Re União
Capítulo III
Re União
Sair do Ministério foi mais fácil do que entrar. Chegar ao destino planejado, também.
As ruas da Londres trouxa eram muito movimentadas para uma dama e seu cachorro. Mas, nunca houve nada que os dois não conseguissem fazer juntos.
“Eu já disse que não vou dançar!!!!”
“Ah vai sim, rapazinho... Você já tem 13 anos e é um Black. E Blacks dançam valsa desde que o mundo é mundo.”
“Que se dane o mundo! Eu não vou pagar o mico de dançar na frente de um monte de gente nessa festa, Bellatrix... Eu não sei dançar.” acabou confessando, resignado.
A garota sorriu enquanto prendia os longos cabelos em um rabo de cavalo.
“Tudo bem, eu te ensino.” disse, fazendo com que a música inundasse o recinto com um pequeno gesto de mão “A primeira coisa é aprender a convidar a dama. Faça uma reverência, assim... Depois levante a mão e aguarde ela apoiar-se na sua.” ele a imitou “Isso, agora, caminhe até o salão, vire-se para mim, segure na minha cintura com a mão direita... Exatamente... Agora vem a parte mais fácil... Dançar...”
E realmente era mais simples do que ele pensava, assim como tudo que fizeram juntos. As coisas sempre pareciam menos complicadas quando tinham o apoio um do outro. Pena que aquilo não era comum.
As ideologias, os caminhos, os lados escolhidos, tudo parecia separá-los. E mesmo assim, ali estavam os dois, juntos, novamente.
Meia hora de caminhada, alguns olhares reprovadores e um ou outro latido. Nada mais. Não podiam chamar atenção e não o fizeram.
Logo que chegaram à frente da casa cinza daquela rua de um bairro trouxas de Londres, Bellatrix tocou a campainha.
A porta se abriu e foi como olhar para um espelho.
“Finalmente vocês chegaram.” disse a mulher, olhando a rua cautelosamente “Vamos, entrem logo.”
Os dois obedeceram. Já abrigado, Sirius se transfigurou em humano novamente para, meio segundo depois, ser abraçado fortemente pela dona da casa.
“É tão bom te ver bem, Sirius.” disse a mulher, feliz em vê-lo. Poucos segundo depois, já estava aos berros com as mãos na cintura em sinal de indignação “Mas vocês dois são loucos ou o que? Se meterem com o véu da morte!”
“Ei, calma Andy, esta tudo bem... Deu tudo certo.” ele abriu os braços “Eu estou aqui, vivinho.”
“Como eu disse que estaria se você me ajudasse, irmã.”
A Andrômeda verdadeira olhou desconfiada para a outra.
“É, mas era um plano muito arriscado, você deve concordar.”
Bellatrix acenou com a mão displicente.
“Você sempre foi muito medrosa. O plano era perfeito.”
“Ah sim, muito perfeito. Tirando o fato de que ninguém nunca ter realmente conseguido sair de lá... A perfeição mesmo!”
“Só tínhamos que ter um amuleto apropriado, já expliquei.”
Andrômeda bufou mais uma vez, indicando as cadeiras ao redor da pequena mesa da cozinha, que os outros não recusaram. Seguiu para o fogão e acendeu a chama com um fósforo, fazendo a irmã revirar os olhos em desagrado.
“Até agora não entendi como você sabia que o crucifixo do Sirius era um amuleto apropriado.” disse, sem se importar com a careta da outra.
“Objeto e carne... Unidos.” repetiu Bella, num sussurro.
“Sim, sim... Objeto e carne unidos não podem ser separados pelo véu... Mas e daí?”
“Eu usei meu crucifixo para fechar um corte na mão da Bella, há muito tempo atrás.” disse o homem.
“Um corte na mão dela? A cicatriz em forma de cruz?” a irmã concordou.
“O ferimento tinha sido enfeitiçado para que não fechasse, mas Sirius conseguiu desfazer o feitiço com o crucifixo dele. Por isso a cicatriz ficou com esse formato.” ela estendeu a mão para que a irmã avaliasse, e só então Andrômeda se deu conta que a cicatriz tinha o mesmo tamanho e formato da jóia que Sirius carregava no pescoço, desde muito tempo.
