O Encontro Duplo
- Eles estão atrasados... – resmungou Mary suspirando, sentada no banco da praça olhando distraída para algum ponto qualquer no chão.
- Não posso acreditar que essa gente comum está me fazendo esperar... – resmungou Doumajyd bufando, sentado no banco da praça olhando distraído para algum ponto qualquer do chão.
Mary revirou os olhos e conferiu seu relógio.
- Não se exceda mais tarde, certo? – ela o advertiu – Ela é a minha melhor amiga! Não vai explodir, berrando e batendo em todo mundo!
- Eu sei... – respondeu ele mal humorado – Não vou explodir...
- Promete? – perguntou ela não demonstrando ter acreditado nele.
- É uma promessa de Dragão. Satisfeita?
- Mary! – Vicky surgiu entre as pessoas que passeavam pelo parque arrastando um garoto atrás dela, e parou na frente deles ofegando – Desculpe pelo atraso! Esse é o Kevin Eckheart!
- E aí?! – cumprimentou ele de uma maneira um tanto convencida.
-Pra-prazer em conhecê-lo. – Mary respondeu o cumprimento sem jeito.
Será que Vicky havia puxado o cara errado na pressa? Era ele mesmo o seu namorado? Mary sabia que ele não estudava em Hogwarts, portanto não era rico ou de uma grande e tradicional família bruxa. Que ele vivia em Hogsmeade e... era só isso?... Na verdade, a garota nunca tinha falado muito sobre ele, mas... a aparência desleixada, o jeito de desligado e o sorriso afetado não estava em nenhuma das descrições que Vicky havia lhe dado.
- Eu sou a Mary, Mary Ann Weed. – continuou ela, tentando se livrar daqueles pensamentos, teria que conversar melhor com Vicky sobre isso depois – E esse é o Christopher Doumajyd.
- O que, o que? Que Doumajyd?! – perguntou o garoto rindo de um jeito estranho – Doumajyd como aquela loja cara de bolas que podem ser usadas como lareiras?! Ou daquele povo que vive no Ministério?! Fala sério! Nossa que nome pomposo! Você deve ter crédito em um monte de lugares só por ter um sobrenome famoso! Vou te chamar só de Chris, é mais fácil!
E ainda era um tapado, pensou Mary, que nem conseguia imaginar que estava diante do próprio herdeiro dos Doumajyd. Mas ao olhar para o lado, ela mal conseguiu se mover, tendo a sensação de que o dragão não havia tido uma boa primeira impressão. Este encarava o garoto um tanto confuso, e ela pôde ver ele soletrar silenciosamente a palavra ‘crédito’.
- Chega de conversa e vamos nos divertir! – anunciou Kevin passando o braço pelos ombros de uma Vicky sorridente e a conduzindo para a direção contrária da que vieram – Onde vamos primeiro?
- O que foi aquilo, Weed?! – perguntou Doumajyd para Mary como se a culpa fosse dela. – Esse cara é retardado ou-
- Não importa, não importa! – ela o virou e o fez caminhar também seguindo eles – Vamos nos divertir, ok?
- Ele está atraso e nem se desculpou! Que tipo de bruxo ele é?!
- Provavelmente um sangue-ruim. – retrucou ela.
Derrotado com a indireta dela, e lembrando da promessa, ele mudou de assunto:
- ...Então, onde as pessoas vão em encontros de pessoas comuns?
- Eu não disse antes? – perguntou Mary com um enorme sorriso – Para o Zoológico de animais Mágicos!
Doumajyd torceu o rosto de descrença:
- Zo-zoológico?
***
- Eu não vinha ao zoológico há muito tempo. – comentou Kevin quando os quatro passaram pelo grande portal de pedra do Zoológico de Hogsmeade – E você, Doumajyd?
- ...É a primeira vez que eu venho. – resmungou o dragão.
- SÉRIO?! Então essa é a primeira vez que você vê animais mágicos fora dos livros da escola?! ...Ah, não me diga que você tem medo de animais?!
