Perseguindo e sendo perseguido
Doumajyd correu em direção ao lugar onde Mary e Hainault estavam assim que ouviu um grito estridente. Reconheceu imediatamente a voz da garota e não pensou duas vezes em atravessar a rua empurrando todos os que passavam, que também olhavam curiosos em busca da fonte do escândalo. Mas, assim que ele pisou na calçada de entrada, alguém surgiu na sua frente tão rápido como se tivesse aparatado.
- Ah! Doumajyd! Que coincidência! – exclamou Sarah fingindo uma imensa surpresa, e perguntou meigamente – Está a passeio?
Doumajyd quase caiu de susto com o ser todo vestido de rosa, e a sua reação não foi exatamente a que Sarah preferia:
- VOCÊ?! Com que direito vem falar comigo, feiosa?!
- Que bom encontrá-lo aqui também! – disse ela, disfarçando o desagrado com o ‘feiosa’ dele, e continuando como se ele tivesse respondido educadamente – Está fazendo compras?
Doumajyd não prestava a mínima atenção no que ela dizia e ficava procurando por Mary entre as janelas do lugar. Percebendo isso, Sarah tentava de todas as formas ficar sempre no foco da visão dele.
- Pare com isso! – rosnou ele.
Sarah fez uma careta rápida de impaciência, revirando os olhos, e então tentou outro plano:
- Quer tomar um chá comigo? – convidou ela pegando no braço de Doumajyd sem esperar uma resposta.
- NÃO TOQUE EM MIM! – Doumajyd tentou se livrar dos braços dela que agarravam o seu com força, mas foi inútil.
- Minha mudança de atitude assusta? – perguntou ela com um imenso sorriso – Digamos que percebi que o meu método anterior era um total fracasso desde o início. Não posso ter uma chance de tentar novamente?
- Você é louca?! – ele a empurrou com força e conseguiu se livrar dela, procurando se manter a uma distância segura.
- Você é algum tipo de masoquista?! – perguntou Sarah mudando totalmente a sua personalidade de menina doce e comportada para a sua verdadeira – Não percebe que ela não quer você?! Ela escolheu o sem graça do Ryan Hainault!
Ele parou e virou para ela, com seu típico olhar mortal de líder dos Dragões:
- Quer que eu a deixe com a cara que nem alquimia vai conseguir resolver?
- Pode fazer o que quiser! Eu não me importo! – respondeu ela em tom de desafio, cruzando os braços. – Afinal, eu mudei meu rosto por você! É melhor do que ser ignorada!
Doumajyd a encarou incrédulo.
***
Mary ainda fungava, com um punhado de guardanapos nas mãos, que usava como lenço, sentada em um canto no fundo do estabelecimento, com Hainault de pé ao seu lado se apoiando na parede.
- Não precisa chorar. – disse Hainault em um tom tanto de consolo como de impaciência. – Não foi uma coisa tão horrível...
- Co-como não?! – Mary quase se engasgou – Você me viu em uma situação constrangedora! Nem meu irmão me viu com as calcinhas abaixad – Mary viu que as pessoas das mesas próximas olharam curiosas para eles quando ela mencionou ‘calcinhas’ – Não-não, eu só, não, é que, não é o que vocês estão pensando, eu só... Aaaargghhh! Eu sou realmente uma idiota! – e recomeçou a chorar, enterrando a cabeça nos braços, querendo se enterrar em baixo da terra de tanta vergonha.
Hainault não pôde mais se conter e começou a rir, sentando ao lado dela:
- Você é realmente engraçada, Mary! – disse ele – Fazia muito tempo que eu não ria assim!
Mary fungou mais uma vez, tentando se controlar. Ele tinha rido, mesmo que ela não considerasse aquela uma situação boa para rir, mas... ele estava rindo! Tinha esquecido os seus problemas e estava se divertindo, como ela tinha planejado. Então, se conformando, ela começou a rir também, limpando os olhos molhados com os guardanapos.
- Por favor, não use isso contra mim no futuro. – ela pediu.
- Acho que tenho alternativas muito melhores para usar contra você se precisar... como palavras ditas ao vento em torres da escola. – ele continuou rindo.
- Inacreditável. – lamentou-se Mary, se sentindo melhor.
***
- Me dá arrepios só de ver você sorrindo desse jeito! – rosnou Doumajyd para Sarah – Você não pensa não, garota?! Depois de tudo aquilo ainda fica achando que falar essas coisas?! Desaparata da minha frente!
- Não. – disse ela sorrindo – Já devia ter percebido que eu não desisto tão fácil!
- Pois então eu... – Doumajyd não pode continuar.
Ele pretendia fugir dela, aproveitando que a garota tinha esquecido de lhe fechar o caminho da entrada. Mas assim que ele se virou, deu de cara com Mary e Hainault saindo.
- O que está fazendo aqui?! – perguntou Mary o encarando chocada, enquanto Hainault apenas o olhou, com sua calma de sempre.
- Que gracinha que você está, Weed! – respondeu ele em tom sarcástico – Você realmente capricha quando leva alguém a sério!
- O que há com você?! Por que está aqui? – insistiu ela.
- Ei, Ryan! – ela a ignorou – O que pretende com isso? Não é só por que a Sharon está noiva que vo-
- NÃO FALE ISSO, SEU IDIOTA! – Mary quase pulou em cima de Doumajyd para que ele parasse de falar. – Por que você machuca as pessoas desse jeito, sem ter remorso algum?!
- Eu só estou – ele começou, mas ela não o deixou continuar.
- E por que está me seguindo?!
- Eu?! Seguindo você! Por que eu faria isso, idiota?! Você que está no mesmo lugar que Ilustríssimo Eu!
- Quem é Ilustríssimo, seu babaca?!
Doumajyd se ofendeu e tentou revidar a altura:
- E essa saia cheia de frufru?! Não combina nada com filhotes de duendes brigões!
- Deixa minha saia fora disso! Ela não era para ser vista por você!
- É bem impossível de não se perceber em algo tão espalhafatoso como essa coisa, idiota!
- Quem é a idiota, seu cabelo ruim?!
- Ca-cabelo ruim?! – Doumajyd olhou para os próprios cabelos bagunçados que caiam pela testa – Meu cabelo não é ruim!
- Estava um encontro tão legal... – lamentou-se Mary – Você tinha que aparecer para acabar com ele, não?! – e sem dizer mais nada ela agarrou Hainault, que até o momento não ousava interferir na briga, e o arrastou para longe dali.
Doumajyd permaneceu no mesmo lugar, bufando, sem conseguir tirar os olhos dos dois que se afastavam depressa.
- Tudo bem? – perguntou Sarah cautelosamente, se aproximando.
- Por que ainda está aqui, feiosa?! – rosnou ele – Suma!
Percebendo que não haveria como fazer o dragão mudar de idéia naquele momento, Sarah virou-se saiu, tentando ao máximo se demonstrar ofendida com tudo o que havia acontecido. Mas ainda parou no meio do caminho e falou sibilando:
- Não pense que desisti! Um dia ainda vou tirar essa anã do seu coração!
Doumajyd limitou-se a lhe dar as costas e sair pisando furioso pelas ruas movimentadas.
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