“Como ela foi usada para salvar-lhe a vida, o véu não pode separar a carne do objeto, assim que Bella esticou a mão dentro do pano eu fui puxado na sua direção.”
“Mas havia a chance de não dar certo... O colar podia ter se partido e ela só teria salvo o crucifixo e não você.”
Sirius sorriu novamente.
“Ele também não pode sair do meu pescoço, Andy.” ela o fitou, intrigada “E o fato de eu ter conseguido fechar a ferida da Bella, naquele dia, tem muito haver com isso.”
Ela o encarou, curiosa. Em seguida levou uma chaleira com água ao fogo recém aceso e só então se juntou a eles na mesa.
“Esse não é um crucifixo qualquer, imagino.”
“Não. James quem me deu, no meu aniversário de 14 anos. Ele foi magicamente preparado para me proteger contra feitiços, cortes e feridas fatais...”
“Por que um garoto de 14 anos se preocuparia com feitiços, cortes e feridas fatais que o amigo pudesse sofrer, me diga?” Bellatrix jogou a pergunta para Sirius com um olhar.
“Bom, nós costumávamos nos meter em confusões... Ele achou que seria útil.” o homem olhava o pingente discreto e ao mesmo tempo ostentador que carregava no pescoço há tantos anos enquanto sorria saudoso “Me salvou de poucas e boas durante o colégio e depois dele... O fato é que esse objeto aqui está ligado a minha carne assim como está ligado a de Bellatrix. Por isso o véu não pode nos separar.”
“Então... Essa cruz é a responsável por vocês dois estarem vivos até hoje?”
O casal concordou, em silêncio.
“Santa Cruz...” murmurou a outra “... É uma tarefa e tanto. Bom...” ela levantou-se ao a ouvir a chaleira apitar “Ainda temos tempo antes que Ted volte do trabalho. Vocês vão ficar escondidos no sótão e...”
“Eu tenho que ir...”
“Como assim: ir?” a irmã levou as mãos a cintura, contrariada “Ir para onde?”
“Preciso voltar, Andrômeda. Eles não sabem o que fiz ainda, e, por enquanto é melhor continuar assim.”
“Você não vai voltar para o lado daquele louco que lê as mentes dos outros, Bellatrix. Ele vai descobrir o que você fez em dois tempos.”
“É preciso.”
“Não foi isso que planejamos, mulher.” disse Sirius. Pela expressão carrancuda, ele também não havia gostado nada dos novos rumos que Bellatrix tomava.
“Depois da morte de Dumbledore, mais do que nunca, eu preciso estar lá.”
“Morte de quem? Por Merlin, não me digam...”
“Sim, primo... Infelizmente Dumbledore foi assassinado...”
“Quem fez isso?”
“Snape.”
Sirius deu um soco na mesa. O homem em quem Dumbledore tanto confiara e protegera tinha sido aquele que lhe apunhalou pelas costas. Não podia se dizer surpreso, ele nunca confiara no Ranhoso. Mas, o velho diretor, sim e, isso tornava o ato mais asqueroso ainda.
“E o Harry? Eu preciso ver o Harry...”
“Trate de voltar para a sua cadeira, senhor Black” respondeu Andy, enquanto procurava o coador “Sentem-se os dois, andem. Ninguém vai sair dessa cozinha antes de tomar o meu café...”
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Horas depois, a quilômetros de distância da casa onde Andrômeda arrumara o sótão para Sirius se esconder, uma loira andava de um lado para o outro dentro do quarto de sua mansão. As mãos suavam e o cabelo teimava em não permanecer impecavelmente preso em seu coque.
“Preocupada?” a voz vinda de suas costas a fez dar um sobressalto.
“Por Merlin, Bellatrix! Nunca mais faça isso... Vai acabar me matando do coração desse jeito.”
A outra achou graça da cara apavorada da irmã caçula, mas acabou assentindo com o pedido vão da outra. Pôs-se a tirar as luvas negras.
“Então, como foi?”
“Como deveria...” respondeu dando um olhar intrigado para a porta do quarto onde as duas se encontravam. Narcisa entendeu que o assunto deveria morrer na mesma hora “Todos já chegaram?”
“Quase todos. Só falta o Severo...” – Bellatrix soltou um pouco audível “hum” – “Achei que você também não viria...”
