A Decisão de Lucy
N:A: Olá pessoal. Antes do cap, eu queria dar alguns recados:
Em julho vai fazer um ano que comecei a postar a Guardiões. Pra comemorar, vou postar os caps novamente, que foram corrigidos pela Alessandra. Eu queria, também, colocar capas nas fics, mas não tenho o dom. Assim, se alguém tiver alguma idéia, souber fazer uma capa e fizer essa gentileza, me envie um e-mail pra gente conversar sobre o assunto, ok?
Outra coisa. Tive alguns comentários falando sobre os espaços que eu deixo entre os parágrafos. Eu costumo inserir esses espaços para que os parágrafos não fiquem aglutinados, confusos para ler. Não para prolongar o capítulo. Mas, repassando este último cap eu, eu concordo que exagerei um pouco nos espaços. Tentei reduzir neste, me digam se está bom ou não.
Agora sim, vamos ao cap. Depois eu volto.
Capítulo 03 – A Decisão de Lucy
Quando atravessaram a ponte sobre o rio Brandelvim, a euforia da partida já havia se amainado. Trotavam a rédea solta, cada um envolto em seus próprios pensamentos. Pararam para almoçar quando encontraram um cruzamento. Se continuassem em frente, seguindo pela estrada do Leste chegariam em Bri e depois, poderiam ir até Valfenda, uma antiga cidade élfica. Porém, não havia mais elfos nesta cidade, toda a sua população partira da Terra Média séculos atrás. Resolveram então, tomar a estrada ao sul. Seguiriam pelos campos e planícies, tomando os Caminhos Verdes até a Terra Parda, atravessando a Terra Média até o sopé das Montanhas Sombrias. Passariam por Isengard, entrando na terra dos cavaleiros, Rohan, e finalmente chegariam em Gondor e sua capital, Minas Tirith. Seria uma longa viagem, sem dúvida, mas desde que não encontrassem problemas pelo caminho, poderiam chegar em, talvez, uns três meses.
A primeira refeição na estrada foi preparada por Andy. Rapidamente ele preparou um assado, tinha trazido um pouco de carne fresca e era necessário consumi-la rapidamente. Fez parte da refeição também, um pouco de queijo e vinho, além de algumas frutas. O grupo ainda não estava acostumado a passar horas no lombo de um cavalo, de modo que estavam exaustos e resolveram descansar um pouco. Após pouco mais de uma hora, levantaram acampamento e retomaram o caminho. Já cavalgavam há alguns minutos, quando Rony emparelhou sua montaria com a de Harry, um tanto sem graça e puxou conversa:
- Hei Harry! Posso falar com você?
- Claro. O que foi? – Retrucou o moreno.
- Sabe, eu queria te perguntar uma coisa. – Olhou para o amigo, que retribuiu o olhar, demonstrando estar todo ouvidos. Pigarreou e continuou - Bem, agora que saímos da vila e estamos viajando, eu queria saber se você se importa, sabe... Bom, eu trouxe duas barracas e queria saber se você se importaria de ficar numa delas sozinho.
- Sozinho? – Perguntou Harry, erguendo uma sobrancelha e segurando um sorriso.
- É! As barracas têm dois quartos cada, mas eu tava pensando se você se importaria de deixar uma pra gente, entende? Eu e a Mione... – Finalmente Rony conseguiu dizer o que queria – A Gina ficaria com o outro quarto, e você com a outra barraca inteirinha pra você. O que acha?
- Ah! Você está querendo ficar dormindo com a Mione? É isso? – Harry não conseguia mais segurar o sorriso.
- Pois é, sabe como é. Depois que você experimenta, acaba viciando. E já faz um bom tempo que a gente não fica junto. – Justificou-se o ruivo.
- Sei. Sei muito bem como é. – Respondeu Harry – Foi bom você tocar nesse assunto, Rony. Na verdade eu estava pra te falar sobre isso também. Não se preocupe, não será necessário montar duas barracas.
- Como não? Onde é que você vai dormir? – Perguntou Rony, desconfiado.
- No outro quarto. – respondeu Harry, virando-se e piscando para Gina, que vinha logo atrás dele com Mione, ambas ouvindo a conversa atentamente.
- Como assim no outro quarto? E a Gina, onde vai dormir? – Rony agora estava começando a assumir um tom entre vermelho e lilás, que só piorou quando Harry lhe deu um olhar significativo – Espera aí! Vai me dizer que vocês... Que já... Ah droga, Harry, ela é minha irmã.
- Por isso mesmo. Se ela não fosse a sua irmã eu não a amaria desse jeito. Nós vamos nos casar Rony, é perfeitamente natural que nossa relação atinja esse nível de intimidade.
- Mas você deveria ter respeitado a minha irmã, pelo menos em nome da nossa amizade. – Retrucou Rony, visivelmente magoado.
- Assim como você respeitou a minha? – Inquiriu o outro, apontando para Mione com a cabeça, que corou violentamente.
- É diferente. A Mione não é sua irmã de verdade.
- Mas é como se fosse.
- E além do mais, foi quando pensamos que você estava morto, foi meio que uma maneira de um encontrar conforto no outro. – Balbuciou Rony, de cabeça baixa.
- E quantos anos vocês tinham? Dezoito? E quanto tempo nós esperamos? Ta certo que eu passei quatro anos “morto”, mas mesmo assim, foi um longo tempo. Qual é Rony, não é o fim do mundo. – Desabafou Harry.
- Você sabia, não sabia? – Perguntou Rony ainda magoado, para Mione.
- Claro que sabia. Qualquer um que olhasse para os dois e quisesse ver teria percebido. – Respondeu ela, suavemente.
- Estou ferrado. Quando os outros descobrirem vão me crucificar. Deixaram-me responsável pela Gina e eu falhei completamente. – Continuou a resmungar o rapaz.
- Se é assim, então todos falharam. – Disse Gina, finalmente entrando na conversa – Isso aconteceu bem antes de virmos pra cá, bem debaixo do nariz de todos os Weasleys.
- Pelo menos isso. Então façam como quiserem, não vou interferir. – Concluiu ele, instigando o cavalo e distanciando-se um pouco dos demais, amarrando a cara.
- Ele só precisa de um tempo pra digerir a história. À noite já vai estar bem. – Disse Mione, tocando também seu cavalo e juntando-se a seu noivo, em silencio. Gina e Harry continuaram cavalgando juntos até o final da tarde, quando resolveram parar e montar acampamento.
