Prisioneira
N;A: Bom, saiu o cap. 4. Fiquei muito em dúvida sobre o desenrolar deste cap, mas decidi postá-lo da maneira como o havia imaginado. Depois eu volto para comentá-lo.
Capítulo 04 – Prisioneira
É engraçada a dor, não é? Quando ela vem de forma incisiva, constante. Quando nos acostumamos a ela, se torna nossa amiga. Até sentimos a sua falta. Também pode nos enlouquecer. Ah! Se pode. E Cho não queria enlouquecer. Não queria dar esse gostinho àquele homem, o gostinho de ver ela perdendo sua razão, de não saber mais quem era ou onde estava. Por isso, quando a dor chegava lancinante, quando ela estava no limiar entre consciência e inconsciência, na fina linha que separa a loucura da sanidade, ela mergulha no único lugar onde ainda (às vezes) podia se sentir segura. O único lugar que ainda era livre para ser ela mesma. Sua mente. Ali, Cho podia sonhar com dias melhores. Relembrar seu passado, seus dias felizes e descomplicados em Hogwarts. As partidas de Quadribol, o baile de inverno, seu namoro com Cedrico...O Torneio... Sua morte... Harry e um beijo na sala precisa...
Mas ela tentava, sempre que podia, se concentrar na sua situação atual. E nos fatos que a levaram até aquele momento.
*****
Assim que atravessaram o portal, Malfoy a jogou para o lado, amarrando suas mãos com uma corda conjurada por ele. Enquanto isso, Chú caía no chão, fraco, pois havia perdido muito sangue. Foi amparado por Li, mas este rejeitou a ajuda. Passados alguns momentos, Chú fez um movimento circular com sua mão esquerda sobre o toco do punho ensanguentado, e uma nova e reluzente mão prateada, exatamente igual à que Voldemort conjurara para Rabicho apareceu no lugar da mão decepada. Chú se levantou, rilhando os dentes e amaldiçoando Harry:
- Maldito Potter! Ele ainda há de pagar com a própria vida por isso.
- Você realmente chegou a pensar que poderia vencer o Harry? – Riu Cho.
- Alguém, por favor, pode matar a fã do Potter aqui presente? – Grunhiu ele, seus olhos faiscando de ódio. Li adiantou-se em direção à moça, sacando sua espada, mas Malfoy entrou na frente.
- Não Chú. Ela ainda pode nos ser útil. – Disse o rapaz de cabelos platinados.
- Pra que? – Perguntou o outro, demonstrando pouco interesse – Ela já serviu ao seu propósito, que era nos garantir a fuga.
- Você não está curioso para saber como Potter conseguiu reunir tantos bruxos em tão pouco tempo? Pense, Chú. Tínhamos todas as condições de vencer, se Potter não levasse tantos aliados com ele. Isso sem falar que provavelmente você teria conseguido dar cabo do velho e ainda teria sua mão.
Chú fez uma careta, olhando para sua nova mão e disse.
- Será que ela sabe de alguma coisa?
- Ela já foi namorada dele na escola. E fazia parte do seu círculo mais próximo de amigos. Tenho certeza de que conseguiremos arrancar alguma informação dela. – Justificou Malfoy.
- Está bem então, Draco. Você cuida disso, mas não agora. Precisamos nos abrigar e começar a procurar nossos aliados. – Sentenciou Chú, começando a andar amparado em Li.
- Acabo de salvar a sua vida, Chang. – Murmurou Malfoy aos ouvidos da moça.
- Pois deveria ter deixado ele me matar. – Respondeu ela, tentando não demonstrar o alivio de permanecer viva.
Cho seguiu o grupo, sendo puxada por Malfoy com sua corda. Pôde, finalmente, olhar em volta, e percebeu que estavam próximos de um caudaloso rio. Podia ver, a uma certa distância, uma cidade às margens do rio. Mas eles não foram em direção à cidade, como ela imaginou que iriam. Pelo contrario, estavam se distanciando dela, seguindo para o sul, onde ao longe podiam ver algumas formações rochosas. Depois de algumas horas, finalmente chegaram na formação, que nada mais era do que um conjunto de platôs, alguns com mais de trinta metros de altura, seus cumes servindo de trampolins naturais sobre a água. Após uma busca, encontraram um conjunto de cavernas que podiam servir de abrigo. Cho foi jogada em um canto úmido e escuro, e literalmente esquecida. A primeira coisa que fez assim que se viu só, foi cavar um pequeno buraco no chão onde ela enterrou seu broche dos guardiões. Não lhe serviria para mais nada ali, e ela não podia correr o risco que caísse nas mãos do inimigo. Sua corda foi presa contra a rocha com um feitiço fixador, e só quando o dia seguinte já avançava pela tarde é que alguém lhe levou algo para comer. Algum tempo depois, improvisaram-lhe um catre onde dormir, e a partir de então sua rotina era esta. Dormir, acordar e ficar sentada no escuro. Tentava apurar os ouvidos nas conversas entrecortadas que ouvia e prestava muita atenção na movimentação dos homens de Chú, mas era muito difícil entender o que se passava.
