Chegada em Almaren
Uma floresta desconhecida, situada algures ‘é um lugar perigoso à noite, especialmente para crianças’. Sirius que caminhava ao lado de Harry havia advertido não só à ele como também a Hermione e Ron, que também estavam ali. Fëanor permanecia descontraído na curva do pescoço de Harry e a sua cauda estendia-se no ombro do moreno balançando ocasionalmente.
O sol havia desvanecido no horizonte, escurecendo as bordas da floresta. Três horas, há exactamente três horas os quatro haviam deixado para trás os portões de Hogwarts.
Estava quase de noite quando cruzaram na beirada de um pântano. As águas pardacentas ainda brilhavam à luz do poente e as sombras iam e vinham pelas folhas apodrecidas que cobriam o lugar formando estranhos padrões que, apesar de não poderem ser vistos, podiam ser percebidos, mesmo que só pelo canto do olho.
De algum lugar, nos campos longínquos o som de um sino, mesmo que fraco, marcava o início da noite. Caminhavam entre velhas e imensas árvores moribundas. As montanhas vistas horas atrás não passavam agora de meras manchas pinceladas distantemente, contudo, nuvens negras agrupavam-se, dando força ao vento, que uivava, agitando os galhos por onde passassem, marcando iminentemente uma futura tempestade. Em resposta, as criaturas da floresta demonstravam agitação e escondiam-se. Era muito estranho, Harry pensou. Um silêncio funesto abateu-se sobre o meio como se alguma coisa tivesse assustado a vida selvagem. O próprio Fëanor estava em estado de alerta e contraído o corpo em sinal de defesa. Contudo, ainda era possível visualizar a lua que reinava gloriosamente naquele imenso céu escuro cheio de estrelas, que mais pareciam diamantes numa gruta.
O tempo entretanto arrefecera e um leve nevoeiro assomou à medida que mais e mais se embrenhavam entre as árvores. Enquanto Harry os levava mais para o interior da floresta, a luz ia também atenuando, cada vez mais fundo como se de um poço se tratasse.
As sombras da noite, as árvores balançando ao compasso do vento, as nuvens negras à volta da lua branca… A noite escura, fria e tenebrosa causava arrepios que nenhum deles conseguia explicar…
O eco do vento, passando pelas frestas, roçando as orelhas, fazia cada célula daqueles corpos tremerem, e isso os fez avançarem os passos pela trilha até que adentraram numa parte da floresta em que não era possível a transposição de qualquer tipo de luz natural, o que os obrigou a recorrer a varinha. A certa altura, já as sombras estavam indistintas. Era estranho. Ouviam sussurros inaudíveis, muito distantes. Atravessaram a orla da floresta até que novamente a lua os voltou a iluminar.
Uma pilha de crânios humanos, formando uma pirâmide, ficava perto da extremidade de um penhasco. Abaixo, havia um vale com um rio e para trás a floresta havia se transformado num tenebroso buraco negro. O céu perto do penhasco era de um tom azul-escuro brilhante. Perto dos crânios, uma despedaçada bandeira negra trazia um símbolo gravado, invertido flutuando na brisa que chamou a atenção de Hermione.
Harry parou junto de uma velha árvore, uma mais alta, grossa e muito mais antiga que as outras. Apesar do aspecto, Harry sabia que em tempos gozara de uma beleza extraordinária, era uma visão, digna daquelas destinadas aos profetas e aos grandes feiticeiros. As histórias daquela velha árvore milenar eram conhecidas e reverenciadas em todo o mundo élfico. Era a única que estabelecia contacto entre dois mundos diferentes. Porém agora a mesma árvore estava desprovida de qualquer folha, nitidamente carcomida pelo tempo, cujas silhuetas das raízes embrenhadas na terra ainda era visíveis a superfície. Harry ergueu a cabeça e observou as nuvens que se juntavam ao longe.
Aproximou-se da velha árvore buscando uma vista melhor das formas estranhas e escuras que surgiam no céu, cada vez mais próximas, mostrando a face terrível da tempestade que se aproximava. Havia algo nelas, inclusive, que além de fascinar, gelava-lhe o estômago: o modo com que se moviam, as suas extremidades, que horas atrás os últimos raios do sol faziam assemelhar a chamas.
Um barulho esquisito começou a emanar da árvore. Barulho esse que pouco a pouco foi aumentando até que repentinamente o tronco da árvore começou a rachar. A luz branca vinda do seu interior apanhou-os tão de surpresa que se viram em estado de alerta, com as varinhas firmes nas mãos e os olhos não acostumados com tamanha claridade, automaticamente semicerrados.
A luz foi diminuindo de intensidade até que por fim deu forma a uma mulher esguia e linda, com um fluido de longos cabelos loiros. Os braços permaneciam ao longo do corpo enquanto olhava fixamente em direcção à orla da floresta e momentos depois então para os quatro que estavam diante de si. Era uma mulher de expressões neutras. Bonita, muito bonita. Os grandes olhos cinzas claros recalcavam um certo enigma e demoraram-se nas figuras fantasmagóricas das árvores. Ela usa uma veste branca quase transparente que lhe enfatiza a beleza do corpo e que balanceava consoante a brisa. Um arco está pendurado cruzando suas costas, enquanto uma aljava de flechas está atada a sua cintura.
