A dor da morte
Capítulo 2 - A dor da morte
Uma voz familiar pronunciou seu nome. A voz estava distante, quase não podia ouví-la. A primeira coisa que sentiu quando abriu os olhos, foi dor. Uma dor intensa, que corria por todos os seus ossos e músculos. E um gosto de sangue misturado com algo que ele não conseguia identificar.
- Levante-se. – a voz que ele ouviu era a de Snape. Porém não tinha mais aquela frieza de quando ele lhe lançou a maldição na frente de Voldemort. Mas como poderia? Estava vivo então? – Vamos, Draco. Levante-se.
- Mas o que... o que aconteceu? – perguntou rouco, sentindo a garganta se fechar e tossindo desenfreadamente. Sua boca estava seca e Draco quase não sentia a língua, apenas o gosto forte de sangue. Aos poucos sua visão foi clareando, a escuridão se dissipando até que ele pôde ver o rosto de Snape o fitando com um semblante preocupado. Tentou levantar o corpo, mas ele não parecia querer obedecer. Deixou a cabeça pender para o lado e cuspiu o sangue que estava acumulado em sua boca.
Bem como sua visão, os acontecimentos recentes foram voltando aos poucos, para o desespero de Draco. O ódio nos olhos de Snape, o sorriso doentio de Voldemort, o jato de luz verde vindo em sua direção... e o nada. Sentiu o estômago embrulhar enquanto tentava desesperadamente se sentar, seus braços tremiam como nunca, dificultando todo o processo.
- Sei o que está pensando. – Snape falou, entregando um copo com água para Draco que, fazendo um enorme esforço, o bebeu com urgência. – Foi necessário, eu não tive escolha. Voldemort o mataria se eu não tivesse me prontificado à fazê-lo em seu lugar.
- Claro! E pra me salvar daquele cara-de-cobra, ao invés de lançar um feitiço nele, você lança um Avada em mim. – Draco tentava parecer ameaçador com seu dedo trêmulo em riste, mas tudo o que conseguiu parecer foi uma criança mimada e desesperada, o que não estava longe da verdade. Sua voz ainda estava rouca, mas já conseguia falar sem tossir. – Genial! Quer aplausos? Eu adoraria fazê-lo, mas eu não consigo controlar as minhas malditas mãos!
Snape não respondeu à provocação do ex-aluno e estendeu a mão ajudando-o a se levantar, mas Draco não conseguia manter-se de pé.
- Vamos, garoto! Você tem que ir embora daqui! – o ex-professor apressou-o. Como num estalo, Draco se lembrou de algo. Seu estômago revirou mais algumas vezes enquanto um rosto desfigurado gritava em sua mente.
- Cadê minha mãe? – perguntou em tom urgente, ignorando os apelos de Snape.
- Você precisa sair imediatamente dos arredores da sede ou Voldemort poderá sentir sua presença. – Snape preferiu ignorá-lo também.
- Cadê a minha mãe? O que aquele desgraçado fez com ela? – o desespero aumentou. – Eu não vou sair daqui sem Narcisa! – ele gritou o mais alto que pôde com sua voz falha.
Snape olhou-o friamente e o sangue de Draco gelou. Não podia estar acontecendo tudo isso com ele.
- Narcisa está morta. – Snape disse simplesmente. Draco olhava para o homem à sua frente sem conseguir esboçar qualquer reação. Ele fechou os olhos, tentando apagar as imagens de sua mãe da memória. Narcisa estava morta e a culpa era dele. Toda dele. – Vamos embora daqui.
Draco deixou-se levar pelo ex-professor, não tinha forças para tentar se livrar. E enquanto seguia apoiado no ombro de Snape para fora daquela sede imunda, a morte de sua mãe não saía de sua cabeça.
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Depois de algum tempo andando, sem parar para descansar nem por um momento, Snape puxou a varinha de suas vestes e murmurou um feitiço para que Draco fosse carregado por uma maca flutuante. De certo já tinham saído dos domínios de Lord Voldemort e poderiam usar magia novamente.
Eles pararam em frente a um enorme salgueiro, perdido no meio da floresta. Devia ser muito antigo, a julgar pelo tamanho de seu tronco. Bateu com a varinha na árvore, em uma sequência rápida. Um buraco pequeno, que Draco não havia notado, se alargou em seguida revelando uma abertura suficientemente grande para um homem de porte médio passar.
Snape adiantou-se para dentro e puxou Draco, que ainda estava na maca, deixando-o em um canto afastado. Aquele era um esconderijo subterrâneo. Nas paredes haviam muitas prateleiras cheias de frascos e vidros com aparência medonha. O bruxo pegou alguns deles e misturou-os, colocando o conteúdo no pequeno caldeirão sobre o fogo já aceso.
- Aqui, tome isso. Vai se sentir melhor. – Snape entregou-lhe uma poção, que borbulhava incessantemente e tinha um cheiro suspeito.
- Como eu vou saber se não é veneno? – perguntou em tom amargo, deixando transparecer toda a sua repulsa pelo ex-professor.
