O Convite de Mary



Doumajyd e os outros Dragões estavam reunidos na ala especial do D4 em uma disputa dupla de xadrez bruxo. O líder jogava contra Hainault e ainda não havia ganhado uma única vez. Cansado dessa situação, ele acabou derrubando todas as peças ao se levantar bruscamente da mesa, e se largou em seguida na sua poltrona enquanto resmungava:
- Esse jogo é uma grande porcaria!
- Não sabe nem perder, Chris. – murmurou MacGilleain concentrado – Como espera ganhar?
- Eu não devo entender por que as pessoas jogam esse tipo de jogo! – reclamou ele de mau humor.
- É ‘eu não consigo entender’. – corrigiu Nissenson fazendo a sua jogada.
- Cala a boca! – rosnou Doumajyd demonstrando toda a sua irritação.
Mas no mesmo instante tirou a sua esfera do bolso, onde a fumaça já ganhava uma forma. Então ele levantou e foi até um canto mais afastado atendendo a chamada do seu modo educado:
- É bom ser importante, idiota!
Os outros três se entreolharam, já adivinhando quem era, e então voltaram ao jogo.
- Tudo bem que o Chris não é um exemplo de jogador de xadrez, mas ganhar cinco vezes seguida não é pedir para apanhar dele, Ryan? – perguntou MacGilleain enquanto via o amigo arrumar as peças espalhadas.
- Fazia tempo que eu não jogava... – comentou o Dragão da Grifinória parecendo contente com as vitórias.
- Que tipo de piada é essa?! É claro que NÃO, idiota! – eles ouviram Doumajyd rosnar e guardar a esfera no bolso.
Então ele voltou para frente do tabuleiro parecendo extremamente contente:
- Vamos continuar esse jogo! Dessa vez eu ganho!
- Quer continuar? – perguntou MacGilleain confuso.
- Eu acho que deveríamos parar agora, Chris. – sugeriu Nissenson – Você não parece estar pensando direito...
- Quando eu digo para continuarmos, é para continuarmos! – declarou ele autoritariamente, e então mudou para um tom de desafio – E eu não vou deixar ninguém ganhar!
- O que causou esse bom humor tão de repente? – perguntou o Dragão da Lufa-lufa sorrindo desconfiado.
- O que a Mary queria? – perguntou Nissenson não deixando de lado a sua concentração.
- Como sabiam que era ela?... – perguntou Chris surpreso – Ah, aquela idiota me convidou para ir num encontro duplo amanhã. Acreditam nisso?!
- Encontro duplo?! – perguntaram em coro Nissenson e MacGilleain.
Hainault limitou-se a encará-lo.
- Ela me perguntou se eu iria em um encontro de pessoas comuns. – continuou Doumajyd rindo – Encontro de pessoas comuns, que piada!
- Isso é bom, Chris! – disse Nissenson – Ela finalmente está dando uma chance para você!
- Bom, nada! – rosnou o líder.
Os três o encararam sem entender. Então Doumajyd explicou o seu ponto de vista:
- Como pode o Somente e Único Christopher Doumajyd ir em um encontro duplo de pessoas comuns? Isso é coisa de crianças! É claro que eu recusei!
- Então... – MacGilleain ainda tentava entender – Por que está de tão bom humor?
Doumajyd não o ouviu e continuou falando sorridente enquanto tentava fazer as suas peças permanecerem em seus lugares, já que estas fugiam de medo de serem arremessadas novamente.
- Ela me disse que era para nos encontrarmos no parque de Hogsmeade amanhã às dez horas para irmos a algum lugar junto com a amiga estranha dela e o namorado dela que deve ser mais estranho ainda... inacreditável! – disse ele por fim imitando o jeito dela falar e enchendo um copo com suco de abóbora que estava na mesa ao lado deles, o tomando logo em seguida, ainda rindo.
- Então... – começou Hainault, cruzando os braços em cima da mesa e deitando a cabeça neles – Eu posso ir no seu lugar?
- Q-quê?! – Doumajyd quase se engasgou com o suco enquanto olhava assustado para o amigo – Não!... Quer dizer... é... eu... aquele... aquele lugar de... lugar de encontro no parque... é... totalmente... sem graça!
Hainault apenas sorriu do seu jeito calmo com a confusão que o amigo fazia entre os seus pensamentos e o que ele queria falar.


***


- O que eu faço?! – Mary entrou correndo da estufa, quase fazendo com que uma Vicky distraída deixasse cair uma bandeja cheia de doces recém preparados pela professora Karoline.
- O que foi?! – perguntou a garota tentando reequilibrar a bandeja nos braços.
- Doumajyd falou que o Hainault vai no encontro amanhã!
- Como assim? O que aconteceu?
- Eu sabia que isso não iria funcionar! – Mary se largou em uma das cadeiras, desanimada – Ele definitivamente não vai se rebaixar aos meus padrões! Eu não deveria ter concordado com esse plano desde o início...
- Mas... – Vicky colocou a bandeja em cima da mesa e se sentou ao lado da amiga – Se o Cavalheiro de Olhos Frios ir... você não vai ficar feliz?
- O propósito do encontro não era esse, Vicky...
- O que vamos fazer então? Cancelar? Jogar um feitiço de memória neles?
- Ah, a esfera! Deve ser o Doumajyd querendo... – Mary a retirou do bolso, mas não terminou a frase.
A figura que se formou na fumaça era a de Hainault.
- Mary? Posso falar com você um instante na torre?
Mary e Vicky se entreolharam e então ela concordou.
- Estou esperando. – ainda disse ele antes da sua imagem se desfazer.