Os pés de porcelana descalços não pareciam pisar o chão. Ela parecia flutuar como uma pluma, a luz em redor dela continuava cintilando, quente, suave e acolhedor alumiando o lugar.
Harry conseguiu precaver a expressão ocultada de preocupação e de horror sobre a face pálida quando observou uma possante ave de rapina sobrevoar o céu, rompendo a aurora no céu. Um sorriso genuíno preencheu-lhe os lábios quando reconheceu Harry, que entretanto já se havia curvado numa gentil vénia. A mulher dirigiu um dócil olhar aos outros que rapidamente se curvaram numa vénia desajeitada, à excepção de Ron que permanecia hipnotizado de boca aberta e olhos extremamente arregalados.
A elfa estendeu uma mão de longos dedos em direcção a Harry que a tomou sentindo-se logo depois como que sugado e instigado a seguir a mulher meio desaparecida dentro do tronco. Ron e Hermione seguiram-lhe acompanhados por Sirius.
Por breves instantes sentiram o corpo leve, como se tivessem ondeando sobre algo quente e deleitoso que os preenchia com o mais puro dos sentimentos. Era indescritível. A sensação era de estarem a atravessar portas sem darem por isso. Uma voz branda enriqueceu o ambiente.
_ Haryon…-depois de tanto tempo era a primeira vez que Harry ouvia o seu apelido num sotaque nitidamente élfico e pareceu-lhe bem, perfeito, condizendo com a beleza serena da mulher. -Se tanto te ajudarem a audácia e o heroísmo, vós dareis continuidade e não se cessará obras valorosas. Pelo contrário, outro valor mais alto se levantará, mais amado que nenhum outro. Pareceis retirado dos contos ou dos reinos sonhados e sublimados pelas Eras, Haryon. Deixareis olvidados aqueles que só se engrandeceram por malícia e armas levantadas em batalhas sanguinosas. Em vós esperam ver-se renovada as memórias dilatados daqueles Heróis. E porque estou em extremo desejoso de vos ver como o nomeado vitorioso, vos rogo que jamais recueis, pois fraco Rei faz fraca a forte gente, Haryon. E à vós, nunca há-de faltar apoio, herdeiro Istari…
Atravessaram o jardim grandioso e sumptuoso de gigantescas árvores frutíferas que conjugam de forma estratégica as sombras das majestosas copas das árvores.
O sussurro que se ouvia era o pranto das águas cristalinas que corriam pacatamente do cume dos outeiros. O chão debaixo dos pés era de um verde rico e viçoso.
Os jocosos narcisos e as anémonas cresciam à beira de nascentes de pedras alvas, agora eram ainda mais abundantes do que Harry se lembrava. Cresciam flores que perfumavam o ar. O céu era um manto escuro preenchido de pontinhos brilhantes. A luz da lua enorme e pálida desmaiava sobre a cidade, constituindo mais do que uma iluminação suficiente.
Harry respirou fundo e pouco a pouco os pulmões encheram-se com o ar de Almaren.
A noite estava tépida, estrelada e sereníssima.
Um sorriso inevitável tomou-lhe conta dos lábios e uma gargalhada saudável veio.
_Uau… Isto é…-Sirius não completou a frase perdendo-se no ruído dos pequenos animais nos galhos das árvores.
_É lindo Harry! – Hermione exclamou espantando-se com cada aspecto com que se deparava. Harry notou um sorriso infantil nela, surpreendendo-se com tudo. Tudo era mágico, certamente. Fascinante, encantador e novo. Almaren tinha essa magia em todos os recantos. Era utópico. Naquela cidade, a fascinação perdia…pedia e perdia…
_Você saiu daqui…Como você saiu daqui? – Ron perguntou incrédulo claramente escandalizado e horrorizado como se Harry tivesse cometido o maior erro da sua vida.
Harry não respondeu e os encaminhou numa trilha até ao palácio de cristal e de oiro. As inúmeras janelas das torres altas transpareciam luz e vivacidade.
Sentia-se em casa, do palácio vinha a candura, a magia e o conhecimento fascinando-os. Prosseguiram em passos largos. Passaram as elevadas portas de cristais e estavam à frente de um grandioso salão. Da longa escadaria que dava acesso aos outros lugares imaginários do palácio surgiu uma elfa de longos cabelos loiros. Uma feliz e inesperada aparição. Os olhos azuis-claros dilatavam-se de espanto e felicidade quando observou Harry, que inclinou-se numa vénia cortês que Elanor ignorou e transformou num apertado e saudoso abraço maternal. E depois de um silêncio, que lhe pareceu profundo, quase solene, a voz da elfa ergueu-se, uma voz rica e sem pressa, de um tom de ouro que acariciava:
_Vós não sabeis a alegria que traz a Almaren com a sua chegada, Haryon.
_Fëanor. Estou agradecido Elanor, mas não vim sozinho. – disse soltando-se da elfa e apresentou: Estes são Ron, Hermione e Sirius. – Os outros dois jovens retribuíram o cumprimento de Elanor e tal como Harry ficaram surpreendidos quando Sirius deu um passo em frente indeciso entre uma vénia ou um simples aperto de mão. Sirius olhou para as próprias mãos e de seguida pra as brancas e de uma maciez quase palpável da elfa. Harry olhou para Ron e Hermione e reparou que Sirius provavelmente estava com um terrível e cruel dilema existencial: com qual das mãos cumprimentaria Elanor? Segundos depois, optou por fazer uma vénia que saiu exageradamente inclinada e demorada. Os três abafaram sofregamente uma gargalhada. Elanor não deixou de agradecer com um sorriso simpático, dizendo que não era preciso tanta cordialidade e que os amigos de Haryon também eram seus amigos e que sempre seriam muito bem vindos a Almaren, o que fez Sirius respirar e descontrair um pouco.