- Se eu quisesse vê-lo morto, teria deixado Voldemort cuidar de você. – Snape suspirou cansado, já parecendo prever as cenas que Draco faria. – Ora vamos, Draco, não seja tolo! Você precisa tomar essa poção, senão poderá realmente morrer! Ela lhe dará algum tempo para chegar até a ajuda e lá você poderá se tratar. Pensa que só porque está vivo, a maldição que eu lancei em você não lhe fará mal nenhum? Pois está enganado.
- Mas o que foi que aconteceu comigo? Porque eu ainda estou vivo? Você me lançou uma maldição de morte, então seria lógico que a essas horas eu estivesse morto! – ele gritou tudo de uma vez só, sentindo o sangue subir-lhe à garganta novamente. Cuspiu mais uma vez o líquido vermelho, para o desespero do ex-professor.
- Engula a porcaria da poção! – Snape gritou também, perdendo a paciência. Draco resolveu obedecê-lo, afinal, se Snape quisesse mesmo matá-lo já o teria feito. Isso era fato.
Virou o conteúdo alaranjado do frasco rapidamente, sentindo a garganta queimar. Em seguida uma dor terrível se apoderou de seu corpo e Draco teve certeza de que estava sendo envenenado. Ele era mesmo um tolo.
- Maldito! – berrou com as mãos na garganta, tentando em vão fazer com que aquela dor cessasse. Snape apenas o fitava com indiferença. Aos poucos a dor foi passando e ele sentiu um formigamento estranho no peito, que subia por seu pescoço. Quis gritar, mas tudo o que saiu de sua boca foi uma mistura de sangue coagulado e saliva, que ele cuspiu imediatamente.
Logo depois, Draco conseguiu respirar sem dor e percebeu que estava em condições de se levantar. Receoso, colocou um dos pés pra fora da maca conjurada por Snape e prostrou-se diante do bruxo, que o observava atento.
- Não se deixe enganar por essa sensação de bem-estar. Você está muito ferido e tudo o que eu fiz foi retardar a sua dor. Quando encontrar a ajuda, certifique-se de que vai receber o tratamento adequado à pessoas na sua... atual situação.
Draco ponderou sobre o que deveria dizer a Snape. Ele não o matou, mas isso não significava que poderia confiar nele. Dumbledore confiava plenamente em Snape e provavelmente, à essas horas, devia estar sendo preparado para o próprio enterro. Narcisa também confiava nele e...
Mais uma vez a imagem de sua mãe caída no chão, rodeada por sangue passou por sua mente. Lutou com todas as forças para livrar-se dela, precisava manter-se controlado para poder agir com cautela e sensatez. Mas os gritos ainda estavam ecoando por todos os lados e a dor... sentiu na pele a dor da quase morte, mas a dor da morte de sua mãe era insuportável. Forçou-se a pensar no que deveria fazer, antes que não tivesse mais condições de raciocinar.
- Em primeiro lugar, que maldita ajuda é essa? – perguntou calmamente.
- Você saberá mais tarde, Draco. Eu preciso pensar mais sobre o assunto para poder lhe dizer o que fazer.
- Como assim mais tarde? Eu quero saber agora e... – o loiro se exaltou e o ex-professor levantou uma das mãos, sinalizando para que ele se calasse. Draco abaixou o tom de voz quando continuou. – Certo... em segundo, qual é o meu maldito estado? – perguntou aborrecido por não obter resposta alguma à sua primeira pergunta.
- Como bem sabe, eu proferi uma maldição de morte em você. Calculei a intensidade necessária para que você apenas parecesse morto aos olhos de Voldemort. – Snape parecia incomodado. – Porém é algo muito incomum de se fazer e eu... desconheço as consequências que isso acarreta.
Draco acomodou-se na cadeira em frente a mesa de trabalho de Snape. Não sabia ao certo o que dizer, nem o que perguntar. Sua mente estava fervilhando de dúvidas e pensamentos confusos.
- Não, não é a mesma coisa que aconteceu com Potter, se é o que quer saber. A situação é completamente diferente. Você recebeu o impacto total do feitiço sem nenhuma proteção, apesar de não ter sido forte o suficiente para matá-lo.
- Entendo...
“Deixe todo o ódio que existe em você fluir em suas veias, meu filho. A Arte das Trevas é como se fosse uma grande engrenagem e sem esses sentimentos a maldição não funciona da maneira desejada. O ódio é essencial.” – de repente as palavras de seu pai surgiram em sua mente. Era uma lembrança tão distante agora.
Do fundo de seu desespero, a única coisa que Draco sabia, era que precisava manter-se vivo para vingar-se de Voldemort. Faria com que ele pagasse por toda a dor causada à sua mãe, bem como pela morte dela.
- O que eu devo fazer agora? – perguntou com a voz fria e em um falso tom controlado.
Snape pareceu analizar a situação por uns instantes, mas logo respondeu.
- Você precisa verificar o seu grau de enfermidade e em seguida se prourar o tratamento adequado. Vou enfeitiçar uma vassoura para que chegue até a ajuda. – o bruxo colocou uma das mãos no ombro do jovem e continuou. – Mas antes de você partir, eu preciso lhe esclarecer certas coisas, Draco.
