O plano da irmã do Dragão



- Mãe! – disse Christinne assim que abriu, determinada, as portas pesadas da sala da senhora Doumajyd, na mansão da família – Não poderia aceitar a namorada do Chris?
A bruxa limitou-se a lhe lançar um olhar reprovador e a perguntar:
- Veio aqui somente para me perguntar isso?
- Eu não posso deixar o meu precioso irmão passar pela mesma dor que você me causou! – ela colocou as duas mãos sobre a escrivaninha da mãe, a desafiando.
- Cuidado com as suas palavras, Christinne! – a senhora Doumajyd levantou-se e continuou em tom ameaçador – Quem você acha que lhe deu a oportunidade de ter uma felicidade sem problemas algum? Seu marido não é rico? Não tem prestígio? Você não é tratada como uma princesa?... O que eu fiz foi errado, Christy? – ela fez a última pergunta usando o seu nome em tom sarcástico.
Christinne demorou um pouco para responder. Parecia estar se forçando a manter aquela conversa calmamente, sem brigas.
- Não vamos falar de certo ou errado, mãe. Eu perdi algo importante por...
- Algo importante? – a bruxa riu, voltando a sua poltrona e aos seus pergaminhos – Quem precisa disso!
Ela percebeu que a mãe não lhe pretendia mais dar atenção, mas continuou mesmo assim:
- Na verdade eu estou satisfeita com a minha vida agora. Eu superei, mas foi muito difícil e doloroso. Não quero que Chris sofra o-
- Então, não deveria se intrometer! Você se casou e não é mais uma Doumajyd!
- Mas eu ainda não posso esquecer-me de quão maligna você foi comigo!
- Cale-se, Christinne! – ela lhe lançou um olhar mortal – Uma mulher casada não deve pensar em coisas vulgares sobre seu passado!... Você mesmo admite que está feliz agora! Essa é a maior prova de que agi certo, e não excitarei em fazer o mesmo pelo Christopher!
- Está dizendo que amar alguém de verdade é vulgar?!
- Amar sinceramente? – perguntou a senhora Doumajyd rindo – Esse tipo de sentimento inconcebível não tem mérito nenhum... Já se esqueceu que seu amor sincero perdeu para uma quantia de galeões?
Christinne ainda a encarou por um tempo, mas sabia que já não havia mais como discutir. Sua mãe não havia cedido no passado e não cederia agora. Ela precisava pensar em uma estratégia diferente...


***


- Do modo como ele disse, parece que algo ruim vai mesmo acontecer, não? – perguntou Vicky quando ela e Mary estavam nas estufas, no final daquela tarde, comentando sobre o alerta de Doumajyd.
- Sim... Ele disse que era para avisá-lo imediatamente que ele viria para onde quer que eu estivesse.
- Sério?! – perguntou a garota surpresa, mas rindo – Que romântico isso!
- Isso não é uma prova de que ele a está considerando? – perguntou a professora Karoline surgindo fantasmagoricamente atrás delas.
As duas quase caíram das cadeiras em que estavam sentadas, mas a professora fingiu não notar e continuou falando, enquanto andava pela estufa:
- Entre os homens que eu amei, havia um que era famoso!
- Lá vai ela de novo... – suspiraram Mary e Vicky.
- Esse bruxo gostava muito dos meus doces, e por isso até hoje eu os preparo... Embora ele fosse um tanto egoísta, egocêntrico e com um fascínio doentio em estar em manchetes, ele era muito comprometido com a mulher que amava... Se eu não tivesse hesitado em deixar tudo para ficar ao lado dele, eu teria encontrado a verdadeira felicidade... Esse homem era obviamente um idiota, e se fazia de forte. Ele era muito insistente também... – e a professora sumiu para a parte de trás da estufa, ainda tagarelando entre suspiros.
- Nem me fale em insistência... – comentou Mary acrescentando mentalmente que não deveria existir no mundo um ser mais insistente do que Christopher Doumajyd.
- Mas talvez o que a professora falou sirva como exemplo para você, Mary. – disse Vicky pensativa.
- Hum?
- Por que você não deixa seu orgulho de lado e se joga nos braços de Doumajyd? Ele já provou que é capaz de fazer qualquer coisa por você... apesar do jeito que ele é.
As palavras ‘pular nos braços dele’, soaram por um tempo na cabeça de Mary acompanhada de uma imagem mental ridícula dela realmente fazendo isso.
- Definitivamente não, Vicky!
- Ah, sei, você ainda está interessada no seu Cavalheiro de Olhos Frios, não?
- Também não, Vicky... Na verdade eu-
- Ah, quem é ali?! – sobressaltou-se a garota apontando em direção a porta.
- Quem é?! – a professora veio correndo dos fundos da estufa e quase se jogou em cima de Vicky perguntando – É o Adam? Ele veio?!
- Não é. – respondeu Mary vendo a pessoa começar a bater no vidro da estufa e acenar alegremente. – É a irmã do Doumajyd?!
- A irmã?! – perguntou Vicky curiosa, enquanto a professora parecia ter perdido todo o interesse e voltava para o que estava fazendo antes.
Mary confirmou com a cabeça e foi abrir a porta para a visita inesperada.
- Há quanto tempo! – disse Christinne assim que pisou na estufa, lhe dando um braço apertado – Como vai, Mariane?!
- ... É Mary Ann. – lembrou-lhe humildemente Mary com um sorriso amarelo.
- Ah, perdão. – desculpou-se ela rapidamente e então acrescentou – Gostaria de jantar comigo em Hogsmeade? Sua amiga pode vir também!
- Verdade?! – Vicky mal acreditava no que ouvira.
- Jantar em Hogsmeade? – estranhou Mary.
- Tenho algo para lhe falar e não pode ser aqui na escola.
Surpresa e curiosa com a visita inesperada e o convite, Mary aceitou e Vicky quase pulou de felicidade atrás dela.


