Não vou perdoar!



- A interferência deu certo, senhora Doumajyd. – informou o secretário para a bruxa que tomava uma xícara de chá calmamente, enquanto olhava pela janela.
- Muito bem, Richardson.
O secretário fez uma pequena reverência apressada e deu meia volta para sair, mas antes que ele pudesse alcançar a porta, a bruxa acrescentou:
- Mas... por precaução, coloque em prática o outro plano.
- Sim, senhora. – respondeu o secretário tentando não demonstrar que preferia não seguir aquela ordem.


***


Mary levou Hainault até um parque, o mais afastado possível de onde havia deixado Doumajyd. E, cansados por terem praticamente corrido todo o caminho até lá, os dois largaram-se no primeiro banco vazio que encontraram.
- Desculpa, Ryan. – disse ela assim que conseguiu voltar a respirar normalmente – Aquele idiota tinha que aparecer e estragar tudo! Ele não tinha nada que falar que... – ela percebeu o que iria dizer e parou antes que fosse tarde demais.
- Eu já sabia. – falou ele, fingindo estar entretido olhando para as grandes árvores do parque – Quando eu estava em Paris já se comentava sobre isso...
Mary ficou sem saber o que fazer. Desde o princípio ela suspeitava que ele sabia e que aquele era o motivo por ele andar tão estranho. Mas ele próprio dizer era diferente do que ver em manchetes de revistas.
- Era isso que você estava escondendo na livraria? As revistas anunciando o noivado? – perguntou ele curioso.
- Er... era. – respondeu ela sem graça.
Ele riu e disse mais para si do que para ela:
- Que pena.
- Pena? – perguntou ela confusa – Do quê?
- Essa sua parte graciosa... O Chris percebeu muito antes de mim...
Mais uma vez ela não sabia o que responder e os dois ficaram calados por um tempo.
- Já está escurecendo. – informou ele – Eu... preciso passar em um lugar antes de voltar para o castelo... Tudo bem você voltar sozinha?
- Eu... sim. – ela se pôs de pé em um pulo e acrescentou sorridente – Sem problemas, eu sei o caminho!
- Nos vemos amanhã então. – ele se levantou e começou a andar por onde eles haviam vindo.
- Sim. Até amanhã...
Ela o viu sumir de vista entre as pessoas que passeavam pelo parque e respirou fundo, pensando que ela falhara totalmente em tentar animá-lo e fazê-lo esquecer-se de Sharon.


***


No caminho de volta para o castelo, Mary acabou se deparando com Vicky parada como uma estátua em frente a uma loja de plantas exóticas.
- Vicky! O que está fazendo aqui?! Já vai escurecer! Uma aluna de NOMs não pode ficar até tão tarde passeando!
- Mary... – resmungou ela tristemente sem tirar os olhos da vitrine – Você vai escolher o Cavaleiro de Olhos Frios?
Mary percebeu o quanto ela ainda estava triste e desanimada, e tentava buscar qualquer outro assunto que a fizesse esquecer-se daquele Kevin.
- Bom... – Mary se colocou ao lado dela, mas não vendo nada de especial no interior da loja – Nas horas em que eu realmente precisei de ajuda, o Ryan sempre esteve lá para me ajudar... Agora eu quero ajudá-lo também.
- Está bem assim? – a garota desgrudou os olhos da vitrine – Como se fosse por dó?
- Não é dó! – defendeu-se Mary – Desde o começo eu sempre gostei dele...
Vicky voltou a olhar para a loja, e acabou se perdendo em pensamentos. Mary revirou os olhos ao perceber que não era ouvida e já ia chamá-la para voltarem de uma vez para a escola quando a garota começou a dizer:
- Aqui... foi onde eu conheci o Kevin... Ele trabalhava nessa loja e estava ajeitando as plantas da vitrine quando eu o vi pela primeira vez...
- Não fale como se fosse algo sagrado! – protestou ela – Você mesma já concordou que ele não prestava!
- Eu sei... mas...
- Então pare com isso e volte ao normal de uma vez! Vamos embora! – Mary pegou a mão dela e a forçou a segui-la – Quando chegarmos ao castelo vamos para a estufa comer doces e ouvir a professora Karoline contar alguma história absurda e sem... O que foi?!
Vicky tinha parado bruscamente e quase fez com que Mary caísse para trás. E, ao se virar para reclamar com a amiga, ela se deparou com uma expressão que não via há dias na garota. Ela estava sorrindo e olhando fixamente para algum ponto não muito distante ao lado delas.
Mary procurou pelo milagre que havia feito a amiga voltar a ser iluminada e quase tropeçou quando viu o Kevin Eckheart parado no outro lado da rua, aparentemente fazendo coisa alguma.
- Kevin! – sussurrou Vicky, como se estivesse pensando, na cabeça dela, que aquilo fosse uma mensagem do destino dizendo que os dois deveriam se encontrar ali, naquele momento – Mary! É ele! Nós podemos resolver tudo se conversarmos! KEV-
Mas quando ela estava na metade do nome dele, uma bruxa passou correndo por elas, esbarrando em Vicky e quase a derrubando no chão. Sem ao menos virar para pedir desculpas, essa bruxa atravessou a rua e praticamente pulou em cima do garoto, agarrando-se ao pescoço dele e falando alto:
- Estou muito atrasada?!
- Só um pouco. – respondeu Kevin, tentando se livrar do abraço apertado em volta do seu pescoço.
- Onde vamos hoje, onde? – perguntou ela toda animada, não o deixando que ele saísse do abraço.
Mary não sabia se jogava uma maldição nele naquele exato momento ou se socorria Vicky que parecia prestes a desmaiar. Foi então que ela ouviu que a voz dele se aproximava e percebeu que os dois vinham naquela direção:
- Que tal naquele clube novo que abriram semana passada? Ouvi dizer que é muito bom!... Ah. – ele notou Vicky na sua frente e parou, a encarando.
Imediatamente os olhos de Vicky se encheram de lágrimas e ela parecia fazer uma força tremenda para não começar a chorar desesperada ali na frente deles. Sem perder tempo, Mary a segurou pelos ombros, decidindo que o mais importante a se fazer agora era segurar a amiga de pé.
- Conhece ela? – perguntou a bruxa, curiosa, quando percebeu para quem Kevin estava olhando.
- Sei lá... devo ter visto ela pela rua.
Sem agüentar mais, Vicky se livrou das mãos de Mary e saiu correndo, sumindo pela rua movimentada.
- É melhor correr atrás dessa pirralha chorona. – ainda sibilou Kevin antes de passar por uma Mary chocada com a reação da amiga.
Mary respirou fundo para tentar se acalmar e não sair correndo e o chutar com toda a sua força. Ela precisa ir atrás de Vicky o mais rápido possível, pois não fazia a mínima idéia de que bobagem ela poderia fazer naquele estado.
- Eu definitivamente não vou perdoar! – rosnou ela para as costas de Kevin, antes de seguir pelo caminho por onde Vicky tinha sumido.

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