Ela percebeu que os homens saiam em incursões praticamente todos os dias, sempre em duplas. Aos poucos, foram conseguindo o que era necessário para tornar aquela caverna em um refúgio com o mínimo necessário para a sobrevivência. Ela perdera a noção de tempo, mas algo lhe dizia que estavam naquele lugar há aproximadamente um mês, quando um grupo de criaturas horrendas, nunca antes vistas por ela entraram na caverna. As criaturas cheiravam a carniça, a podridão. O cheiro delas empestiou o ar da caverna, tornando praticamente impossível se respirar. Chú, que dividia seus dias treinando esgrima para poder se acostumar com sua nova mão ou dando ordens para seus homens, recebeu-os e saiu com eles da caverna, de modo que Cho não conseguiu saber o que conversavam. Mas a partir de então, ficou claro que alguma coisa estava acontecendo, pois a movimentação aumentou ainda mais.
Agora os Dragões e Comensais viajavam também em companhia das terríveis criaturas. Certa vez, dois deles saíram, mas passado algum tempo não retornaram e Cho ouviu pelas conversas que eles haviam ido até um lugar chamado Moria, mas antes de estabelecerem contato, foram assassinados. A cada dia, era maior o número de criaturas, que ela veio a descobrir chamarem-se Orcs. Mais algum tempo depois, e um pequeno exército já se formara nas imediações.
Certa manhã, quando acordou, Cho estranhou o silencio que reinava na caverna. Ao seu lado, um parco desjejum, que ela comeu com voracidade. Definitivamente, alimentar a prisioneira não era uma prioridade por ali. Sentou-se em seu catre e ficou aguardando, pacientemente, o retorno de alguém. Chegou até mesmo a pensar que, se todos morressem, estivessem lá onde quer que fosse, ninguém saberia que ela estava presa ali, naquela caverna. A idéia de uma morte demorada, causada pela fome e sede não era muito agradável e ela tentou a todo custo tirar isso da cabeça. No meio da tarde, um comensal apareceu, finalmente. Soltou-a da parede e, juntos, desaparataram.
Surgiram nos corredores frios e úmidos de uma masmorra. Pra variar, Cho não fazia a mínima idéia de onde estava. O comensal levou-a até uma cela, abriu a porta e jogou-a para dentro. A jovem olhou ao redor. Como já esperava, o lugar era horrível. Uma cela grande, com colunas e arcos no teto, o que deixava claro estarem no subterrâneo de um antigo castelo. Ratos corriam, tentando se esconder. Baratas desfilavam, à procura de alimento. Num canto, uma goteira que pingava incessantemente, e que ela tinha certeza a deixaria louca em poucas horas. E no fundo da cela, para sua imensa surpresa, Cho constatou que não estava sozinha. Mais três pessoas encontravam-se sentadas em suas camas, feitas de palha sobre estruturas duras de pedra. Cho pensou em se aproximar, mas o olhar feroz que um deles lhe lançou deixou bem claro que não queriam mais companhia. Resignada, sentou-se em outra das camas, massageando os pulsos, finalmente livres da pressão das cordas.
Ao cair da noite, uma refeição foi trazida. Apesar da fome, Cho ficou em dúvida se deveria ou não comer, já que o jantar fora trazido por um dos Orcs. Tinha medo de comer, mas estava o dia inteiro sem se alimentar, não sabia o que enfrentaria, então resolver deixar a repugnância e o bom censo de lado e jantar. Assim que pegou sua tigela, que havia sido deixada no chão, deparou-se com um de seus companheiros. Uma bela jovem, de aproximadamente dezoito anos vinha em sua direção. Estava muito abatida, mas mesmo assim, quando seus olhares se cruzaram, ela deixou escapar um leve sorriso, o qual Cho retribuiu da melhor maneira possível. Olhou rapidamente para seus companheiros, e percebeu que o homem que a olhara ferozmente mais cedo também era muito bonito. Devia estar na casa dos vinte e seis anos.Tinha cabelos castanhos, uma barba curta e muito bem aparada, olhos azuis e porte atlético. Portava um ferimento profundo no braço direito, que vinha do ombro até o cotovelo. O outro era muito parecido com a jovem, provavelmente eram irmãos. Como ela, seus cabelos eram loiros e longos, com intensos olhos verdes.Devia ser um ou dois anos mais velho que ela, na faixa dos vinte anos. Tudo isso Cho notou num instante, enquanto voltava para sua cama, onde sorveu a sopa rala sofregamente, enquanto roia o pão preto duro que fora servido junto. Quando terminou, não sabia se a fome aumentara ou se estava passando mal por causa da comida, mas resolveu deitar-se na esperança de que se sentisse melhor. Pouco tempo depois, a porta da cela foi novamente aberta e Draco Malfoy entrou, com sua capa negra farfalhante.
- O que achou de sua nova casa Chang? – perguntou ele.
- Estava muito acolhedora até você aparecer, Malfoy. – Respondeu ela, sem sequer se dar ao trabalho de abrir os olhos.
- Gostou de seus companheiros de quarto? – Retorquiu Draco, indicando o trio no fundo da cela com um aceno da cabeça.
- O que foi que eles fizeram pra vocês? Eu até entendo por que estou aqui, somos inimigos há anos. Mas eles? Quem são eles? Por que atacar essas pessoas, Draco? Pense bem, ainda não é tarde. Pare com tudo isso, me solte e vamos voltar pra casa. – Cho não podia deixar passar a oportunidade de tentar convencê-lo.