Quando finalmente pararam, não demoraram muito para montar o acampamento. Rony tirou de sua mochila a barraca e com um toque da varinha ela se montou sozinha. Entraram e mais uma vez, Harry não pode deixar de pensar o quanto ele gostava de magia. A barraca era magicamente ampliada internamente. Era dotada de um amplo espaço, para ser utilizado como sala de estar/jantar, uma pequena cozinha, munida de um fogão e uma pequena pia. Uma toalete simples, com um chuveiro e uma pequena caixa d’água em cima e dois quartos. Enquanto Rony já enchia a pequena caixa d’água, para que as meninas tomassem um merecido banho, usando um feitiço “Aquamenti”, Harry organizava os pertences deles nos pequenos armários da cozinha. Haviam trazido um bom estoque de comida enlatada e outras coisas que não estragassem rápido. Quando terminou, foi ao encontro dos pequenos companheiros de viagem, que também estavam se organizando. Enquanto alguns estavam colhendo madeira para acender uma fogueira, outros tratavam dos animais e outros ainda, limpavam a área em volta do acampamento, para evitar que algum animal noturno se aproximasse.
- Tem certeza que não querem dormir dentro da barraca? Tem espaço sobrando. – Perguntou ele para Andy, que derrubava uma touceira de capim alto com sua espada.
- Nós ficamos gratos pela gentileza, mestre Potter. Mas estamos acostumados a dormir ao relento. – Agradeceu o Hobbit, com uma reverência.
- Tudo bem. Talvez mais tarde, quando o inverno apertar. – Questionou Harry, no que recebeu a concordância do outro – Mas pelo menos o jantar é por nossa conta. As meninas vão cuidar de tudo.
- Ficamos honrados com o convite. – Aceitou Andy, com um sorriso.
Depois de Gina e Mione, os rapazes também tomaram seu banho, enquanto elas preparavam o jantar. No início da noite, todos se juntaram na pequena sala da barraca, sob os olhares assombrados dos Hobbits. Após o término do jantar, mal conversaram e o cansaço falou mais alto, acabaram todos indo dormir cedo. Era apenas o fim do primeiro de muitos dias de viajem.
(N:A: Pessoal, acho que descrever a viagem deles passo a passo ficaria um tédio. Então vamos parar por aqui, só retornando quando eles já estiverem bem adiantados na jornada, quando alguma coisa de interessante for acontecer. Vamos também dar um pequeno salto no tempo, ok? E visitar outros lugares e acontecimentos)
Um jovem caminhava com passos decididos pelos corredores do castelo, chegando a uma estátua de uma gárgula no final do corredor do segundo andar. Murmurou a senha, a estátua deu um passo para o lado, deixando livre o caminho. Quem o conhecesse agora, nunca faria relação com o garoto gordo, medroso e indeciso que entrou por aqueles portões aos onze anos. Neville Longbotton mudara da água para o vinho no decorrer dos últimos anos, tornando-se professor da escola e homem de confiança da diretora.
Bateu na porta, entrando logo em seguida. A diretora, Minerva Mcgonagall, estava sentada atrás de sua mesa e levantou o olhar, sempre severo e circunspeto para ele.
- A senhora leu o jornal de hoje? – Neville foi direto ao assunto, estendendo o exemplar do Profeta Diário daquela manhã.
HARRY POTTER E AMIGOS CONTINUAM DESAPARECIDOS
Já fazem dois meses que Harry Potter, Hermione Granger, Ronald e Ginevra Weasley e Cho Chang estão desaparecidos. Desde o comunicado divulgado pelo Ministério da Magia de que estavam em missão especial para o ministério, nenhuma nova notícia foi divulgada.
O novo mistério envolvendo o famoso bruxo, mundialmente conhecido como o Menino que Sobreviveu e que levou a cabo a missão de destruir Aquele-que-não-se-deve-nomear parece estar longe de uma solução. De acordo com fontes no ministério, a tal “missão”, planejada às pressas, foi necessária para perseguir bruxos das trevas fugitivos. Como a comunidade bruxa deve se lembrar, na época o ministério vinculou também a notícia sobre a prisão ou morte de um pequeno exército das trevas, que estava sendo montado visando recomeçar os ataques e espalhar novamente o pânico na comunidade mágica. Os Comensais da Morte que ainda estavam em liberdade, faziam parte deste exército (Felizmente Belatriz Lestrange está entre os prisioneiros), responsável pelo ataque à Escola de Magia de Hogwarts, no ano passado.
Ninguém soube (ou quis) explicar como o ministério e seus aliados, dentre eles Harry Potter e vários ex-alunos da escola, vieram a tomar conhecimento das ações destes bruxos. Mas o fato é que houve uma ação rápida e fulminante. Porém, logo após mais esta batalha, os cinco bruxos não foram mais vistos e ninguém esclarece satisfatoriamente o ocorrido. Há quem acredite que eles morreram com outros doze amigos na batalha, e que o ministério está ocultando a verdade da comunidade bruxa.
Seja lá qual for a verdade, esta repórter não descansará enquanto ela não vier à tona e divulgada a todos.
Rita Skeeter
- Não gosto disto diretora. – Continuou Neville – Essa Skeeter pode nos dar trabalho.
- É, eu sei Neville. Também estou preocupada. Tenho certeza de que ninguém contará nada, mas mesmo assim o interesse dela é um risco. Precisamos reforçar as defesas da escola, de modo que nem mesmo um besouro possa invadi-la. – Disse Minerva, séria. E continuou – E como anda o treinamento?
- Está tudo correndo muito bem. Retirando as mesas das casas do salão fica perfeito para treinar. – Respondeu o rapaz.
- Sim, é verdade. Durante as férias vocês poderão usar o salão principal. Mas quando as aulas recomeçarem, teremos que conseguir outro lugar.– Ponderou a diretora.
- Sem dúvida. A sala precisa é perfeita, onde mais enfiaríamos trezentos bruxos para treinar sem ninguém ficar assistindo? – Concordou ele.
- Claro, a sala precisa. Podemos ministrar treinamentos diários à noite, depois que os alunos se recolherem. – Pensou alto Minerva.
- Não creio que demoremos muito para atingir um estágio aceitável. Os progressos estão sendo enormes, segundo os instrutores que mestre Caine mandou. Todos estão se empenhando ao máximo. – Concluiu Neville, com ar cansado.
- Na verdade alguns estão até exagerando, não é mesmo? – Perguntou ela, olhando fundo nos olhos claros do rapaz – Estou preocupada com você Neville. Desde que eles partiram, você não teve um minuto de descanso. Está esgotado.
- Não tenho tempo para descansar agora diretora. – Respondeu ele, desviando o olhar – Não posso desapontar Harry e os outros. Eles confiaram a liderança dos Guardiões a mim e a Luna. É uma responsabilidade muito grande, nada pode dar errado. Muitas vidas podem depender disso, não posso fraquejar como quando era garoto.
