A morte de Draco



Capítulo 1 - A morte de Draco

A noite estava fria e o cheiro de sangue e morte pairava no ar. Draco podia sentí-lo impregnado em suas narinas, enquanto caminhava aos tropeços para longe do castelo de Hogwarts. Olhou mais uma vez para trás, procurando encontrar algum indício de que tudo não passara de um sonho ruim. Mas de novo seus olhos encontraram os homens mascarados de longas capas pretas à seguirem-no pela floresta.

- Ai! – Draco gritou, se desequilibrando e torcendo o pé ao ser brutalmente empurrado por Snape.

- Cale a boca e entre de uma vez. – o ex-professor de poções estava com uma expressão ilegível, seus olhos frios fixados em Draco. – Não podemos perder tempo.

Apesar da dor aguda em seu tornozelo, obedeceu sem pestanejar entrando pela passagem precária da caverna, ainda segurando a Mão da Glória. Estava atordoado com a cena na torre de Astronomia. Nunca imaginou que a morte de Dumbledore pudesse afetá-lo de tal maneira.

Não sabia como estava se sentindo. Seus sentimentos variavam entre desespero – por ter fracassado na missão – e alívio – por não ter sido tecnicamente o assassino do diretor. A única coisa que sabia era que Voldemort o castigaria. E também à sua mãe.

Seu pai jamais o perdoaria por ter desonrado o nome da família Malfoy. Draco era um covarde sem atitude, que passava horas se lamentando no banheiro feminino para o fantasma de uma menina sangue-ruim. Se Lucio soubesse disso, provavelmente o deserdaria. Não que isso tivesse muita importância agora, já que em pouco tempo estaria morto.

Tudo estava indo como o planejado, os Comensais estavam dentro de Hogwarts graças à sua singular esperteza. Só não conseguia entender porque não pôde simplesmente matar o maldito diretor. Sua situação seria totalmente diferente se tivesse ido até o final. A essas horas estaria com o seu melhor sorriso estampado no rosto, esperando ansiosamente pelas glórias que receberia.

Seu estômago afundou quando lembrou das palavras de Dumbledore: “Você não é um assassino, Draco.” Como poderia saber? Ele era apenas um velho caduco, que tinha uma mania idiota de meter o enorme nariz pontudo naquilo que não lhe dizia respeito. Draco odiava o olhar que ele lançava por detrás daqueles ridículos oclinhos de meia-lua. Era quase como se sentir transparente.

Lembrar do olhar de Dumbledore instantes antes de sua morte também não ajudava em sua tentativa de se manter calmo. Em momento algum ele pareceu temer a morte e em seus olhos azuis havia apenas cansaço e tristeza. Como um velho desarmado e ferido, que não conseguia nem se manter em pé, poderia aparentar tamanha tranquilidade?

Draco não pôde evitar de sentir uma certa admiração pelo diretor. Se fosse ele no lugar de Dumbledore, com certeza teria desabado em prantos, implorando por sua vida miserável. Também não pôde evitar de sentir um certo nojo de sua pessoa, a visão de si mesmo implorando algo era deplorável.

Snape andava à passos largos, sempre com a varinha em punho. Eles caminharam por um bom tempo, passando por pedaços de difícil acesso, onde raízes grossas pendiam pelo teto baixo e frequentemente gotas geladas caíam sobre suas cabeças.

Estava cansado de tanto andar, seus olhos já estavam pesados e apesar de saber que em breve enfrentaria o pior pesadelo de sua vida, não conseguia afastar de sua mente o desejo secreto de que tudo aquilo não passasse de um sonho ruim e que ao abrir os olhos, se encontraria em sua cama quentinha na mansão Malfoy. Continuaram andando até que o líder dos Comensais estacou diante de outra passagem. Snape virou-se para Draco e gesticulou para que entrasse.

Mais uma vez obedeceu, o tornozelo latejando enquanto descia alguns degraus se esgueirando pelas laterais, ao mesmo tempo em que tentava não deixar a Mão da Glória se espatifar no chão. Olhou para trás onde havia deixado Snape e os outros comensais e uma luz verde lampejou nas paredes. Seguida de outra. E mais outras.

Draco sabia o que era e tentou se esconder sentando sobre os degraus. Completamente inútil, já que não havia nada ali que pudesse o proteger. Apanhou imediatamente a varinha em seu bolso, segurando-a firme. Sentiu o coração chegar à garganta por diversas vezes, enquanto ouvia gritos e o som de corpos sendo arremessados para longe. Quando o barulho finalmente cessou, reconheceu a figura mórbida de Snape apontando a varinha em sua direção no topo da escada.

- Mas o que...? – iria perguntar algo mas logo sentiu seu tornozelo machucado ficar dormente e em seguida parar de doer. – Professor Snape, o que foi que...

- Foi necessário. – Snape respondeu, desviando o olhar. – Está melhor? – perguntou, mudando de assunto, se referindo ao tornozelo de Draco que ele havia curado com o feitiço.

