D4 novamente reunido
- Deveria ter nos avisado que estava voltando, Ryan! – MacGilleain apareceu entre os três, quebrando o silêncio da surpresa.
Os outros dois dragões só falaram quando puderam confirmar, com seus próprios olhos e de perto, que aquele era mesmo o Ryan Hainault, o Dragão da Grifinória.
- Eu queria surpreender vocês. – respondeu ele com o mesmo sorriso calmo de sempre.
Então ele olhou para Mary, que ainda o encarava tão surpresa quanto Doumajyd: - Há quanto tempo.
- ...hum? Ah! – ela se atrapalhou toda quando se deu conta que o encarava abertamente, então passou a olhar para o chão – Sim, já faz um tempo...
Ele se aproximou dela e se abaixou, para poder encontrar os seus olhos fugitivos:
- Esteve bem, Mary?
- Estive. – ela lhe deu um sorriso, totalmente sem graça, tentando fazer de tudo para não parecer estranha diante dele.
- Por que está vermelha? – perguntou MacGilleain rindo do atrapalhamento dela.
Mary sentiu que seria capaz de jogar uma maldição imperdoável em mais alguém que não fosse Doumajyd agora, naquele momento:
- Não estou vermelha!
Doumajyd pareceu finalmente ter saído do seu estado de choque, graças ao comentário de MacGilleain, e se colocou entre Mary e Hainault dizendo:
- Eu também estou bem! – ele foi para passar a mão pelos cabelos e conseguiu acertar a própria testa com o gesso do braço – In-incrivelmente bem!
- Por que você está cheio de machucados? – perguntou Hainault olhando preocupado para os curativos dele – O que aconteceu?
Doumajyd lançou um olhar rápido para Mary e riu nervosamente:
- Certo! Você está certo! Você tem uma observação apurada, Ryan!
- Qualquer ser humano percebe isso... – murmurou Mary, já ficando de mau humor com as atitudes dele.
Ele fingiu que não a ouviu e continuou, com um imenso sorriso:
- E eu tenho notícias grandisosas para você, Ryan!
- Grandisosas? – perguntou MacGilleain confuso.
- Acho que ele quis dizer grandiosas... – falou Nissenson encolhendo os ombros.
- Que notícias? – perguntou Hainault, sendo levemente contagiado pela empolgação do amigo.
- Na verdade, agora a Weed e eu estamos namorando! – anunciou ele todo feliz, passando o braço sem gesso em volta de Mary do seu jeito bem típico, quase a fazendo cair de cara no chão.
- O-o quê?! – ela gaguejou, o encarando incrédula.
- E esses machucados podem ser explicados como prova do nosso amor! – acrescentou ele sorridente, a segurando mais apertado ainda.
- Não! Nós... – Mary começou, mais atrapalhada ainda, tentando dizer que aquilo era coisa da cabeça de Doumajyd.
- Isso é ótimo! – disse Hainault, se mostrando contente com a notícia.
- Se isso vai ser algo bom ou não é uma coisa difícil de saber... – começou Doumajyd, ignorando totalmente os olhares mortais que Mary lhe lançava e as tentativas dela de sair do seu abraço – Para mim é uma escolha ‘salgada e dolorida’.
- O quê? – MacGilleain.
- ‘Amarga e dolorosa’... acho. – Nissenson.
- É tudo a mesma coisa! – disse Doumajyd, rindo ao invés de ter uma reação zangada, como era o normal – Vocês entenderam o que eu disse...
Mary queria transfigurar o chão em areia movediça e ser soterrada ali para nunca mais ter que passar tanta vergonha na vida. Ali estava Ryan Hainault, alguém que ela pensava que nunca mais veria novamente, e que supostamente deveria estar correndo atrás do seu amor de uma vida inteira na França, parado na sua frente com o seu sorriso encantador de sempre... E o idiota do Doumajyd resolvera simplesmente declarar, ou melhor, decretar que ela era sua namorada. Toda aquela situação já tinha passado do limite do ‘inacreditável’.
- Bem, vamos comemorar então! – disse Hainault – Lá na França não existe cerveja amanteigada como as daqui!
- Isso! – Doumajyd largou Mary de repente e se juntando ao amigo para saírem – Faz um tempo desde que nós quatro festejamos juntos!
- O D4 finalmente voltou a se reunir! – MacGilleain os seguiu.
