Mary contra a Sra. Doumajyd
- Mas como assim, pai? – perguntou Mary chocada com a nova má notícia que seu pai trouxera, assim que voltou para casa a noite.
- Eu também não entendo, Mary. – começou ele desanimado – Em qualquer entrevista que eu vá, quando o meu nome aparece, de repente e expressão da pessoa simplesmente muda e me mandam ir embora...
- Eu também procurei durante todo o dia. – disse sua mãe, que estava deitada no sofá, totalmente cansada, desde que chegara há quase uma hora atrás – Mas sempre que eu mostrava o meu currículo eles diziam que já haviam pessoas suficientes para as vagas...
- Eu não consegui nada também. – lamentou Charles – Nem mesmo cortar grama para os vizinhos...
- Realmente, – quase chorou a sua mãe – nossa família não tem sorte com dinheiro...
- Não é nada disso... – sussurrou Mary apertando as mãos com força para não sair chutando tudo a sua volta e assustando a sua família – Não há nada errado conosco!
Não ser aceita assim que falava seu nome, era exatamente a mesma coisa que havia acontecido com ela antes do incidente com o fotógrafo. Todos eles estavam sendo, de alguma maneira, evitados. Até mesmo as pessoas que sempre os ajudavam não estavam podendo fazer nada... Aquilo já estava passando dos limites.
- É inacreditável... Eu não posso mais agüentar isso! – ela desabafou enfim, indo até o seu quarto, chutando o seu malão, pegando a sua varinha e voltando para a sala – Eu sei por que isso está acontecendo e vou resolver de uma vez! – e saiu da casa, sem dizer mais nada, deixando a sua família surpresa para trás.
Hainault estava certo. Ela nunca iria conseguir se reerguer daquele jeito. Se fosse realmente a mãe de Doumajyd quem estava arruinando a sua vida, tinha que pará-la de alguma maneira.
Ela andou furiosa pelas ruas sabendo exatamente para onde deveria ir.
***
- Senhora Doumajyd? – Richardson abriu a porta do escritório de vagar – Sinto interrempor. Sei que a senhora pediu para não importuná-la depois que o Ministro foi embora, mas há uma pessoa... inesperada, que exige falar com a senhora.
A bruxa limitou-se a dar um meio sorriso, como se já tivesse uma idéia de quem poderia ser.
- Onde ela está, Richardson?
- Na lareira da sala de jantar.
- Eu irei até lá. – disse ela calmamente se levantando da sua escrivaninha e passando com seu ar superior pelo secretário.
Esse mantinha o olhar fixo no chão, fazendo uma pequena reverência até que ela saísse. Quando a bruxa desapareceu na curva de um corredor, ele retirou uma esfera do seu bolso e se concentrou nela invocando alguém.
- O QUE FOI, RICHARDSON?! – rosnou a figura de Christopher Doumajyd de dentro da pequena esfera.
***
Mary encarou os mesmos olhos que ela já vira em outras duas versões. Mas nenhuma das outras conseguia ser tão frias e terríveis quanto aquela diante dela. Katherin Doumajyd era do mesmo jeito que ela lembrava da primeira vez que a vira, mesmo que por poucos instantes, quando Doumajyd a havia seqüestrado.
- Dando-se ao trabalho de falar comigo na minha casa... – disse a bruxa em um tom desdenhoso e pausado – Por que razão será?
Mary via seu próprio reflexo nos óculos dela, com seu rosto iluminado pelas chamas verdes e com os cabelos flutuando a sua volta, e acabara se esquecendo de todas as frases que havia ensaiado mentalmente para dizer naquele momento.
- Eu... eu tenho muitas coisas para perguntar sobre-
- Sobre sua expulsão? Sobre seu pai perder o emprego? Sobre seus amigos não poderem ajudar? Sobre ninguém dar oportunidades para vocês?
Mary abriu a boca, mas fechou novamente assim que a bruxa começou a rir.
- Sim, fui tudo armado por mim! – declarou a senhora Doumajyd – Eu realmente tinha pensado em resolver isso de uma forma pacífica, mas sua família não colaborou de forma alguma!
Mary lembrou que sua mãe jogara farinha na senhora Doumajyd quando ela foi até a sua casa oferecer dinheiro para que Mary deixasse o seu filho.
- Eles declaram guerra contra mim, e eu simplesmente aceitei! – disse ela rindo.
- Tã-ão simples assim?! – Mary quase se engasgou com a raiva e a perplexidade que sentia – É tão simples assim destruir a vida das pessoas?!
- Se... – ela cruzou os braços e assumiu uma posição majestosa, como Mary já havia visto muitas vezes Doumajyd fazer na época em que ele maltratava os alunos de Hogwarts – você prometer que não terá mais nenhuma relação com o meu filho ou com a nossa família, eu farei com que tudo volte ao normal!
