O Duelo Mudo
Quando todos haviam entrado, Lucila suspirou e se voltou novamente para Severo. "Você poderia ter esperado até amanhã, não?" murmurou, colocando as mãos na cintura e esperando que ele dissesse alguma coisa. Mas ele não dizia nada, apenas a encarava com os olhos negros em fogo. Lucila desviou o olhar, entendendo o que ele estava tentando fazer. "Se era isso que queria de mim, acho que podemos nos retirar".
Quando já dava alguns passos em direção ao castelo, deixando Snape para trás antes que se arrependesse, sentiu uma mão em seu braço, a puxando com certa violência, o que a surpreendeu. Severo a trouxe para mais perto e seus olhos cercavam os delas, mas Lucila ainda pode fugir desse confronto, olhando para as pontas dos sapatos. "Onde vocês estavam? Onde aqueles desgraçados te levaram?".
Fingindo que seus calçados eram muito mais interessantes que qualquer outra coisa, Lucila deu de ombros. "Fomos a Hogsmeade. O Professor Dumbledore nos deu uma autorização. Hagrid nos acompanhou na ida e na volta".
Snape não se contentou com a resposta. Estava desconfiado demais e sabia que ela estava se esforçando para acabar com o assunto antes mesmo da conversa ter começado. "Por que ele abriu essa exceção? O que foram fazer lá de tão importante?".
Lucila se perguntava o que havia feito para merecer estar naquela situação constrangedora. "Bom, o diretor considerou que era uma ocasião bastante...especial. E que merecia comemoração...".
Corou. Corou muito. E mesmo não o olhando diretamente nos olhos, pode notar que Severo ficou ainda mais tenso. Ele abriu e fechou a boca diversas vezes, mas não conseguia fazer mais nada a não ser apertar cada vez mais o braço dela. "Não, não pode ser. Você não seria tão tola a ponto de...". Ele tentou encará-la mais uma vez, e ela voltou o olhar para os nós embranquecidos dos dedos dele, incrustados em seu braço como uma garra de aço. Estava começando a doer. "Me diga que os boatos não são verdadeiros, Lucila! Diga!".
E as palavras morreram também na garganta dela que, de repente, parecia seca demais. Queria muito que ele a soltasse. Os olhos dele a perfuravam e ela precisava fugir dali o mais rápido possível, antes que ele conseguisse o seu objetivo. "Severo, eu...".
Então ele perdeu a paciência e jogou a própria varinha no chão com mais força que o necessário. A outra mão ainda apertava o braço dela, fazendo com que Lucila se curvasse ligeiramente devido à dor. Ele levou a mão livre ao queixo dela e a obrigou a encará-lo. "Por que não me olha mais nos olhos? Por que não me deixa tentar entender?".
Foi quando ela cedeu, soltando um leve murmúrio. Estavam, finalmente, face a face. E ele viu lágrimas em seus olhos, lágrimas que ela tentava evitar. De repente, olhando de relance para onde sua mão estava, se deu conta do que estava fazendo, de que a machucava. A soltou rapidamente, atônito. A culpa começou, sorrateira, a queimar em seu peito. Quando ela ergueu a manga das vestes, ele pode notar os fortes vergões vermelhos deixados por seus dedos naquela pele alva. Fora rude demais, mas não era a sua intenção. Nunca foi. Não com Lucila.
Quando Snape voltou a fitá-la, Lucila viu arrependimento em seus olhos e sabia que, mesmo silenciosamente, ele pedia desculpas. E sorriu, ainda massageando a área avermelhada. Tentando não tremer, ela se abaixou para pegar algo que jazia na grama. O sorriso ainda estava lá quando ela lhe entregou a varinha. Se não havia como escapar, ela enfrentaria a situação com a compostura que lhe restara.
O sorriso e o gesto foram um alívio que o convidou a manter o contato visual, mergulhando nos olhos dela. Olhos que mudavam de cor. Castanhos claros que, perto da luz, se tornavam cor de avelã e, ao sol, eram invadidos por tons de verde. Ele sabia que estava sendo egoísta, mas não poderia se conter nem se quisesse. Lucila tentou resistir, mas estava cansada demais de lutar. Fraca demais para continuar escondendo. E mergulhou também nos olhos escuros dele, mesmo sabendo que no momento aquela era uma muralha bem mais difícil de ser transposta.
"Legilimens...". O feitiço foi lançado com um murmúrio rouco, tão baixo que mais parecia um sopro. Pronto. Estava feito. Severo a invadia e a única coisa que ela poderia usar para se defender era o seu talento em oclumência. No meio do jardim, um de frente para o outro, perto o bastante para manterem aquela conversa silenciosa, eles ficaram parados por muito tempo. Longos minutos em que duelavam, em que argumentavam usando sua própria forma peculiar de diálogo, onde tudo era perigosamente profundo, íntimo e verdadeiro. Porque poderiam ocultar, se tivessem sorte. Mas mentir era impossível...
Os dois fecharam os olhos praticamente ao mesmo tempo. Severo massageou a testa e Lucila escondeu o rosto entre as mãos por uma fração de segundo, respirando fundo e se recompondo. Quando nenhum dos lados queria dar o braço a torcer, era mais fácil entrar em acordo e finalizar de vez o assunto. Um empate antes que ambos perdessem para a estafa, a exaustão, o início de uma dor de cabeça que prometia ser memorável.
Severo foi o primeiro a abrir os olhos. Lucila estava muito mais pálida que o normal. E talvez ele também estivesse, a julgar pela leve tontura que sentia. Deu dois passos curtos, diminuindo a distância entre eles. Ambos tinham a respiração descompassada. Lucila, que o observava com certa curiosidade, notou o leve aceno dele, apontando para algum lugar atrás dela. E nada mais precisava ser dito quando seguiram, em silêncio, para um dos bancos de pedra das redondezas. Sentaram-se, um pouco encolhidos por causa do vento.
Lucila olhava para a lua que, mesmo minguante, banhava Hogwarts com uma luz forte, uma luz que prateava a superfície normalmente escura do lago. Snape olhava para o chão. Seus lábios crispados mostravam que sua raiva ainda não havia se dissipado, mas ele se esforçava para isso. Já havia sido grosso demais com ela naquela noite. Lucila não merecia ser tratada daquele modo. "Você não o ama. E sabe que ele também não".
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Olá de novo, gente! :o)
Tudo bem com vocês? Espero que sim! O capítulo que acabaram de ler tinha como objetivo começar a esclarecer um pouco do relacionamento que há entre Lucila e Snape. Não mostrou muito, mas é um ponto chave da fic. :o) Espero que estejam gostando! Eu gostaria de agradecer aos meus queridos amigos Morgana, Diego e Nádia, que voltaram para me dar uma força nessa nova fic. Também queria agradecer à Mia Galvez. Obrigada pela sua simpatia! Depois mandarei um agradecimento por e-mail. Já me indicaram uma fic sua e pretendo ler em breve! :o)
OBS: Se alguém se interessa pelo inusitado shipper Snape/Tonks, pode dar uma passadinha na minha outra fic: "Sussurros". Também indico as fics da minha mestra, agora com o nick Devilicious: "Em Mil Pedaços" e todas as outras.
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