”Ansepultado”



Capítulo II
”Ansepultado”

“O prazer é todo meu, senhor Dawlish.” Falou altiva “Embora as circunstâncias não me sejam agradáveis. Por isso, se não se importa, gostaria de terminar essa visita o mais rápido possível.”
“Claro, senhora. Mas antes preciso me certificar que esse cachorro que a acompanha não...”
“... é um animago. Claro, sr. Dawlish. Faça seu trabalho...”
Aguardou pacientemente o homem tentar várias foras de transfigurar o animal em humano, mas nada aconteceu.
“Nada” ela sorriu, fingindo não ligar para ele ter dito o óbvio. “Bom, vamos logo então. É por aqui.”
Seguiram por entre os corredores agitados do Ministério, passaram por alguns andares que Bellatrix considerava desnecessário. Ele indicou-lhe uma sala, pediu para aguardar até que conseguisse a liberação para a visita.
Bufou irritada assim que a deixou sozinha. Bando de Aurores imprestáveis com seus cuidados inúteis. Era ridículo pensar que eles se preocupavam em fazer averiguação no cachorro e nem ao menos pensaram em fazer o mesmo com ela. Mesmo sendo mãe de uma Aurora, sua irmã Andrômeda não devia ser considerada a cima de qualquer suspeita em sua opinião.
Mas era melhor assim. Daria muito trabalho estuporar o imbecil e alterar-lhe a memória para que não contasse que a descobrira... Imperius seria mais pratico. Mas prometera não usá-lo mais.

”Xeque mate”

“Não... Não pode ser...”

“Você disse cavalo na casa F6, isso deixou meu bispo livre e seu rei sem defesa, prima...”

Ela olhou perplexa o tabuleiro desenhado com pedra, no chão da prisão. Os movimentos das suas pedras e das pedras dele, que eram contados, de uma cela para outra, pelos dois. Numa tentativa vã de fazer com que o tempo passasse mais rápido. A eternidade nunca terminava.

“Hummm, vejamos o que vou pedir pela minha vitória.”

Ela revirou os olhos. Com certeza ele viria com aquelas abobrinhas adocicadas como “diga que me ama”, “jure que eu sou seu dono”, essas coisas...

“Me prometa que...” viu? lá vinha ele... “nunca mais vai usar uma maldição imperdoável na vida...”

“O quê?!”

“Você ouviu bem Bellatrix.” Gritou ele do outro lado da parede, ela se lembrava bem do tom divertido em sua voz “Prometa que não vai mais usar nenhuma Maldição Imperdoável na vida, vamos.”

Após muito negociar, conseguiu diminuir a pena para apenas a não utilização do Imperius. Sendo quem era, e tendo os inimigos que possuía, Crucius e Avada Kedrava poderiam lhe ser impossíveis de não utilizar.

Sirius não gostou da barganha, mas acabou aceitando. Prometer não cometer pelo menos um dos três crimes era melhor do que ela continuar cometendo todos.



De volta ao Ministério, algo na sala onde aguardava lhe tirou de seus pensamentos, a remetendo novamente para a realidade. Dentre as várias tranqueiras que se encontravam na salinha de espera, uma em especial lhe chamou atenção. Um enorme espelho coberto por um véu negro.
Levantou curiosa e seguiu até ele. Com cuidado retirou o pano da parte superior onde pode ler o nome do objeto. Cobriu-o novamente. Aquele era um espelho no qual não queria se ver novamente, ele sempre lhe mostrava coisas assustadoras... Assustadoramente atraentes.
Quando trombou com ele pela primeira vez, em Hogwarts, não tinha muita noção do que aquilo fazia exatamente. Mas, após a primeira experiência de ser refletida naquele vidro, foi atrás de informações. E, ficou particularmente incomodada ao descobrir que aquilo mostrara os seus maiores desejos.
Olhou novamente para o pano negro que cobria o vidro. O espelho provavelmente foi trazido para lá após a morte de Dumbledore, pensou. Os trapalhões do Ministério sequer sabiam o que fazer com ele.
“Pronto senhora Tonks, sua entrada está liberada. Vamos?”
Ela assentiu e mais uma vez seguiu Dawlish pelos corredores. Não demorou muito para entrarem na sala onde ele jazia há algum tempo já.
Deveria ter voltado antes, mas não houve como. Os acontecimentos posteriores ao último encontro que tiveram lhe tomou muito tempo. Mais até do que organizar aquela visitinha.
Ela desceu graciosamente a escada. O cão, ao seu lado, e o auror logo atrás. Parou em frente ao tecido pardo, o avaliando com certa curiosidade. Levou a mão à direção do véu, mas foi interrompida por um tossir inconveniente do sr. Dawlish.
“Não seria prudente tocar, senhora Tonks...”
“Claro. O senhor está certo.” Ela sorriu mais uma vez, como sabe que sua irmã faria. “Poderia me deixar sozinha, agora, sr. Dawlish? Queria mais privacidade para fazer minhas orações ao meu primo.”
“Logicamente, senhora.” Ele fez uma leve reverência e se retirou.
Voltou a olhar o véu, e, num impulso rápido, esticou a mão com tudo para dentro do desconhecido. Não dispunha de muito tempo.
O rosto se contorceu, a sensação era que sua cicatriz estava abrindo novamente. Mas não se importou com isso nem um minuto.
A mão bateu em algumas coisas. Cabelos, peitos, roupas, algumas se jogavam sobre ela. Até que finalmente apalpou o que queria.
Apertou os dedos ao redor do objeto, a dor piorou. Manteve-se firme até ter certeza que podia puxar. E, aos poucos, foi retirando a mão juntamente com o objeto que segurava.
Preso ao objeto, um colar de ouro.
Envolto por esse colar, o pescoço dele. E preso ao pescoço todo o resto.
Ela sorriu ao reconhecê-lo. A barba por fazer, o cabelo mais comprido que anteriormente. Pelo visto, o tempo passava atrás daquele pano também. Os olhos se abriram, revelando a íris de um negro infinito na qual sempre se perdia.
“Por que diabos demorou tanto, heim?” perguntou logo que saiu por completo, batendo a mão nas pernas para tirar um pó que não existia.
“Seu afilhado andou atrapalhando... Tive que dar mais atenção ao esquema, para não desconfiarem.”
Ele bufou em desagrado e levou as mãos à cintura. Lembrava-lhe tanto o rapazinho que já se achava um homem, por quem se apaixonara, anos atrás.
“É, mais esse foi a semana mais longa que eu passei...”
“Deve ser por que não foi uma semana...”
“Não, quanto tempo foi então? Um mês?”
“Mais de um ano...”
“O que?! Como assim mais de um ano??? Não pode ser...”
“Acho melhor falar mais baixo, antes que resolvam verificar de quem é essa voz masculina, Sirius.” ela olhou para os lados “Alias, o melhor mesmo é irmos embora antes que o efeito da poção polissuco acabe.”
Sirius olhou para o cão que estava sentado ao lado dela, boca aberta, língua para fora, aguardando pacientemente seu destino.
“Pensou em tudo, heim...”
“Como sempre...”
Ele a puxou fortemente pela cintura e envolveu os lábios dela com o seu, num beijo profundo. Depois de alguns segundos soltou-lhe a boca e sussurrou.
“Deve ser por isso que eu te amo.”

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