- São os antigos donos daqui. Sabe, não quiseram deixar o imóvel por bem, então tivemos que persuadi-los. Ainda nos serão úteis. – Respondeu ele, com desdém, ignorando seu apelo.
- Então vocês deveriam tratá-los melhor. – Disse Cho – Um deles está ferido.
Malfoy não respondeu. Fechou a cara e se dirigiu para o trio, no fundo da cela. Instintivamente, o que estava ferido tomou a frente, protegendo os outros com seu corpo. Draco olhou para o braço do rapaz, fez uma careta e comentou.
- É melhor tratar disso mesmo. Andou tentando bancar o herói, hein? Mas acho que você não vai me deixar cuidar disso, vai?
- Eu cuido. – Disse Cho, que estava de lado – Só me devolve a minha varinha, pra poder tratá-lo.
- Ah Claro. Te devolver a varinha é uma ótima idéia mesmo. – Respondeu Draco com desdém.
- Draco, ele precisa de cuidados. Senão pode perder esse braço e até morrer. Eu não vou fazer nada, olha pra mim. Estou fraca e debilitada. Não posso com você.
Malfoy pareceu considerar por um instante. Então, com um movimento da varinha conjurou a de Cho, que guardara consigo quando a capturara. Apontou as duas para Cho, que pegou com cuidado a sua. Em seguida, Malfoy indicou que ela fosse em direção ao rapaz, encostando sua varinha na nuca da moça.
- Se tentar alguma coisa eu estouro a sua cabeça, entendeu? – Grunhiu ele.
Cho não se deu ao trabalho de responder, apenas revirou os olhos. Em seguida encarou o rapaz, que instintivamente tentava se afastar ainda mais, já encostado na parede, e disse em tom suave.
- Não precisa ter medo de mim. Não sou sua inimiga, só quero tratar do seu braço. Deve estar doendo muito.
O rapaz não respondeu, mas como não tinha opção, acabou permitindo que ela se aproximasse. Cho limpou o sangue com um feitiço, depois se concentrou e murmurou, apontando a varinha para o ferimento aberto. “Viscus Emendum!” Uma leve luz azul-celeste emanou da ponta de sua varinha. Ela percorreu o ferimento várias vezes. E conforme o fazia, o ferimento ia diminuindo, até finalmente fechar. Cho sentiu-se tonta, devido à fraqueza que sentia, percebeu que ia desmaiar, sendo segura pelo rapaz, mas antes que pudesse agradecer, Draco a puxou e tomou sua varinha, falando.
- Muito bem. Se já acabou de cumprir sua boa ação do dia, temos assuntos a tratar.
- Eu não tenho nada pra falar com você, Malfoy. – Respondeu ela, arquejando, tentando se recuperar.
- Temos sim, minha cara. Suas férias acabaram. Agora que estamos acomodados, quero saber tudo sobre seu clubinho secreto. Todos os segredos que o Potter contou a você. – Riu maliciosamente Malfoy, antegozando a sensação de descobrir os segredos que ela conhecia – Como vocês conseguiram chegar tão rápido em Shangri-lá?
- Não tenho nada pra contar a você, Malfoy. Já disse. E você nunca vai conseguir arrancar nada de mim. – Cho nem tentou esconder a satisfação que sentia em dizer aquilo. Ao fundo, os outros ocupantes da cela assistiam a cena, calados.
- Tem certeza? – Malfoy perguntou, com descrença, erguendo uma sobrancelha desafiadora – Sou muito bom nas maldições imperdoáveis, sabia? Não tem nada que uma boa Cruciatos não revele.
- Ah! Não me faça rir. – Cho gargalhou, prazerosamente – Você não pode ser tão idiota a ponte de acreditar que, qualquer segredo que seja, não esteja muito bem protegido pela Mione. E convenhamos, você nunca teve capacidade e inteligência para superá-la. Então pode esquecer, mesmo que eu quisesse (e eu não quero), daqui você não arranca informação nenhuma.
- Pro seu próprio bem, é melhor você estar errada. – O comensal amarrou a cara, demonstrando todo o ódio que sentia por Hermione – Afinal, é só por esse motivo que você continua viva.
- Então acho que foi por motivo algum. – Respondeu ela, desafiadoramente.
- Isso nós vamos ver a partir de amanhã, minha cara. Posso até não conseguir a informação que quero, mas garanto que vou me divertir muito tentando extrair isso de você. – Encerrou Malfoy, deixando a cela.
Cho desabou sentada em sua cama, com a cabeça entre as mãos. Agora estava realmente encrencada. Ela sabia que acabaria assim, seria uma questão de tempo até Malfoy cansar de tentar extrair as informações dela e resolver liquidá-la. Então ouviu um som próximo e levantou a cabeça. O rapaz de quem tratara estava em pé na sua frente, observando-a.
- Obrigado! – Disse ele, com sua voz rouca, indicando o braço.
- Tudo bem! – Respondeu ela.
O rapaz sentou-se a seu lado. Isso foi como se desse um sinal aos outros, que se aproximaram, acanhados, ainda com uma expressão de medo.
- Vocês são magos, não são? – Perguntou o mais novo, ainda segurando a mão da jovem.