- Neville... – Minerva começou, num tom suave – Você mudou muito nestes anos. Não é mais aquele garotinho que vivia perdendo seu sapo Trevo pelos corredores da escola ou esquecendo a senha para entrar no salão comunal. Você se tornou um grande homem, e Harry sabe disso. Ele e todos nós confiamos em você. Isso serve pra Luna também, que está no mesmo ritmo alucinado que você. Entenda, não precisam provar nada a ninguém. Precisamos de você em toda a sua plenitude, por isso quero que você vá para casa e descanse o final de semana. Chamem Augusta para almoçar e aproveitem o dia. Descanse.
- Certo! – Concordou Neville, uma lágrima riscando seu rosto. Não era qualquer um que recebia um elogio daqueles de Minerva Mcgonagall – Acho que vou pra casa e aproveitar o resto de sábado cuidando de minhas plantas na estufa. Muito obrigado diretora.
- Não por isso Neville. Não por isso. – Respondeu Minerva sorrindo, enquanto ele se virava e deixava a sua sala.
Neville deixou o castelo. Quando atravessou os portões, deu um giro rápido e desaparatou, voltando a surgir numa rua do vilarejo de Hogsmeade, onde morava. A vila andava muito mais agitada nos últimos tempos, pois vários Guardiões haviam se mudado para lá, no intuito de ficarem mais próximos do castelo, devido aos treinamentos. Como era sábado e já haviam encerrado o treino daquele dia, várias pessoas trafegavam pelas ruas do pequeno vilarejo. Neville caminhava de cabeça baixa, o peso da responsabilidade pesando sobre seus ombros. Respondia aos cumprimentos de forma mecânica, mal olhando para as pessoas. Quando estava prestes a abrir o pequeno portão branco que dava acesso ao seu jardim, seu caminho foi bloqueado por algo esdruxulamente lilás. Levantou os olhos, curioso, e deu de cara com Rita Skeeter, trajando um conjuntinho que ela já deveria ter aposentado há vários anos. Na verdade, tudo em Rita lembrava o passado. Seu cabelo, armado e extremamente duro. Não era possível dizer se fora um feitiço mal executado ou se ela despejara uma lata de laquê sobre ele, mas provavelmente o resultado seria o mesmo. Pequenas mechas de cabelos brancos podiam ser vistas, apesar de uma frustrada tentativa de escondê-los. No rosto, uma pesada maquilagem tentava ocultar uma gama de rugas que já eram visíveis. E a roupa cheirava a naftalina.
- Olá Neville! Que prazer em vê-lo. – Cumprimentou ela, com falso entusiasmo.
- Oi Rita. – Respondeu ele, sem ânimo. Ele já deveria esperar aquilo.
- Como vai a Luna? Sentimos falta dela no último congresso de redatores. – Começou ela – Na verdade, estranhei muito a decisão dela em deixar o Pasquim. Ela estava indo tão bem, não acha?
- Sim, ela é uma repórter sensacional. Não foi à toa que ganhou o prêmio “A Coruja de Ouro” de melhor reportagem, não é mesmo? – Cutucou Neville, que sabia o ódio que Rita nutria por Luna ter recebido tal prêmio anos atrás.
- Sem dúvida, você tem toda a razão. – Respondeu ela com azedume, mas logo se recuperou e abriu seu melhor sorriso – sabe Neville, estou muito curiosa em saber por que tem tantos ex-alunos de Hogwarts aqui em Hogsmeade.
- Vai ver as pessoas descobriram que gostam daqui. – Respondeu Neville, dando de ombros.
- Pode ser. O engraçado é que todos descobriram isso nos últimos dois meses. Você não acha isso extremamente engraçado? – Os olhos de Rita brilhavam de excitação, na tentativa de arrancar algo do rapaz.
- Na verdade não. Sabe, eu andei indicando o clima daqui pra alguns amigos. Acho que eles me ouviram, foi só. – Neville se mantinha firme, mas procurava não fitar a mulher nos olhos.
- Entendo. Clima, não é? – Rita dedilhava os dedos no pequeno portão, onde estava escorada – Não teria nada a ver com uma pretensa sociedade secreta criada por Harry Potter há anos atrás, para lutar contra os bruxos das trevas e da qual você faz parte do círculo interno, teria?
- Sociedade secreta? – Tentou disfarçar Neville, mas sem muito sucesso – De onde tirou uma idéia dessas Rita?
- Ouvi alguns boatos aqui e ali, sabe? – Inflamou-se Rita, sentindo que estava chegando perto de alguma coisa.
- Não devia dar ouvidos a tudo que ouve Rita. – Disse uma voz às costas de Rita, que assustada virou-se repentinamente.
- Luna! Como vai você querida? – Perguntou ela, tentando disfarçar a decepção pela intromissão da esposa de sua presa.
- Ah, eu vou muito bem. E você? Continua cavando estórias sensacionalistas e dúbias por aí? – disparou Luna, dando um sorriso frio e lançando ao marido um olhar significativo, como se dissesse “Agora é comigo”.
- Luna, minha querida.Eu não busco estórias sensacionalistas ou inverossímeis. Só tento levar ao meu publico a verdade, qualquer que seja ela. – Justificou-se a outra.
- Mesmo que tenha que “retocar” a verdade para que venda mais jornais, não é mesmo? – Os belos olhos azuis de Luna continuavam duros e frios, como icebergs – Sabemos por que está aqui Rita. Está tentando cavar mais alguma matéria usando o Harry e os outros para se dar bem. Esqueça, aqui você não vai conseguir escrever uma linha sequer.
- Ora, mas o que é isso? As pessoas têm o direito de saber o que está acontecendo com o grande herói, não têm? – Ofendeu-se Rita.
- E o Harry tem direito à sua privacidade, não tem? Assim como nós. É melhor você ir embora e nos deixar em paz. – Argumentou Neville, recompondo-se.
- Muito bem então, vamos deixar Potter de lado. – Skeeter tentava encontrar outra forma de conseguir o que queria – Agora a pouco estava comentando com Neville a falta que sentimos de sua presença no ramo da imprensa. Devo admitir que fiquei surpresa quando soube da notícia de que você estava deixando a redação para voltar a Hogwarts, para assumir o cargo de professora. Francamente.
- Isso é a mais pura verdade Rita. – Respondeu Luna – Com a ausência de Cho, a diretora me convidou e eu aceitei. Assim que ela retornar da viajem que está fazendo eu retomo meus afazeres no Pasquim.