Aquilo fora o bastante para Mary. Depois de tudo o que tinha acontecido, ela devia apenas fingir que não havia acontecido que tudo se resolveria?... Definitivamente não era tão fácil e foi o que Mary disse, com suas próprias palavras:
- VOCÊ É IDIOTA?!
- Como? – a senhora Doumajyd a encarou chocada, como se nunca alguém houvesse tomado esse tipo de atitude diante dela.
- SÓ PORQUE TEM MONTES DE DINHEIRO ACHA QUE PODE PISAR ASSIM NAS PESSOAS?! ACHA INTERESSANTE?! SER CRUEL COM OS OUTROS COMO SE FOSSE UMA CRIANÇA MIMADA ACHANDO QUE TEM O MUNDO NAS MÃOS?!
- Quem você pensa que é para falar dessa maneira comigo, menina?!
- EU NÃO VIVO PARA SER HUMILHADA POR PESSOAS QUE SE ACHAM DONAS DE TUDO!
- Ah, é mesmo?! – perguntou a bruxa, se recuperando do choque inicial, e lançando para ela um olhar do mais puro desprezo.
- É TOTALMENTE INACREDITÁVEL E EU NÃO VOU OBEDECER UMA PESSOA COMO VOCÊ! – concluiu ela, ainda respirando furiosa.
- Então era só isso que queria me dizer? – perguntou a senhora Doumajyd estreitando os olhos por detrás das lentes finas.
- COM LIÇENÇA! – Mary não conseguia mais encará-la e desapareceu entre as chamas, que voltaram a ser avermelhadas.
***
Doumajyd quase derrubou a porta da sala de jantar da sua casa quando entrou correndo. O secretário de sua mãe estava observando as chamas da lareira, que crepitavam calmamente, apesar da atmosfera tensa de pouco tempo atrás.
- Onde ela está, Richardson?! – ele o agarrou pela gola das vestes.
- Agora pouco ela e sua mãe... – começou ele calmamente, apesar de estar sendo erguido no ar.
- O que a velha fez com a Weed?!
- Lamento dizer, mas ela fez o mesmo que fez com a senhora Christinne.
- EU MATO AQUELA VELHA! – praguejou Doumajyd soltando o secretário e saindo com passos furiosos, provavelmente pensando em invadir o escritório da sua mãe para tomar uma satisfação – COMO ELA PÔDE-
- Espere por favor, senhor Christopher! – chamou o secretário antes que ele saísse, ainda ajeitando as suas vestes – Sim, sua mãe fez o mesmo que fez daquela vez, mas... A senhorita Weed não aceitou.
- Como assim? – Doumajyd pestanejou, o encarando, e deu meia volta, se esquecendo completamente das suas intenções assassinas.
- No passado, o rapaz que a senhora Christinne gostava também não tinha dinheiro e não era bem visto pela sociedade mágica. Como os dois recusaram terminar o relacionamento, a senhora Kheterin ofereceu uma grande quantia para o bruxo, a qual ele recusou primeiramente. Mas depois de atormentar a vida do pobre coitado, ao ponto de torná-la impossível, ele cedeu à proposta e desapareceu. A senhora Christinne nunca mais teve notícias dele e acabou seguindo o caminho que a sua mãe escolheu para ela...
Doumajyd ouvia atentamente, já que aquele era um assunto proibido para ele na mansão.
- Confesso que muitas vezes tenho medo da senhora, e de tudo que ela pode fazer com uma simples palavra... – continuou o secretário – Mas, aquela menina a enfrentou como nunca eu havia visto alguém a enfrentar! Ela disse que não quer viver humilhada por pessoas que, só porque tem um nome e dinheiro, acham que podem mandar no mundo, e que não obedecerá à senhora Kheterin!
Doumajyd continuou a encará-lo, processando tudo o que havia ouvido.
- Ela tem a força para enfrentar a sua mãe e você definitivamente fez uma boa escolha, senhor Christopher. Sei que vou ser demitido se a senhora souber, mas... não posso me calar dessa vez! – o secretário abriu um pote que estava em cima da lareira e pegou um punhado do pó que havia dentro, então o jogou na lareira e as chamas ficaram verdes no mesmo instante – Agora, não a perca! – ele indicou a lareira.
- Richardson... – começou Doumajyd querendo agradecer, mas achando difícil dizer isso para alguém que era pago para cumprir tudo o que sua mãe ordenasse.
- É melhor se apressar, senhor Christopher. Ela usou uma lareira do Caldeirão Furado e já deve ter se afastado um bocado de lá.
Sem perder mais tempo, Doumajyd seguiu até a lareira:
- Caldeirão Furado! – disse ele bem pronunciado antes de sumir com as chamas.
***
Mary tremia da cabeça aos pés. A princípio estava andando apressada pelas ruas mal iluminadas de Londres, furiosa com tudo o que tinha feito. Mas agora, aos poucos, essa fúria ia tomando consciência e se misturando com arrependimento e medo, e seus passos iam diminuindo.
