Grifinórios,Corvinal,Sonserino



Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts
1978


Hogwarts descansava na penumbra da noite. Não havia mais a algazarra de alunos pelos corredores, pois todos já deveriam estar recolhidos às suas salas comunais. Já passava das dez horas e isso era uma das regras da escola. Regra que, diga-se de passagem, era bem ignorada. Sempre foi, desde o tempo em que os primeiros estudantes ali puseram os pés. E sempre seria. Não que o zelador Filch facilitasse as coisas, mas os alunos eram capazes dos mais variados truques para confundi-lo quando tinham em vista alguma nova aventura ou uma simples bagunça.

Quebrando o silêncio do castelo e causando a ira de alguns quadros que tiveram o sono interrompido, um jovem bruxo corria decidido pelos corredores. Não se importava com Filch, não se importava em ser surpreendido fora de sua casa. Com a varinha apontada para frente, iluminando seu caminho, corria como nunca havia corrido em toda a sua vida. Sua capa farfalhava devido aos movimentos bruscos e mechas de seus cabelos pretos e lisos dançavam perante seus olhos, contrastando com a pele pálida. Seus olhos negros queimavam de fúria enquanto ele prosseguia, já afoito.

Quando chegou aos jardins, parou para recuperar o fôlego e tentar raciocinar com mais calma. Curvou-se, apoiando as mãos nos joelhos trêmulos. Nem sabia ao certo como conseguira a façanha de passar despercebido, mas agradeceu a Slytherin por não ter seus planos atrapalhados. Sabia que aqueles malditos estavam em algum lugar por ali e não descansaria enquanto não os encontrasse e tivesse certeza de suas suspeitas.

Ela só poderia estar com eles, porque não apareceu para jantar. Foi até a mesa da Corvinal e um dos garotos do quinto ano, intimidado por seu olhar inquisidor, disse que a viu pela última vez perto do lago, já ao anoitecer, junto daquele grupo popular da Grifinória. Não que ele já não imaginasse isso, porque também havia notado que os mesmos não estavam no salão, mas uma onda elétrica de ódio percorreu a sua espinha e ele soube que não poderia dormir tranqüilo se não fizesse alguma coisa.

Primeiro Evans, agora ela... As duas únicas pessoas que dirigiam a palavra a ele por livre e espontânea vontade, sem o intuito primordial de insultá-lo. Parecia que escolhiam a dedo, aqueles trogloditas. Queriam vê-lo completamente sozinho, queriam destruir o "Grupo de Estudos Avançados em Poções" que os três formaram a convite do Professor Slughorn, que os considerava extremamente talentosos. Eles as envenenariam, as afastariam de seu convívio. Não haveria mais encontros três vezes por semana na sala de professor para discutirem sobre ingredientes, sobre novos modos de preparação, sobre tentativas frustradas e descobertas.

Voltou a si, lembrando-se de onde estava. Estreitou os olhos e apurou os ouvidos, tentando captar algum vestígio, algum som. Nada. Apenas o uivo do vento que cortava as torres do castelo. Andou mais alguns metros, sem muita direção. Estava começando a se sentir como um idiota quando ouviu o som de risos se aproximando. Pensou em se esconder atrás de um dos arbustos para que os pegasse desavisados, mas sua raiva era grande o bastante para encará-los, mesmo sozinho.

Ele já podia identificar seis vultos, que ainda conversavam e riam, só que um pouco mais discretamente, visto que se aproximavam do castelo e não queriam chamar atenção. Instantes depois, depararam-se com a figura alta e magra que os encarava com o rosto cheio de ódio, iluminado apenas pela luz do luar e de sua varinha. Assustaram-se um pouco, mas depois de segundos de mudez, dois deles começaram a rir, dessa vez com um certo escárnio, seguidos pela risadinha nervosa e hesitante de um terceiro. Os outros três permaneceram calados.

"Mas vejam só que sorte a nossa! Ranhoso saiu do caixão embolorado e veio nos brindar com sua agradável presença!" disse um deles, se aproximando com um sorriso malicioso no rosto. Depois de ajeitar os óculos, passou uma das mãos pelos cabelos bagunçados e cruzou os braços, o encarando.