***


Mary chegou quase sem fôlego a Torre do Desabafo, onde o dragão já a esperava, observando a paisagem pela janela.
- Olá. – disse ela cautelosa, lembrando em que estado chegara a sua última conversa com ele naquela torre.
- Acho que o Chris vai aparecer para o encontro amanhã. – ele falou sem tirar os olhos da paisagem.
- Vai? – perguntou ela confusa – Mas ele me disse que...
- Ele estava extremamente feliz. É difícil vê-lo tão empolgado com algo.
- Mas então por que ele recusou?
- Você já deve ter percebido que ele fala muita coisa sem pensar, não?
- Realmente. – ela não tinha como negar.
- Então quando eu disse que iria ele ficou confuso e resmungou algumas coisas... Só assim ele admitiu que queria ir.
Mary não sabia se agradecia ou não. Ele havia lhe ajudado convencendo Doumajyd ou estava sendo estranho como daquela outra vez em que sugerira que namorasse escondidos do líder dos Dragões?
- Bom, era só isso. – disse ele indo em direção a saída – Vou voltar para a minha aula.
Foi então que Mary percebeu que essa seria a oportunidade perfeita para ela poder acabar com todas as suas dúvidas sobre ele:
- Espera, Hainault!
Ele a obedeceu, mas virou falando:
- Acho que já está hora de você começar a me tratar pelo nome, Mary.
Ela concordou e perguntou logo em seguida:
- Aconteceu alguma coisa, Ryan? Desde que você voltou da França tem agido de forma estranha.
- Agindo de forma estranha?
- Eu... eu já disse que você está de alguma forma diferente, mas você não me respondeu naquele dia. Aconteceu algo? Eu posso ajudar de alguma forma?
O dragão sorriu e passou a olhar para algum ponto da parede, como se tivesse medo de que ela pudesse ler seus pensamentos se a encarasse:
- Foram dias felizes na França, a Sharon e eu. Todos os dias preparávamos comidas que não estávamos acostumados a comer. Frequentemente conversávamos sobre quando éramos pequenos... Ah, nós sempre falávamos sobre você, Mary!
- Sobre mim? – ela perguntou surpresa.
- Sharon, disse que gostou muito de você... Como a irmãzinha que ela sempre quis.
Mary não pôde evitar de se sentir feliz. Era mais ou menos a mesma coisa que ela sentia em relação a bruxa... a não ser pelo detalhe de Sharon ser a irmã mais velha.
- Mas... – ele continuou mais desanimado – Esses momentos felizes não duraram muito. Sharon é uma bruxa muito ocupada, e por isso, eu ficava sozinho. Ainda não me formei, apesar de já ter autorização para usar magia... Resumindo: não podia fazer nada por ela. E isso me fez lembrar da primeira vez que você enfrentou o Chris, aquele que tinha poder absoluto em Hogwarts, de como você é forte para lutar pelo que quer e pelo que considera certo... Eu não tenho essa sua força. Não tenho nada para oferecer para a Sharon.
- Isso não é verdade! – disse ela, o surpreendendo – Você não é uma pessoa que não tem nada a oferecer! Eu enfrentar Doumajyd daquela vez foi uma coisa, mas e as conseqüências disso? Lembra? Você e Vicky foram as únicas pessoa do meu lado! Se não fosse pela sua ajuda em vários momentos, talvez eu não estaria aqui hoje!
Diante disso, ele voltou a olhar diretamente para ela, com uma expressão que dizia claramente que ele nunca tinha pensado por esse ponto de vista antes.
- Mary, eu... – mas ele não pode terminar.
Mary foi obrigada a pegar a esfera em seu bolso antes que começasse a pegar fogo.
- Deve ser o Chris. – disse ele suspirando.
E mal a sua imagem havia se formado na esfera, Doumajyd já disse da forma mais direta possível:
- Amanhã. Encontro duplo de gente comum. Eu irei. Só isso. – e desapareceu.
- Doumajyd! Espera! Eu... grrrr! Por que ele sempre faz isso?!... Ryan, eu preciso avisar a Vicky para ela mandar uma coruja para o namorado dela entes que fique muito tarde. Me desculpe se eu falei besteira demais! Até! – e ela apressou-se em sair da torre, não sem antes quase bater de cara na parede por estar falando e olhando para trás enquanto andava.
Se recompondo, ela saiu sem graça o mais rápido que pode.
O dragão balançou a cabeça rindo, e foi então que viu algo brilhar no chão.

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