Quando viram Sirius passar uma mão pelos cabelos, ajeitar desastradamente o casaco marrom e de seguida fazer aquilo que Harry considerou o primeiro sorriso galanteador que viu no padrinho, os três não puderam mais conter o riso. Gargalhadas ecoaram livremente preenchendo todo o espaço durante minutos.
Segundo depois, atraídos pelas gargalhadas, entraram na sala mais quatro elfos. Lóte caminhou em passos apressados em direcção a Harry tomando-o e apertando-o em seus braços por longos minutos como na primeira noite em que o vira. De seguida Hanya aproximou-se beijando-lhe a testa. Harry cumprimentou também Martano e Melroch e apresentou os amigos.
E quem é esta pequena criatura? – Elanor inquiriu subitamente olhando para o dragão no ombro de Harry.
_Fëanor. Harry respondeu estendendo o braço para que Elanor pegasse em Fëanor e o afagasse em suaves carícias na cabeça. As elfas olharam por instantes, encantadas com o dragão.
_Que felicidade ter-vos de volta Haryon. – Hanya virou-se para Harry e deu um lindo sorriso que lhe fazia uma covinha no queixo, dando uma doçura mais mimosa as feições sérias. -Parece que séculos se passaram desde que vós saístes daqui. Não imagina as saudades que sentimos, que o povo de Almaren sentiu. Sempre que possível Ethyar passa por aqui e constantemente pergunta quando é que vós chegaria. Ele ficará contente quando souber as novas. E Elanor nunca deixou de vos fazer o mesmo cântico de louvor todas as manhãs…Mas e vós? Tende se alimentado bem? Parece meio cansado e…
_Os Istari? – uma voz neutra interrompeu Hanya. Um elfo de cabelos prateados e de olhar intimidante e inexpressivo dirigiu-se aos bruxos presentes analisando-os de alto abaixo. _ Vós sois imprudente Haryon, muito imprudente. Não tomais a letra aquilo que os mais experimentados te dizem.
Harry sorriu. Por mais tempo que permanecesse certas coisas nunca mudavam: _É bom rever-vos Failon.
-Que novos tormentos e promessas vós nos trazeis? Dura inquietação de vida e de alma, essa Haryon.
Harry percebeu uma perspicaz ironia na voz do mais velho e decidiu responder no mesmo tom: -Tais palavras e louvor estimulam e incitam quem procura grandes feitos. E a ambição da ilustre e alheia história sublimam mil vezes esses feitos.
_Deixais livremente uns inimigos para ires buscar outros de tão longe. Estais parecendo um animal domesticado, e qualquer fardo é sempre demasiado pesado para um animal domesticado. Nem deveis ter força para segurar uma espada. - Failon olhou-o de cima pra baixo.
_ Quão é bom ver que sentiu saudades.
O elfo ignorou-lhe lançando um rápido olhar aos outros elfos. Olhar esse que Harry já se tinha habituado a interpretar como sinónimo de uma reunião mais tarde. De seguida Failon abandonou o salão tão rapidamente como chegou.
_Esqueçai, todos vós são muito bem vindos. – Martano disse tentando dissipar o ambiente pesado.
_ Vós tendes muito que contar sobre o mundo bruxo, Haryon, nós estamos ansiosos para saber de tudo. - Melroch disse.
_E de certeza que quereis também nos apresentar sua apaixonada. - Martano comentou e Hermione, embaraçada, olhou para todos os cantos possíveis da sala, como que tentando decorar a ornamentação e apelando à Merlim para que não tivesse escutado nada.
_Talvez amanhã, a viagem com certeza foi muito longa e vocês devem estar muito cansados…e famintos. – Lóte acrescentou rindo assim que ouviu o estômago de Ron roncar. O ruivo corou exageradamente.
Foram para a sala de jantar, onde uma longa, convidativa e farta mesa, com jarras de água, diversos tipos de frutas, sobremesas e outros pratos tipicamente élficos, estava os esperando como se lhes tivesse adivinhado a chegada. Sentaram-se e mais uma vez Elanor pediu-lhes que esquecessem as formalidades e comessem aquilo que lhes apetecesse.
E passaram horas conversando sobre o mundo bruxo. Sirius, Hermione e Ron, respondiam as perguntas incansáveis dos elfos sobre os costumes, a gastronomia, as cidades e as suas organizações, os exageros e as decadências, os meios de transportes, as casas, a maneira como os bruxos tinham de pagar por aquilo que queria. Harry explicou-lhe o que eram os galeões. Falou-lhe dos animais mágicos, das plantas, dos feitiços, do modo de ensino em Hogwarts, das salas de aulas, das matérias e dos professores e dos amigos que fez. O que mais os surpreendeu foi o uso de magia através da varinha, achando difícil produzir magia através de um pedaço de madeira, por mais especial que este fosse. Elanor queixava-se sobretudo das casas, dizendo que pareciam não ser muito confortáveis e cómodos e que estas eram despidas de gosto, mas que tal simplicidade não era de todo desagradável. A maior parte das perguntas, Harry deixou que fossem os outros a responderem, e decidiu não tocar em assuntos que envolviam Voldemort ou tão pouco os pesadelos que teve, pelo menos não naquela noite. Por mais que gostasse de Hogwarts as saudades de Almaren seriam sempre muitas. O amor pelo povo e pelas terras de Almaren seria sempre descomedido.