- Mas...

- Cale a boca, Draco. Apenas me escute. – olhando mais atentamente para o ex-professor, ele pôde constatar que seu rosto estava contorcido numa expressão de dor. – Voldemort irá matá-lo se descobrir que você não foi até o final. Eu sei que você tem alguma noção de Oclumência, sua tia Bellatrix fez um bom trabalho lhe ensinando, mas não será suficiente para bloquear a entrada de Voldemort pois você está demasiado enfraquecido. Não tente esconder que não teve coragem de cumprir a missão, apenas faça com que ele não descubra sobre a sua conversa com Dumbledore. Eu pensarei em algo. – Draco ignorou a parte em que Snape lhe acusava de ser covarde, estava cansado demais para se prender a detalhes e rapidamente assentiu com a cabeça.

- Eu não quero morrer... – confidenciou, a voz falhando em sua garganta. Snape tentou dissimular o receio que sentia, falhando miseravelmente. Draco fechou os olhos, apertando-os com força. E mais uma vez sentiu o estômago afundar, quando a imagem de sua mãe surgiu em seus pensamentos. – E a minha mãe, o que acontecerá com ela?

- Não sei. Apenas seja forte, que eu cuidarei para que continue vivo. Quanto ao resto, não há nada que eu possa fazer. – disse por fim, estendendo uma mão para que Draco se levantasse.


--------------------------------------------------------------------------------


Quando chegaram à sede, Voldemort estava sentado à frente da lareira, acariciando a cabeça de Nagini, como se fosse um dócil bichinho de estimação.

- Boas notícias, espero... – ele virou sua face sem nariz para Draco. O menino conteve uma exclamação de terror ao fitar aqueles olhos de serpente.

- Sim, Milorde, Dumbledore está morto. – a voz de Snape não parecia carregada de emoção alguma, assim como seu rosto.

Voldemort riu com gosto. Draco observava as vestes do meio-humano à sua frente chacoalharem com as gargalhadas. Gargalhadas amargas, frias e sem emoção. Era um ser bizarro, ele não pôde deixar de pensar.

- Porém, – continuou o ex-professor, ao mesmo tempo em que Voldemort lhe lançava um olhar indagativo – sinto lhe dizer, Milorde, mas perdemos alguns dos nossos na batalha.

Houve um momento de silêncio e Draco imaginou que Voldemort fosse ter algum tipo de reação violenta ao saber da perda de alguns de seus leais servos. Mas o que se seguiu foi apenas um lamúrio fraco, relacionado à falta de competência de seus comensais.

- Jamais me deparei com tamanha incompetência. A cada dia mais e mais comensais são apanhados, é preciso vasculhar o mundo mágico em busca de bruxos aptos à seguirem meus comandos. – de repente, Draco sentiu os olhos de Voldemort pousarem sobre si. – Mas então, vejo que o subestimei garoto. – o Lord das Trevas não afirmava, isso era uma pergunta e Draco não saberia como respondê-la. Não teria coragem de admitir que falhara na missão.

- Milorde... – Snape fez menção de responder por Draco, mas Voldemort o impediu com um gesto de mão.

Draco sentia seu corpo e mente fracos, como se pudesse ser derrubado por uma simples brisa. Não possuía forças para impedir Voldemort de entrar em sua mente. Uma névoa cinzenta passou por seus olhos enquanto ele tentava esconder o pânico que sentiu na Torre de Astronomia. As palavras de Dumbledore ecoavam em seu pensamento sem que ele pudesse contê-las.

- Você não merece a honra de servir à Lord Voldemort. – a voz sibilante ecoou pela sala silenciosa. – Eu deveria saber. Tal pai, tal filho. O fracasso é herança de família? – Draco olhou para Voldemort, a raiva começando a aflorar em sua pele. Porém o medo era maior e ele continuou escutando as ofensas calado. – Mais um Malfoy que me decepciona... Crucio!

A dor que sentiu foi a de dezenas de facas o cortando por dentro. Não podia respirar, seu pulmão parecia ter sido fatiado em mil pedaços. Tudo dentro dele parecia estar sendo estraçalhado. E seus gritos desesperados não fizeram seu mestre sentir pena. A dor foi embora, mas pouco tempo depois voltou com mais intensidade.

Procurou pelos olhos negros de Snape e tudo o que encontrou foi uma aparente indiferença. Sentiu ódio. E dor. E a dor e o ódio se intercalavam, até que seus sentidos estavam quase mortos. Voldemort levantou a varinha no momento em que a Narcisa adentrou a sala.

- Milorde! Eu lhe imploro misericórdia! Por favor, Milorde! – ela se curvou perante os pés de Voldemort, segurando-lhe a ponta das vestes, deixando de lado toda a pose que manteve desde que se entendera por gente. – Deixe-o viver, mestre! – pediu num sussurro, já aos prantos.

O bruxo fitou Narcisa com um sorriso maquiavélico. Draco não imaginava o quanto Lord Voldemort poderia ser cruel.

