Furacão Weasley



Capítulo 6 - Furacão Weasley

Se hoje alguém perguntasse a Draco qual era a cor de um furacão, ele responderia com convicção: vermelho. Uma avalanche de Weasleys furiosos invadiu o local e tudo o que Draco conseguiu fazer em sua defesa foi fechar os olhos e rezar para que o Deus dos Malfoys em Perigo o acudisse.

Uma confusão de vozes alteradas tomou conta do sótão, tirando o velho vampiro de seu sono, que mais uma vez guinchou e se escondeu espalhafatosamente atrás das caixas.

- PAREM TODOS! – ralhou uma voz feminina e muito intimidadora, fazendo com que todos estacassem aonde estavam, virando-se imediatamente para ela. – Um momento, ninguém atacará ninguém dentro desta casa! Quem decidirá o que fazer com o menino será a justiça e eu não vou admitir nenhum tipo de intromissão!

- Mas mãe, Dumbledore está morto por causa desse projetinho de comensal que está aqui, dentro do nosso sótão! – berrou uma voz histérica, que Draco logo reconheceu como sendo a de Ronald Weasley, o mascotezinho de Harry Potter. – O que acha que ele estava querendo invadindo a nossa casa? Matar! A todos nós!

- Eu não acredito que ele teve coragem de entrar aqui sozinho, deve ter caído de alguma vassoura desgovernada! – essa voz Draco conhecia bem. Era a caçula dos Weasleys, a ruiva esquentadinha que tanto o humilhara em Hogwarts. E parecia que as coisas não estavam muito diferentes agora. – Desde quando essa doninha sabe fazer algo sem aqueles brutamontes lhe dando cobertura?

Mais um aglomerado de vozes se instalou entre as paredes do velho sótão e Draco não conseguia identificar nenhuma frase. Pelo menos não em seu favor. Mais uma vez a voz autoritária da matriarca se fez presente, exigindo silêncio.

- O que ele faz aqui nós descobriremos agora. E nós precisamos do menino vivo para perguntar a ele!

- Não necessariamente. – disse um dos gêmeos, que Draco não sabia dizer qual era. – Podemos perguntar ao cadáver dele sem problemas...

- A resposta não nos interessa mesmo. – completou o outro gêmeo, fitando Draco com ferocidade.

- Fred e Jorge Weasley, fiquem de bico calado ou eu mesma os costurarei! – ralhou a sra Weasley, muito severa. – Desçam todos, eu quero falar em particular com este rapaz.

- De jeito nenhum, Molly! – replicou o sr Weasley, abrindo caminho por entre os filhos. – Ele é um comensal da morte e não deve ser subestimado por sua idade. Eu ficarei aqui com você. E vocês... – apontou para os filhos, que os fitavam atônitos. – desçam imediatamente.

- Mas pai... – começou Rony.

- Depois conversamos, Rony! Já para o seu quarto e só saia de lá quando eu disser que deve! – Draco poderia visualizar o rosto muito vermelho de Rony, apesar da pouca luz não permitir. O bando deu meia-volta, resmungando palavras de revolta e injustiça. – Você também, Gui. Desça e cuide para que eles não se aproximem do sótão.

- Certo. – concordou relutante. Lançou um último olhar de esguelha para Draco e caminhou em direção à porta. – Mas se precisar de algo, estarei atento.

Quando a porta se fechou atrás de Gui, Draco teve a desagradável sensação de que a sra Weasley o fritaria em óleo quente e serviria com whisky-de-fogo ao sr Weasley.

- Pois bem, menino... – começou a matriarca, no mesmo tom grave de antes. – O que fazia aqui na Toca?

- Eu... bem... é uma longa história, sra Weasley. – sentiu o ar lhe faltar e percebeu que agora não era por causa da maldição que Snape lhe lançara e sim pelo nervoso.

- Tenho muito tempo para escutar o que tem a me dizer, antes de mandá-lo à Azkaban. – fitou os olhos assustados de Draco e involuntariamente suavizou a expressão; como poderia um menino tão jovem acabar com sua vida dessa maneira? Fez um floreio com a varinha e livrou Draco parcialmente das cordas conjuradas por Moody, permitindo-o se sentar.

As amarras haviam deixado seu corpo todo marcado, Draco podia sentir os relevos enquanto tateava com a ponta dos dedos das mãos ainda presas. Sentiu os olhos se inundarem de lágrimas, tamanha era a vergonha e o medo do que lhe aconteceria. Sentou-se vagarosamente, os músculos de todo o seu corpo doíam como se tivessem sido moídos.