As elfas falaram da cidade e dos seus encantos, dos segredos, mistérios, mitos e lendas de Almaren e para além das suas fronteiras. Falaram da época amena, das raras flores que cresciam naquela altura ao lado da nascente sul no interior da floresta. Falaram sobre viagens. Falaram de livros, de música, de arte. Harry observou os seus amigos. Falavam e riam, despreocupados e felizes. Gargalhavam, incontidos, comentavam e faziam todos os tipos de perguntas imagináveis sobre a cidade. Harry sorriu, sentia-se novamente em casa. Depois disso, Martano e Melroch encaminharam Sirius e Ron retirando-se sob o protesto de mostrarem uma nova espécie de criaturas mágicas que Melroch estava a domesticar, e que estes ganhavam uma coloração diferente na presença da luz lunar. Saindo, acabaram por deixar Harry e Hermione com as elfas. Hermione falou-lhe dos muggles, desse outro mundo paralelo e não-bruxo. Falaram dos animais afáveis que andavam livremente pela cidade. Da diferença dos costumes, dos hábitos élficos.
Elanor tinha um pensar subjectivo, porém muito são, com um fundo de ternura que a inclinava para tudo o que representava vivacidade e fragilidade. Lóte deixava-se levar e cada tema de conversa trazia todas as complexas bondades da sua alma, como num sopro só podem vir à tona todos os aromas esparsos de um jardim. Hanya por sua vez tinha o mais belo pensar recto, como uma expressão do seu espírito. Tinha sempre um encanto novo e mais penetrante e simultaneamente impertinente. A conversa foi ganhando cariz de uma intimidade mais profunda. Harry falou-lhes do padrinho, dos pais. Nessa altura sentiu a própria voz embriagar-se liquidamente em pensamentos distantes. Elas quiseram saber como Harry e Hermione se conheceram. E durante longos segundos, Harry não soube o que responder. Ainda não ousava, nem em pensamentos, ir na esperança de um beijo, ou de uma fugitiva carícia com a ponta dos dedos à Hermione diante das conselheiras. Aquilo estava a ser decerto o momento mais embaraçoso e delicado da sua vida. Abriu a boca e fechou várias vezes. Tentou responder, mas apenas conseguiu gaguejar, olhou para Hermione e ela parecia estar no mesmo estado. Sentia em si mil coisas finas, novas, de uma tocante frescura. Tinha na alma um constante sorriso que os lábios insistiam em repetir.
_Hogwarts… Conhecemo-nos em Hogwarts e… – Hermione começou sem saber o que mais devia acrescentar.
_Hermione… – Hanya disse paulatinamente como que tentando interpretar algo. – Qual é o significado?
_Segundo sei, significa perspicácia, confiança e espírito analítico. É também o nome de uma personagem de uma peça de William Shakespeare e é o nome da filha de Helena de Tróia.
Hermione observou-as. Escutavam-na com atenção e muito interessadas. Eram belas e jovens, de uma abundante e delicada graça fisicamente palpável; cheias de inteligência, cheias de gostos. Notou o carinho que elas sentiam quando olhavam para Harry ou Haryon como lhe chamavam e este sentimento comum fê-la sentir-se de repente próxima à elas.
Falou-lhe dos pais e das suas profissões, do mundo não-bruxo e de Londres. Falou-lhes de Shakespeare. Contou-lhes a bela e memorável história de Helena de Tróia deixando as elfas completamente rendidas. Hermione falou-lhe dos lugares que era seu sonho ver. Lia muito, temas variados. Adorava romances. O último que lera fora de Charles Dickens, agradava-lhe menos os de Feuillet, por serem muito aparentes ao ponto de ocultar as feridas do coração. Também lera Michelet e Renan. Adorava Franz Kafka. E sobre estes todos falou às elfas. De resto descreveu-se como alguém com muitos interesses e sentia-se atraída pelo lado gracioso e artístico das coisas. E mais um par de horas se passaram, até que as elfas decidiram que estaria na hora de os deixarem descansar, pois no dia seguinte, de certeza que Hermione quereria ver tudo quanto é possível.
_Haryon, te mostrará o quarto. – Lóte afirmou e nesse Harry não soube pra onde olhar.
_O quarto? Quer dizer…o mesmo quarto? – Hermione perguntou hesitante.
_Sim. Algum problema? – Elanor expressou-se num tom de subtil confusão para Hermione.
_Hum… – Harry clareou a garganta sem saber por onde começar. – As relações…bem…no mundo bruxo…bem, as relações são inteiramente diferentes daqui…não são vistas da maneira como nós aqui em Almaren as consideramos…
_Por exemplo, não é comum um casal partilhar um quarto, assim… não sendo… – Hermione parou de falar e observou-as. Que termos haveria de usar? Como explicar mais claramente todo um processo de relações entre bruxos? Processo esse que parecia ser desordenado e até complexo e sem sentido para as elfas?
