Capítulo Três



“Ela cruzou os braços.

Seus olhos se encheram de lágrimas.

E ela se sentiu sozinha.””


Weasley.

“Vocês me deram o maior cano!”-berrou a Carmen, na minha secretária eletrônica.-“Mas saiba, Gina, que isso não vai ficar assim! Quero dizer, eu pareço a maior pateta aqui, na calçada, esperando por vocês. E eu sei que a Luna que te convenceu a não sair para dançar porque até parece que você, necessitada como está, faria uma coisa dessa. Ah, meu Deus, eu te ofendi no momento, mas calma, eu tô estressada demais para perceber que isso foi uma ofensa. Então, acho melhor desligar e voltar para casa.”

Me senti péssima, assim, peguei o telefone e liguei para Carmen.

“O que você quer?”-ela gritou assim que atendeu.

Pessoas normais falam, normalmente, ‘Alô’.

“Ahn, falar com você?”-eu disse, tentando não parecer nervosa.

Entenda.

Eu não gosto de irritar a Carmen. Ela é o tipo de pessoa que você só concorda em todas as situações. Não adianta tentar falar ‘não’ a ela. Porque ela vai te irritar tanto, mais tanto que você vai se arrepender de ter dito um simples ‘não’.

“Eu não estou no meu melhor momento, Weasley.”-ela disse, a voz seca.-“Luna Lovegood tentou, a pouco tempo atrás, me convencer que eu tive a idéia da sorveteria e que eu demorei demais e vocês precisavam urgentemente de sorvete com calda de chocolate.”

“Mas a idéia foi sua.”-eu falei, com a minha voz mais persuasiva possível. Você sabe, aquela voz que eu uso quando fotógrafos tentam tirar uma foto péssima minha, mas eu mantenho a calma e...

Tá, finge que acredita, OK?

“É, realmente, eu tive a idéia de te transformar em uma porca gorda, cheia de celulite e estrias. Weasley, você tem que parecer apresentável, lembra?”

“E isso não me tornaria apresentável?”-perguntei, mas eu sabia o que Carmen queria.

Ela simplesmente desejava me fazer sentir culpada pelos milhões de calorias que eu ingeri naquela maldita sorveteria.

E aquilo estava funcionando.

“Mas nós podemos sair, sei lá, amanhã.”-falei, tentando não parecer tão culpada quanto eu me sentia.-“E você poderia escolher o lugar.”

Ela não me respondeu.

“Carmen.”-falei, impaciente.-“Escuta, eu tô com sono e sem vontade de ficar discutindo com você por telefone. Então, faça o favor de falar alguma coisa.”

“Tenho que desligar.”-ela falou, como se lembrasse de repente que ainda estava ao telefone.-“A gente conversa amanhã.”

Olhei para o telefone assustada.

Eu tinha conversado com Carmen Esperanza? A mesma Carmen Esperanza que, às vezes, me faz sentir péssima só por fazer algo que ela não gosta?

Liguei imediatamente para Luna.

“Alô?”-ela falou, a voz assustada.

“Sou eu.”-respondi, enquanto sentava na minha poltrona favorita.

OK.

Era presente de Harry e eu ainda não tivera a capacidade de, sei lá, queimar ou qualquer coisa do tipo. Na verdade, eu ainda esperava que ele voltasse, mas agora...

Bom, tanto faz.

Como sempre eu falo um ‘Tanto faz’, como se eu pudesse empurrar todos os meus problemas com essa frase.

“Ah, ainda bem!”-disse Luna, reassumindo a mesma voz sonhadora, mas, dessa vez, ela deu um gritinho o que me assustou e muito.-“Mas calma. A Carmen não está aí, está?”

“Não, Luna.”-falei, enquanto revirava os olhos.-“Ela não me seqüestrou, não está me usando como cobaia e você não está sendo filmada. Apenas acalme-se, OK?”

“Está bem.”-falou Luna, mas eu podia adivinhar que ela estava olhando para os lados e procurando, na sua casa, câmeras de segurança.-“Mas você ligou para ela, não?”

“Liguei.”

“Você está bem??”-ela perguntou, preocupada.

“Ela foi amável comigo.”-respondi.-“Quero dizer, ela parecia brava, mas logo depois... ela desligou o telefone.”

“Ela é, Gina, o próprio filho do Satã quando está furiosa.”-argumentou a Luna.-“Você tem certeza que falou com ela?”

“Lógico que sim.”-falei.-“Mas acho que amanhã de manhã, ela vai estar aqui. Você também vem, não?”

“Eu deveria?”

“Luna, quem vai ligar para a polícia se ela começar a quebrar as coisas em cima da gente?”-perguntei.-“Você é a única que conseguirá me ajudar.”

