Nada no bolso



Capítulo 7 - Nada no bolso

Seus olhos estavam sensíveis à luz e a primeira coisa que Draco fez quando os abriu foi fechá-los novamente. A ausência de dor no corpo indicava que alguém deveria tê-lo dado a poção ou talvez, em uma hipótese mais otimista, Draco estaria morto.

Com um certo receio, tentou abrir os olhos mais uma vez, acostumando-se gradativamente à forte claridade que entrava pela janela. Quando pôde focalizar algo além de seu nariz, constatou que ainda estava na Toca, jamais encontraria em qualquer lugar uma decoração tão brega e gasta como a dos Weasleys.

Tateou seu corpo à procura de fraturas, rezando internamente para que todos os seus membros estivessem em seus devidos lugares. Não duvidava que os monstrengos de cabelos vermelhos o tivessem mutilado durante o sono.

Sentiu-se extremamente estúpido quando se lembrou de ter desmaiado na frente de Harry Potter, que aproveitaria a oportunidade para se vingar das chacotas que Draco fizera, rindo do efeito que os dementadores tinham sobre ele quando ainda estavam em Hogwarts.

Não queria nem imaginar como seria quando notassem que ele despertara, provavelmente fariam inúmeras piadas de sua situação, o culpariam até pela proliferação de fungos e bactérias no verão, isso sem contar com o fato de que comeriam seus órgãos vitais com farinha, antes de entregá-lo para os guardas de Azkaban.

Seu orgulho estava mais do que ferido, estava à beira da morte, praticamente em coma profundo. Draco era obrigado a engolir todo e qualquer desaforo, pelo menos se quisesse tentar sobreviver à maldita guerra. Mas o que mais o ofendia era o fato de que o garoto cicatriz interveio à seu favor, praticamente salvando-o de um destino cruel. Era ultrajante estar em débito com um inimigo de tão longa data.

Olhou ao redor procurando por algo que pudesse servir de escudo, caso algum Weasley atacasse-o de repente, afinal, era mais fácil previnir do que remediar. Talvez pudesse ganhar algum tempo e gritar por socorro antes que tirassem seu escalpo.

Debruçou-se em uma das extremidades da cama e verificou o que havia embaixo dela, contou dois ou três pares de sapatos, alguns restos do que um dia deveria ter sido um livro, penas quebradas e até os cacos de um espelho partido, que estavam enrolados por um pano de veludo vermelho. Levantou-se devagar e quando se sentou, sentiu algo pontudo tocar seu pescoço.

- Muito bem, Malfoy... posso saber o que estava procurando ou terei que arrancar à força? – perguntou a ruiva com uma das mãos na cintura e a outra apertando firmemente a varinha contra o pescoço do loiro. Mais uma vez a caçula Weasley estava encurralando-o e Draco, mais uma maldita vez, não sabia o que fazer.

- Estava procurando meus sapatos, acordei com sede e...

- E está redondamente enganado se acha que isso aqui é uma hospedaria. Você não é um convidado, Malfoy. É um criminoso e nosso prisioneiro, pelo menos até que consiga provar o contrário. – Gina riu e empurrou-o para trás com a ponta da varinha, fazendo-o se deitar novamente.

A ruiva definitivamente não tinha medo de Draco e isso o deixava revoltado. “Se eu estivesse com a minha varinha, ela não se atreveria a me tratar dessa forma.” - pensou com amargura, enquanto olhava pela janela. “Ou talvez... bem, talvez ela tenha menos medo de mim do que a maioria das pessoas, mas ainda assim ela não se atreveria.“

- A janela está protegida com um feitiço, não tem como você tentar fugir.


Draco bufou, o que essa garota tinha de bonita, tinha em dobro de irritante e burra. E pobre, ainda por cima. Não era possível que ela pensasse que Draco tentaria uma fuga pela janela quando ele estava sendo procurado por todo o ministério, que ainda não estava à par de sua recente “morte” pelas mãos de Snape.

