O outro espelho



Capítulo 12 - O outro espelho

- Que diabos está fazendo, Malfoy? – Gina gritou, antes de ser atingida também pela luz e cair ao lado de Draco, ambos desacordados.

Os cacos do espelho que estavam espalhados pelo chão foram preenchidos por uma estranha figura e a maior parte deles mostrava apenas barba e cabelo. Uma voz grave ecoou pelo quarto.

- Quem está aí? – a voz perguntou, parecendo muito assustada, mas ninguém respondeu. – Quem está aí? Eu não perguntarei novamente! – Draco pôde escutar a voz como se viesse de muito longe, lentamente abrindo os olhos e desejando, como fazia todos os dias, que acordasse em sua própria cama, na Mansão Malfoy. Mas apenas notou os cabelos vermelhos da Weasley caçula ao seu lado. – Eu vou estuporá-lo! – a voz guinchou, ao notar a presença de Draco. – Oh, mas que droga, eu não deveria tê-lo avisado...

- Hagrid? – Gina abriu os olhos imediatamente e se sentou de um salto. – Hagrid? Onde você está?

- Pequena Gina? – a voz que vinha do espelho falou de novo, porém agora em um tom mais brando e bastante confuso. – O que faz aí do outro lado do espelho? Pensei ter visto Lúcio Malfoy... eu o estuporei e... mas que diabos ele está fazendo ao seu lado?

O loiro havia esticado o pescoço para poder ver melhor o guarda-caças, que ficara ainda mais bizarro com pedaços de seu rosto espalhados pelo chão. Certamente ele o confundira com seu pai e Draco não havia ficado nada satisfeito ao constatar que ele o teria amaldiçoado se tivesse oportunidade.

- O que esse meio-gigante está fazendo dentro do espelho? – perguntou em um tom acusador, isso não deveria ser boa coisa. Gina fuzilou-o com o olhar.

- O nome dele é Rúbeo Hagrid e o que ele faz dentro do espelho é o que eu pretendo descobrir quando você fizer o favor de calar essa boca nojenta! – e virou-se para o espelho novamente, enquanto Draco bufava e cruzava os braços à frente do peito. – Hagrid, o que faz aí dentro, afinal de contas? E desde quando se lançam feitiços através de espelhos de comunicação?

- Oh, sim... Sírius me deu esse espelho caso Harry precisasse da minha ajuda e foi o próprio Dumbledore quem enfeitiçou-o para transmitir encantamentos em alguma emergência... mas espere um pouco, o que ele está fazendo ao seu lado? – Hagrid pareceu perceber o quão apavorante era a situação e em alguns dos pedaços do espelho, Draco viu os olhos dele se arregalarem em pavor. – Gina, eles a raptaram? Eu... eu devo avisar a Ordem imediatamente! Não entre em pânico... oh, eu não deveria ter dito isso, não é mesmo?

- Sim, você não deveria ter dito... – Gina sorriu para o guarda-caças e em seguida continuou. – Mas não se preocupe, Hagrid, eu estou bem e em casa. Malfoy está apenas... hum, se escondendo aqui, já que Você-Sabe-Quem pensa que Snape o matou. – Hagrid olhou-a como se não tivesse entendido uma só palavra e Gina devolveu o olhar de confusão. – Sabe, é meio complicado de se explicar, mas bem, Dumbledore havia prometido à Malfoy que o protegeria e é isso o que estamos fazendo por ele agora. – concluiu, sem deixar de demonstrar o quanto isso a desagradava.

- Ah... bem, se Dumbledore disse isso então é isso o que deve ser feito. – comentou Hagrid, parecendo um bocado relutante em concordar com a idéia maluca. – Mas, se precisar de alguma coisa, qualquer coisa que seja, não deixe de me chamar!

O loiro notou que o meio-gigante estava com o rosto avermelhado, como se tivesse bebido muito e chorado por vários dias. Os olhos de Gina ficaram marejados, ela pareceu ter percebido isso também. Hagrid estava sofrendo mais do que qualquer outra pessoa a perda de Dumbledore.

- Não hesite em nos chamar também, Hagrid, mesmo que seja só para trocarmos algumas palavras... nós sentimos muito a sua falta. – Hagrid fungou muito ruidosamente quando Gina terminou de falar.