- Certo. – o loiro assentiu, incomodado com a mão de Snape em seu ombro. – Comece então.
Snape observou Draco por um instante, parecia estar lutando contra algo em seu interior, era visível o seu desagrado ao ter que tocar nesse assunto.
- Eu sou um espião. – disse sem rodeios, esperando uma reação agressiva vinda do ex-aluno. Mas Draco apenas riu amargo.
- Isso eu já sei, me conte alguma novidade! – ele observou a feição de Snape se contorcer e logo tudo se esclareceu em sua mente. Levantou-se rapidamente, afastando-se do bruxo, que o olhava apreensivo. – Você... você é o traidor! – seu tom não era de acusação, mas sim de choque e surpresa.
Por todo esse tempo, ele sabia que havia um espião de Dumbledore entre eles, mas nunca imaginou que fosse Snape, um dos melhores Comensais de Voldemort. Afinal, ele estava em Hogwarts justamente para espionar os planos do velho caduco.
A lembrança da recente morte do diretor fez com que tudo girasse e se perdesse à sua volta. Entrou em pânico ao constatar que poderia ser pego enquanto procurava a tal ajuda. Seria mandando direto para Azkaban, não havia dúvidas. O medo crescia enquanto passavam por sua cabeça as possibilidades de ir para o mesmo lugar onde seu pai estava. A voz de Snape tirou-o de seus pensamentos, trazendo-o de volta à realidade.
- Sim, sou eu. – Draco estava confuso, se Snape estava do lado de Dumbledore, então porque o matou? O ex-professor tinha uma sombra em seus olhos quando interrompeu suas reflexões novamente. – Foi necessário.
- Pare de me dizer que “foi necessário”! E pare de ler a minha maldita mente! – o loiro sibilou.
- Então a mantenha fora de meu alcance. – Snape sorriu tristemente antes de continuar. – Dumbledore... era como um pai para mim. – disse como se tirasse um peso de suas costas.
Draco desviou os olhos, incomodado com a visão de um Snape sentimental, que ele não conhecia até então.
- Se isso é mesmo verdade, como teve coragem? – procurava escolher bem as palavras, essa era realmente uma situação estranha entre os dois. Sempre foram cúmplices durante os anos em Hogwarts, porém conversas que envolvessem emoções eram sempre deixadas de lado, já que nenhum dos dois sabia lidar muito bem com sentimentos. – Dumbledore implorou por sua misericórdia antes de morrer.
- Está enganado. Um bruxo como ele jamais faria tal coisa. – Snape parecia ligeiramente ofendido, como se a menção da covardia de Dumbledore perante à morte certa fosse algo inaceitável.
- Mas eu o ouvi, eu estava lá! Ele pediu...
- Ele pediu para que eu fizesse aquilo que deveria ser feito. – deu o assunto por encerrado, virando-se para a mesa de trabalho. – E isso é um assunto que somente diz respeito à mim e à Dumbledore.
- Que está morto! – Draco não pôde evitar de completar, mas em seguida se arrependeu. Sabia bem a dor que a perda de um ente querido causava, apesar de não estar realmente certo sobre o que Dumbledore significava para o ex-professor. Snape encarou-o com olhos frios.
- Como era de sua vontade. É a única coisa que posso lhe dizer. Você não compreenderia. Isso vai muito além dos deveres de pai e filho, que infelizmente são os únicos que você conhece.
Ficaram ali por algum tempo, Draco observava calado enquanto Snape, compenetrado, preparava algo no caldeirão. Em seguida, ele entregou dois frascos com poções para o loiro, que guardou-as nos bolsos das vestes.
- Durante a viagem o efeito da poção que lhe dei passará e será necessário tomar mais um vidro. Não estou certo de que apenas dois sejam suficientes, portanto não desvie o curso programado da vassoura e não pare por motivo algum. – lançou-lhe um olhar severo. – Entendido?
- Sim senhor... – respondeu azedo, irritado por ter que obedecer Snape. – Pode me dizer agora aonde eu devo procurar ajuda?
- Creio que já deve ter ouvido falar... d’A Toca. – Snape sorriu internamente, analisando a ironia da situação de seu protegido. Tantos anos de repulsa pelos Weasleys e agora o único lugar que Draco poderia conseguir ajuda era na casa deles.
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N/A: O começo é assim meio dramático porque eu queria fazer a minha versão sobre os acontecimentos do sexto livro e convenhamos, não haveria clima para romance assim que Draco saísse de Hogwarts, depois da morte de Dumbledore, não é? Mas quem curte D/G é só acompanhar a fic, prometo que vai rolar 'algum' action, rs... talvez lá pelo final. XX
Esse é um momento de transição na vida dele, acredito que com todo esse sofrimento ele tende a encarar a vida de uma perspectiva diferente e passará a enxergar o mundo com outros olhos. Mas claro, nunca deixando de lado a “essência Malfoy”.
Bom, a fic já conta com 13 capítulos e eu estou me dedicando ao 14 no momento... me deixem reviews, please, afinal, esse é o alimento das autoras!
Com carinho,
Mila Fawkes.
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