Ela ficou quieta durante alguns segundos, mas por fim disse:

“Está bem, Gina.”

Dei um sorriso e desliguei o telefone.

Só que eu não sabia que logo de manhã... as duas se uniriam contra mim.

--

“Sem chance.”-falei, enquanto olhava o anúncio, que estava em cima da mesa, com medo.-“Sério, eu não estou tão desesperada, assim.”

Carmen e Luna se olharam e eu percebi.

Para elas, a minha situação era bem desesperadora.

“Vocês não podem achar que eu vou entrar nesse lugar.”-falei, cruzando os braços.-“Quero dizer, ninguém consegue arranjar um namorado lá. As pessoas não vão para arranjar um namorado.”

“Gina, nós não estamos falando de um prostíbulo ou qualquer coisa do tipo. É só uma agência de namoro.”-disse Luna, com suavidade.

“Só?”-falei, quase tendo uma catarse.-“Vocês querem que eu entre em uma agência. Todo mundo vai saber que eu quero um namorado!”

“Não.”-argumentou a Carmen.-“As pessoas só vão descobrir que você achou um namorado em uma agência. E isso vai ser ótimo para a sua imagem.”

“Carmen, isso não vai ser maravilhoso.”-falei, horrorizada.-“Elas vão pensar que eu fui empurrada para essa agência por ser... tão carente.”-e nessa hora, eu fiquei indignada.

Ah, fala sério! Eu não sou tão carente assim, sou?

“Mas isso não mostra que você é carente, Gina!”-disse a Luna.-“Acho que a imprensa vai te chamar de determinada.

“Você realmente está querendo me fazer sentir melhor?”-perguntei. Eu olhei para a Esperanza e disse -“Carmen, sem chance.”

“Você disse que não ia achar ninguém em uma boate.”-ela disse.-“Mas onde você espera encontrar um namorado? Gina, nós não estamos no seu romance. As pessoas raramente encontram um cara enquanto estão sentadas em um parque pensando na vida.”

Ah, cara.

Agora ela me pegou.

“Eu não espero encontrar um namorado em um parque, Carmen.”-falei, a voz bem fininha.-“Mas eu não acho que uma agência vai resolver os meus problemas.”

Ela deu uma risada.

“É, realmente.”-mas ao ver que eu arregalara os olhos e a olhava bem brava, ela completou.-“Mas isso não quer dizer que você não pode tentar. Pelo menos, você vai ter um problema a menos.

Hesitei.

Então, a Luna disse:

“E se nós todas fossemos?”-ela olhou para a Carmen, esperando uma aprovação.-“Quero dizer, a agência é de trouxas, certo? Provavelmente, é um cara excêntrico, junto com uma mulher mais excêntrica ainda e, além disso, eles não vão conhecer você, Gina. Sabe, é meio difícil pessoas excêntricas... lerem os seus livros.”

“Ahn, você fala por experiência própria?”-disse a Carmen, mas ela logo recebeu um olhar gelado de Luna, então, completou.-“Desculpa, mas a palavra excêntrica... combina um pouquinho só com você.”

Luna rolou os olhos e disse:

“Nós vamos com você, Gina.”-e com um olhar bem encorajador, ela continuou.-“O que poderia dar errado?”

É.

O que realmente poderia dar errado?

--

Eu resolvi me disfarçar.

E não foi só colocar uma maquiagem mais pesada, uma roupa que me fizesse parecer gorda ou qualquer coisa do tipo.

Não.

Eu usei magia.

OK.

Não diga que isso é contar vantagem ou que é errado. Eu só não posso ser vista entrando no lugar, certo?

E também, eu não devo ser vista lá dentro, mas eu realmente espero que essa agência não seja concorrida nem algo do tipo.

“Vocês já sabem.”-eu falei, enquanto me mexia desconfortável e olhava para o meu longo cabelo preto (e me admirava durante alguns segundos)-“Se o lugar estiver cheio, eu vou embora.”

“Nós não deveríamos ter marcado um horário?”-perguntou a Luna, olhando ansiosa para o lugar onde nós paramos.

“Eu acho que não.”-disse a Carmen, confusa.-“No anúncio não tinha nada falando sobre horário marcado.”

“Sem horário marcado, pelo amor de Deus.”-eu falei, horrorizada.-“Como eu vou arranjar um namorado... com horário marcado? Sério, é a coisa mais não-romântica que eu já escutei e...”

“Vamos entrar.”-disse a Luna, interrompendo o meu discurso sobre coisas não-românticas.

Eu olhei para a fachada. E tive vontade de vomitar.

Luna passou o braço pelos meus ombros e abriu a porta.

Assim que eu pisei no lugar, algo estranho aconteceu.