***


- Minha mãe... como eu devia dizer isso, sendo uma filha... – Christinne pensou por um tempo, mas não apareceu chegar a lugar nenhum, e então declarou, dando uma garfada um pouco mais violenta do que o necessário no seu pedaço de carne – Ela é uma mulher fria e cruel!... Não vão comer? – perguntou a bruxa de repente, vendo que elas ainda não tinham tocado nos seus pratos.
Mary e Vicky entreolharam-se e então encararam seus pratos. Elas estavam em um dos restaurantes mais caros de Hogsmeade, com uma refeição extremamente elaborada na frente delas. Mesmo Vicky, sendo rica, não parecia ter certeza do que fazer naquela situação, que provavelmente passava até do limite de seus galeões.
- Não sejam tímidas, podem comer a vontade!
- Obrigada. – agradeceram as duas sem jeito, pegando seus talheres.
- Como eu disse, minha mãe não é um exemplo de mulher compreensiva. Ela faz de tudo para realizar seus objetivos. E atualmente, seu objetivo é fazer com que Christopher deixe você, Mary.
- Agora eu entendo por que ele disse aquilo... – comentou Vicky.
- Não se preocupe, Christinne. – Mary apressou em esclarecer – Apesar de Doumajyd falar isso para todo mundo, nós não estamos namorando.
- Mas o Chris parece estar sério sobre você. – disse ela sorrindo – E eu nunca o tinha visto tão determinado antes.
- Viu, eu disse que você deveria pular nos braços dele! – ajudou Vicky, praticamente falando de boca cheia para não perder a deixa.
Mary ficou mais sem graça ainda. Doumajyd falar que gostava dela era uma coisa, mas a própria irmã dele confirmar isso dava um ar muito mais sério à situação.
- Porém... – continuou Christinne – Se você não consegue corresponder aos sentimentos dele, eu sugiro que não se esforce.
Mary a encarou, pensando rapidamente que talvez ela a ajudasse a se livrar de Doumajyd.
- Mas se você sente algo por ele, eu prometo que apoiarei completamente os dois e farei todo o possível para que dê certo! – declarou ela um tanto apaixonadamente, o que fez a esperança de ajuda de Mary murchar.
- ...Obrigada. – agradeceu Mary sem graça.
Agradeceu não por que ela considerasse a sua possibilidade de realmente ficar com Doumajyd com o apoio dela, mas pela determinação da bruxa em querer ajudá-la.
- O Chris mudou muito desde que conheceu você, Mary. – continuou ela – Ele está mais aberto... Ou melhor, ele está, de alguma forma, mais crescido. Sinceramente, eu nunca pensei que um dia o Chris pudesse apanhar por alguém...
Mary se sentiu extremamente embaraçada. Estar ali naquele lugar chique jantando com uma bruxa da elite mágica era uma sensação completamente diferente de estar com o D4 na sua ala especial. Ainda mais com a bruxa em questão falando alegremente em como ela tinha sido uma boa influência para o ditador de Hogwarts. E isso fez com que Mary subitamente pensasse sobre um novo ponto de vista: o mundo em que ela estava se deixando entrar.
Desde o incidente com Sarah, Mary passara a aceitar sua convivência com o D4. Ela tinha se acostumado até mesmo com as coisas caras que Doumajyd havia lhe dado para o seu dormitório. Mesmo ela batendo o pé diante daquilo e achando um absurdo alguém como ela ser presenteada assim, no final ela acabara aceitando.
- Ma-mas eu sou só uma pessoa normal. – começou ela meio sem jeito, tentando pensar em como diria que ela e Doumajyd não combinavam, e terminou em um fiapo de voz – Eu não faço parte da alta sociedade mágica e não tenho a menor vocação para fazer.
- Eu acho, – começou Vicky entre uma garfada e outra – que se o Doumajyd for sincero com seus sentimentos por você, ele tentará se adequar a nossa realidade!
Mary revirou os olhos. Que ‘nossa realidade’? Vicky às vezes se deixava levar pelo momento e esquecia que ela não era exatamente um exemplo de pessoa que tinha apenas um nuque furado no bolso... E o que ela estava fazendo estragando a desculpa que ela dera?
- Tive uma idéia! – disse de repente Christinne largando seus talheres no prato e as encarando – Seu nome é Vicky não, amiga da Mary?
Vicky confirmou, ainda com o garfo na boca.
- E você tem um namorado?
- Sim, eu tenho. – começou ela um pouco sem graça, mas logo se empolgando – Ele mora aqui em Hogsmeade, mas que não estuda em Hogwarts. Ele é alto de olhos-
- Perfeito! – a bruxa a interrompeu – Vamos ver se ele se dá bem com o Chris!
- Como assim? – perguntou Mary não captando o plano dela.
- O Chris não tem o apoio de nossa mãe, mas ele está determinado em ficar com você, Mary. Vamos ver se essa determinação dele é também capaz de fazê-lo rebaixar seu nível!
- Boa idéia! – apoiou Vicky, quase batendo palmas de empolgação.
Mary ainda não tinha entendido direito o que a bruxa queria de verdade com esse plano. Mas ela tinha tido a sua própria idéia. Seria a oportunidade perfeita para fazer Doumajyd finalmente entender que os dois pertenciam a mundos totalmente diferentes.
- Ok. – disse ela depois de pensar um pouco – E como faremos isso?
Christinne sorriu e respirou fundo para começar a contar o plano que acabara de elaborar.

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