos... – repetiu ela, já se sentindo melhor ao conseguir rir do dragão.
Encorajado pela reação positiva dela, ele procurou pela janela e apontou para uma direção, onde um bom pedaço do céu era visível entre os prédios.
- Está mais ou menos naquela direção. Eu mesmo fiz os cálculos! Pelas nossas datas de nascimento, nós dois somos de Saturno!
Ela olhou para onde ele indicava.
- Apesar... apesar de você pensar que somos diferentes, – disse ele – nós temos algo em comum.
Mary sentiu como se algo gelado caísse em cima dela ao compreender a intenção dele. Não era simplesmente algo impulsivo que o dragão decidira fazer naquela noite na Torre de Astronomia. Ele ficara feliz somente em encontrar algo que era igual para os dois, como se somente isso bastasse para quebrar toda a diferença entre eles, e queria lhe mostrar. Esse era o jeito que ele encontrara de dizer isso para ela e, apesar de ser um tanto bobo, vindo de Doumajyd, foi algo que a deixou feliz.
Mas isso não a fazia esquecer-se de tudo mais. Não era só porque os dois eram saturnianos que as coisas iriam se resolver.
- Está arrependida do que fez? De ter falado com a velha? – perguntou ele, quando ela parou de sorrir e voltou aos guardanapos.
- Eu... Não! – disse ela decidida a não fugir das conseqüências do que fizera – Não me arrependo! O que eu disse naquela hora foi exatamente o que eu penso e não vou voltar atrás!... Exatamente como quando eu dei um soco em você!
Ele riu, mostrando que aprovava o que ela dissera.
- Mas... – ela continuou, deixando os ombros caírem – Confesso que agora eu estou apavorada. Ao contrário de quando eu soquei o líder dos Dragões, tem muitas outras coisas envolvidas...
- Sabe, eu... – começou Doumajyd sem jeito, tentando escolher bem as palavras que iria dizer – Eu sempre vou estar com você, Weed! Por isso pode continuar sendo forte, porque essa é a Weed que eu conheço!
Mary não conseguiu dizer mais nada diante daquilo e apenas sorriu, aceitando o encorajamento. Se ela tivesse ouvido isso de Doumajyd há algum tempo atrás, teria simplesmente ficado irritada com o dragão. Mas agora, ela não conseguia evitar de se sentir da mesma forma de quando falava com Hainault
- Certo! Vamos resolver isso! – exclamou ele – Primeiro a dívida! Quanto é?
- Cerca de trinta e cinco mil...
- Galeões? – perguntou ele surpreso, achando isso pouca coisa.
- Libras!
-... E quanto seria isso?
Mary não sabia a quantia exata. Geralmente era Vicky quem fazia a conversão para ela quando precisa trocar seu dinheiro.
- Não importa quanto seja! – disse ele vendo que ela não sabia dizer – Eu pago!
- Não, você não pode! – retrucou Mary.
- Por que não?
- Porque é a mesma coisa que receber dinheiro da sua mãe!
- Isso é mesmo, mas...
- Eu tenho que me esforçar! – disse ela recapitulando todas as possíveis soluções que já tinha tido desde que soubera da dívida – Vou procurar um emprego e me esforçar para... está escutando?
Doumajyd olhava para as próprias mãos em cima da mesa e parecia muito concentrado em algo.
- Quanto antes melhor... – ele sussurrou para si mesmo.
- Quanto antes o quê?
- Mary! – disse ele assumindo um tom sério, que não parecia nada natural dele – que tal nos casarmos?
Mary quase caiu da cadeira com o que ouvira:
- QUÊ?!
- Não acha que é uma boa idéia? – perguntou ele como se estivesse se defendendo – Assim você passa a ter direito ao meu dinheiro também!
- Isso só iria complicar mais as coisas! – ela o encarou incrédula.
- ... Tem razão. – ele admitiu, agora pensando melhor – Então só nos resta uma alternativa.
- Qual? – perguntou Mary desconfiada de que ele viria com outra proposta genial como aquela de casar.
- Pedir ajuda para a Christy! – disse ele retirando sua esfera do bolso do casaco.
***
- Totalmente Bruxa!
Mary encarou a irmã de Doumajyd sem entender, enquanto o dragão exclamava ao seu lado:
- É mesmo! Por que não pensei nisso antes?!