- Magos? Fazemos magia, então acho que podemos ser chamados assim. Mas de onde venho, me chamam de bruxa. – Respondeu Cho.
- Pensei que os magos fossem bons. – Disse a jovem, numa voz melodiosa.
- Nem todos, infelizmente. E vocês acabaram de conhecer alguns dos piores que eu já vi. – Riu ela.
- Por que você ficou fraca quando tratou meu ferimento? – perguntou o homem de barba.
- Por que é assim que a magia funciona. – Começou a explicar Cho, enquanto bebia um pouco de água que a jovem lhe oferecia – Na natureza nada se cria, tudo se transforma. A magia também segue essa lei. Fazer magia é conseguir que sua força de vontade transforme ou faça algo que você deseja. E para fazer isso, tem que dar algo em troca, ou seja, sua força vital.
- Então você usou sua força vital pra me curar? Por quê? – Insistiu ele.
- Por que você precisava. É isso que os bruxos devem fazer, não é? Ajudar as pessoas, ajudar seus semelhantes. É isso que nos diferencia deles. – Cho estava exausta, precisava dormir – Olha, não quero ser rude, mas preciso descansar. Se tivesse feito esse feitiço com todas as minhas forças estaria bem, mas já estou presa sem me alimentar direito há semanas. Preciso dormir. Algo me diz que amanhã será um longo dia.
- Muito bem, milady. Amanhã conversaremos melhor. – respondeu a jovem em nome dos demais, puxando todos para longe dela.
Cho mal ouviu o que ela dizia, já caindo em profundo sono. Foi acordada na manhã seguinte pelo carcereiro, um horrível Orc, que a derrubou da cama e encostou uma espada tosca em sua garganta. Os outros, ao perceberem o que estava acontecendo até tentaram intervir, mas foram rechaçados por outros dois guardas fortemente armados. Cho foi conduzida pelos corredores das masmorras, subiu várias escadas e finalmente chegou em uma sala. Assim que ela entrou, a porta foi fechada e ela se viu novamente a sós com Draco Malfoy. Era a sala onde estava agora, acordando de uma nova sessão de torturas.
*****
- Vamos lá, Chang. Por que se sacrificar por ele? Potter te trocou pela Weasley. – Disse Draco, ao ver que ela recobrara a consciência.
- Não tem a ver com Harry. – Respondeu ela, sua vista voltando a entrar em foco.
- Como não? Vai me dizer que ainda não é vidrada no Cicatriz? – Riu ele, dando um pouco de água para a moça.
- Não, não sou. Isso é passado. Agora somos apenas amigos. Harry ama Gina, foram feitos um pro outro. Eu aceitei isso muito bem, há muito tempo. Mas será que você não, Draco? – Cutucou ela.
- Não fale besteiras, Chang. Não tem nada a ver.
- Será mesmo? Sabe, essa sua obsessão pela Gina, seu ódio pelo Harry desde que se conheceram... Não sei não Draco, acho que você tem é muita inveja do Harry. Queria estar no lugar dele, isso sim.
- Está falando besteiras demais pro meu gosto, garota. – Grunhiu Draco, brandindo a varinha para ela, ameaçadoramente.
- Eu acho que é isso mesmo. Pura inveja. Harry não precisa se esforçar para agradar as pessoas, não precisa se cercar de pessoas idiotas e fáceis de dominar como Crable e Goyle. É sincero e verdadeiro, por isso consegue amizades verdadeiras. Sem falar que tem talento. Um talento que nunca você será capaz de ter.
- Cale-se! – Berrou Draco, esbofeteado-a – Cale-se sua idiota. Eu não preciso de nada que o Potter tenha. Sou muito melhor que ele. Quer ver só? “Crucio!”
A dor, sua nova amiga, voltou para lhe visitar. Cho contorcia-se de dor no chão, enquanto gritava com todas as suas forças. Passado um minuto, a dor cessou e Draco falou.
- Seu querido Potter pode fazer isso? Não, eu sei que ele nunca conseguiu usar uma das imperdoáveis.
- E isso é motivo de orgulho? – Balbuciou Cho, ainda caída no chão – Só mostra que ele é bom demais pra causar tamanha dor em outra pessoa. Só o torna ainda melhor que você, seu idiota.
- Chega! Cansei dessa conversa. Diga-me o que quero saber agora! “Império!”
Cho sentiu-se leve. Esqueceu-se da dor, do cativeiro, de tudo que havia sofrido até ali. Só queria que aquela maravilhosa sensação continuasse. Ela precisava continuar a se sentir feliz daquele jeito. Então uma voz, em sua mente, perguntou: “Diga-me Cho. Conte-me todos os segredos de Potter e seus amigos. Você não precisa mais sofrer, eu vou cuidar de você!”. Por um instante, Cho pensou em responder, pelo menos o pouco que sabia. Queria atender o pedido da voz tão quente e persuasiva, mas então uma outra voz, a de sua própria consciência, retrucou que ela não podia trair a confiança que depositaram nela. Que ela não devia ceder a Malfoy. Com muito esforço, buscando no âmago de sua alma forças para resistir, finalmente ela conseguiu se livrar da Maldição Império, gritando:
- Sai de dentro da minha cabeça, seu porco.
- Você acredita mesmo que vai conseguir resistir a mim por muito tempo, Chang? – Riu Malfoy, balançando a cabeça.