_Hermione, nós aqui acreditamos candidamente que pode haver entre uma mulher e um homem, um amor puro, imaterial, feita da concordância amável de dois espíritos enamorados. E se Haryon a escolheu é porque a ama muito e um sentimento assim tão casto, tão legítimo e cheio de harmonia e sem tormentos não deverá ser questionado, não concorda?
Hermione anuiu e seguiu Harry pela escadaria sob o olhar das conselheiras.
Era um quarto grande, realmente muito grande. Do lado esquerdo da entrada havia um piano antigo de cauda, coberto com manto de veludo negro. Sobre uma estante ao lado, minúsculos globos cintilavam. O mesmo móvel estava cheio de partituras de música, de objectos ilustrados, havia também um vaso de formas clássicas onde folgavam três belos lírios brancos. No centro do quarto estava uma imensa cama, um aprimorado leito de dossel, alçado sobre um estrado, coberta com uma colcha de cetim bordada a flores de oiro, envolto em solenes e leves cortinas. Nas paredes não havia nenhum tipo de ornamentação. Nas janelas havia transparentes cortinas de um leve cretone que lembravam os trágicos amores mitológicos. Harry afastou-as, deixando antever uma varanda e então um céu tão próximo como se tivesse sido feito de algodão e isso pareceu-lhe trazer uma afabilidade rara, e uma alegria maior que a dos outros dias. Havia também um tapete de pelúcia no centro da qual estava colocada uma mesa oval, cima da qual estavam pousadas lindas encadernações de livros, duas taças de traços orientais de bronze, uma esplêndida taça persa, de um desenho raro, com um renque de negros ciprestes, cada um abrigando uma flor de cor viva, e objectos delicados de arte. Mas o que chamou a atenção de Hermione foi um bonito biombo de linho cru, com ramalhetes bordados, desdobrado ao pé da janela fazendo um recanto mais resguardado e mais íntimo. Havia lá uma cadeirinha baixa de cetim escarlate e uma imensa almofada macia para os pés. Tinha um ar íntimo e aconchegante. Havia duas cadeiras forradas de repes vermelho e Hermione resvalou-se sobre uma delas, num cansaço delicioso e satisfeito.
_É muito confortável, é encantador tudo isto… – dizia ela olhando lentamente em redor, os livros e um longo e nobre divã na varanda.
_Ainda nem te agradeci por ter vindo. – Harry murmurou, esquecido a olhar pra ela.
_A viagem foi longa e exaustiva. Mas o que importa? Valeu o esforço para chegar aqui. - ergue-se toda alegre.- Vamos ver a varanda. Ambos atravessaram as portas que davam acesso a varanda. A vista era feita por algumas árvores cujas ramagens roçavam na parede mais próxima e outras árvores ainda, mais altas apontavam para o céu claramente límpida. Hermione fez-lhe as perguntas sobre a povoação que se avistava numa colina adormecida. Ouvia-se o barulho das aves, o som das fontes do jardim lá em baixo e em frente toda uma vista de casas sublimadas no fundo, por montanhas, rios e outras verduras que cresciam acolá. Um pássaro cantou de leve no ramo da árvore, depois calou-se.
_Isto é verdade? É realmente verdade?
Se era verdade? Harry suspirou: -Não duvide.
Hermione encostou-se nos limites da varanda, Harry seguiu-a. Abraçou-a e ficaram ali juntos, calados, profundamente felizes, extasiados pela doçura daquela vista mergulhada numa inércia singular.
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Hermione moveu-se sentindo alguém junto a si. Aos poucos a lembrança de que estava no quarto com Harry foi clareando, enquanto se espreguiçava, aspirando o perfume dele ao passar a pontinha do nariz por seu pescoço.
-Bom dia. –Harry diz baixinho com uma voz firme como se houvesse acordado há um tempo, depois lhe beijando o topo da cabeça. –Está com preguiça? –Pergunta achando engraçado o fato de ela enroscar-se nele.
-Um pouco… está confortabilíssimo aqui. –Responde interrompendo-se para um bocejo e então continua em tom manhoso.
-Concordo. Essa foi a melhor a noite da minha vida. –Declara docemente, afastando os cabelos dela para tentar ver os olhos.
Hermione sorri, ajeitando-se para por a cabeça ao lado da dele no travesseiro. –Parece já ter acordado há um bom tempo. –Diz acariciando-lhe o rosto suavemente.
-Não sei. Perdi a noção do tempo enquanto a via dormir. –Hermione cora ao ouvir aquilo, pois sabia que era a mais absoluta verdade.
Harry ri levemente ao vê-la corada, virando a face para o travesseiro, então beija com suavidade seu rosto, tentando trilhar um caminho até os lábios, mas ela o interrompe colocando os dedos em seus lábios.
-Me deixe escovar os dentes primeiro. –Diz já se sentando para que não tentasse algo. –Vou me trocar e logo estarei pronta para descermos.
-Se quiser desarrumar a bagagem, há espaço de sobra no closet. –Diz apontando para uma porta dupla a frente dele.
-Obrigada, mas está tudo bem arrumado no malão, não se preocupe. –Fala enquanto pegava as roupas que usaria aquele dia, um vestido leve azul claro e sandálias, para enfrentar o calor tropical de Almaren.