- O que eu fico me perguntando, minha querida, é se a diretora sabe realmente o que está fazendo. Não é uma crítica, veja bem. Mas você não tem exatamente o perfil necessário para o cargo, tem? – Riu maldosamente a mulher, o que causou um aprofundamento ainda maior de algumas rugas no seu rosto.
- Perfil? – Luna riu prazerosamente – Rita, nós somos amigos íntimos do maior bruxo vivo na atualidade. Crescemos com ele, alguém tão ou mais poderoso que Alvo Dumbledore. Você acredita mesmo que passaríamos tanto tempo com ele e não aprenderíamos o suficiente para ensinar outros a lutar? Francamente. E não só Harry repartiu seu conhecimento conosco, os outros também. Quer um exemplo?
- Ah, eu ficaria extasiada. – Os olhos de Rita voltaram a brilhar.
- Ok! Por exemplo, saber quando uma pessoa é animaga ilegal pode realmente ser uma mão na roda. Você não acha? – Luna soltou a bomba que vinha guardando com imenso prazer, e não fez a mínima questão de esconder isso.
- Mas... Aquela sabe-tudo de uma figa. Ela jurou não me denunciar. – Rita gritou, histérica.
- Mas ela não denunciou. Só contou pra gente, caso você começasse a querer colocar as manguinhas de fora, como agora. Escuta uma coisa Rita. Pare de ficar rondando por aqui. Pare de tentar descobrir onde os outros estão e o que está acontecendo em Hogwarts. – O sorriso havia sumido do rosto de Luna, sendo substituído por uma máscara dura e cruel.
- As pessoas têm direito de conhecer a verdade. - Esganiçou-se a mulher, vendo sua oportunidade esvair-se pelos dedos.
- Uma ova que você se importa com a verdade ou com as pessoas. Só se preocupa com você mesma. E existem verdades que devem permanecer desconhecidas, para o próprio bem de todos. Se o Harry não está aqui, é porque ele está fazendo algo para proteger a todos nós, e eu não vou admitir que você use isso em proveito próprio. Se não sumir daqui e nos deixar em paz eu acabo com a sua carreira, estamos entendidas? – Concluiu ela, com um dedo em riste.
- Mais uma vez eu não tenho opção, não é mesmo? – Respondeu Rita Skeeter, rilhando os dentes – Mas eu juro que isso não fica assim. Vocês ainda vão me pagar. Podem esperar.
A repórter saiu, pisando duro, enquanto o casal entrava em casa. Assim que virou a esquina, porém, Rita parou e encostou-se à parede de uma loja, respirando com dificuldade. Ela não ia desistir desta vez. Não sabia ainda como, mas ela ia descobrir o que estava acontecendo dentro do castelo, ia descobrir onde Harry Potter e seus amigos estavam e o que estavam fazendo. Escreveria sua matéria revelando tudo e ganharia o prêmio que merecia há anos. Recuperaria sua glória e dignidade, de qualquer maneira.
Durante os dias que se seguiram, a bruxa tentou de todas as maneiras entrar em Hogwarts. Não podia ser na forma humana, então tentava em sua forma de besouro. Mas todas as suas tentativas foram em vão. Sempre que tentava, não importava a hora do dia ou da noite, fosse voando ou rastejando pelo chão, era impedida por uma barreira invisível. Também tentou pousando nas vestes de outros bruxos, discretamente, mas o resultado era o mesmo. Quando chegava nos limites da propriedade, sua carona passava e ela caia no chão. Obviamente as defesas do castelo haviam sido reforçadas, com foco em suas habilidades. Maldita Granger! Nem com o início das aulas, alguns dias depois, foi possível burlar as defesas. Pelo contrário, a segurança pareceu ter sido redobrada. Rita ficava ainda mais determinada, vendo agora os bruxos que transitavam por Hogsmeade se dirigirem ao castelo tarde da noite. Só lhe restava esperar e ver o que acontecia. Em algum momento eles relaxariam, deixariam uma brecha para ela poder se aproveitar. E ela estaria atenta para esta oportunidade. Era só ter paciência e ela seria recompensada. Seu instinto jornalístico estava lhe dizendo isso.
*****
Lucy estava parada na porta da escola. Era a segunda semana de aula, seu segundo ano letivo na escola fundamental trouxa na qual estava estudando. Esse ela estava freqüentando desde o inicio, como manda o figurino. Parada ali, próxima ao portão, relembrava os últimos tempos com certa tristeza.
O ano encerrara-se sem maiores problemas, até que não era tão difícil quanto ela imaginara aquela história de aprender como os trouxas. Saíra-se relativamente bem, sendo bastante elogiada por sua professora, uma vez que entrara tão atrasada na escola. É claro que a assistência de Gina e Mione havia sido fundamental, haviam lhe ensinado tanto ou até mais que sua professora, de modo que quando elas partiram, Lucy já estava até mais avançada que seus colegas de classe. E esse era o problema da menina agora. Eles haviam partido. O sr e a srª Weasley eram fantásticos, a tratavam como a uma filha. Sempre atenciosos e prestativos, muito preocupados com seu bem estar. Também havia Dobby, fiel e amigo para toda hora. Até haviam feito uma bela festa surpresa para ela no final de agosto, quando ela completara oito anos... Havia sido, sem sombra de dúvidas, a melhor festa de aniversário da sua vida. A casa fora toda enfeitada. Margot havia passado por lá e, dando a desculpa de que precisava de sua ajuda, levara-a ao Beco Diagonal, onde andaram a manhã inteira, passearam pelas lojas, tomaram sorvete, mas acabaram não comprando nada. Quando chegaram N’A Toca, todos os Weasleys estavam presentes e um grande bolo estava em cima da mesa, com um “Feliz Aniversário Lucy” em glacê rosa. Fred e Jorge divertiram a todos com suas estripulias. Ganhou vários presentes. Foi realmente maravilhoso, mas eles não estavam lá com ela. Lucy sentia um grande vazio desde a partida de Harry e Gina. Gostava de Rony e Mione também, claro, mas era de uma maneira diferente. Quando estava com Harry, mesmo na época eu que ele estava doente (não lembrar do passado era uma doença mesmo?), ela sempre se sentia segura, amparada. Com Gina era a mesma coisa, quando estavam brincando ou mesmo conversando, sentia que nada de ruim podia lhe acontecer. Era um sentimento diferente, mas levemente reconhecido por seu subconsciente. Era isso que ela sentia quando pensava nos pais, era este o sentimento que pessoas que tinham família deveriam sentir o tempo todo. Aquilo era se sentir ser amado. E ela experimentara novamente este sentimento, por tão pouco tempo, que agora se sentia vazia novamente, abandonada.