- Acredito que esteja com fome? – perguntou a sra Weasley de súbito, olhando um pouco penalizada para a figura de Draco lutando para manter-se sentado. Não esperou que ele respondesse, apenas fez um sinal para seu marido e encaminhou-se para a porta. – Irei preparar algo para matar a sua fome, mas quando eu voltar, conversaremos, rapazinho.

Não sabia se agradecia pela hospitalidade da Weasley gorducha ou se temia algum tipo de envenenamento. Sentiu os olhos do sr Weasley pousarem sobre si e fitou-o, temeroso.

- Sei que acreditam que eu sou um criminoso, mas... – começou, sendo cortado friamente pelo homem ruivo que tinha os olhos atentos em sua direção, como se esperasse por um provável ataque vindo de Draco. Isso deveria ser resultado da convivência com Moody.

- Não sou eu quem deverá julgá-lo, sr Malfoy, mas sim a lei. – disse, ainda o olhando fixamente. Ele tinha no olhar algo mais do que um simples receio. Parecia ter um grande asco por Draco. – Um dos meus filhos por pouco poderia não estar mais aqui, graças aos comensais que você colocou naquele castelo. Me diga, o que a morte de outras pessoas significa para você? Nada?

Engoliu em seco, imaginando que qualquer que fosse sua resposta, ela obviamente seria interpretada de outra maneira, o prejudicando ainda mais. Resolveu então manter-se calado até o retorno da sra Weasley, que parecia mais maleável à sua presença.

- Gui estava com casamento marcado, tinha uma boa profissão e um belo futuro pela frente, mas por muito pouco tudo não veio abaixo e eu me pergunto agora se isso faria alguma diferença para você... – seu tom era uma mistura de profunda mágoa e revolta. – Sei que você nunca precisou mover uma palha para que tivesse seus desejos prontamente atendidos pelo seu pai, mas meu filho é um homem de grande valor, que lutou bravamente para conquistar aquilo que tem hoje em dia e provavelmente você não deve saber o significado dessas palavras. Me diga, menino Malfoy, faria alguma diferença para você que seus planos de infiltrar comensais no castelo de Hogwarts poderia ter acabado definitivamente com a vida de meu filho?

Continuou calado, desviando os olhos do homem à sua frente, que o fitava cada vez com mais raiva em seu olhar. Draco nunca havia pensado realmente no que aconteceria aos outros alunos quando conseguisse colocar os comensais no castelo, apenas queria levar adiante sua missão e salvar o pouco que restava de sua família.

Não imaginou que os membros da tal Ordem entrariam em conflito com os comensais, apesar de isso ser algo óbvio, mas Draco apenas queria poder livrar-se da carga jogada em suas costas. Evitava fazer qualquer tipo de especulação, fossem elas quais fossem, pois isso atrapalharia seus planos.

- Será que não faria diferença para você saber que seus colegas de escola estariam em grande perigo com a entrada dos comensais? Ou você jamais pensou nessa possibilidade? – o sr Weasley agachou-se no chão, obrigando Draco a encará-lo nos olhos, que lutava para manter-se indiferente, mas já sentindo os olhos marejarem de raiva e frustração. Sufocou a vontade que tinha de chorar, engolindo tudo o que queria dizer naquele momento em sua defesa.

- Arthur... – chamou a voz da sra Weasley, vinda da porta. – Controle-se, por favor. Você ouviu o que Harry disse, ele não sabia da participação de Fenrir Greyback.

Ele havia escutado direito? Harry? Como Harry Potter poderia saber algo do tipo? Será que era a ele que Snape se referira quando disse que havia mais alguém naquela torre? Agora as peças começavam a se encaixar, lembrou-se da segunda vassoura que havia lá em cima. Um sentimento de raiva crescente se apoderou de Draco quando ele constatou que o famoso heroizinho estava escondido, apenas assistindo a tudo, enquando a sua vida se desgraçava.

Se era verdade que o destemido Harry Potter havia enfrentado tantas vezes Voldemort em pessoa, só podia ser por vingança que deixara a situação chegar a esse ponto para Draco. Ele poderia tê-lo ajudado se quisesse, interferindo à seu favor quando chegaram os outros comensais, que tentaram obrigá-lo a matar Dumbledore. Mas ao invés disso preferiu manter-se nas sombras, aguardando em silêncio que Dumbledore se safasse sozinho, ainda que desarmado.