Quinze minutos depois Hermione sai já arrumada do banheiro, tendo seu pijama em mãos. Surpresa, vira a cama feita, a porta que dava para a varanda estava aberta, então deixa seu pijama sobre a cama e vai até lá deparando-se com Harry e Fëanor.
-Mostrava a Fëanor um pouco do que veremos hoje. –Diz ao senti-la se aproximar.
-Não sei como soube que estava aqui, não fiz qualquer barulho! –Exclama surpresa, nunca se acostumaria com as habilidades de Harry.
-Eu ouvi sua respiração e senti seu cheiro, além disto, meu coração só dispara por ti. –Finaliza indo abraçá-la e finalmente conseguindo seu beijo de bom dia.
-Já está pronto para descermos? –Pergunta incerta após olhar para ele, descalço e trajando apenas um conjunto de calça e colete, aberto, de um material bem leve e da cor de seus olhos.
-Sim. Passar tanto tempo na Inglaterra me desacostumou com o calor de Almaren. –Responde, justificando um pouco o figurino, tendo visto que a ela parecia não ter gostado muito.
-Entendo perfeitamente! –Exclama afastando-se e olhando um instante para o céu azul e sem nuvens, a copa das árvores balançando levemente. –Deve estar uns 40 °C.
-Fëanor está achando bastante agradável! –Harry diz já com o amigo enrolado em seu braço, a cabeça apoiada em seu ombro.
Hermione ri, fazendo um breve carinho na cabeça do amiguinho. –Só espero que não resolva trocar a Inglaterra por esse clima tropical.
Meu lugar é do lado daqueles que amo. -Fëanor responde para ela, que sorri.
-Vamos, anarinya? –Harry pergunta e Hermione assente.
Os três saem do quarto e Fëanor logo aponta para o corredor paralelo, onde Rony e Sirius caminhavam conversando distraídos.
Bom dia a vocês! -Fëanor os cumprimenta, fazendo-os parar e olhar em volta, deparando-se com Harry e Hermione também.
-Ei, aí estão vocês! –Rony diz com um sorriso aliviado. –Cara, eu não tenho idéia de como chegar à sala de jantar! Já demos várias voltas e nada de achar a escada.
-O palácio é um tanto confuso para quem não o conhece, mas logo aprenderão os caminhos. –Harry responde com um sorriso gentil.
-Falando em caminhos, que lugar é esse? –Sirius aponta para onde eles haviam saído.
-Nosso quarto. Onde ficam os de vocês? –Harry responde de modo simples, então nota o olhar espantado de Rony e Sirius e o rubor de Hermione.
-Para os elfos, não faria muito sentido eu ficar longe do Harry sendo sua companheira. –Hermione diz de modo defensivo.
-Companheira? –Rony pergunta com uma sobrancelha erguida, parecendo desconfiado.
-Entre os elfos não há uma estrutura confusa ou complexa como a de vocês: namoro, relacionamento, noivado, casamento. –Harry responde com tranqüilidade, já começando a andar.
-Elfos não casam?! –Rony pergunta vendo aquilo como algo quase absurdo.
-Para alguém que vive menos de cento e cinqüenta anos é fácil se comprometer para toda sua vida, mas para uma espécie onde alguém com cento e cinqüenta anos ainda é praticamente uma criança, se comprometer para toda uma existência seria infinitamente mais complexo, não acham? –Hermione pergunta como se fosse óbvio.
-Se envolvem até quando existe sentimento, depois cada um segue seu rumo… -Sirius diz pensativo. –É bem do jeito que eu penso. –Conclui com um sorriso maroto.
-As elfas que se cuidem! –Rony diz divertido.
-Não é bem assim. –Harry acrescenta, mas sem gostar de acabar com esperanças alheias. –Os elfos são todos muito belos e diferentes de nós, humanos. Enquanto no mundo humano muitas garotas se sentem atraídas por mim, aqui sempre fui muito feio e nada atraente.
-Sério? –Sirius pergunta incrédulo.
-Verão por si próprios mais tarde. –Harry acrescenta virando por um corredor e então parando em frente a uma escada. –A escada. Aprenderam o caminho? –Pergunta rindo, sabendo que estavam muito distraídos para reparar. O palácio havia sido projetado para ser belo e ao mesmo tempo labiríntico, para enganar qualquer inimigo que tentasse invadir.
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O café da manhã fora servido no pátio interno do palácio, um local envolto por um jardim rico e belo, cujas plantas de aroma delicado não interferiam no aroma da comida, e a sombra das árvores junto a suave brisa deixavam o clima ameno e agradável. Já terminavam de comer, quando Harry se move agilmente, pegando uma flecha que ia à direção de sua nuca.
-Mas o que é isso? –Sirius diz já de pé com a varinha em mãos, Rony e Hermione também estavam na mesma posição e olhavam em volta.
-Acalmem-se, é apenas um amigo querendo saber se estou enferrujado. –Harry fala sorrindo tranquilamente, depois terminando de beber seu suco.
-Querendo saber se está enferrujado?! –Sirius pergunta incrédulo, irritado. –E o que aconteceria se você estivesse?
-Um hematoma e dor muscular. –Harry responde se levantando com a flecha na mão. –Olhe, a ponta está enfeitiçada para não perfurar. –Mostra pressionando a ponta da flecha no braço do padrinho.
-Depois mamãe fala que meus irmãos e eu é que temos brincadeiras brutas. –Rony resmunga voltando a se sentar. Hermione também se senta, ainda estava trêmula e tinha a varinha segura fortemente na mão.