- Eu não estou planejando fugir, se eu colocar os pés para fora daqui...

- Não me interessa o que vai acontecer com você. Por mim pouco importa se você for comido por abutres ou pisado por testrálios.

Qual era a dessa garota? Estava querendo arrumar encrenca e tudo o que Draco mais precisava nesse momento era manter-se afastado delas. Tentou engolir as ofensas que queriam pular de sua garganta e quase obteve algum sucesso. Quase. Pelo menos isso já era um começo.

- Escuta, se você está com algum problema, procure o idiota do seu namoradinho para descontar e vê se me dá um tempo!

Isso pareceu triplicar o mau-humor da pequena Weasley, já que seu rosto sardento ficou perigosamente vermelho. Teve vontade de rir da cara que Gina fez, não imaginou que ela teria essa reação apenas por chamar o Menino-Que-Sobreviveu de idiota. Com um pouco de sorte ela se jogaria da janela se ele usasse um palavreado mais adequado.

- Sabe, mamãe enfeitiçou a porta para que nenhum de nós pudesse entrar aqui no quarto. Rony está tentando todo o tipo de feitiço, mas tenho certeza de que ele não vai conseguir. Eu sou a única que sabe, portanto, se não quiser ser agraciado com a rude presença do meu irmãozinho por aqui, é melhor não me tirar do sério! – sibilou apontando a varinha para Draco.

- E eu posso saber que diabos você veio fazer aqui se sua mãe proibiu a entrada de todos? – Draco não estava realmente preocupado com a desobediência de Gina, pouco se importava com o que aconteceria à ela, mas algo em seu interior gritava para que tentasse mantê-la afastada, ou isso lhe acarretaria sérias consequências.

Gina corou levemente, desviando os olhos para uma pequena mesa de canto, onde havia um jarro de vidro cheio do que parecia ser água e um copo ao lado. Apontou para o conjunto, voltando a encarar Draco.

- Hum... bem, achei que acordaria com sede, mamãe deve ter se esquecido, já que está à mais de quatro horas trancada com papai no quarto, discutindo sobre o que fazer com você. – deu um suspiro resignado. – Você está trazendo muitos problemas para cá, espero que tenha consciência disso. – Draco baixou os olhos e fixou-os nas mãos, não estava se sentindo mal por causar problemas para os Weasleys, mas a idéia de que a matriarca estava realmente cogitando a possibilidade de ajudá-lo o deixava com uma estranha sensação de desconforto. – Mas o que eu estou dizendo? Você é Draco Malfoy... – Gina abanou a cabeça e lançou um feitiço na direção da porta, antes de passar por ela apressadamente.

Não podia dizer que se sentia seguro com o feitiço que a sra Weasley havia colocado na porta, mas isso o tranquilizava de certa forma. De onde estava era possível escutar o som de algumas vozes e Draco duvidava de que ouviria alguma frase que o agradasse.

O que o intrigava era o fato de que Harry Potter havia defendido-o. Talvez estivesse se sentindo mal por não ter feito nada para ajudá-lo na torre de astronomia e pensando bem era mais do que sua obrigação, afinal, se ele tivesse saído de seu esconderijo, à essas horas Dumbledore ainda estaria vivo e Draco e sua mãe poderiam estar seguros em algum lugar.

”Covarde...” – pensou com amargura, tentando se livrar da imagem de sua mãe que teimava em aparecer na sua mente. Aproveitou o raro momento de privacidade e chorou, apertando com força o travesseiro, esperando que a dor o deixasse, mas ela apenas se tornava mais intensa.

Fez o que costumava fazer todas as vezes em que se sentia sozinho e perdido. Tateou o bolso da camisa negra e puxou algo de dentro. Quem visse Draco olhando para as mãos abertas e vazias pensaria que a insanidade estava ameaçando tomar conta por completo de sua cabeça.