- Não temos nenhuma aula interessante mesmo... – comentou Nissenson também indo, querendo dizer que não se importava de sair da escola no meio do dia.
- Ei! – protestou Mary, que fora deixada esquecida para trás, os seguindo.
- Ah, você é meio lerda, Weed, – Doumajyd barrou o caminho dela – então assista às aulas!
- Não quero ouvir isso logo de você! – disse ela arrancando um dos curativos falsos do rosto dele com força.
Doumajyd se segurou para não berrar de dor e praticamente rosnou para ela:
- Não quero que falte as suas aulas! Não se esqueça que você não é exatamente o padrão de aluno aceito aqui em Hogwarts!
Mary teve que recuar. Ele realmente estava certo. E além do mais, onde ela estava com a cabeça querendo sair junto com o D4?! Justo ela, uma sangue-ruim, matar aula para beber cerveja amanteigada com quatro idiotas...
Enquanto Mary ainda se criticava mentalmente, os outros três dragões saíam alegres, sem serem parados por professor algum.
- Me dê a sua mão. – disse Doumajyd impaciente, querendo logo segui-los.
- O quê? – perguntou ela desconfiada.
- Só estenda a mão, droga!
Ela estendeu, contrariada, e ele lhe entregou uma bola de cristal do tamanho de um pomo de ouro.
***
- Não fale bobagens! – riu-se a senhora Doumajyd com a informação que seu secretário acabara de lhe trazer. – Isso é coisa da cabeça dessa menina!
- Parece – continuou o secretário educadamente – que foi o próprio senhor Christopher quem anunciou o namoro.
A bruxa respirou fundo e levantou decidida:
- Ele está passando dos limites! Vou para Hogwarts agora mesmo, deixe tudo pronto para a minha ausência!
- Sim, senhora, imediatamente.
***
- Que coisinha legal! – exclamou Vicky assim que Mary lhe mostrou o que havia ganhado do líder dos Dragões, quando as duas seguiam para as suas aulas depois do almoço.
- Esse é o nosso contato particular! – Mary imitou perfeitamente o jeito autoritário de Doumajyd falar – Foi isso que ele disse. É uma coisa que a família dele inventou e vende. Funciona como a gente conversar pela lareira... Esses cristais são extremamente caros! E esses aqui são feitos especialmente para a família Doumajyd, com um encanto extra que não permite que a esfera se quebre quando jogada, lançada, queimada ou quando sofra qualquer outro dano... acidental ou proposital, perfeito para o estourado do Doumajyd.
Vicky achou isso imensamente engraçado:
- Se todos da família Doumajyd forem como ele e a sua irmã, com certeza esse encanto é muito útil!
- O pior é que ele continua com essa atitude de namorado! Sem nenhuma consideração sobre o que eu, a maior envolvida, pensa sobre o assunto!
- E por um acaso você ficou indecisa agora?
- Hum?
- Com a volta do seu Cavalheiro de Olhos frios!
Mary continuou andando e não respondeu.
- Mary, você e Doumajyd passaram por muita coisa juntos desde que o Hainault foi para a França. Eu estava certa de que se ele não tivesse voltado, você não ficaria uma fera se Doumajyd lhe pedisse em namoro.
- É claro que eu ficaria! – defendeu-se ela – Doumajyd é um idiota e vai continuar idiota para o resto da vida! Quem pode gostar de um cara assim?!... Eu que não!
E ela virou um corredor para ir para sua aula de feitiços, andando furiosamente e decidida a não deixar Vicky com essa idéia de que ela, mesmo que remotamente, gostasse do líder dos Dragões na cabeça.
- E se ele tentar falar com você?!
Ela ouviu a amiga perguntar e então lembrou que Vicky ainda estava com a esfera na mão. Então foi obrigada a dar meia volta para buscá-la.
- Se você não gosta mesmo dele, jogue fora. – propôs Vicky lhe entregando a esfera.
Mary a encarou:
- Bem que eu tentei, mas ela volta para mim...
***
Mary acabara chegando atrasada na aula, mas não recebeu uma detenção como sempre acontecia antes. E isso a fez refletir, depois das aulas, enquanto seguia para a sua sala comunal.