- Com esses gritinhos fracos você não serve nem pra me divertir, moleque! – deu um sorriso com sua imitação de boca. – Agora vejamos... creio que seria mais proveitoso utilizar as maldições em sua mãe. Isso o faria pagar por ter falhado em sua missão. – ele olhou divertido para o homem que assistia a cena do canto da sala, ignorando o olhar de pavor que Draco lhe lançara. – Rabicho, meu caro, a cada dia que passa a minha crueldade se torna mais criativa. Tortura é uma arte, portanto aprenda a apreciá-la com o Mestre.

Draco tentou levantar-se mas foi inútil. Observou Voldemort apontar a varinha na direção de sua mãe e fazê-la cair no chão, rogando por piedade entre os gemidos de dor.

- Pare! – gritou cuspindo sangue. Estava com os olhos cinzentos fixos em Voldemort, a ira crescendo cada vez mais em seu peito. Num assomo de raiva, Draco gritou reunindo toda a coragem que nunca tivera ao longo de sua vida. – DEIXE-A, VOLDEMORT!

Voldemort gargalhou. Fitou novamente os olhos do menino, que continuava a encará-lo com ódio.

- Quem você pensa que é para me mandar parar? – sibilou perigosamente. – Mas se quiser tentar fazê-lo, sinta-se à vontade para isso. E arque com as consequências que seu ato lhe acarretará.

Draco cuspiu sangue mais uma vez e sentiu uma pontada no peito. Esforçou-se para ficar de pé, mas a cada frustrante tentativa, voltava ao chão com uma sensação enorme de impotência. Voldemort gargalhou novamente, divertindo-se com o sofrimento e desespero do garoto.

- Você é um caso perdido. – disse Voldemort com desdém. Narcisa continuava caída no chão, enquanto o bruxo apontava a varinha em sua direção fazendo um movimento circular com ela. Em seguida um jato arroxeado saíu de sua ponta, acertando-a em cheio.

Narcisa apertou as mãos com força e deu um grito agudo, cheio de dor. Pequenos furos surgiram em sua face pálida e começaram a aumentar de tamanho. Draco viu, como em um terrível pesadelo, a pele de sua mãe derretendo lentamente, como se tivesse sido salpicada por ácido, enquanto ela se debatia gritando. Estava com a face em carne-viva e sangrando sem parar. Draco não conseguia dizer nada, não conseguia gritar, muito menos se mexer.

Aos poucos, uma pele arroxeada foi tomando conta do rosto desfigurado, como se fosse uma cicatrização. Narcisa levou as mãos ao que antes poderia ser considerado um dos mais belos rostos do mundo bruxo. Outro grito aterrorizante saiu de seus lábios, abafando as gargalhadas de Voldemort. Draco olhou para a figura de sua mãe, agora desmaiada sobre o tapete verde, o rosto banhado em sangue.

- Eu adorava esse tapete. Tinha um valor sentimental muito grande pra mim. – Voldemort fitava o sangue de Narcisa escorrendo de seu rosto com nojo. – Rabicho, tire isso da minha frente e recupere o tapete. Terminarei com ela mais tarde.

Draco escutava a tudo calado. A dor em seu peito já não o afetava, nada à sua volta parecia real. Ele então entendia o que estava acontecendo. Aquela mulher que saiu da sala carregada por Rabicho não era Narcisa, mas sim um fruto de sua imaginação ridícula.

Logo acordaria em sua cama e correria para os braços de sua mãe, como sempre fizera quando pequeno. Mais um pouco e tudo estaria acabado, tudo voltaria a ser como antes e Draco sairia de vassoura pelo quintal de sua mansão, sentindo o vento forte de encontro ao rosto, para esquecer o sonho ruim. Fechou os olhos, esperando que aquele pesadelo acabasse em breve. Mas quando os abriu novamente, suas esperanças de que aquilo tudo não fosse real se esvairam completamente.

- Serei misericordioso com você, criança. Seu sofrimento não me interessa mais. Devo aproveitar o momento de fragilidade na Ordem e criar estratégias de ataque ao lado dos meus fiéis servos... – apontou novamente a varinha para Draco. – Avada...

- Permita-me, milorde. – A voz de Snape se fez ouvir, interrompendo o feitiço que seria lançado por Voldemort. E Draco se permitiu odiá-lo mais uma vez antes que a morte chegasse. Seus pensamentos estavam confusos e ele não conseguia compreender porque Snape deixou que sua mãe sofresse daquela maneira. Mas tudo sumiu de sua mente, quando viu o ódio transbordando pelos olhos do ex-professor no momento em que sua voz fria gritou, após o consentimento do Lord das Trevas: – AVADA KEDAVRA!

E no momento seguinte, o corpo de Draco jazia inerte no chão.


--------------------------------------------------------------------------------

N/A: Essa é a minha primeira fic, portanto não esperem muita coisa...

Com carinho,

Mila Fawkes.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.