Lucy deixou de divagar quando o sinal de entrada tocou e despertou-a para a sua atual realidade. Não adiantava nada ficar pensando em Harry e Gina naquele momento. Por mais que quisesse, eles não eram seus pais. Sequer haviam mencionado a intenção de adotá-la, então não adiantava ficar criando esperanças em vão. Já deveria ser muito grata por terem tirado-a das ruas, dado uma casa onde morar, comida, roupas e agora uma escola onde estudar. Não podia exigir mais. Percorreu o corredor até sua sala de aula, onde a nova professora, a srtª Shaefer a aguardava na porta. Entrou, sentou-se em sua carteira e tentou prestar atenção à aula.
Quando chegou a hora do intervalo, Lucy pegou seu lanche e sentou-se sozinha num canto do refeitório. Não gostava de se misturar com os Trouxas, assim como eles não gostavam dela. Estava terminando de lanchar, até aquele momento havia conseguido sucesso na tarefa de afastar o pensamento que lhe afligia. Então teve uma visão nada agradável, e que lhe lembrou que tinha seus próprios problemas.
Desde que as aulas haviam se reiniciado, sua turma dividia o pátio com o restante das classes. No ano anterior, talvez por serem ainda pequenos, passavam o tempo inteiro com a professora. Lanchavam na classe ou em companhia dela, estavam sempre sendo vigiados. Mas a partir deste ano, lanchavam com todos os outros alunos do ensino fundamental. Logo no primeiro dia, percebera que teria problemas de relacionamento com as crianças mais velhas. Uma em particular, uma menina da quarta série, aterrorizava a escola. Era uma menina enorme, desengonçada, com cara de buldogue. Tinha os cabelos castanhos, os quais usava com ridículas marias-chiquinhas, como se quisesse aparentar uma infantilidade que a muito não existia. Andava com outras três meninas, da mesma classe. Viviam batendo nas crianças menores, extorquindo o dinheiro de seu lanche.
No primeiro dia de aula, durante o intervalo, a menina, que se chamava Alicia, encurralou Lucy num canto do pátio:
- Hei novata! – Chamou ela, cercada das amigas, que faziam uma parede em volta das duas para que ninguém visse o que estava ocorrendo.
- Sim? – Perguntou Lucy, seu instinto deixando-a alerta.
- Sabe, a escola pode ser perigosa pra gente como você. – Disse Alicia, encostando um dedo longo e grosso no peito de Lucy.
- Gente como eu? Como assim, gente como eu? – Assustou-se Lucy, com a possibilidade da outra saber que ela era bruxa.
- Pequena! Fraca! Sozinha! – Respondeu a outra, abrindo um imenso sorriso – Sua vida poderia ser um verdadeiro inferno por aqui, sabia? Mas eu posso te ajudar. Por uma pequena taxa de contribuição, é claro.
- Ah! Que pena, eu não tenho dinheiro. Sou órfã sabe, não tenho um pai ou uma mãe pra ficar dando dinheiro pra comprar doce. Trago meu lanche de casa. – Justificou-se a menina.
- Então é bom arranjar, baixinha. Senão, da próxima vez que a gente se cruzar, o bicho vai pegar pro seu lado. – Concluiu Alicia, dando um soco na palma aberta da mão.
Lucy havia vivido nas ruas tempo suficiente pra reconhecer aquele tipo. Alicia não desistiria com facilidade. E ela não pediria dinheiro para os Weasleys para pagar proteção. A saída era evitar o grupo o Maximo que pudesse, e quando não desse mais... Bom, ela teria que enfrentá-las.
Assim, quando ela avistou o grupo andando pelo pátio, à procura de uma presa, levantou-se de onde estava e saiu, sorrateiramente. Foi o mais rápido que pode para o banheiro, onde tencionava esperar até tocar o sinal e daí voltar para sua classe. O banheiro não era o melhor lugar para se passar o intervalo, mas ela não tinha escolha. Possuía quatro boxes, assim como quatro pias. Numa delas, um vazamento fazia com que o som irritante de pingos d’água fossem ouvidos o tempo todo. Também devido a esse vazamento, o chão estava sempre molhado. As paredes eram revestidas com azulejos amarelos, embora com o tempo estes já estivessem bastante encardidos e bolorentos. Lucy entrou, notando que o banheiro estava vazio. Estava virando costume fazer aquilo, sempre que percebia que podia ser o alvo da gangue, corria e se escondia ali.Mas desta vez ela não teve a mesma sorte dos dias anteriores. Instantes depois que havia entrado, a porta se abriu e Alicia e suas amigas entraram, sorrindo maliciosamente para ela, encurralando-a contra a parede.
- Pensou que ia conseguir se livrar da gente pra sempre? – Perguntou Alicia, se aproximando ainda mais.
- Olha, eu já disse. Não tenho dinheiro, não tenho quem me dê. – Respondeu Lucy, sentindo-se tremendamente acuada e caminhando em direção às pias, tentando encontrar uma brecha para fugir.
- Eu andei me informando sobre você, sabia? – Continuou a garota, seguindo Lucy – Eu sei que você é órfã. Mas sei também que você tem um tutor que é embaixador. E embaixadores ganham uma grana preta. Portanto...
- Mas ele não está. Me deixou com parentes da noiva dele e viajou, não tem prazo pra voltar. Talvez nem volte, faz meses que não sei se está vivo ou morto. – Explicou ela, finalmente o pensamento que a angustiava ganhando vida em forma de palavras, o que fez seu coração descompassar e seus olhos inundarem d’água.
- Ele deve ter deixado dinheiro pros coroas cuidarem de você. E eu quero essa grana, pirralha. – Bufou Alicia, agarrando Lucy pelo colarinho, chegando a levantá-la do chão – Senão eu acabo com você.
- Eles são pobres, não tem dinheiro de trouxa pra me dar. E mesmo que me dessem, eu não daria nada pra você. – Enfrentou a menina, seus olhos brilhando de indignação. Não iria se sujeitar àquela chantagem.
- Do que foi que você me chamou? – Explodiu a imensa menina – Quem é trouxa aqui?