Pelo espelho, que estava na minha frente, eu me vi. Não, você não entendeu. Eu não me vi bonita com um cabelo preto caindo até no meio das costas. Não, eu não me vi com olhos azuis maravilhosos.

Lá... só estava eu. Ginevra Weasley. Com o cabelo ruivo um tanto mais curto, com os olhos castanhos, com as sardas que eu já me acostumara a ter.

“E nós temos três visitantes, hoje.”-disse um homem, animado.

Procurei por ele.

A única coisa que eu vi... foi um longo corredor decorado com o mais feio papel de parede que eu já vi na minha vida inteira.

E, se você pensar que eu realmente queria a minha cozinha roxa... bom, eu não tenho moral nenhuma para falar sobre a decoração da lugar, mas eu percebi que até a Carmen (a viciada em decoração) estava com os olhos fixos no papel de parede.

E ela estava no momento seguinte... apertando os seus lábios, em uma tentativa de não escapar qualquer comentário.

“Por favor, não sejam tímidas.”-disse a mesma voz.-“Além do mais, eu já conheço vocês. E a boa educação diz que nós não devemos usar magias para enganar os trouxas.”

E isso me assustou.

“Carmen.”-eu falei, segurando o braço da mulher enquanto tentava não parecer tão desesperada.-“Você não me trouxe novamente para uma casa de horrores, trouxe?”

Ela me olhou surpresa e disse:

“Se você não lembra... eu aprendi a lição. Eu já sei que você não gosta e ponto final.”-rolou os olhos.-“Além do mais, acho que esse ‘eu já conheço vocês’ foi praticamente, você sabe, metafórico.

“Isso é tão House¹.”-disse a Luna, enquanto observava o lugar com curiosidade.-“Nós vamos até o final, ou não?”

“Não tenham medo, meninas.”-disse a voz, se aproximando cada vez mais.-“Se eu não mordia ninguém em Hogwarts... é meio impossível que eu comece a morder agora, não acham?”

E foi, então, que Blaise Zabini apareceu.

A Carmen ficou atônita.

Eu quase caí.

Blaise Zabini. Era o que eu pensava, enquanto tentava não parecer tão envergonhada por estar nesse lugar e encontrar justamente com ele.

“O que você está fazendo aqui?”-perguntei a voz ficando cada vez mais fina.

“Gina Weasley.”-ele falou, baixinho, mas eu consegui escutar muito bem.-“Seria você... o meu trevo de quatro folhas?”

Encarei o homem na minha frente, totalmente incrédula.

“Blaise.”-disse Carmen, tentando se recompor.-“Pelo amor de Deus, saía já. Nós temos coisas importantes para resolver e você só... atrapalha tudo.”

“Carmen.”-ele falou, tentando não parecer tão estranho ao ver a mulher.-“E não é que nós nos encontramos novamente?”-ele viu Luna parada do meu lado, ainda muda.-“E junto com você.”-ele apontou para as duas e perguntou.-“Vocês ainda são amigas?”

OK.

Ele simplesmente entrou no tabu. Em menos de dois minutos, Blaise Zabini consegue estragar tudo.

“Será que você tem que ser sempre assim?”-perguntou a Carmen, enquanto via a Luna olhando para o chão e tentando parecer totalmente inexpressiva.-“Se você não escutou, eu falei que nós temos coisas importantes para resolver.”

“Vocês estão procurando um namorado.”-ele disse calmamente.-“Bom, qual é a preferência?”

Luna, Carmen e eu nos entreolhamos.

“Acho que eu gostaria de discutir isso... com o dono da agência, Zabini.”-falei, tentando não parecer tão atordoada quanto eu estava.

“Bom, então sigam-me.”-ele disse.-“O dono da agência está aqui. Na sua frente.”

Continua...


N/A: Olá! E um quanto tempo, não?

Bom, vou comentar rapudamente sobre o cap, ok?

Esse novo começo de Meu Acompanhante está me deixando um pouco mais animada, afinal, vocês estão descobrindo os personagens. E bom, vocês descobriram o tabu entre Carmen e Luna. E a Gina descobriu que a agência que ela foi é do Zabini. Espero, pelo menos que o cap tenha sido divertido!

Beijos,

Anaa

Ps.: Desculpem pela falta de Draco nesse cap! Mas no próximo ele vai aparecer!

Ps2.: Quase me esqueci do ¹. Bom, House é o seriado médico House M.D. exibido no Universal Channel (Brasil) e na Fox (EUA). Entendam que Gregory House sempre usa metáforas para explicar o que ele acha sobre o caso. E, no momento, que eu escrevi metafórico na fic... eu me lembrei imediatamente do House (além disse, o editor da Gina se chama Hugh... em homenagem ao Hugh Laurie que faz o House).

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