Mary Modelo
Naquele dia, Mary visitara uma série de lojas e lugares onde poderia pedir algum emprego. Porém, as pessoas que no começo se mostravam dispostas a ajudar, passavam a olhá-la de uma maneira diferente quando ela explicava que tivera que sair da escola, e mudavam completamente quando ela mencionava seu nome completo. Era como se todos suspeitassem de pessoas com o seu sobrenome.
Exausta depois de um dia inteiro andando, e repetindo as mesmas palavras todas as vezes que entrava em algum lugar, Mary finalmente decidiu descansar um pouco. Sentou na beira de um chafariz em uma praça e ficou olhando para o movimento da rua.
Era uma sensação estranha estar ali, e não preenchendo pergaminhos, misturando poções ou classificando mapas estrelares em Hogwarts. Depois de todos esses anos, mesmo ela não gostando muito da escola, ser tirada daquela forma repentina de lá ainda era uma coisa difícil de aceitar. Todos os problemas que ela encontrou quando chegara em casa não a deixaram pensar direito na sua expulsão. Mas agora, podia calcular o tamanho das conseqüências.
Não poderia se formar, o que significava que não estaria autorizada a usar magia. Aliás, usar magia não era o grande problema, já que sua família era trouxa e ela não dependia totalmente de seus poderes. Mas, como poderia viver de agora em diante, sendo que durante esses últimos seis anos não recebera nenhuma educação válida para o mundo trouxa? Não tinha ido para uma escola secundária normal, não tinha como entrar em uma faculdade, nem se tivesse condições financeiras...
Mary respirou fundo e passou a olhar para os seus próprios pés. Realmente, da noite para o dia, sua vida mudara mais do que quando resolvera socar um certo dragão...
- Será que ele já sabe?... – ela suspirou, pensando em Doumajyd e esfregando a ponta do pé no chão.
- Ei, moça!
Mary ouviu alguém chamando bem próximo a ela, mas de forma alguma pensou que seria alguém falando com ela.
- Você aí, sentada no chafariz!
Ela olhou. Era um homem com uma grande máquina fotográfica profissional na mão, encarando-a sorridente.
- Sim? – perguntou ela cautelosamente.
- Você tem idéia do talento que tem?!
- ... talento? – ela olhou para si mesma assustada, pensando que talvez poderia ter alguma coisa que revelasse que era uma bruxa – Do que está falando?
- Eu nem imaginava, – ele sentou-se sem fazer cerimônias ao lado dela no chafariz – quando sai de casa hoje de manhã para tirar algumas fotos da cidade, que simplesmente encontraria alguém como você assim, aqui, por pura coincidência!
Mary entendia menos ainda o que aquele cara estava falando e sentiu que não seria uma boa idéia continuar dando atenção para ele:
- Com licença, eu preciso ir andando. Ainda tenho muito o que faz-
- Já pensou em ser modelo? – perguntou ele de repente, vendo que ela estava se levantando.
- Modelo?
- Se você tivesse visto a cena que eu vi! Uma garota com uma expressão triste e preocupada, sentada em um chafariz com os cabelos levemente esvoaçados por essa brisa suave e a luz que reflete nessas águas iluminando seu rosto! Nem a mais elaborada produção conseguiria o efeito que você sozinha, e garanto que sem intenção alguma, conseguiu fazer! Isso é um dom natural!
Mary não conseguia lembrar exatamente do que estava fazendo antes de ser interrompida por ele, já que seus pensamentos estavam totalmente voltados para a sua difícil situação... Era mesmo tão fotogênica assim? Ela não achava que ficava bem em fotos, principalmente naquelas que a sua mãe insistia em tirar para colocar em algum lugar da sala. Somente as fotos que ela tirava com Vicky, em que elas se divertiam fazendo as mais variadas caretas, ela achava que eram algo que se podia guardar e dar boas risadas depois... mas, fotos profissionais? Igual a Sharon?... Modelo?
- O estúdio em que eu trabalho fica aqui perto! – anunciou o fotógrafo, percebendo que o que ele dissera surtira algum efeito – Que tal ir lá fazer alguns testes?
- Não, obrigada. – a voz da sua mãe falando ‘nunca aceite nada de estranhos’ soou como um alarme em sua mente e ela levantou e dizendo – Eu não posso perder tempo com isso agora. Tenho problemas muitos sérios e preciso arranjar um emprego antes que-
- Eu mencionei que se gostarem do seu trabalho você pode conseguir, de início, até cem libras com cada foto?
O número com três dígitos falou mais alto que a voz de sua mãe na sua cabeça e ela parou, dando meia volta e perguntando:
- Cem? Por foto?
O fotografo sorriu satisfeito, confirmando.
***
Eles entraram em um prédio por uma porta lateral e subiram os lances de escadas até o último andar. Lá, Mary entrou em uma sala não muito grande e pouco iluminada, já que estava com todas as persianas fechadas. Ela viu alguns equipamentos de iluminação montados, em um canto, uma cama desarrumada em outro, e mais dois homens que estavam organizando algumas fotos espalhadas em cima de uma mesa simples, logo a frente deles.