Alicia lançou Lucy, jogando-a contra a pia mais próxima. A partir daí, as coisas aconteceram muito rapidamente. A menina bateu as costas contra a cerâmica dura, perdendo o fôlego com a pancada. Sua visão anuviou-se, pensou que ia desmaiar. Escorregou, mas conseguiu se apoiar na parede ao lado, toda a raiva e revolta, toda a angústia e desespero que estava sentindo em seu âmago nos últimos dias parecia querer aflorar, parecia que ia sair por seus poros. Uma sensação de calor começou a tomar conta de seu corpo, concentrando-se em sua cabeça, que começou a doer. Ela precisava extravasar, colocar tudo aquilo que estava sentindo pra fora, Alicia tinha que pagar pelo que estava fazendo. Mas a única válvula de escape que Lucy tinha era gritar. Podia não resolver nada, mas ela não conseguia mais manter tudo aquilo dentro de si. Então, quando todo seu corpo tremia e ela não agüentava mais a pressão em sua cabeça, Lucy gritou. Um grito carregado de dor e revolta, seguido por uma explosão que assustou a todas.
Ao mesmo tempo em que Lucy gritava, as pias do banheiro explodiam, lançando fragmentos em todas as direções, alguns atingindo as meninas, que horrorizadas, tentavam se proteger e gritavam também. Vários pedaços das pias bateram contra o teto, caindo em seguida no piso molhado com grande estrondo. As torneiras também haviam explodido, e a água jorrava abundantemente, molhando a todas e inundando o banheiro.
- Mas o que é isso? – Perguntou uma das meninas, para Alicia – O que é que está acontecendo?
- Não sei. – Respondeu esta, igualmente apavorada - Mas vamos sair daqui antes que alguém nos pegue e ache que a culpa é nossa.
Não foi preciso dizer duas vezes. Todas saíram em desabalada carreira, trombando e se empurrando ao passar pela porta. Lucy, que havia sido completamente esquecida por seus algozes, permanecia tremendo, toda molhada, encolhida em um canto. Demorou um momento a mais para perceber que seria muito difícil explicar o que estava fazendo ali e como aquilo havia acontecido. Principalmente por que nem ela entendia o que havia acontecido. Estava exausta, todo seu corpo doía. Com dificuldade, seguiu em direção à porta, mas antes de alcançá-la ouviu vozes vindo do lado de fora. Estacou, o pânico voltando a dominá-la. Reconheceu imediatamente a voz da diretora, que estava vindo para o banheiro e parecia estar acompanhada. Quando a visse ali, certamente a responsabilizaria por tudo, nunca gostara dela. Provavelmente a expulsaria da escola naquela hora mesmo.
Lucy começou a andar de costas, até encostar-se à parede fria e amarela do fundo do banheiro, completamente perdida. Ainda tremia, mas agora era de medo. Respirava com dificuldade, seu único pensamento era não ser vista ali, coisa que ela sabia ser impossível. Fechou os olhos com força, murmurando “Eles não podem me ver! Eles não podem me ver! Eles não podem me ver!”. Sentiu um arrepio na espinha, um frio descendo da nuca até sua base. Tentou ignorar a sensação ruim, mordeu o lábio e esperou a bomba.
- Vocês podem me explicar que absurdo é esse? – Esbravejou a diretora Hogan, uma mulher nada simpática, que entrou pela porta puxando pela mão Alicia, seguida pelas outras meninas – Olha só pra isso. Como vocês conseguiram fazer uma coisa dessas?
- Não fomos nós, diretora. – Choramingou Alicia.
- Como não? O sr Horst viu vocês quatro saindo do banheiro logo após a explosão. – Acusou a diretora, apontando com a cabeça o zelador, que entrava logo atrás dela e corria para fechar o registro de água, encerrando o vazamento.
- Mas não fomos nós. – Disse outra menina – A coisa toda explodiu na nossa cara. Deve ter sido aquela menina, a órfã.
- Lucy Randsome estava aqui? – Perguntou Hogan, olhando em redor. Em seu canto, Lucy apertou ainda mais os olhos e prendeu a respiração. Chegara a hora – E onde ela está?
- Nós saímos e a deixamos aqui. – Disse Alicia, também olhando em volta à procura da menina, enquanto o zelador olhava Box por Box, comprovando que todos estavam vazios.
- Não há ninguém mais além de nós diretora. – Grunhiu Horst – E ninguém saiu daqui além dessas quatro, isso eu posso garantir.
- Então, além de danificar o patrimônio da escola ainda querem jogar a culpa em outra aluna? Ainda por cima a protegida do embaixador? Vocês têm noção da confusão que esse homem pode arrumar pra esta instituição ou pra mim se alguma coisa assim acontecer? Por Deus, ele conhece o próprio Primeiro Ministro. E vocês querendo arrumar confusão com ela. Francamente! Andem, todas para a minha sala, vou chamar seus pais imediatamente. – Esbravejou a mulher, abrindo a porta e empurrando as meninas para fora.
- Droga! Vou ter que interditar o banheiro e comprar material para consertar esse estrago. Queria saber como foi que aquelas pestes conseguiram fazer isso. – Disse Horst, também deixando o lugar.
Lucy permanecia estática, no mesmo local. Quando disseram que ela não estava lá, quase desmaiou. Prendeu ainda mais a respiração e aguardou. Só agora tentava respirar normalmente outra vez. Aquele estava sendo um dia muito estranho. Primeiro a explosão das pias, agora isso. Estava sem coragem de abrir os olhos, o que teria acontecido com ela? Mas não tinha outra saída, precisava ver o que acontecia. Com muita calma, bem devagarzinho, abriu as pálpebras, e não conseguiu conter um gritinho de assombro. Ela olhava para o que restava de um espelho instalado sobre onde até pouco tempo estavam as pias, buscando seu reflexo, mas nada viu. Apenas a parede à qual estava encostada. Começou a tremer novamente, não conseguia entender como podia estar e não estar ali ao mesmo tempo. Olhou para o próprio corpo, e então percebeu que este tinha adquirido as mesmas propriedades dos azulejos atrás dela, a mesma cor, até a sujeira. Olhou para a própria mão, sem entender absolutamente nada, voltou a olhar para o espelho e agora podia perceber uma deformidade na parede, a silhueta de seu pequeno corpo. Em destaque, seus belos olhos, que agora brilhavam. Estava preste a entrar em pânico, e se nunca mais voltasse ao normal? E se ficasse daquele jeito para o resto de sua vida? E se o ministério descobrisse, será que ela seria punida? Sem Harry e Gina ali, para quem ela poderia pedir ajuda? Então um nome veio à sua mente, e ela chamou:
- Dobby!
Um estampido característico, e na mesma hora o pequeno Elfo-Doméstico surgiu no meio do banheiro, seus grandes olhos verdes procurando a menina.
- Menina Lucy chamar Dobby. Mas onde está a menina?
- Aqui Dobby. – Disse ela, tocando-lhe o ombro e fazendo Dobby dar um pulo de susto.