- Oh, sim, não me esquecerei disso, obrigado. E você e Harry, como é que estão? – perguntou, sorrindo levemente e estendendo um pedaço de pano do tamanho de uma toalha de banho em frente ao nariz, assoando-o. Gina ruborizou violentamente e parecia estar travando uma batalha interna contra a vontade de recolher os cacos e enfiá-los novamente dentro do veludo vermelho.

- Eu... bem, Harry... quero dizer, nós não estamos mais namorando, Hagrid. – informou a ruiva, enquanto Draco, que prestava atenção em tudo o que estavam dizendo, sentia os insetos voadores voltando com todos os seus familiares para seu estômago. – Ahn... mas viramos bons amigos, é isso.

- Claro... uma pena, vocês formavam um casal tão bonito e me lembravam muito de Lílian e Tiago. – Hagrid parecia ter se esquecido da presença de Draco, ao contrário de Gina que corava ainda mais a cada palavra que ele dizia. – Uma pena que não tenha dado certo, mas enfim, quando essa guerra estúpida acabar eu tenho certeza de que vocês irão... bem, se ajeitar novamente. – à essa afirmação de Hagrid, Draco sentiu os insetos pousarem, como se tivessem esquecido de repente como voar e não encontrou nenhuma explicação para sua reação.

Gina não respondeu, apenas sorriu com os olhos tristes. Resolveu mudar de assunto, perguntando porquê Hagrid não viera para o casamento de Gui e Fleur.

- Assuntos de Hogwarts, você entende. – olhou de soslaio para Draco, indicando que não gostaria de tocar no assunto. – Bem, eu preciso ir agora, tenho muitos afazeres aqui em... bem, aqui onde estou. Dê um abraço em todos aí, em especial à Harry, Rony e Mione e não se esqueça de contar a eles sobre o espelho. Me desculpe por tê-la estuporado, Gina, eu sinto muito... – a ruiva sorriu amplamente. – Até mais.

- Pode deixar, Hagrid, não vou esquecer... se cuide.

A figura do meio-gigante sumiu, dando lugar à uma imagem distorcida de Draco e Gina, que continuavam sentados, olhando para o espelho como duas estátuas.

- Ahn... bem, acho que vou voltar para a festa, preciso ajudar mamãe com a arrumação e tudo o mais. – Gina foi a primeira a falar, quebrando o silêncio e a falta de ação dos dois. Draco fez que sim com a cabeça e a ruiva se remexeu incomodada. – Estou esperando...

- Esperando o quê? – foi a vez do loiro falar, apesar de não estar sentindo vontade alguma de fazê-lo.

- As piadinhas sobre o fim do meu namoro... – a ruiva revirou os olhos, como se isso fosse algo óbvio vindo de Draco.

- Não acho suficientemente divertido para isso. Mas vou me lembrar de fazê-las quando vocês voltarem a namorar, depois que a guerra estúpida acabar... – afirmou Draco, a voz fria contendo uma raiva que ele não sabia explicar. – Agora, se me der licença, eu gostaria de um pouco de privacidade. – terminou, frisando bem a última palavra.

Gina, que já tinha conseguido normalizar a cor de seu rosto, ruborizou novamente e sem dizer uma palavra, saiu do quarto, deixando o loiro sozinho com seus pensamentos.

A festa havia sido um sucesso total. Gui e Fleur partiram na manhã seguinte para a viagem de lua de mel – que seria em Veneza, a terra dos amantes –, não duraria mais que uma semana já que a guerra estava oficialmente declarada, mas para eles seria de qualquer forma inesquecível.

A sra Weasley havia os instruído para tomar mil e uma precauções, implorou a Gui para que evitasse passeios e lugares suspeitos e que a mantivesse informada da situação deles com pelo menos três corujas ao dia. Fleur torceu o nariz e disse que isso não seria necessário, mas Gui, temendo o confronto iminente, garantiu que a escreveria dia sim, dia não. A matriarca pareceu não ter ficado muito satisfeita, mas enfim, isso já era alguma coisa e concordou.

Pouco depois da partida dos noivos, como se todos tivessem despertado para a cruel e impiedosa realidade, a Toca ficou no mais completo silêncio. O clima de festa havia acabado, todas as flores e arranjos tinham sido retirados e para abater ainda mais os ânimos, o tempo parecia ter sucumbido à tristeza daquela nova era.