-Está tudo bem, Ethyar é como um irmão, vai adorá-lo. –Harry acalma Hermione tocando-lhe levemente o braço, depois se levantando e dando as costas para a mesa.
De um portal que dava para o pátio exterior, um vulto muito rápido se aproxima, desacelerando devagar até se chocar contra Harry, que abrira os braços momentos antes. O som do impacto assustou a todos, que olhavam Harry abraçado a alguém com quem falava na língua dos elfos.
-Deixe-me apresentar os meus, otorno. –Harry diz visivelmente emocionado, afastando-se um pouco do elfo. –Este é Ethyar, o amigo de quem tanto falei. –O rapaz tinha cabelos lisos e prateados que alcançavam a cintura, os olhos eram como rubis, vestia um conjunto de calça e colete como Harry, só que de cor branca, o colete abotoado. –Sirius, meu padrinho, Rony, um grande amigo, e Hermione.
-Sua anarinya! –Ethyar diz encantado, olhando-a mais atentamente. –Vejo que a beleza dos humanos foi reservada apenas para as fêmeas. –Fala em tom aprovador e um tanto charmoso pela voz melodiosa. Hermione cora.
-As fêmeas humanas se chamam mulheres, no caso das jovens, garotas. –Harry diz e Ethyar assente.
-Hermione não é lá das garotas mais bonitas, temos outras bem mais atraentes em Hogwarts! –Rony diz a Ethyar com um tom bastante satisfeito, apesar de saber que nem a mais bela das mulheres poderia se comparar a uma elfa.
-Sou obrigado a descordar veementemente. –Harry diz lançando um olhar reprovador ao amigo.
-De fato estás apaixonado, Haryon! –Ethyar fala com um leve riso, surpreso pelos modos rudes do amigo. –Nunca te vi rosnar assim!
-Ele é igualzinho o pai, completamente cego e entregue pela amada! –Sirius fala fazendo uma careta, tinha esperança que o afilhado pudesse curtir mais a adolescência.
-E mais afortunado, pois consegui conquistar seu afeto em pouco tempo. –Harry fala com um grande sorriso, indo abraçar Hermione, que o beija no rosto.
-Realmente, deu um chute nos fundilhos do Krum e roubou a garota dele! –Sirius comenta rindo, porém orgulhoso.
-Fundilhos? –Ethyar fala confuso e olhando para Harry, que aponta um lugar a mesa.
-Hermione possuía um companheiro quando a conheci, seu nome era Victor Krum, um esportista de destaque mundial e um guerreiro reconhecido pelo mundo bruxo. –Harry explica por alto.
-E duelaram por ela? –Ethyar pergunta excitado, lançando um segundo olhar a Hermione e parecendo aprovar.
-Claro que não! Os bruxos não são bárbaros, pelo contrário, tem modos muito bons, ainda estão muito aquém dos elfos, mas são muito civilizados. –Harry esclarece de pronto, fazendo os bruxos se entreolharem um pouco críticos.
-Pois quero que me conte tudo, desde o momento em que chegou ao mundo humano! –Ethyar pede empolgado.
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Após a refeição, estendida para que Harry relatasse os fatos mais importantes, os quatro humanos seguiram com Ethyar por Almaren, tendo Fëanor preferido fazer uma exploração mais a seu interesse com Melroch.
Primeiramente foram ao jardim de Lótë, onde a gentil elfa os guiou até os pontos mais belos e importantes, explicando os benefícios de algumas ervas e flores, e mostrando os procedimentos mais importantes para o cuidado do jardim. Após isto, passaram pela oficina de Martano, onde foram apresentados a alguns elfos e conheceram os principais instrumentos de forja. Porém o calor imenso impediu que permanecessem por mais tempo, impelindo-os a sair para o ar fresco do campo.
-Cara, esse lugar é quente demais! –Rony diz já não agüentando o calor.
-Você disse que tinha um rio por aqui, que tal nos levar até lá? –Sirius pergunta já tirando a camisa, mostrando estar em grande forma.
-Quantos pêlos! –Ethyar diz surpreso ao ver os pêlos negros cobrindo o peito e um pouco do abdômen de Sirius. –Todos os humanos são assim? –Tenta ser educado ao perguntar a Hermione que cora.
-Não, claro que não. –Hermione diz rapidamente e respira mais longamente antes de continuar. –Os homens tem tendência a ter bem mais pêlos no corpo que as mulheres, apesar de alguns não terem tendência de os ter e há ainda quem tenha bem mais que o Sirius. As mulheres até que tem pêlos pelo corpo, mas costumam tirá-los por uma questão de estética. –Diz em tom professoral, driblando a vergonha.
-Arrancam os pêlos? –Pergunta curioso, voltando a andar ao lado dos outros, Harry ia à frente.
-Não é arrancar, existem técnicas mais suaves. As bruxas costumam usar um creme que os retira sem dor ou qualquer incômodo e demoram meses até os pêlos aparecerem novamente. –Hermione explica já mais à-vontade.
-Se o Ethyar já estranha pêlos no peito, imagine se ele visse o Hagrid! –Rony diz rindo e os outros também riem, quase gargalhando. Enquanto o elfo fazia imagens bizarras em sua mente.