- Menina Lucy fez magia! – Dobby disse, com voz esganiçada – Dobby sabia que menina ia se tornar grande bruxa, mas Dobby não esperava uma magia tão poderosa tão cedo.
- Dobby, me ajuda. Eu não sei o que fiz ou como fiz, mas olha esse banheiro. E olha pra mim! Não posso voltar pra minha classe assim. – Suplicou a menina, desesperada.
- Menina Lucy fez magia involuntária. Deve ter ficado muito nervosa pra causar tanto estrago. – Disse o Elfo, apreciando o estrago em volta, em seguida olhou novamente para Lucy e continuou - Um feitiço muito difícil esse também, chamado Feitiço de Desilusão. Serve pra ocultar as pessoas, pra que não sejam vistas. Mestre Harry Potter vai ficar muito orgulhoso quando ficar sabendo.
- Dá pra falar sobre isso depois e me ajudar a voltar ao normal? – Bronqueou a menina, impaciente.
- Só precisa relaxar e se concentrar em voltar ao normal, que o feitiço vai passar. – Respondeu o Elfo, sorrindo de orelha a orelha, erguendo a mão para a menina – Dobby vai ajudar.
Lucy fechou novamente os olhos, tentou relaxar e depois de alguns instantes, sentiu o frio na espinha de novo. Quando abriu os olhos, podia se ver normalmente. Nesse momento, a sineta indicando o término do intervalo tocou, fazendo Lucy perceber outra coisa:
- Dobby, ainda estou encharcada! Vão descobrir que eu estava aqui, assim que me virem. O sinal já tocou, como vou assistir aula, molhada desse jeito?
- Dobby pode resolver isso. – Sorriu a pequena criatura, estalando os dedos, o que fez a menina ficar seca em segundos – Agora menina Lucy pode voltar pra aula.
- Você é demais Dobby. – Agradeceu a menina, abraçando o Elfo e dando-lhe um beijo no alto da cabeça – Não conta pra ninguém o que aconteceu aqui, ta bom? Depois a gente conversa.
Lucy entreabriu a porta, e vendo que todos já haviam ido para suas classes, saiu sorrateiramente e correu para sua sala de aula. Enquanto isso, no banheiro, o pequeno Elfo Doméstico sorria satisfeito, então estalou os dedos e desapareceu.
Quando chegou em casa após a aula, Lucy correu para o quarto e chamou Dobby novamente, pedindo a ele que não contasse nada a ninguém por enquanto. Tinha medo de que, se os Weasleys descobrissem como e quando seus poderes floresceram, ela fosse castigada por ter destruído o banheiro da escola. Queria que descobrissem em outra situação, então resolveu ocultar. Dobby concordou, aconselhando-a a se controlar para que não houvesse outro acidente como aquele.
Poucos dias depois, num domingo, Fred e Jorge haviam levado Vera e Margot para almoçarem com seus pais. Como sempre, todos os Weasleys estavam ali reunidos, com exceção de Rony e Gina (e Percy, óbvio). O almoço transcorrera muito bem, como sempre os gêmeos eram donos de todas as atenções. Não resistiam a uma oportunidade de importunar Lucy, que ria muito das caretas e traquinagens dos dois. Quando já haviam terminado a sobremesa e todos estavam bem relaxados, aproveitando a gostosa sensação de satisfação, Fred se levantou, um tanto sem jeito e disse:
- Família temos um comunicado a fazer.
- Inventou algum brinquedo novo? – Perguntou Carlinhos.
- Você é o Jorge, e só agora descobriu? – Brincou Gui.
- Eu e Vera vamos nos casar. – Disse Fred, ignorando os irmãos.
Por alguns instantes, todos aguardaram pelo desfecho da piada, que não veio. Vera, ainda mais envergonhada também se levantou e disse:
- É verdade. Fred pediu minha mão e eu aceitei.
- Você tem certeza que quer fazer isso? – Perguntou Gui, sério – Você é uma ótima moça, sabe, merece coisa melhor.
- Ah! Valeu Gui. Valeu mesmo! – Bufou Fred, ofendido.
Todos explodiram numa estrondosa gargalhada e correram a cumprimentar o casal. Molly estava emocionada.
- Por Merlin, meu pequeno Fred vai se casar. Que bom, já estava na hora. Agora só falta você, Jorge.
- Me inclui fora dessa, mãe. – Disse Jorge, sorrindo, mas completando ao receber o olhar de Margot – Por enquanto. Mas não vai demorar muito agora.
- E quando vocês pretendem se casar? – Perguntou Arthur, abraçando a nora.
- Mês que vem. – Respondeu Fred – Assim que providenciarmos toda a papelada.
- Mas já? – Assustou Molly – Mas vocês não vão esperar seus irmãos voltarem? Vocês acham que eles não vão voltar?
- Claro que eles vão voltar mãe. – Começou Fred – Mas eu não posso deixar aqueles dois me passarem a perna, não é? Sou mais velho, tenho que casar primeiro. Isso sem falar que estamos precisando de uma festa por aqui.
- Isso é verdade. – Concordou Jorge – Desde que o Roniquinho e a Gininha foram viajar essa casa está parecendo um velório.
- Jorge! – Exclamou Margot, dando uma cotovelada nas costelas do rapaz.
- Eu... Eu... Eu sei que não tenho estado no meu estado normal... – Justificou-se Molly, nervosa – Mas é que eu estou tão preocupada com aqueles quatro. Mal durmo à noite, pensando se estão bem... Se estão feridos ou...
- Mãe, eles estão bem. – Consolou Gui, abraçando a mãe.
- Mas já faz tanto tempo que viajaram, e até hoje nem uma única notícia. Nenhuma carta, nenhum bilhete... Não sabemos nem se ainda estão vivos. – Molly concluiu, próxima das lágrimas.
- Molly, muitas vezes a falta de notícias, por si só já é uma boa notícia. – Disse Arthur.
- É verdade mamãe. – Carlinhos disse, também se aproximando da mãe e abraçando-a – Se tivesse acontecido alguma coisa de ruim, eles já teriam voltado. Mione é uma pessoa sensata, se não tivesse condições de tratar de qualquer um deles lá, ela o traria para casa, para o Saint Mungus.
- Isso sem falar que, assim que for preciso, nós todos vamos ajudá-los. É por isso que estamos treinando tanto. Quando acharem aquele tal de Chú e for necessário, vamos lá pra ajudar. Não vai acontecer nada com eles, pode ficar tranqüila mãe. – Concluiu Gui.
- Vocês estão certos. – A mulher disse, recompondo-se – Vamos tratar da festa então?