Uma densa e cinza neblina deslizava sobre o quintal todas as manhãs, assustando os gnomos, que corriam para dentro de seus pequenos buracos a fim de se esconder do perigo que farejavam.

Gina havia contado ao Trio Maravilha sobre o espelho, mas eles não tiveram mais notícias de Hagrid. Tentaram chamá-lo por várias vezes, mas em nenhum momento o meio-gigante parecia tê-los escutado, deixando o Menino-Que-Sobreviveu ainda mais chateado.

Harry, Rony e Hermione pareciam cada dia mais nervosos e passavam a maior parte do tempo trancados dentro do quarto e sempre que chegava o correio coruja, corriam para apanhar o jornal, procurando encontrar pistas sobre seja lá o que fosse. Draco não negava estar curioso para saber o que é que eles tanto investigavam, mas era realmente muito difícil conseguir algum vacilo de um deles. Falavam somente quando não havia ninguém por perto.

- Ah... – a boca de Hermione se abriu em surpresa, enquanto passava os olhos arregalados pela última edição do Profeta Diário. Rony deixou a torrada abarrotada de manteiga cair sobre a toalha da mesa e Harry encarou-a sério. Draco fez de conta que não havia notado a exclamação de espanto da morena e continuou tomando seu café, porém com os ouvidos muito bem atentos. – Rufus Scrimgeour libertou Stanislau Shunpike! – Gina espichou o pescoço para dividir o jornal com Mione.

- Mas... – balbuciou, Harry, meio confuso. – Isso não me parece o tipo de coisa que ele faria. Quero dizer, ele precisa manter a boa imagem do Ministério, não é o que vêm tentando fazer esse tempo todo? Prenderam Lalau apenas para usá-lo como bode expiatório e libertá-lo agora só iria confirmar isso.

- Ele deve ao menos ter dado uma explicação convincente ao Profeta... – disse Rony, olhando de Harry a Hermione.

- Ao contrário, Rony. – Gina respondeu, tão chocada quanto Hermione, que olhava para a pequena nota à procura de alguma interpretação equivocada de sua parte. Draco tinha de concordar que realmente, isso não fazia sentido algum. – Na verdade, aqui diz simplesmente que o Ministério não encontrou provas suficientes de que ele fosse um aliado de Você-Sabe-Quem e portanto, arquivaram o processo.

- Isso é fantástico! Agora o povo vai cair matando em cima de Scrimgeour! – Rony deu com o punho na mesa, em entusiasmo, pulverizando a torrada e lambuzando a mão na manteiga. – Engula isso, Percy! Quero ver ele defender o Ministério depois desse fiasco...

- Eu não ficaria tão eufórica assim, Rony. Sabemos pouco ou quase nada sobre o que motivou Scrimgeour a libertar Shunpike e eu não acredito que tenha sido meramente por senso de justiça. – Hermione passou os olhos por todos na mesa e balançou a cabeça, nervosamente. – Alguém deve tê-lo obrigado a fazer isso, mas quem poderia ser? Algum aliado de Voc... digo, de Voldemort? – o ruivo encarou-a incrédulo, parecia pensar que todos estavam perdendo o juízo ao chamá-lo pelo nome. – Não, isso não faria sentido. Lalau não é um deles, não creio que seja.

- Isso é algo que não se pode afirmar com certeza, Mione. – a voz de Harry soou quase feroz. – Dumbledore confiava em Snape e veja só o que foi feito dessa confiança! Era um abutre, que não pensou duas vezes antes de se voltar para o lado das trevas, mesmo depois de tudo o que Dumbledore fez por ele! – os olhos do moreno faiscavam de fúria e Draco, que estava à sua frente na mesa, porém ligeiramente afastado, sentiu-se acuado e desejou que a cozinha fosse um pouco maior. – Matou-o com suas próprias mãos enquanto estava desarmado e fraco! Para mim, Snape jamais saiu da escuridão e não sei de que maneira, conseguiu esconder isso de Dumbledore.

Ninguém se atrevia a retrucar, até porque a grande maioria concordava com o que Harry dissera. Mas não Draco. Ele sabia, por mais estranha que pudesse ser a situação, que Snape fora fiel a Dumbledore quando lançou-lhe o feitiço da morte. E independente de qual fosse sua atual opinião sobre o ex-professor depois de tudo o que havia acontecido, Draco sabia que ele continuaria sendo leal até o último momento.

