De volta



A senhora Doumajyd lia pacientemente os pergaminhos oficiais do Ministério em sua escrivaninha, na sua mansão, quando seu secretário pediu licença para interrompê-la. Sem dizer nada, ela fez um gesto com a mão indicando que ele poderia prosseguir.
- O diretor de Hogwarts mandou uma coruja avisando que o senhor Christopher já se recuperou e saiu da ala hospitalar da escola.
- Christopher estava na ala hospitalar? – perguntou ela casualmente.
- ...Sim, senhora. A senhora recebeu uma coruja informando a situação na semana passada.
- ...Aquela menina ainda está envolvida com ele?
- Bem, isso... – o secretário não terminou de responder o que já estava óbvio.
Ela largou seus pergaminhos e cruzou as mãos, apoiando os braços na escrivaninha, parecendo pensar profundamente sobre algo.


***


Depois de pensar por muito tempo, durante sua estadia na enfermaria, sobre tudo o que havia acontecido, Mary decidira que seria melhor não denunciar Sarah. No começo, Doumajyd estava relutante em aceitar, falando que ela deveria ser mandada para Azkaban por tudo que havia feito ao ‘Ilustríssimo Eu’. Mas depois de muita discussão, e várias janelas da enfermaria quebradas, os dois entraram em acordo sobre o assunto. Não contariam para ninguém além do D4 e Vicky. Para o restante dos alunos, eles teriam sofrido um acidente e nada mais de detalhes.
Assim, uma semana depois, Mary saiu da enfermaria completamente recuperada e sem nenhuma cicatriz. Já Doumajyd ainda permanecia com curativos no rosto e o braço engessado, e às vezes reclamava de dor, coisas que Mary suspeitava ser puro fingimento. Porém, fingimento ou não, ela não podia ir contra a sua consciência, e passara a prestar assistência ao dragão fora do período de aulas.
Era exatamente o que estava fazendo ao decidir fazer as refeições na ala do D4.
- Ei! Antes de você comer, tem que me alimentar! – exigiu Doumajyd, vendo que ela servia o seu próprio prato e nem reparava na expressão de enfermo dele.
- Por quê? Você pode segurar seus próprios talheres, não pode? Aliás, é muito estranho esses seus ossos ainda estarem engessados! Não tomou uma poção para isso na semana passada? Já deveriam estar curados!
Os outros dois dragões riram da situação do amigo.
- Está curado... – ele olhou para os lados sem graça e se afundou na cadeira – Só que ainda dói...
- Que coisa meiga esse casal. – comentou MacGilleain rindo.
- Como dizem, para o veneno e o amor, quanto mais doce melhor. – falou Nissenson.
- ... Só você para falar isso, Simon! – riu ainda mais MacGilleain.
- De qualquer forma, Chris, o que vai fazer? – perguntou Nissenson, não ligando para as gargalhadas do outro ao seu lado.
- Sobre o que? – perguntou Doumajyd ainda emburrado e decidido a não comer por conta.
- Sobre a Sarah Swan. Ela não pode ficar impune.
Doumajyd e Mary, com a boca cheia de carne, se entreolham. E no mesmo instante um tumulto começou no Salão Principal abaixo deles. Sem se importar com machucados e almoços pela metade, os quatro se levantaram para espiar.
O trio de meninas da Sonserina entraram pelo salão, arrastando Sarah com elas, e pararam bem no meio das mesas, onde uma platéia já se formava. A líder loira mostrou para todos um álbum e no mesmo instante Sarah o pegou em um salto e caiu de joelhos no chão, o apertando com todas as suas forças.
- Eu pedi para o meu primo enviar isso ontem. – disse a menina de cabelos cacheados – Eu sabia que já tinha visto o seu nome em algum lugar há muito tempo. Você estudou com ele no jardim de infância!
- Como uma feia pode se transformar tanto com uma cirurgia plástica? – perguntou incrédula a ruiva.
As três começam a gargalhar e a comentar como Sarah era feia, gorda e tinha um nariz estranho. Desesperada, a garota começou a chorar, ainda ajoelhada no chão, sem coragem para se mover.
- E então, feiosa? Por que esconder isso de nós? Não somos da mesma casa? VocêAAAHHHH!
- CALEM A BOCA! – Mary, depois de ter corrido em um minuto toda a extensão que a separava do tumulto, deu uma trombada nas meninas, fazendo com que elas rolassem pelo chão. – O QUE TEM ISSO?! – berrou ela ofegante, não só para as três, mas para que todos do salão ouvissem – Até vocês compram o que querem com dinheiro! Não há nada de errado comprar beleza também!
Nissenson e MacGilleain começaram a aplaudir e a assoviar, mostrando que aprovam totalmente a atitude dela. Doumajyd sorriu para ela com seu ar de superior, também mostrando a sua aprovação.
Diante disso, os alunos voltaram para as suas mesas e as meninas da Sonserina saíram bufando de raiva, mas caladas.
- Deixe-me esclarecer. – começou a dizer Mary para Sarah, que ainda chorava – Isso não significa que eu perdoei você, garota. Estou furiosa com você o mesmo tanto quanto me sinto arrependida! Mas... você disse que os doces da minha mãe eram gostosos... Acho que essas, provavelmente, foram as únicas palavras verdadeiras que você me disse desde que a conheci.
Sarah começou a soluçar, tremendo inteira. Mary estava começando a pensar que deveria ajudá-la a levantar quando, em um impulso, a garota se levantou por conta e saiu correndo, dizendo rapidamente:
- Desculpa!
Mary permaneceu estática no mesmo lugar, com sua parte racional e orgulhosa berrando ‘o que pensa que está fazendo, idiota?!’. Aquela era a mesma garota que estava disposta a explodir a sua cabeça por causa de seus traumas antigos com as grosserias de Doumajyd. O que ela, Mary Ann Weed, estava fazendo a defendendo?...
De repente Mary sentiu alguém lhe abraçando com força e a levantando do chão.
- Essa é a Weed! – gritou Doumajyd bem no seu ouvido – Você tem o meu zelo de aprovação!
- Ei, ei, ei! Me solta, droga! Quer outro braço quebrado?! – ela se livrou dele, que ainda sorria abobado para ela – E é SELO de aprovação!... Ei! O seu braço não estava doendo?!
- Droga, ela descobriu... – resmungou ele se lembrando desse detalhe.
Mary ficou indignada e o empurrou perguntando:
- O que você quer dizer com droga, ela descobriu?!
- Você deve sua vida a mim! O que está fazendo me empurrando, idiota?!
- Quem é o idiota aqui?! Eu não fico mancando pelos corredores fingindo que estou morrendo para ter alguém me cuidando o dia inteiro!
- Olá. – uma voz calma soou perto deles.
- Eu não estou mancando!
- Você entendeu o que eu disse!
- Voltei.
Mary e Doumajyd pararam de discutir e olharam para uma pessoa que chegara desapercebidamente até eles.
- Esse cara se parece com o Ryan... – comentou Doumajyd o encarando.
O estranho não estava com o uniforme da escola, usava vários brincos nas orelhas e tinha os cabelos espetados de um vermelho intenso.
- Sou eu mesmo.
Doumajyd saiu gargalhando e dando pouca atenção para ele:
- Ah... é ele mesmo... – ele parou na metade do caminho e se virou com os olhos arregalados – SÉRIO?!
Ryan Hainault sorri gentilmente para os dois:
- É bom ver vocês de novo!
Mary não conseguia nem respirar diante do que via.

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