- É também a primeira vez que vamos ao zoológico desde a primeira visita de Vicky a Hogsmeade, certo Vicky? – Mary tentou mudar o assunto antes que Doumajyd se irritasse mais.
- Se eu quisesse ver animais mágicos, eu iria vê-los diretamente em seu habitat natural! – declarou Doumajyd.
- Sério? Tipo, ver dragões na Romênia?... Nossa, maneiro! Não me diga que além do sobrenome você também tem a fortuna igual aos Doumajyd para fazer esse tipo de coisa?
Doumajyd o encarou, pronto para dizer alguma coisa bem dita para o garoto quando Vicky ajudou, praticamente jogando o namorado contra um dos viveiros:
- Olha! Esses Kappas são tão bonitinhos!
- É mesmo!... Olha! Aquele ali se parece com o Chris, não acham? – disse ele apontando para um dos animais e gargalhando.
- Cuidado com o que você fala! – bufou Doumajyd – Até mesmo o mais calmo dos dragões pode perder a paciência!
Mary entendeu a mensagem e paralisou, mas Kevin apenas riu mais ainda, como se ele houvesse dito algo extremamente hilário:
- O que ele está dizendo? Eu não entendi! Você é um cara engraçado, Chris! – e saiu com Vicky atrás dele, pedindo desculpas disfarçadamente.
- A... Aqueles dois parecem se dar bem... – comentou Mary, tentando quebrar o clima de tensão elétrica que Doumajyd emanava.
- Essa é a sua idéia de um encontro comum?! – rosnou ele e fez com que Mary se encolhesse assustada.
Porém, lembrando do que havia prometido, ele tentou se acalmar:
- Quem aquele idiota pensa que é? Por que sua amiga está com um lixo desses?!
- Me desculpe...
Doumajyd colocou as mãos no bolso do casaco e começou a andar de vagar, com Mary o seguindo:
- Não precisa se desculpar. Não é culpa sua.
-Mas é realmente difícil de acreditar! – desabafou Mary, falando baixo para que a amiga não ouvisse – Eu estava esperando um cara mais legal por se tratar do namorado da Vicky... Eu sabia que isso não ia dar certo desde o início... Esqueça, vamos embora, chega de encontro duplo.
Doumajyd parou e a encarou:
- Você não ficará mal se formos embora agora?... Não se preocupe. Eu prometi que não vou bater em ninguém, não prometi?
Mary pensou por um instante e então concordou.
- Embora ele me irrite muito! – acrescentou ele para quebrar a posse de bom menino que ele tinha assumido.
- Certo. – Mary não pode deixar de rir. – Vamos.
***
Mary estava concentrada lendo uma placa informativa diante da jaula de um Erupente (Originário da África, cinzento, de grande porte e força, pesa até uma tonelada e pode ser confundido com um rinoceronte. Seu couro grosso repele a maioria dos feitiços e maldições), quando algo escuro apareceu ao lado de sua orelha e gruniu. Ela quase caiu para o lado com o susto, mas Doumajyd a segurou antes disso.
- Você se assusta muito fácil, Weed. – disse ele mostrando o ‘algo escuro’ para ela.
Era um bichinho de pelúcia, daqueles que se usa como fantoches na mão, na forma de iguana roxa. Ele abriu e fechou a boca do bicho mostrando para ela que ele imitia um ruído estranho quando se fazia isso, e então o tirou da mão e entregou para ela rindo:
- Para você. Sei que quer um desses!
- Eu quero? – murmurou ela pegando o bicho com um sorriso amarelo.
- Ele é bonitinho, não?
Ela concordou com um aceno fraco de cabeça e ele passou a ler a placa informativa contente.
Mary olhou para o presente e torceu a cara, não encontrando nada de bonitinho nele, mas não pode deixar de pensar que a intenção de Doumajyd era boa.