Sentiu o sangue subir-lhe à face, provavelmente a essas horas, Harry estaria comemorando a apreensão de Draco e certamente iria a seu julgamento, isso se ele conseguisse manter-se vivo até lá. E toda aquela admiração que Harry dizia sentir por Dumbledore? Não fez nada para evitar sua morte. E era esse monte de lixo que todos acreditavam ser o Escolhido? Estava tão envolto em sua densa névoa de ódio que Draco não percebeu que o sr e a sra Weasley o olhavam com atenção, esperando talvez por resposta a alguma pergunta que ele não escutara.

- Sim? – perguntou, incerto. Olhou para a sra Weasley com mais atenção e notou que ela segurava nas mãos um pequeno sanduíche, do que parecia ser carne enlatada, pelo cheiro desagradável. Draco não fez questão de comentar a respeito, estava com um imenso buraco no estômago de tanta fome que sentia e quando o sr Weasley desamarrou suas mãos ele agarrou o sanduíche com dedos trêmulos, levando-o à boca prontamente.

A sra Weasley desviou o olhar ao ver Draco comendo o simplório sanduíche com tanta selvajeria e supôs que ele provavelmente não comia desde o acontecido em Hogwarts. Tentou ocultar a expressão de pena que tinha no rosto.

- Acho que já estamos prontos para esclarecer alguns fatos, menino Malfoy... – disse a sra Weasley quando viu que ele havia terminado seu lanche. Draco sentiu algo pesar em seu estômago, tendo certeza de que o causador não havia sido o sanduíche. Ajeitou-se da melhor maneira que pôde e encarou o rosto rechonchudo da sra Weasley.

Receoso, começou a narrar tudo o que acontecera desde que Voldemort o havia procurado, entregando-lhe uma missão cujo real intuito era de se vingar de Lúcio, fazendo com que Draco morresse na tentativa. Ele contou que Voldemort havia prometido matar sua mãe, assim como à Draco, se a missão falhasse.

Contou como trabalhou sério para que nada saísse errado, temendo a cada dia a morte de Narcisa, provocando uma expressão de inconfundível desagrado por parte do sr Weasley. Falou sobre tudo, entrando em detalhes desnecessários, mas como Snape dissera, deveria contar-lhes da maneira que havia acontecido.

Narrou sobre como infiltrou os comensais dentro da escola de magia e finalmente sobre o episódio na Torre de Astronomia, que culminou na morte de Dumbledore. A seguir, a parte mais difícil, em que teria de relembrar a violenta e precoce morte de Narcisa.

Aos poucos, a sra Weasley vinha dando sinais de que estava penalizada com a situação do jovem Malfoy, principalmente quando este mencionou sobre sua enfermidade. Draco estava debilitado graças à maldição que Snape lhe lançara, ao tentar salvá-lo de Voldemort.

- E o que se deve fazer em tal caso? – espantou-se a sra Weasley, não comentando sobre Snape, já que Draco lhe dissera que ele havia ajudado-o graças ao Voto Inquebrável que fizera com sua mãe. – Por Deus, Arthur, nunca ouvi falar de algo parecido! Teremos que procurar por ajuda, não podemos deixar esse menino morrer sem socorro!

- Eu não entendo, Molly... – meneou a cabeça para os lados, como se para tentar compreendê-la. – Esse jovem é um maldito comensal e você está querendo ajudá-lo. Está querendo salvar a vida do responsável pela situação atual de Gui? Quando me lembro das cicatrizes tenho ainda mais vontade de vê-lo em uma cela de Azkaban!

- Eu não acredito que ele esteja tentando nos enganar, lembre-se do que Harry disse sobre o que ouviu na torre. – Draco sentiu o sangue ferver novamente à menção do nome do grifinório. A sra Weasley pareceu pensar por um instante, antes de continuar. – E ainda há a possibilidade de usarmos Veritasserum para tirar essa história a limpo.

- Caia em si, mulher! – Arthur explodiu, os olhos refletindo a cor dos cabelos. – Você enlouqueceu de vez? Abrigar dentro da nossa própria casa o filho de um dos mais perigosos comensais que já existiram? Isso sem contar o fato de que ele foi o causador de toda aquela tragédia em Hogwarts! Você não acha que as crianças já correm perigo o suficiente com todos esses abutres lá fora? Quer colocar um deles debaixo do nosso próprio teto?