- As idéias brilhantes sempre forma minhas, caro irmãozinho. – vangloriou-se Christinne.
Mal Doumajyd havia entrado em contato com a sua irmã, ela aparatara perto de onde estavam e se juntara a eles, dizendo que havia encontrado uma solução.
- Do que estão falando? – Mary tentou fazer com que eles vissem que ela estava perdida no assunto.
- Totalmente Bruxa! – repetiu Doumajyd e começou a explicar – São competições realizadas a cada três anos e que escolhem a bruxa com o futuro mais promissor dentro da sociedade mágica!
- Agora, em junho será realizada mais uma edição! – exclamou a bruxa empolgada.
- Tanto minha irmã quando a Sharon ganharam nos anos em que participaram! – comentou Doumajyd.
- Sharon e a Christy? – perguntou Mary surpresa, tentando imaginar o nível dessa competição.
- Eles julgam desde coisas básicas, como competência e habilidades mágicas, até beleza e comportamento. – explicou Christinne.
Mary olhou da bruxa para o dragão que a encaravam sorridentes e perguntou um tanto perplexa:
- E vocês estão sugerindo que eu participe dessa competição?
- Sim! – disseram os dois, como se fosse muito simples.
- Estão brincando?! Reparem só o nome: Totalmente Bruxa! Eu sou uma sangue-ruim! Eles nunca vão me aceitar para começo de conversa!
- Eu mencionei que com o prêmio você poderá pagar as dívidas e ainda ficar com algo de sobra? – perguntou Christinne como se fosse algo relevante, para provocá-la.
- ...sério? – Mary passou a se mostrar levemente interessada.
- E, no caso de pessoas que não estudam em Hogwarts, ganham também uma bolsa integral para completar os seus estudos! – acrescentou Doumajyd.
- ...Mas, falta apenas um mês! – disse Mary ainda tentando encontrar algum buraco nessa idéia – As inscrições já devem ter acabado.
- Na verdade acabaram, mas não tem problema nenhum quanto a isso! Antigas vencedoras podem dar recomendações, e com apenas uma palavra minha, você estará dentro!
- Inacreditável... – disse Mary surpresa – As vencedoras têm tanta influência assim?
- Claro! – exclamou Doumajyd – Elas são as melhores dentre todas!
- Nossa mãe também foi uma das vencedoras. – explicou Christinne.
- Depois que ela ganhou, meu pai se apaixonou por ela. – complementou Doumajyd – Se você ganhar, Mary, ela não poderá dizer que você não é melhor do que qualquer uma bruxa de família rica! Ela vai ter que aceitá-la!
Então era por isso que essa idéia era tão perfeita, segundo Doumajyd. Além do dinheiro e da sua volta a Hogwarts, ela também poderia ganhar a confiança da senhora Doumajyd.
- Eu... não sei... realmente eu não sei muito sobre como ser uma “totalmente bruxa”...
- E é por isso que eu estou aqui! – Christinne lhe deu um imenso sorriso.
***
- Aquela garota intolerável vai participar das competições do Totalmente Bruxa? – perguntou a senhora Doumajyd incrédula para a filha.
- Ela não só vai participar como vai ganhar! – afirmou Christinne em tom de absoluta certeza.
- Vencer? – a bruxa riu mais ainda, não podendo terminar de tomar o seu chá, e o abandonado em cima da sua escrivaninha – Que hilário...
- Admite que para ela ganhar terá que ser a bruxa mais excepcional entre todas?
- De fato, não há como negar.
- Então, se ela ganhar, a senhora vai aceitar a relação entre ela e o Chris? E também não vai se incomodar pelo fato de ela ser uma nascida trouxa?
- Ela não vai ganhar! – exclamou a senhora Doumajyd – Não há uma mínima chance!
- Como tem tanta certeza? Nem ao menos a conhece direito!
- Não discutirei assuntos que não levam a nada! – disse ela, querendo encerrar a conversa.
- Pois a senhora verá, mãe! Mary tem capacidade de vencer a competição e mais: ela vai mostrar ser uma totalmente bruxa mesmo não sendo!
- Veremos então. – falou ela desdenhosa, aceitando o desafio da filha – Se essa menina chegar a tanto, eu posso pensar em ouvir o que vocês pensam.
- Isso é uma promessa! – sibilou Christinne, antes de sair do escritório.
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