Mas ele sabia o que havia lá. Sorriu tristemente, fitando o pequeno pedaço de nada que tinha nas mãos. “E nem tenho como te fazer aparecer...” esse pensamento o fez fechar os olhos, trazendo para a mente a forma que já havia decorado. Aos poucos a tristeza abrandou e Draco levou uma mão aparentemente vazia ao bolso, guardando novamente o que havia tirado de dentro dele.

Secou as lágrimas do rosto e sentiu-se tonto quando levantou. Andou com passos arrastados até a mesinha em que a caçula Weasley havia colocado o jarro de água. Bebeu quase três copos com urgência, nunca imaginou sentir tanta sede em sua vida.

Um barulho vindo da porta o alarmou, fazendo-o se virar bruscamente. Mais uma vez os cabelos de fogo da pequena – porém agora nem tão pequena – Weasley adentraram o quarto, mas acompanhados de outros fios negros e espetados, para total desgosto de Draco.

- Por favor Harry, seja rápido. Se mamãe descobre que o coloquei aqui, vai quebrar minha varinha e fazer uma fogueira com ela. – disse Gina antes de sair e fechar a porta atrás de si.

O moreno encarou Draco com uma expressão curiosa e não era preciso ler mentes para saber o que se passava em sua cabeça. A pergunta estava escrita em sua testa, bem ao lado da maldita cicatriz: “Você andou chorando, Malfoy?”

Draco empertigou-se, era a segunda vez que Harry o pegava em uma situação constrangedora como essa e conteve a vontade de matá-lo apenas porque estava desarmado. E também porque da última vez saiu bastante ferido.


- Estou vendo que ninguém aqui costuma respeitar regras... – disse se referindo à ordem que a matriarca da família havia dado à todos, proibindo-os de entrar no quarto em que Draco se encontrava.

- Eu vim aqui para dizer que continuo achando-o desprezível, Malfoy. – Harry lançou-lhe um olhar firme, empunhando a varinha. – E que estou te ajudando apenas porque escutei o que Dumbledore disse, do contrário...

- Ou será porque a sua consciência anda pesando tanto que você não consegue manter essa cicatriz ridícula a um palmo do chão? – Draco cuspiu, sentindo o sangue ferver em suas veias.

Harry o olhou confuso por um instante, mas logo se recompôs e aproximou-se perigosamente, encarando-o raivoso.

- Do que está falando, seu imundo? Nunca fiz nada para prejudicar ninguém, minha consciência está limpa como sempre esteve! – sibilou por entre os dentes, quase avançando em Draco. – Já a sua...

- Tudo o que eu fiz foi para o bem da minha mãe! Você estava lá, não estava? Você me ouviu! – disse quase num sussurro, com medo de que alguém escutasse a discussão e interferisse à favor de Harry. – Estava lá o tempo todo e não tirou o traseiro do maldito esconderijo! – os dois se encaravam com ódio, os punhos fechados contendo toda a ira que queriam despejar. Draco queria fazer Harry pagar por tudo o que lhe acontecera. – Levou pipocas pra comer enquanto assistia o show? Foi suficientemente divertido?

- EU ESTAVA PETRIFICADO! – Harry gritou, fazendo Draco olhar alarmado para a porta, esperando um ataque em massa. Abaixou o tom de voz quando continuou. – Eu assisti a tudo sim, petrificado, sem poder fazer nada! Dumbledore me enfeitiçou para que nada acontecesse comigo! Você acha que eu deixaria ele morrer se pudesse impedir? – rosnou, ignorando a expressão de surpresa do loiro, que a disfarçou rapidamente. – Você não sabe como é assistir a morte de alguém sem poder fazer nada, então...

- E você não sabe o que está dizendo, seu imbecil... se acha o dono da verdade,uma perfeitaminiatura tosca daquele velho bruxo intrometido... –sua vozse tornou fraca e ele olhou para a parede, como se pudesse ver através dela. Harry fez menção de dizer algo quando Draco se referiu a Dumbledore grosseiramente, mas estacou olhando parao loiro com curiosidade ao perceber sua expressão aérea. Orosto desfigurado de Narcisa mesclou-se ao papel de parede listrado e cheio de rasgos e Draco sentiu-se tontear. – Voldemort... aquele maldito assassinou minha mãe enquanto me torturava...