- Arthur, eu jamais colocaria em risco a segurança dessas crianças e você melhor do que ninguém sabe muito bem disso! – a senhora Weasley cuspiu tudo de uma vez, sem respirar, irritada por seu marido ter sugerido que ela não estava suficientemente preocupada com a segurança dos jovens. – Eu conheço o perigo quando me deparo com um! Esse menino está precisando da nossa ajuda e nós vamos ajudá-lo, como era da vontade de Dumbledore!

Draco estava se sentindo muito incomodado com as amarras ainda em suas pernas e parte dos braços, impossibilitanto-o de se movimentar livremente. Mas o que mais o incomodava naquele momento era estar ali, como se fosse um mero coadjuvante em sua própria história.

O sr e a sra Weasley continuavam discutindo sobre o que fazer com ele e nem se davam ao trabalho de incluí-lo na discussão. Não sabia exatamente o que dizer para convencer o patriarca de que ele era inofensivo, que sua sobrevivência dependia da ajuda dos Weasleys, mas ficar ali parado apenas assistindo estava se tornando tão cansativo quanto pensar em algo convincente.

Fechou os olhos em exaustão, seu estômago clamando por mais comida, já que o pequeno sanduíche não havia nem de longe saciado sua fome. Duas leves pancadas vindas da porta tiraram-no de seus pensamentos. O contorno de uma cabeça apareceu pela fresta, ocultando parte do corpo.

- Com licença, sr Weasley... – disse a figura olhando para o patriarca, tão entretido na discussão com a esposa que não percebeu sua presença. Draco reconheceria aquela voz em qualquer lugar, mesmo que se passassem mil anos. Sentiu suas entranhas se revirarem de ódio. – Poderia ter uma palavrinha com vocês dois? – o sr Weasley olhou-o desconfiado e Harry acrescentou depressa. – Bem, é só um minuto, não vou me demorar, prometo.

- Entre, Harry, acho que você é a pessoa mais indicada para falar com Arthur, eu suponho. – a sra Weasley lançou-lhe um olhar agradecido, em seguida voltando seus olhos ferozes para o marido. – Eu estarei lá embaixo, preparando uma refeição descente para esse menino. – completou rispidamente ante o olhar incrédulo do sr Weasley.

- Sr Weasley... – começou Harry, incerto. – Hum... eu não sei exatamente o que me trouxe até aqui mas...

- Eu sei bem o que lhe trouxe até aqui, Harry. – cortou-o com delicadeza. – Seu coração benevolente tem total controle sobre suas ações, logo, você não poderia deixar de vir prestar socorro quando alguém parece estar precisando dele. – sorriu e em seguida continuou, fitando-o compreensivo. – Mas como já vimos antes, nem sempre seu coração lhe mostra o caminho certo para tomar, a vida tem sido por demais traiçoeira com você, Harry, aproveitando-se de seu instinto heróico.

- Eu não estou tentando me tornar nenhum tipo de herói, sr Weasley! – a voz de Harry se exaltou um pouco, mas sua próxima frase veio em um tom mais calmo. – Eu apenas vim fazer aquilo que julgo ser o certo. Sei o que ouvi naquela torre e estou confiante de que Malfoy está precisando de nossa ajuda. – Harry fitou Draco pela primeira vez desde que entrara no sótão, fazendo com que este desviasse o olhar para os pés, num misto de raiva e vergonha. – Dumbledore ofereceu-lhe ajuda caso ele deixasse o lado negro, viu que ele não teve outra opção! Eu o vi abaixar a varinha, sr Weasley. Tenho certeza de que se Dumbledore estivesse aqui, jamais permitiria que nós mandássemos Malfoy para Azkaban.

O que o sr Weasley iria dizer morreu em sua boca, porque no minuto seguinte um corpo tremia convulsivamente no chão, a mão parcialmente livre agarrando a garganta, como se para livrá-lo de uma forte dor. E em poucos segundos, Draco viu tudo se perder na escuridão daquele sótão.


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N/A: E então, como estamos? Espero que estejam curtindo a fic e que não tenham ficado decepcionados por ser Harry (e não Gina) o “alguém” que decidiu defender Draco.

Pobre Harry, sai em defesa de Draco e ele ainda o culpa por ter estado “escondido” enquanto Dumbledore batia as botas. Tsc-tsc... loirinho malvado!

Bem... aguardo reviews galerinha... não sejam tímidos, joguem seus tomates!!!

Com carinho,

Mila Fawkes.

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