Uma garota de cabelos ruivos e olhos verdes deixou as sombras, tentando parar o que estava por vir antes que as coisas ficassem piores. "Pare imediatamente com isso, Tiago! Você me pediu uma chance, eu concordei. Mas você sabe muito bem que não vou tolerar essas suas implicâncias infantis!".

Tiago Potter pareceu um pouco desconcertado com o comentário. Não queria estragar as coisas com a namorada que demorara tanto para conquistar. Já estava começando a cogitar a humilhação de pedir desculpas ao "imbecil" do Snape quando um de seus melhores amigos veio ao seu auxílio. "Calma, Lílian. O Pontas só estava querendo puxar conversa. Mas parece que o Seboso não quer ser nosso amigo. O que quer afinal, Snape? Perdeu a língua?" questionou Black, que não conseguiu evitar um sorrisinho jocoso. O terceiro garoto, que Severo pôde identificar como Pedro Pettigrew, soltou mais uma vez a risadinha estridente e forçada, dando pequenos tapinhas de incentivo no ombro de Sirius.

Snape até então ficara em completo silêncio, apenas os fuzilando com os olhos. Por mais que quisesse lançar todas as Imperdoáveis em Potter ao mesmo tempo, não poderia. Porque o intrometido com complexo de herói teve a infeliz idéia de "salvar sua vida" ao impedi-lo de cair em uma armadilha inconseqüente de Black. Todavia, a partir do momento em que o próprio Black se metia na conversa, ele não era mais obrigado a ser comedido. Encheu os pulmões de ar antes de responder. O tom de desprezo era nítido em sua voz. "Nada do que tenho a dizer interessa a você, Black. Quero falar com ela. Agora!" sibilou, apontando para alguém que ainda mantinha uma certa distância do grupo, ao lado de um Remo Lupin bastante preocupado.

"Acho que você está um pouco desatualizado, Snape. Tudo o que tem a ver com Lucila me diz respeito. E caso não tenha reparado, você não tem o direito de exigir coisa alguma" ameaçou Black, andando até o sonserino com uma postura bastante ameaçadora, arrancando a varinha do bolso.

"Ora, seu..." rosnou Snape, pronto para atacar. Foi quando a moça de cabelos castanhos se desvencilhou de Remo, que tentava contê-la, e caminhou rapidamente até eles. Estava cansada. Cansada demais de tudo aquilo.

Se Snape fosse uma pessoa menos dura, poderia ter sentido muito medo do olhar reprovador que ela lhe lançou. Mas logo a moça lhe deu as costas, voltando a atenção para Sirius. "Não haverá confusão nenhuma aqui. Nós todos podemos ficar bastante encrencados se alguém souber que ainda estamos nos jardins, porque a autorização era válida até as dez. Voltem para a casa de vocês. Vou conversar com Severo".

Black soltou um muxoxo exasperado e ficou de queixo caído por alguns momentos, até conseguir articular uma frase com algum sentido. "Eu não vou te deixar sozinha com esse lunático, Lucy! Faça-me o favor! Você sabe muito bem o que dizem sobre ele!".

"Faça-me o favor você, Sirius Black. Seja razoável e aja de acordo com a sua idade. Você não tem mais dez anos! Não se preocupe comigo. Eu confio em Severo...".

Lílian e Remo, que eram sensatos o bastante para também não concordarem com aquelas brigas bobas, conseguiram convencer os outros a entrar antes que Filch ou um dos professores os encontrasse naquela situação comprometedora. Sirius ainda tentou ficar, esfregando sua varinha na cara de um Snape já um pouco entediado. Mas Lucila o fez ir embora, o empurrando levemente em direção ao outros e pedindo que cooperasse. Que cooperasse por ela. Ele pensou por alguns instantes e lhe deu um rápido abraço, sussurrando em seu ouvido algo que Snape não ouviu, mas mesmo assim sentiu nojo.



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Olá! :o)
Mais um capítulo on! Espero que tenha ficado interessante. Gostei muito de escrevê-lo! :o)

Tudo de bom e Boa Páscoa a todos!

Vinola

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