“Eu disse que estaria aqui ao seu lado, não disse?”
“É, eu sei... Mas ele costumava ter mais influência sobre você.”
“Vinho... Quer um pouco, prima? É de uma ótima safra...”
“O que eu quero é que você saia do parapeito da minha janela e desapareça, seu moleque intrometido. Você não vai estragar o meu casamento, entendeu bem?”
O rapaz abriu os braços como se quisesse dizer que não estava ali para fazer isso. O cálice de vinho em sua mão girava desequilibrado por sobre a roupa de seda finíssima estendida na cama logo a baixo.
“Se manchar esse vestido eu juro que te mato, Sirius!”
Ele riu. Ela bufou. A loira levou a mão à testa, já prevendo o trabalho que teria só para convencer o delinqüente a ir embora.
“Alguém já te disse que você fica uma graça nervosa?”
“Sirius, desce logo daí, anda... Se alguém souber que você ta aqui de novo, vão te matar...”
“Não to nem ai, Cissy. Você sabe... Eu sou louco!” e revirou os olhos, ao mesmo tempo que girava perigosamente o cálice sobre o vestido mais uma vez.
Bellatrix respirou profundamente, tentando manter a calma. Ele estava ali para tirá-la do sério e, por mais que lhe devesse alguns favores ela não o deixaria atrapalhar aquele momento, não mesmo.
“O que você quer?” perguntou por fim.
“Conversar... a sós...”
Ela sabia qual era a intenção contida naquela frase curta. Sabia também que era uma armadilha da qual ela não poderia escapar... Olhou de soslaio para a irmã.
“Deixe-nos.”
“Mas, Bella...”
“Deixe-nos, Narcisa.”
A loira também sabia do perigo iminente e, ao contrário da irmã mais velha, discordava sobre o ceder ao primo. O que ele poderia fazer? Um escândalo? O maior prejudicado seria ele, no fim das contas. Mas Bellatrix não parecia pensar da mesma forma.
“Muito bem... O que você quer?”
“Você sabe o que eu quero... Quero que desista.”
Ela cruzou os braços.
“Isso não é uma opção.”
Sirius pulou da janela e sem tocar na cama, logo abaixo, pousou suavemente com os pés no chão do quarto. Aproximou-se dela com passos vagarosos e um olhar atraente que a remeteu a alguns momentos que haviam passado juntos, anos atrás.
“Claro que é... e se você deixar... eu te mostro uma opção BEM melhor do que essa...” encostou o corpo no dela, perigosamente. Bella pôs as mãos em seu peito, o afastando.
“Não, Sirius...”
“Por que não?”
“Você não é mais uma criança inconseqüente... Sabe muito o porquê... Não fomos feitos um para o outro.”
“E desde quando você se importa com isso?” ela não respondeu, não haveria como, já que o primo capturara seus lábios num longo beijo.
Aos 20 anos ele já tinha o dom de fazê-la perder a consciência.
Ela sentiu o corpo tremer ao lembrar daquele toque em especial. Não queria ter lembrado daquele dia, sempre levava tempo demais até conseguir se desligar da saudade por completo...
Respirou fundo e encarou Narcisa novamente.
“Está na hora de descermos” disse firme “Vamos”.
***************
As chamas da lareira se acenderam, Andrômeda correu para a sala, para ver quem a chamava.
“O que houve filha?” estranhou, a menina não costumava lhe contatar em pleno horário de serviço.
“Alerta geral na Ordem, mãe. Precisamos da senhora.”
“Não faço parte da Ordem e você sabe bem disso.”
“Sim, eu sei... Mas acabamos de descobrir que está acontecendo um encontro entre os lideres dos comensais na mansão Malfoy. Incluindo Você-Sabe-Quem. E... Nós vamos atacar...”
“Vocês o que?”
“Nós vamos atacá-los... Um grupo já foi na frente, fiquei para chamar os reforços que quiserem ajudar a segunda equipe. Por isso resolvi perguntar se você vai querer ir dessa vez...”
Ploc!
Andrômeda virou o rosto na direção da porta que dava para o sótão, estava entreaberta.
“O que foi isso?”
“Não, Sirius! Droga!”
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