- Pessoal! Digam olá para a Mary Ann! – anunciou o fotografo.
Os outros dois a olharam de cima a baixo e fizeram um sinal positivo para o companheiro, deixando de lado o que estavam fazendo e indo pegar os equipamentos.
- Muito bem, – o fotografo começou a ajustar sua máquina – pode ir ali na cama e tire as roupas de vagar, para eu poder pegar-
- O QUÊ?! – Mary pulou como se tivesse levado um choque.
O fotografo pareceu se divertir com a reação dela e disse:
- Você falou que estava com problemas, não? Esse é um meio bem fácil de conseguir dinheiro... Ou achou que conseguiria cem libras apenas com fotos desse seu rostinho bonito?
Mary não acreditava que conseguira ser tão estúpida assim para cair na conversa daquele sujeito. Sem pensar duas vezes, correu para a porta, mas ela estava trancada.
- Agora que já está aqui, não há mais como fugir! – disse um dos outros sujeitos, agarrando-a por trás.
Ela começou a se debater e gritar, e logo os outros dois ajudaram o primeiro, a arrastando até a cama.
- Vão ser somente algumas fotos e depois você ganha o seu dinheiro!
- NÃÃÃÃÃO! ME SOLTA!!!
As lâmpadas dos equipamentos de iluminação estouraram, mas os caras não pareciam ter percebido.
Mary pensava muito rápido. Tinha deixado a sua varinha me casa, então não poderia se defender com magia. Precisava se virar do modo como sempre se virava antes de descobrir que era uma bruxa. Por isso dava socos e chutes aonde quer que pudesse alcançar. Conseguira acertar alguns deles, mas era apenas ela contra os três e logo eles conseguiram prender suas pernas e braços. Então fez a única coisa que lhe restava fazer:
- AAAAAAAHHHHH!!! SOCORROOOOOOO!!!
- Ninguém vai conseguir ouvir seus gritos aqui, moça! – um deles fechou a boca dela com uma fita que eles usavam para emendar os fios de energia – Esse prédio é usado como depósito nos outros andares, não há mais ninguém!
Ele estava falando a verdade. Mary vira a placa que dizia isso quando entraram no prédio. Ninguém poderia ouvi-la mais e ela já estava perdendo as forças que tinha ao se debater. Então fechou os olhos, quase chorando de raiva e medo, e uma única coisa que ela mais desejava naquele momento era poder gritar por uma única pessoa: Doumajyd.
***
- COMO ASSIM ELA NÃO PODE FALAR COMIGO, RICHARDSON?! – Doumajyd esbravejava diante do secretário da sua mãe, que tentava o impedir de subir as escadas da mansão.
Apesar de MacGilleain e Nissenson o alertarem de que seria melhor ele esperar pela volta de Hainault, o líder do D4 saiu de Hogwarts naquela mesma tarde e foi para a sua casa, sem avisar os amigos.
- A senhora Doumajyd está em uma reunião com o Ministro nesse momento, Senhor Christopher! – tentava explicar o secretário – O senhor não pode simplesmente interrempor! Ainda mais nesse estado alterado em que o senhor está!
- E EU DEVERIA ESTAR DIFERENTE, RICHARDSON?! AQUELA VELHA ESTÁ APRONTANDO COMIGO E EU NÃO VOU DEIXAR! FALE QUE EU-
- CRHIS?! EU PUDE OUVIR SEUS BERROS LÁ DE FORA!
- Christy! – Doumajyd parou de tentar invadir a própria casa diante da aparição da irmã.
- O que está acontecendo? Por que não está em Hogwarts? – perguntou ela, demonstrando estar preocupada.
- Um grande problema! Christy, preciso da sua ajuda!
A bruxa o encarou por um tempo e então disse:
- Preciso entregar esses pergaminhos do Ministério para a reunião entre a mãe e o Ministro. Eu já volto e você vai me explicar direitinho o que está acontecendo!
***
Mary ouviu um estralo e dois dos caras que a seguravam foram arremessados para longe. Seus braços e pernas estavam livres e ela podia se levantar, então abriu os olhos e ficou ser ar com o que via. Lá estava Hainault, segurando o fotógrafo pela gola da camisa e apertando a sua varinha contra o pescoço dele.
- Ryan! – Mary pulou da cama, arrancando a fita da boca, mal acreditando que estava salva.
Hainault havia estuporado os outros dois, e os jogado contra a parede, de onde eles escorregaram e caíram desmaiados no chão.
- Obliviate! – disse ele antes de largar o fotógrafo abobado no chão, e então pegou Mary pela mão e a puxou pela porta – Vamos sair daqui!
- Espera! – ela se soltou dele e voltou para dentro.
- Mary, o que você...?
Ela pegou a máquina que havia caído no chão com a confusão e a jogou com toda a força na cabeça do fotógrafo, que também caiu desmaiado.
- ISSO É PARA VOCÊ APRENDER A NÃO ENGANAR GAROTAS NECESSITADAS, IMBECIL! – e voltou para Hainault, que esperava na porta não conseguindo evitar o riso, e o puxou para as escadas.
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