- Não, Draco. – Respondeu ela, arfando, tentando se controlar, pois todo seu corpo tremia pelo esforço – Só enquanto estiver respirando.
- Sério? – Desdenhou ele – Vejamos então. “Crucio!”
Desta vez, a escuridão chegou antes da dor, e ela nem ouviu seu próprio grito.
*****
Foi muito rápido. Quando perceberam, os Orcs já estavam dentro da cidadela. Os soldados ainda tentaram resistir, mas não houve como. Ainda era cedo, e a cidade estava dormindo. Quando ouviu o alarme, mal teve tempo de se vestir e pegar sua espada e saiu correndo para ajudar a defender o castelo, mas este também já estava sendo tomado. Talvez, se os Orcs estivessem sozinhos, eles tivessem alguma chance. Mas os homens que estavam com eles eram diferentes. Eram estranhos, vestiam roupas vermelhas ou longas capas pretas. Nada podia atingi-los, pareciam estar protegidos por um escudo invisível. Lutavam com espadas, mas delas lançavam raios coloridos que matavam vários soldados ao mesmo tempo. O pânico dominou a cidade, aqueles que podiam, tentavam fugir desesperadamente. Ele precisava encontrar sua família e tirá-los dali, a qualquer custo. A cidade estava perdida. A bela Cidade do Sol Nascente voltaria a ser dos Orcs, voltaria a ser Minas Morgul.
Correu pelos corredores do castelo até a sala do trono. Chegou bem a tempo de ver seu pai e seu tio lutando contra os invasores. Seu pai lutava contra um homem com a mão prateada. Apesar de ser um dos melhores espadachins da Terra Média, era visível que tinha sérias dificuldades para embater contra aquele adversário. Num movimento rápido de seu adversário, seu tio, Anardil, foi morto. Isso distraiu seu pai por um segundo, tempo bastante para que o homem de mão prateada o trespassar com sua espada.
- Pai! Não! – Gritou ele, correndo, brandindo a espada contra o assassino de seu pai – Você sabe o que acaba de fazer, maldito?
- Claro que sei meu jovem. – Respondeu Wang Chú, sorrindo – Acabei de matar Aragost, rei de Gondor, e Anardil, seu irmão.Foi muito melhor do que pensei, sabia? Quando descobri que vocês viriam visitar seu tio não pude deixar passar a oportunidade.
- E quem é você? – Perguntou o jovem príncipe Anárion.
- Eu? Sou o novo rei de Gondor. – Respondeu Chú, golpeando o braço direito de seu oponente e desarmando-o – Prendam-no junto com os outros. E tragam as esposas dos dois, vamos mandar um recado para Minas Tirith.
Anárion foi jogado numa das celas da masmorra, onde tanto brincara quando criança, em companhia de seu irmão Arador e do primo, Ararorn. Este já estava na cela, abraçando sua irmã, Éolin. Os dois correram a abraçá-lo, e os três ficaram juntos temendo o que o futuro lhes reservava. Numa única manhã, Gondor perdera seu monarca e o primeiro na sucessão. A Terra Média estava sem governante, à mercê de um novo conquistador.
Algumas horas depois, a porta da cela se abriu e uma jovem foi jogada para dentro. Era uma jovem bonita, de cabelos negros e traços delicados. Era mais uma estranha, e como tal Anárion não queria saber de contato. Um estranho assassinara seu pai, os estranhos estavam tentando dominar sua terra e seu povo. Ela só poderia ser uma espiã. Olhou para ela com todo o ódio e desprezo que tinha acumulado no coração, e a jovem pareceu perceber que não era bem quista, pois se sentou em outra cama e guardou silencio.
Ao cair da noite, finalmente foi servida uma sopa, a qual todos beberam sem reclamar. Anárion notou que a estranha parecia estar faminta, pois sorveu a sopa sem gosto e rala com gula. Pouco depois, um homem, que ele havia visto lutando pelos corredores do castelo, entrou na cela. Uma discussão entre os dois estranhos se formou, e em certo momento falaram de seu ferimento. Ele não esperava por isso, pensou que ninguém havia notado seu braço, completamente inutilizado. Ele não queria parecer fraco, mas a ferida tornara seu braço dormente e ele já estava se sentindo fraco, devido à quantidade de sangue que perdera. Os dois se aproximaram, mais uma breve discussão e então, o homem puxou um pedaço de madeira de dentro das roupas. Com um movimento da mão, fez surgir outro pedaço de madeira parecido em sua outra mão, que entregou para a jovem, enquanto a mantinha sob guarda. Esta se aproximou dele, tentando tocar seu braço ferido. Anárion tentou resistir, mas o olhar firme e o tom suave da voz da jovem o convenceram de que ela não lhe queria mal. Então, ela começou a percorrer toda a extensão do ferimento com a madeira, murmurando palavras para ele desconhecidas. No início ele sentiu um pequeno calor no ferimento, emanando da leve luz azulada que incidia sobre ele, depois sentiu formigar. Então, como que por milagre, seu ferimento começou a fechar, até desaparecer, não deixando nem mesmo uma cicatriz. Completamente aparvalhado, olhou para a moça com intenção de agradecer, mas viu que esta desfalecia. Agilmente segurou-a em seus braços, mas ela logo foi tomada pelo outro. Uma nova discussão, agora Anárion assistia tudo com outros olhos. Não era uma discussão forjada, não podia ser uma encenação. A mulher era inimiga de seus captores, mais uma vítima da situação. E estava sendo jurada de tortura.