O tempo parecia ter parado por alguns instantes, instantes esses em que cada um tentava digerir o que ouvira. O grifinório foi o primeiro a falar, quebrando o silêncio incômodo que havia se instalado entre eles.

- Narcisa Malfoy... ela está... morta? – Harry perguntou chocado, tirando Draco de seu semi-transe, que olhou-o incrédulo.

- Não, não está, foi só força de expressão, na verdade ele lhe serviu chá com bolinhos. – Draco riu amargamente, desejando ter sua varinha por apenas um instante, o suficiente para lançar um Avada Kedavra em Harry. Se fosse mesmo para Azkaban, se lembraria de providenciar isso.

O silêncio tomou conta do local novamente e Draco aproveitou para organizar os pensamentos e tirar suas próprias conclusoes sobre o que havia acontecido. Deveria ter imaginado, o projeto de herói nunca teria perdido essa chance de se aparecer. Salvar o idolatrado e respeitado velhote seria algo digno de um troféu. Mais um para sua coleção de grandes e estúpidas conquistas.

A porta se abriu novamente, revelando uma Weasley confusa, que encarava os dois de modo perturbador.

- Hum... vejo que vocês se entenderam... ou pelo menos não mataram um ao outro. Acho melhor você sair agora, Harry, estão todos lá embaixo, acham que você está no banho. – fez uma pausa e acrescentou, olhando de soslaio para Draco. – Eu enfeiticei a banheira para jogar água para fora de vez em quando, caso alguém estranhasse sua demora.

Já estavam quase na porta quando Draco se virou de repente, receoso de que percebessem o medo em seus olhos e quando falou, usou o tom mais casual que conseguiu improvisar.

- E quanto a mim? Fico aqui mofando como uma almofada sem uso? Quero saber o que foi decidido a meu respeito... – parou de falar e observou a ruiva colocar a mão no bolso de sua blusa, assutando-o.

- Calma, é só um sapo de chocolate! – Gina riu e jogou-o na direção de Draco. – Coma isso por enquanto. Daqui a pouco mamãe vai entrar trazendo o seu almoço e então vocês conversam sobre o que vai acontecer contigo.

Sentou-se sobre a cama e desembrulhou o chocolate, devorando-o rapidamente. Gemeu quando se lembrou do sanduíche de carne enlatada que comera na noite anterior, evitando imaginar o que seria servido no “almoço”.

Não que isso fizesse alguma diferença para o monstro que rugia alto em seu estômago, qualquer coisa que lembrasse comida já estaria de bom tamanho. Lamentou-se por ter chegado a esse ponto, desesperado por uma refeição de quinta feita pela matriarca da família que ele tanto desprezava.

Abraçou os joelhos e ficou encarando o lençol cheio de manchas, aguardando ansioso o almoço e a decisão final dos Weasleys, sem saber realmente qual opção o agradava menos: Azkaban ou Toca.


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N/A: Hohoho... o que será que Draco tem guardado em seu bolso? Bom, é algo que o faz sentir-se melhor quando as coisas não andam bem.
Pode ser uma figurinha de sapo de chocolate, um recorte de revista pornô, uma bolinha de gude, um trevinho de quatro folhas, um fio de cabelo de Narcisa, um pedaço da cueca de Crabbe... well, existe gosto pra tudo, não é mesmo?

Arrisquei uma tentativa de diálogo entre Harry e Draco, o pobre loiro merecia algumas explicações, assim quem sabe ele transfere seu ódio novamente para outra pessoa, dessa vez mais merecedora de tal.

Espero que não tenha ficado muito maçante esse capitulo, mas eu tinha mesmo que esclarecer alguns pontos. E o fato de Gina ter utilizado magia será explicado mais pra frente, talvez no próximo.

Reviews pessoal! Please!!!

Com carinho,

Mila Fawkes.

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