Os professores eram instruídos a não provocarem a ira de Doumajyd, e como Mary nos últimos dias fazia parte do D4, mesmo que informalmente, era o suficiente para eles a respeitarem como tal. Porém, essa situação não a agradava nem um pouco. Primeiro por que desde o seu primeiro ano abominara todas as crueldades que o D4 cometia, e esse não era um fato fácil de esquecer. Segundo por que não era uma coisa que ela havia alcançado com seus esforços, mas que Doumajyd lhe impusera, assim como o namoro... Quem ele pensava que era afinal?! Bagunçando a vida dela do jeito que lhe convém?...
- Inacreditável!... – resmungou ela entrando na sua sala comunal e rumando para o seu dormitório.
Ela precisava fazer alguma coisa urgentemente. Desde o incidente com Sarah e a estadia deles na enfermaria ela vinha pensando em tudo o que tinha acontecido e chegara a conclusão de que não podia deixar as coisas evoluírem mais. Se Doumajyd não a escutava, ela o faria a escutar, mesmo que tivesse que socá-lo novamente...
Mas, pensando melhor, essa confusão toda começara por causa do seu soco...
Desanimada e decidindo que iria se preocupar com isso depois que terminasse seus trabalhos, Mary abriu a porta do seu quarto e acabou deixando todo o seu material cair pesadamente no chão, tamanho o susto que levara.
- Que...?...
Ela olhou na porta para ter certeza de que seu nome estava lá e de que não entrara no dormitório errado. O Weed, com um rabisco de ‘sangue-ruim’ em baixo, era exatamente o mesmo, mas o dormitório definitivamente não era o seu. Onde estava a sua cama, o seu armário e todas as outras coisas que sempre estiveram ali?!
Para começar, o dormitório tinha sido magicamente ampliado. As paredes de pedra tinham sido cobertas com tapeçarias, o que lhe dava um aspecto mais confortável. As cortinas simples foram trocadas por outras com tecidos de sobra. A cama substituída por uma com o dobro do tamanho e, no lugar do armário de madeira desgastada e escura, estava um armário lustroso muito maior que o outro. Sua escrivaninha capenga de pernas tortas desaparecera e uma mesa de estudos confortável e estilosa estava no seu lugar. E, não tão inacreditavelmente já que se tratava de uma parede de Hogwarts, uma lareira estava ali a sua disposição, acesa e crepitante.
Ainda sem acreditar, Mary abriu o armário e constatou que suas roupas estavam lá, com mais algumas novas que ocupavam o espaço que sobrara. Então ela olhou em volta pasmada, tentando compreender o que havia acontecido, e foi quando reparou em um pedaço de pergaminho na escrivaninha. Já imaginando o que encontraria ali, ela correu para pegá-lo e confirmar sua suspeita.
“Como você conseguia viver nesse quarto pobre e sem graça?!”
Perguntava apenas os garranchos de Doumajyd.
- O que esse idiota está pensando?! – ela bufou amassando o pergaminho e o jogando na lareira.
No mesmo instante, teve uma sensação estranha de queimação na altura do seu bolso e procurou desesperada pela causa. Era a esfera de cristal que Doumajyd lhe dera e dentro dela uma fumaça rodopiava rapidamente, até que tomou uma forma:
- As aulas terminaram. Venha para o Três Vassouras agora! – ordenou o líder dos Dragões, antes mesmo que ela pudesse abrir a boca.
- Que merda de ‘venha agora mesmo’?! No que você está pensando, idiota?! O que fez com o meu quarto?!
- Ah, você já viu? São todas peças de alta qualidade, portanto cuide bem delas!
- EU NÃO VOU CUIDAR NADA! QUERO MEU QUARTO POBRE E SEM GRAÇA DE VOLTA!
- PARE DE RECLMAR E VENHA AQUI AGORA!
- NÃ... – ele desapareceu em um redemoinho de fumaça antes que ela pudesse responder – DROGA!
Mary jogou a esfera em direção ao fogo, mas ela simplesmente parou na metade do caminho e voltou para o seu bolso. Ela viu aquilo de boca aberta e entendeu como funcionava o encanto extra. Mas, passado o pequeno momento de surpresa com a esfera, decidiu tirar satisfação pessoalmente com o dragão.
Recolheu seu material que ainda estava espalhado pelo chão e o jogou em cima da cama de qualquer jeito, saindo apressada logo em seguida, ainda reclamando coisas como ‘Só pensa nele mesmo!’, antes de bater a porta atrás de si.
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