Quando o homem saiu, ele resolveu conversar com a jovem, uma suspeita martelando em sua cabeça. E a suspeita se mostrou verdadeira, pois todas aquelas pessoas, todos aqueles estranhos eram magos. Isso explicava por que não conseguiam feri-los e porque ela tinha o dom da cura. Mas a sua cura cobrara um preço, a jovem estava ainda mais abatida e fraca. Mal agüentava ficar acordada, então dormiu. Na manhã seguinte, Anárion acordou com o som dos guardas entrando e tirando bruscamente a jovem de seu sono. Ele e seu primo até tentaram intervir, mas estavam desarmados e seriam trucidados pelos guardas. A jovem foi levada, passando a manhã inteira fora. E Anárion aguardava, apreensivo.
*****
Próximo da hora do almoço, os guardas trouxeram a jovem de volta, desacordada. A jogaram sobre a cama e saíram, sem ligar para os outros. Éolin, que estava mais próxima da porta, correu para Cho, virando-a na cama e constatando, com horror, alguns hematomas em seu rosto e sua respiração fraca. Pediu ao irmão que pegasse um pouco de água, rasgou um pedaço da barra de seu vestido e começou a fazer compressas sobre sua testa, enquanto Cho permanecia desacordada. Pouco depois chegou o almoço. Mais uma vez, uma sopa muito rala e fria, acompanhada de um pequeno pedaço de pão preto. Todos separaram uma parte de suas rações para ela, que obviamente precisava muito mais. Cho só acordou no meio da tarde, e a primeira coisa que Éolin fez foi apoiar seu corpo dolorido em seu colo e dar-lhe de comer com calma. Depois que ela terminou, Anárion e Ararorn sentaram-se na beirada da cama, visivelmente preocupados.
- A srtª está melhor? – Perguntou Ararorn.
- O que foi que lhe fizeram, milady? – Perguntou Anárion.
- Estou melhor, obrigada. – Respondeu Cho, forçando um sorriso para Ararorn e virando-se para o outro – Malfoy é uma pessoa de palavra. Vai tentar me fazer contar segredos que não são só meus. E que podem prejudicar muitos.
- Podemos saber qual é o seu nome? – Perguntou Éolin, mais uma vez molhando o retalho de tecido na água e colocando agora sobre o colo de Cho.
- Cho Chang. E vocês? Como se chamam? E onde, afinal de contas, eu estou?
- Meu nome é Anárion, Estes são meus primos, Ararorn e Éolin. – Começou a responder o rapaz – Quanto a onde você está... Você não sabe onde está, realmente?
- Não faço idéia. Desde que cheguei fiquei presa numa caverna, até vir pra cá ontem. – Respondeu Cho, sentando-se com dificuldade.
- Você está em Gondor, o maior reino dos homens na Terra Média. – Respondeu Anárion.
- Gondor? Terra Média? Nunca ouvi falar desses lugares. – Cho estava completamente confusa – E de onde saíram esses bichos horríveis? Esses tais de Orcs? Nunca vi nada tão repugnante.
- Nunca ouviu falar de Gondor? De onde vens então, milady? – Agora era a vez de Ararorn mostrar surpresa.
- Sou da Inglaterra. Estava lutando contra Chú e seus homens no Himalaia quando fui capturada e trazida para cá. – Explicou a moça.
- Nunca ouvimos falar de tais lugares minha senhora. – Explicou Éolin, também parecendo confusa.
- Droga! Em que bela enrascada eu fui me meter, hein! Olha, pelo pouco que eu ouvi e pelo que eu pude entender, nós atravessamos um portal que liga esse mundo ao meu. Não sei como é possível, muito menos onde fica o meu mundo, mas parece que foi isso que aconteceu. – Explicou a professora de Hogwarts.
- Mas isso é impossível! – Exasperou-se Ararorn – Não existe essa história de outros mundos.
- Então como você explica o que aconteceu ontem, meu primo? – Perguntou Anárion – Você deve ter visto nossos soldados tentando atingi-los e sendo rechaçados. E quanto ao homem com a mão prateada? Nunca vi aquela técnica de luta antes.
- Aquele de mão prateada é Wang Chú. É o líder dos Dragões Vermelhos, um dos grupos de bruxos das trevas de nosso mundo que combatemos. E Draco Malfoy, aquele que esteve aqui ontem, é líder dos Comensais da Morte, outro grupo de bruxos das trevas. Não são boas pessoas, posso te assegurar.
- E quem são vocês? Os que combatem esses “bruxos das trevas”? – Perguntou Anárion – Porque não os impediram de vir pra cá?
- Nós? Somos apenas um grupo de pessoas que tenta fazer o que é certo. Somos liderados por Harry Potter, um grande bruxo. E não sabíamos o que Chú e Malfoy pretendiam, Harry havia acabado de decepar a mão de Chú e estava prestes a matá-lo, quando Malfoy me pegou de refém. Ele não teve escolha, a não ser deixá-los fugir. Então, se há algum culpado pelo que está acontecendo aqui, este culpado sou eu. Se você acha que já não estou sendo punida o suficiente por ter-me deixado ser presa, fique a vontade. Aproveita enquanto Malfoy não termina o serviço. - Disse ela, cansada.