Harry e Ethyar os guiaram pelo caminho mais longo, passando pelas casas completamente diferentes do usual, cada uma com seu formato e particularidades, algumas surgiam entre rochas, outras eram em um túnel no solo, boa parte usava as árvores e seus galhos e fendas, respeitando a natureza do local onde estava e confundindo-se com a própria paisagem.
Alguns elfos seguiam o mesmo caminho que eles, porém mesmo a caminhada era mais ágil, distraíam-se conversando com amigos ou observando o redor, porém não houve um que não acenasse para Harry em cumprimento ou lançasse um olhar curioso aos humanos, principalmente a Sirius com seu peito semi coberto de pêlos escuros.
-Chegamos! –Harry diz assim que saem do grupo de árvores que encobria a visão do rio. Alguns elfos brincavam usando magia, outros tomavam sol à margem, alguns se limitavam a nadar, refrescando-se. –Em dias quentes como esse, a procura pelo rio é grande. –Harry explica a presença de quase vinte elfos no local.
-Nus? Todos eles? –Sirius pergunta olhando para os elfos na margem e no rio. Hermione havia desviado o olhar, completamente constrangida, já Rony estava boquiaberto, olhando um grupo de elfas.
-Está sendo mal educado, Rony! –Hermione diz cutucando o amigo, que tenta disfarçar.
-Vão ficar parados o dia todo? –Ethyar pergunta alheio à reação dos bruxos, ocupara-se em tirar as próprias roupas.
-Ethyar tem razão, vamos nadar. –Harry diz já sem o colete e retirando a calça. Hermione que olhara para um e outro desvia o olhar rapidamente antes que visse o namorado nu.
-Eu acho que vou passar. –Rony diz totalmente sem jeito, ainda mais vendo que todos estavam em grande forma, algo que ele não estava, apesar de não estar acima do peso.
-Bobagem, estando em Roma haja como os romanos! –Sirius diz retirando a calça jeans e a roupa de baixo, deixando sobre os chinelos junto à camisa.
-Fácil para você dizer isso. –Rony diz emburrado. Ethyar troca um olhar maroto com Harry que concorda com um aceno discreto. –Ei, me soltem! –Rony diz ao flutuar de súbito, Harry se movendo para tirar-lhe a camisa, Ethyar usara magia para livrá-lo da calça, deixando-o de roupa de baixo.
-Por isso todo o calor! Além da calça de tecido grosso usa um short. –Ethyar diz rindo, enquanto Rony segurava com força a última peça.
-Não é um short, se chama cueca ou roupa de baixo, como disse antes, humanos usam roupas demais. –Harry explica em tom reprovador.
-Tira isso Rony, vai fazer papel de bobo! –Sirius diz ao rapaz, que nega veementemente. –Irão ficar olhando para você. –Adverte tentando não rir.
-Haveria algo de errado com… –Ethyar ia perguntar, mas Rony o interrompe de imediato.
-Nada errado! Tudo muito certo. –Rony diz e, diante do olhar zombador e duvidoso dos outros, acaba se dando por vencido e retira a peça de roupa. –Felizes? –Pergunta irritado.
-Roupas só atrapalham, Rony! –Harry diz rindo e depois jogando o amigo na água. Ele mesmo e Sirius indo logo depois.
-Deixe-me adivinhar… também tem apego a roupas? –Ethyar pergunta a Hermione, que fora se sentar à sombra de uma árvore.
-Sim e, por favor, não tente forçar nada. –Hermione diz educadamente, mas pronta para se defender.
-Brinquei com Rony por ser um rapaz como nós, não se preocupe. Entretanto, saiba que é uma lástima, seria divertido e a água parece estar ótima. E, certamente, ninguém aqui a ficaria fitando e nem zombaria de ti por ser diferente. –Ethyar diz e logo depois dá as costas para ir se juntar aos rapazes na água.
-Estão todos olhando pra cá. –Rony diz incomodado.
-Comentam sobre como o corpo de vocês é diferente, posso ouvir as elfas comentando como seria tocar o tórax cheio de pêlos de Sirius. –Ethyar comenta em tom cúmplice.
-Pois pode dizer a elas, que se quiserem experimentar, eu não vou me opor. –Sirius diz a Ethyar e depois lança um sorriso charmoso às elfas, acenando com uma das mãos e obtendo uma resposta igual.
-O que você tem que faz sucesso em todo canto? –Rony pergunta entre curioso e frustrado.
-Charme, além de um belo corpo, pelo qual trabalho todo dia, independente de preguiça. –Diz em uma indireta bem direta a Rony, que pula sobre Sirius fazendo-o submergir.
Harry e Ethyar gostam da brincadeira e resolvem fazer uma armadilha de água sugando Rony e Sirius e depois os cuspindo, para que caíssem desajeitados, levantando um bocado de água. Hermione observara como os elfos haviam se entretido com seus amigos e riam em tom musical quase divino, eram a coisa mais próxima a perfeição que já havia visto e aquela seria uma ótima chance de observá-los e aprender sobre eles.
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N/A (Lílian): Olá, desculpem a demora em postar, mas além dos poucos comentários – o que não nos estimula a ir mais rápido – acabamos por estar muito ocupadas. Porém, fomos boazinhas e fizemos um capítulo bem grande, para o qual espero ter muitos comentários!
p.s.: Eu avisei que atualizaria no dia 23, mas acabei ficando sem conexão até hoje, me desculpem a demora.
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