Lucy concordava com Molly. Não estava convencida de que estivesse tudo bem. Assim que as coisas se acalmaram e todos começaram a discutir amenidades novamente, ela discretamente deixou a cozinha e subiu para seu quarto. Tinha tido uma idéia, e precisava de ajuda para colocá-la em prática. Assim que entrou no quarto, trancou a porta e chamou:
- Dobby!
Com um estalo, o pequeno Elfo surgiu no meio do quarto.
- Menina Lucy chamou Dobby? – Perguntou ele.
- Dobby, você ouviu o que estavam falando lá embaixo? – Perguntou ela, sentando-se na cama.
- Dobby ouviu sim. Jovem Fred vai se casar. Teremos festa, Dobby adora festa de casamento. – Dobby comemorou, dando saltinhos que faziam suas enormes orelhas ficarem balançando.
- Não Dobby. Isso não. – Protestou Lucy, segurando Dobby pelos ombros para que parasse de pular – Que eles vão ajudar Harry e Gina, que vão atrás deles.
- Dobby ouviu isso também. Mestre Harry Potter vai receber ajuda de amigos. – Concordou o Elfo.
- Dobby, eu preciso ajudar também, - Os olhos de Lucy começaram a brilhar – Afinal, eu também sou bruxa, não sou? E Harry e Gina me tiraram das ruas, eu tenho que ir ajudá-los.
- Mas menina Lucy não pode. É muito perigoso. – Dobby exclamou, arregalando os olhos – Dobby prometeu tomar conta de menina Lucy para Harry Potter.
- Por favor Dobby! – Suplicou a menina – Me ajude a treinar aquilo que eu fiz outro dia. Assim posso ajudar os dois, pelo menos um pouquinho. Posso usar aquele negócio de explodir tudo pra lutar. E você pode ir comigo, pra me proteger e ajudar. Assim não estaria quebrando sua promessa.
- Mas como Dobby e menina Lucy iriam atrás de Harry Potter? – Perguntou o Elfo. Na verdade, ele estava morrendo de vontade de ir mesmo, não conseguia suportar a idéia de ficar ali e seu mestre estar precisando dele. E a justificativa da menina o liberava do fardo de quebrar a promessa que fizera.
- Eu estava pensando no seguinte: - Começou a menina, percebendo que estava começando a convencer o amigo – Sabe aquele outro negócio de... Como é mesmo? Desiludido?
- Isso! – Afirmou Dobby.
- Então. Se você me ajudar a controlar isso, a gente fica de olho. Quando o Harry pedir ajuda, nós damos um jeito de nos esconder e ir junto com eles.
- Dobby não sabe. Dobby não deve colocar menina Lucy em perigo. – O Elfo balançava a cabeça negativamente.
- Dobby, escuta aqui. Eu vou ajudar o Harry e a Gina de qualquer jeito, você me ajudando ou não. Mas se você me ajudar, tudo vai ficar muito mais fácil. Você não quer ajudar eles não? – A menina disse, decidida.
- Claro que Dobby quer ajudar os mestres. Mas e se menina Lucy se ferir? O que Dobby vai dizer a mestre?
- Mas eu tenho certeza de que se você estiver comigo, nada de ruim vai me acontecer.Por favor, Dobby. Me ajuda. Por favor... – Implorou Lucy, querendo chorar.
- Dobby ajuda. Dobby vai ensinar menina Lucy a usar o dom que tem de magia.
Lucy pulou sobre o pescoço do pequeno Elfo, feliz da vida. Finalmente encontrara uma motivação, ela era uma bruxa e iria ajudar seus entes queridos a lutar contra os bruxos das trevas. Só precisava treinar bastante, e ela faria isso todos os dias, ali naquele quarto mesmo. Acabara o tempo das brincadeiras de criança. Mas ela não sentiria muita falta disso, na verdade. Nunca pudera curtir sua infância, sempre fora obrigada a trabalhar ou roubar para viver. Mas agora era diferente. Ela abriria mão de sua infância para aprender magia e lutar pelas pessoas que amava. Pois isso era incontestável, Lucy amava Harry e Gina, e faria qualquer coisa para ajudá-los. Até arriscar a própria vida.
N:A: Olha eu aqui outra vez. Espero que tenham gostado. Bom, deixa-me responder alguns coments agora:
Jasley, meu caro. Com certeza eu lembro de você, quando comentou na Guardiões. Foi inclusive num momento muito importante, quando eu estava me decidindo por escrever duas ou três fics. Na verdade, desde então eu o inclui na lista de pessoas que eu informo sempre que atualizo, mas acho que você não tem recebido meus e-mails. No dia que você postou o comentário aqui na Herdeiros eu te mandei um novo e-mail e pelo visto você não recebeu também. Se tiver outro endereço, no qual queira receber a informação sobre as atualizações, por favor me envie, ok?
Thais, pode ficar tranqüila. Vamos ter muito mais de Rony e Mione nesta fic. E seja bem vinda.
Tati, claro que eu me lembro de você. Liga não, eu sei que às vezes é complicado comentar. Que bom que voltou. Melhorou os espaços? Númenor era uma ilha, ao norte da Terra Média, onde vivia uma raça de homens privilegiados. Mas, devido a reis gananciosos e que queriam dominar outros povos, os deuses da Terra Média resolveram punir o povo numenoriano, afundando sua ilha e expulsando-os de lá. Os sobreviventes acabaram se refugiando na Terra Média. É desse povo que a linhagem dos reis da Terra Média descende. Eu costumo comparar esse fato( e acho que era essa a idéia do autor) com Adão e Eva e sua expulsão do paraíso.
Morrigan, espero que os espaços estejam bons.
Mania, como você viu nesse cap, eles não vão até Valfenda, assim não encontrarão os Trolls. Mas quanto à Lothlórien, bem, é só aguardar, ok? Os Ents? Vamos ver. Talvez.
Por último, vou fazer mais uma coisa que não costumo fazer, pra não ser injusto, mas que vou abrir mão desta vez. Vou indicar algumas Fics, que eu achei que tem a ver com esse universo de Tolkien:
“O Passado de Dumbledore” - http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=19009 - da Rafaela Porto, que sabe tudo sobre Elfos e
“ Harry Potter e o Último Dragão” - http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=18126 - da minha querida Tonks.
E tem também, no estilo mais tradicional:
“ Harry Potter e o Poder das Chamas da Fênix” - http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=19315 - do Saga, que na minha opinião também promete.
Bom, é isso. Até o próximo cap, que vai ser sobre o que aconteceu com a Cho quando chegou na Terra Média.
Beijos e abraços,
Claudio
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