- Perdão milady. Não foi essa a minha intenção. – Desculpou-se Anárion – Mas é frustrante estarmos à mercê de inimigos que não conhecemos e que, visivelmente, são superiores a nós.
- Tudo bem, eu entendo. – Cho deu de ombros.
- Não entendo uma coisa. – Éolin começou, pensativa – Se a srtª é maga, por que não usa sua magia para fugir?
- Por que, Éolin. – Respondeu Cho – Eu preciso de minha varinha para canalizar meu poder e executar magia. E Malfoy a tirou de mim. Isso sem falar que eles estão me deixando à beira da inanição, para impedir que eu tenha forças sequer para aparatar.
- Aparatar? – Estranhou Ararorn.
- Sumir de um lugar e aparecer em outro. – Explicou, pacientemente.
- Impressionante! – Exclamou Anárion – Mas milady... É evidente que foste torturada. Conseguirá resistir e manter os segredos que lhe foram confiados?
- Ah! Vou. Não poderia dizer mesmo que quisesse. Estão protegidos por diversos feitiços, Malfoy nunca conseguirá arrancar o que quer de mim. – Riu Cho.
- Mas a srtª não tem medo que ele a mate? – Perguntou assustada Éolin.
- Eu já estou morta desde o momento que atravessei aquele portal, Éolin. Estou fora da jogada, sou apenas um peso morto. A única maneira que tenho de lutar é resistir ao máximo. Incomodar enquanto for possível. Se não posso atrapalhar, talvez possa atrasar os planos deles. Isso pra mim já é o suficiente.
Ninguém comentou mais nada. Deixaram-na descansar. Anárion não pode deixar de pensar o quanto sua primeira impressão fora equivocada. Felizmente mudara de opinião e agora começava admirar a moça pela sua fidelidade e fibra.
No decorrer da semana, a rotina se repetiu diariamente. Toda manhã os guardas tiravam Cho da cela, levavam-na para a mesma sala, onde Malfoy a aguardava e tentava extrair, usando de todos os seus conhecimentos, informações sobre os Guardiões. No começo, Cho continuou resistindo à Maldição Imperdoável, mas lá pelo meio da semana já não tinha forças. Não que isso resolvesse alguma coisa para Malfoy, já que ela não conseguia contar nada relevante. No final da semana, Draco resolveu diminuir as cessões, dando alguns dias para que Cho se recuperasse antes de voltar à carga. Agora, ela tinha cessões de tortura a cada três dias. Este intervalo não alterou muito seu estado, que definhava dia após dia, a olhos vistos. Cada vez que voltava e era jogada em sua cama, Éolin passava horas a seu lado, tentando ajudá-la a se recuperar. Anárion e Ararorn assistiam a tudo, impossibilitados de ajudar. Eles até tentaram reagir no início, mas a própria Cho os impediu.
A sina de Cho permaneceu esta por mais duas semanas. Então, inexplicavelmente, ninguém veio mais buscá-la, o que a deixou muito preocupada. Aos poucos conseguiu se recuperar, sua saúde foi melhorando e até sua aparência melhorou. Estava menos pálida, com olheiras menos profundas. Então numa tarde, Malfoy apareceu. Sorriu maldosamente e, sem rodeios, falou:
- Bom, parece que realmente você não vai colaborar. Que pena, Chang. Eu esperava mais de você.
- Sinto muito desapontá-lo, Draco. – Disse Cho, fingindo estar arrependida – Mas eu te avisei que era perda de tempo, não avisei?
- É, avisou. Agora estamos num impasse. Você não tem mais serventia alguma para nós. Então, preciso me livrar de você. – Disse ele, displicentemente, balançando a varinha entre os dedos – A não ser que você tenha outra coisa a dar em troca de sua vida, é claro.
- Se é o que eu estou pensando, pode esquecer. Pode me matar agora mesmo, seu nojento. – Rilhou Cho – Foi por isso que me poupou estes dias? Sem chance, cara de fuinha.
- Vamos lá, Chang. Nós já nos entendemos antes, não foi? – Draco parecia muito satisfeito em lembrar isso, seus olhos brilhavam intensamente.
- Eu estava sob seu controle! Nunca cederia a você estando sob o controle de mim mesma. Você só conseguiu o que queria usando a maldição Império. – Gritou Cho, tentando dar um tapa em Draco.
- Vai ver foi por isso não teve graça. – Draco segurou a mão da moça, sorrindo – Por isso seria bem melhor se fosse por livre e espontânea vontade.
- Nunca. – Agora eram os olhos de Cho que brilhavam com convicção.
Os outros hóspedes da cela permaneciam quietos, assistindo a discussão. Então, Draco virou-se para eles, ainda sorrindo, e disse:
- Já que é assim, só me resta optar pela outra presença feminina.
- Draco, ela é só uma menina. – Alarmou-se Cho, tentando agarrar seu braço.
- E eu adorei essa idéia. Não sei como não pensei nisso antes... – Malfoy continuava se aproximando de Éolin. Instintivamente, Anárion e Ararorn protegiam a garota com seus corpos – Saiam da frente, vocês dois.