E agora que parava para pensar, aonde andaria Snape? Nunca mais tivera notícias dele e bem, isso era um bom sinal, ao menos não deveria de estar morto ou então sairia alguma nota no jornal, assim como havia saído – alguns dias depois da sua chegada na Toca – da morte de Narcisa, que fora encontrada carbonizada em um dos quartos da mansão por um elfo-doméstico.

Draco sofrera muito após ler a pequena nota com a tragédia, que dizia que Narcisa fora vítima de um assassinato, tendo como suspeito seu único filho e foragido da lei, Draco Malfoy. Rasgara o Profeta Diário com violência, furioso por ter sido taxado de assassino quando não era um e principalmente, por ter sido acusado de matar sua própria mãe.

Mas Snape continuava sob as sombras e ninguém tinha pistas de onde ele poderia estar. Queria saber o que ele teria dito à Voldemort quanto a seu corpo. Teria inventado que o jogou em algum riacho? Ou talvez que o enterrara em algum jardim? Não tinha resposta para nenhuma dessas perguntas e imaginou se algum dia as teria. Saberia somente se encontrasse Snape novamente, o que não seria nada mal.

Estava sentindo falta do ex-professor, isso era fato.

- Bem... - disse Hermione, se levantando e tirando Draco de seus devaneios. Percebeu que Harry o olhava fixamente e que também havia se sobressaltado com a morena. – Não sei quanto a vocês, mas eu não acho que ficar aqui discutindo a índole de Stanislau Shunpike nos levará a algum lugar. Teremos que aguardar mais notícias, de qualquer forma. Vou subir e terminar de fazer alguns exercícios de Runas Antigas que eu trouxe de Hogwarts.

- Ah, Mione, dá um tempo! – Rony olhou-a escandalizado. Parecia ter ficado realmente ofendido com a menção de ‘exercícios’ e ‘Runas Antigas’ em sua casa. – Não está mesmo falando sério, não é? Não teremos mais aulas!

- E é claro que, na sua cabecinha, já que não teremos mais aulas não devemos mais estudar... estou certa, Ronald? – perguntou Hermione, com as mãos na cintura. Rony lançou-lhe um olhar interrogativo, como se isso fosse algo óbvio de se acontecer após o fechamento da escola. – Meninos... – e saiu, balançando a cabeça como se fosse impossível entendê-los.

Um loiro, dois ruivos e um moreno se encaravam aleatoriamente sentados a mesa, no mais completo silêncio. Como se atendendo seus pedidos, o Vampiro do Sótão começou a fazer estardalhaço, derrubando caixas e tentando trazer o som novamente às dependências da Toca. Em meio ao barulho, Fred e Jorge entraram apressados na cozinha, com os pés enlameados e sorrisos estampados no rosto.

- E então... – começou Jorge.

- Alguém quer jogar uma partida de quadribol? – Fred completou, olhando para todos esperançoso. Os gêmeos já não agüentavam mais passar os dias no mais completo tédio, todos andando cabisbaixos para lá e para cá e o que era pior, sem a beleza de Fleur para alegrar a casa. Não que Gina ou Hermione fossem feias, de qualquer modo. Mas Fleur era uma descendente de veelas e isso melhorava – e muito – o clima.

Harry e Rony se entreolharam e em seguida se levantaram. Gina enfiou o restante da fatia de bolo que ainda tinha nas mãos dentro da boca e seguiu-os, mastigando da melhor maneira que conseguia. E Draco... bem, Draco agarrou mais uma torrada e estava alcançando a geléia quando Harry parou na porta e se virou em sua direção.

- Você não vem?


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N/A: Bem... o que será que se passa na cabeça de Scrimgeour? E Lalau? Será que é mesmo do mal? E Hagrid? Que diabos aconteceu com ele, que disse para os jovens o procurarem se precisassem de sua ajuda e agora não responde aos chamados? Ou será que o espelho tem algum truque além de chamar pelo nome? Ou então... meu Merlim, será que o nome verdadeiro de Hagrid é outro? E Mione? Enlouqueceu de vez quando a guerra estourou? Rony deve pensar que sim...

Essas e outras vocês ficarão sabendo no próximo capítulo, então, não percam!!!

Com carinho,

Mila Fawkes.

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