Ela ouviu um estrondo logo a frente e imediatamente sacou a varinha, achando que seria a bruxa tentando se livrar dela. Mas era apenas um gato que havia derrubado uma lata de lixo.
Tremendo mais ainda com o susto, ela sentou no meio-fio da calçada, escondendo o rosto nas mãos, e começou a pensar em tudo o que havia acontecido para tentar se acalmar.
Tinha saído de casa com a intenção de confirmar a suspeita de Hainault por ela mesma e, se acaso confirmasse, exigir que a senhora Doumajyd parasse com aquilo. Mas acabou perdendo o controle diante da bruxa que tinha um gênio terrível como o do filho... Ou melhor, como dissera Hainault, pior que o dele por ser a mãe.
Porém, apesar de tudo, ela não deveria ter chegado aquele ponto. Deveria ter tentado conversar e conseguido um acordo... por mais impossível que isso pudesse parecer... Afinal, a senhora Doumajyd não podia ser tão desumana a ponto de destruir a vida dela e da família somente para que ela se afastasse de Doumajyd, sendo que quem havia começado tudo isso era o próprio Doumajyd. Deveria ter explicado isso a ela e... e deixar com que ela convencesse Doumajyd a se afastar dela?
Aquela idéia deixou Mary chocada e ela balançou a cabeça na tentativa de parar todo aquele mar de pensamentos. Precisava colocá-los em ordem urgentemente. E precisava fazer isso desde o começo e agora, não importava se estivesse em um lugar deserto no meio da noite em Londres.
- Desde o começo... – ela repetiu para si mesma, se concentrando.
Primeiro ela odiava Doumajyd e o D4. Eles faziam coisas horríveis com os alunos e ninguém parecia se importava com isso. Quando ela ganhou a Tarja Vermelha e ficou sem saída, resolvera que, já que teria que sair da escola por causa daqueles garotos arrogantes, pelo menos não tornaria isso fácil para eles. A única falha nesse seu plano foi Doumajyd ter passado a gostar dela... e ter demonstrado isso do jeito rude e idiota dele.
Ela lembrou dele dando voltas e a convidando para sair. E em Hogsmeade esperando por ela na neve, tremendo de frio. Na Casa dos Gritos, mesmo queimando de febre ele prometeu que aboliria as Tarjas Vermelhas e não maltrataria mais ninguém, promessa que ele cumprira. Quando ela fora passar as férias em casa e o encontrara jantando com a sua família...
Mas ele ainda era o Doumajyd: grosso, violento e impulsivo. E não havia a mínima chance dela conseguir gostar de alguém assim.
Com a ida do Hainault para a França, várias coisas aconteceram seguidas e terminaram com aquela loucura da Sarah em que os dois acabaram na enfermaria. Depois daquilo, ela não podia simplesmente dizer para alguém que lhe salvara a vida, e que no momento não estava completamente inteiro, que ela gostava de outra pessoa... Mesmo essa pessoa não estando lá... E quando Hainault voltou, com aquele visual novo, Doumajyd declarou um namoro que só existia na cabeça dele para toda a escola. Desde então, tudo o que ela fazia para tentar convencê-lo mudar de idéia, nunca tinha o final desejado. Sempre acontecia algo totalmente fora dos planos, como a surra de Kevin.
Mas no fim, ela decidira dar uma chance para ele e justo nesse momento tudo começou a desabar... por causa da mãe dele.
Agora, ela tivera uma oportunidade perfeita de tirar o líder do D4 da sua vida. Bastava ter dito sim, e não gritado, e teria resolvido o maior problema da sua vida em todos esses anos. Talvez ela não devesse ter ligado tanto para a idéia de ser manipulada pela senhora Doumajyd já que...
- WEED!
Mary congelou ao ouvir aquela voz a chamando.
Ela levantou em um pulo, assustada, e viu parado um pouco a frente dela, um Doumajyd ofegante.
- Encontrei você! – disse ele sorrindo aliviado.
Mary sentiu o peito apertar e imediatamente todos os pensamentos de instantes atrás pareceram idiotas e sem sentido. Por que, depois de todas as coisas ruins que tinham acontecido naquele pequeno tempo e que a haviam jogado em um buraco de desânimo, ver Doumajyd assim, aparecendo repentinamente, a fazia ter um pressentimento que tudo iria acabar bem. E sem se dar conta, seus olhos se encheram de lágrimas.
Quando Doumajyd percebeu que ela chorava, deixou de recuperar o fôlego e correu até ela a abraçando:
- Não importa o que a velha disse, Weed! Eu não vou deixar que...
Ele não terminou, porque ela não o ouvia. Mary o apertava com força e enterrava o rosto no casaco dele, chorando tudo o que havia contido até agora, enquanto se fazia de forte.
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