- Você não vai por suas mãos imundas na minha irmã! – Gritou Ararorn, avançando sobre Draco, seguido de Anárion.
- “Estupefaça!” – Bradou Malfoy, lançando o rapaz contra a parede, completamente sem sentidos. Agilmente virou a varinha para Anárion e gritou – “Incarcerus!”
Anárion foi lançado contra a parede também, porém permaneceu acordado e foi fortemente preso por correntes que brotaram desta, prendendo suas mãos e seus pés, mantendo-o suspenso. Cho pulou contra Malfoy, mas foi derrubada ao chão por uma violenta cotovelada deste em seu rosto. Éolin se refugiou ainda mais no fundo da imunda cela, chorando desesperadamente, até Malfoy apontar-lhe a varinha e murmurar:
- “Império!” – Instantaneamente a jovem parou de chorar e empertigou-se. Draco então continuou – Venha até mim. – Mesmo contra a vontade, Éolin se aproximou dele – Beije-me. – Tentando, a todo custo resistir, a menina foi obrigada a beijar o bruxo, enquanto seu primo gritava, desesperadamente – Agora tire o vestido. – Com lágrimas rolando pela face, impotente, Éolin começou a abaixar a alça de seu vestido.
- Tudo bem! Você venceu! Eu topo! – Gritou Cho do chão – Deixe-a em paz.
- Ora, muito bem. – Disse Malfoy sorrindo, suspendendo o domínio sobre Éolin, que rapidamente e ainda chorando se recompôs – Guardas! Levem-na para tomar um banho e depois aos meus aposentos.
- Não pense que pelo fato de estar indo por vontade própria, que você me terá realmente. Prometo que não estarei lá, vai ser a mesma coisa do que estar sob a Imperius. Não vou sentir nada além de nojo e desprezo por você. – Disse a moça, enquanto era erguida do chão pelos dois guardas Orcs, deixando claro todo seu ódio pelo rapaz.
- Terei você sim, pode ficar tranqüila. E quanto a sentir algo... Você vai sentir. Ah, se vai. – Riu Draco, enquanto saia da cela e libertava Anárion com um gesto da varinha.
Anárion correu para a porta da cela, mas já era tarde. Ela fora trancada após a saída dos guardas. Éolin correu a tratar do irmão, pensando o pior. Felizmente constatou que estava apenas desacordado. Em seguida abraçou o primo, chorando convulsivamente.
Cho passou a noite fora. Quando finalmente o dia amanheceu, ela foi trazida pelos guardas e jogada na cama. Todos correram para ver como ela estava, temendo o pior. Anárion não pode deixar de notar quão linda ela estava. Seus cabelos, limpos e penteados, caiam sobre seus belos olhos. Usava uma roupa nova, um belo vestido, que estava manchado de sangue.
- Ela está ferida! – Disse ele, assustado – Éolin, veja o que aconteceu e tente ajudá-la.
Dizendo isso, ele virou de costas, forçando o primo a fazer o mesmo, enquanto Éolin examinava Cho. Passados alguns minutos, a jovem levantou-se e disse:
- Temo que seja grave, Anárion.
- Como assim? Onde ele a machucou? – Perguntou este, temeroso.
- Os ferimentos são internos. Ele a machucou por dentro. Não há nada que possamos fazer, vai sangrar até morrer. – Respondeu Éolin, secando uma lágrima que escorria por seu rosto, plenamente ciente de que poderia ser ela naquela situação.
Logo, a febre se fez presente. Começaram a fazer um rodízio para, mais uma vez, colocar compressas de água em sua testa, mas a febre não diminuía, assim como a hemorragia. No meio da manhã, mais uma vez a porta da cela se abriu, dois Orcs entraram e Olharam em volta. O primeiro seguiu em direção a Cho, mas Anárion colocou-se entre eles, gritando.
- Já não basta tudo que fizeram a ela? Não deixarei que a molestem mais, deixem-na pelo menos morrer em paz.
- Pode ter certeza que este tormento termina hoje. – Disse o Orc, debruçando-se sobre a jovem, enquanto Anárion olhava, pasmo, para um terceiro visitante que entrava neste momento na cela.
N:A: E então? O que acharam? Desde que comecei a escrever a Ressurreição, tenho tentado transportar algumas coisas da nossa realidade social para as estórias. Foi assim com Lucy, por exemplo, onde abordei o abuso de crianças. E agora, toco em mais um ponto delicado. A violência contra as mulheres e o abuso sexual. Espero que o cap não tenha ficado agressivo demais, ou ofensivo de alguma maneira. Se ficou, me perdoem. Me avisem e eu altero o que for necessário. Sei que muitos dos que lêem essa fic são adolescentes, e a minha intenção é basicamente de alertá-los sobre o assunto.
Voltando à estória, quem será que chegou? Um carrasco? A resposta vai ter que esperar um pouco. No próximo cap, vamos voltar ao quarteto, à sua viagem pela Terra Média até Minas Tirith.
Mais uma vez, muito obrigado pelos comentários e todo o apoio que vocês têm me dado. Sejam bem Vindos os novos leitores, espero que continuem conosco até o fim desta jornada.
Até o próximo cap.
Beijos e abraços,
Claudio
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