***
- Ahhhhh! Que graçinha! – Mary quase pulou a cerca de proteção de uma das jaulas para poder ver melhor o seu morador.
- Ah! – disse Doumajyd com ar de quem sabia das coisas – Um Carangueijo-de-Pedras!
- Não, é um Carangueijo-de-Fogo. – explicou Mary.
- Onde fogo? Não vê as pedras preciosas na carapaça dele? É um Carangueijo-de-Pedras! – afirmou ele saindo e balançando a cabeça.
- Mas é um Carangueijo-de-Fogo! – disse ela apontando para a placa, com a iguana na mão, e não podendo conter o riso – Está escrito aqui, não viu?... Ei, Doumajyd! Me espera!
- Olha um Arpéu! Vem ver esse, Weed! – o dragão correu para a direção oposta, tão empolgado como se estivesse em uma decisão de quadribol.
***
Já era quase final de tarde e Mary e Doumajyd estavam na última parte a ser visitada do Zoológico, o lago, onde várias espécies espalhafatosas de pássaros aquáticos se exibiam.
- ...Não acha que, com esse encontro, nós finalmente estamos parecendo mais como um casal? – comentou Doumajyd depois de um tempo de silêncio entre eles.
Isso pegou Mary despreparada. Com a empolgação de Doumajyd pelo zoológico e as besteiras que ele falava, ela estava se divertindo tanto que acabou esquecendo do que realmente era aquele encontro duplo: fazer com que Doumajyd percebe-se que ela não pertencia ao mundo dele.
- Espera, sobre isso, eu... – começou ela, mas ele a interrompeu.
- Não se preocupe. Eu não compreendi nada errado.
- ... Como assim?
- Olha, eu sei que eu me precipitei quando eu disse ao Ryan que estávamos namorando. – admitiu ele – Mesmo depois de tudo o que aconteceu, eu não posso forçá-la a aceitar.
Mary achou que não estava entendendo o que ele falava.
- Aquele dia, quando aquela maluca quase me matou, eu falei que gosto realmente de você. – disse ele um tanto sem graça olhando para o lago – Mas ainda assim, você não me respondeu como se sente sobre mim... Não se preocupe, eu vou esperar até que seu coração possa me responder honestamente... um dia...
Mary abriu a boca para falar algo, mas nada saiu. Então Doumajyd voltou ao seu sorriso desdenhoso e à sua habitual posse de dono do mundo:
- Mas já vou alertando que você vai se arrepender se rejeitar um cara tão perfeito como eu! Os peixes que você deixar ir embora, estão nadando.
Mary quase tropeçou com aquilo. Como Doumajyd conseguia passar de sério para arrogante em menos de meio segundo?!
- Que peixes nadando?! – perguntou a voz irritante de Kevin, surgindo com Vicky ao lado deles – Isso foi uma piada?! Claro que os peixes vão embora nadando! Que estúpido!
Mary se encolheu, achando que aquilo poderia ser a gota d’água e que Doumajyd quebraria o nariz do garoto naquele momento.
- Eu estou com sede! – anunciou Kevin – Vou comprar umas bebidas para nós!... Ei, Vicky, libera uns trocados aí! – ele estendeu a mão para ela.
Vicky não entendeu de imediato, mas assim que olhou para a expressão dele, pegou a sua bolsa e retirou alguns sicles, lhe entregando logo em seguida. Então ele saiu cheio de pose para comprar as bebidas.
- Vicky! – exclamou Mary não podendo se conter, e a amiga limitou-se a ficar sem graça.
Aquele cara estava passando dos limites e Mary não conseguia mais compreender como Vicky poderia gostar de um idiota daqueles.
- WEED! – rosnou Doumajyd.
Mary se agarrou na cerca para não cair com o susto que levou:
- Sim?
- Vou ao banheiro. – disse ele saindo e não disfarçando que havia ficado furioso com o que vira.
Mary teve um mau pressentimento. Se Kevin continuasse agindo daquela forma estúpida, ela não teria como segurar mais o dragão.
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