O Julgamento
O dia marcado para o julgamento dos três se aproximava em uma velocidade espantosa e, antes mesmo que pudessem descobrir uma forma de se defender, já estavam na última noite antes do acontecimento. Hermione e Harry estavam jantando n'A Toca, recebendo gestos carinhosos e de encorajamento de toda a família Weasley, assim como Rony.
Uma carta de confirmação endereçada aos três havia chegado na mesma manhã, com a hora e o local marcado para o julgamento. Eles seriam julgados pela manhã do dia seguinte no mesmo calabouço que Harry fora julgado outra vez, em seu quinto ano. O próprio Ministro da Magia seria o juiz e decidiria a punição que cada um deveria receber. E provavelmente ele mesmo marcaria o segundo julgamento de Hermione, sob a acusação de falsa identidade.
Apesar de todas as palavras de encorajamento e de esperança, o clima durante o jantar da família era de preocupação. Harry e Hermione decidiram que dormiriam ali mesmo, e seguiriam juntos para o Ministério da Magia, bem cedo no dia seguinte, na tentativa de causarem uma boa impressão.
- O jantar estava delicioso, Molly. – Mione tentava manter uma conversa animada com a senhora Weasley.
- Obrigada, minha querida. – respondeu a matriarca. – Agora acho melhor vocês três já subirem para dormir, porque amanhã acordo vocês bem cedo para o café da manhã.
- Já subiremos. – Harry se manifestou, enquanto recolhia seu prato.
- Não há necessidade Harry. – Molly tomou o prato de sua mão e levou até a pia. – Eu cuido disso. Subam. – Harry, Rony e Hermione subiram as escadas e ela indicou que entrassem no quarto de Rony. Segundos depois. Gina apareceu e se juntou a eles.
- Então, o que queria nos dizer? – Harry perguntou curioso para Hermione.
- Bom, eu não tenho muita certeza, mas acho que tive uma idéia de como poderemos nos defender amanhã. – disse Mione, tentando disfarçar sua animação.
- Como? – Rony perguntou, quase pulando de sua cama, onde estava deitado displicentemente.
- Ainda não tenho certeza de tudo. – respondeu insegura. – Vou pensar melhor essa noite.
- Mas... – Rony tentou insistir. Hermione o interrompeu.
- Confie em mim Ron. – falou com convicção. Rony pareceu desarmado com a frase e calou-se. – Confiem em mim. – disse olhando para Harry e Gina.
- Tudo bem, mas eu espero que funcione. – Harry retribuiu com um meio sorriso. Ele sempre confiou nas idéias da amiga. – Agora vamos dormir antes que Molly nos pegue. – Todos riram. Às vezes eles se sentiam como crianças perto da mãe de Rony e Gina. Pelo menos era assim que ela os tratava.
- Certo. Boa noite. – Hermione se levantou e já estava quase na porta quando Rony a alcançou.
- Mione, posso falar com você um minuto? – perguntou em meia voz. Hermione olhou desconfiada para o ruivo e para Gina e Harry. O casal estava se "despedindo", então ela achou melhor mesmo tirar Rony do quarto.
- Claro. – Os dois saíram até o corredor e andaram até o quarto de Gina em silêncio. Quando Hermione entrou, Rony a seguiu e fechou a porta atrás de si. Mione sentiu uma pontada de nervosismo com a cena e tentou disfarçar sentando-se na cama. Rony simplesmente sentou-se ao seu lado, e mantinha uma expressão muito séria. Hermione decidiu quebrar o silêncio e seu nervosismo. – Então?
- July me procurou alguns dias atrás. – Rony falava meio hesitante e Hermione teve medo do que ouviria a seguir.
- Isso é... bom? – perguntou ela, sem saber o que dizer.
- Não mesmo. – respondeu Rony incrédulo e Hermione sentiu uma onda de alívio. – Ela veio me dizer que estará presente no julgamento.
- Oh... isso é... – Hermione tentou completar alguma frase, mas ainda não tinha idéia do que poderia dizer sobre aquilo.
- Olha não se preocupe. – Rony não esperou que ela terminasse a frase. Ele pegou sua mão com carinho e Hermione sentiu que corava. – Eu não vou deixar que você seja condenada por se passar por ela. – Hermione estava ainda sem reação e apenas continuou olhando para o ruivo. – E não venha me dizer que não está preocupada com isso porque eu sei que você está. – Rony completou, ainda com o mesmo carinho de antes.
- Não há o que contestar Ron. – o desespero que Hermione estava sentindo há dias sobre o seu julgamento veio à tona e ela não conseguiu segurar uma lágrima, que escorreu lentamente pelo seu rosto. – Eu sou culpada.
- Não diga isso. – Rony a repreendeu, ainda com a mesma voz carinhosa. Limpou a lágrima do rosto de Hermione e a abraçou. Hermione deitou seu rosto no ombro do amigo, agradecida por poder dividir suas preocupações com alguém. E o ombro de Rony sempre foi o lugar que ela se sentia mais segura. Ele era seu porto seguro. – Você não é culpada e não será condenada, tá? – continuou o ruivo baixinho, enquanto acariciava os cabelos ondulados dela. Ela balançou a cabeça confirmando.
- Obrigada Ron. – disse com a voz ainda embargada, tentando não chorar.
- Não se preocupe. – Rony repetiu a frase e Hermione já se tranqüilizava. – Não vou deixar que nada aconteça e você. – Hermione se soltou dos braços de Rony e o encarou por uns instantes.
- Eu confio em você Ron. – deixou escapulir, sinceramente. As orelhas de Rony ficaram tão vermelhas quanto o seu cabelo e quando ele abriu a boca para dizer alguma coisa, Gina entrou pela porta.
- Eu... ahm... atrapalho? – perguntou sem graça (e ao mesmo tempo rindo) olhando para Hermione e Rony. Rony pareceu não ter gostado da interrupção.
- Não atrapalha não. – respondeu meio ríspido com a irmã. E saiu dando passos fortes até a porta, quando parou se chofre e olhou para Hermione. – Boa noite Mi.
- Noite. – Hermione respondeu sem saber se ria da situação ou ficava séria. Rony estava sendo, como sempre fora, carinhoso e preocupado com os problemas de Hermione. Quando o ruivo desapareceu do campo de visão das duas, Gina lançou um olhar de interrogatório para Hermione. – Você não vai querer saber. – Hermione imitou uma frase muito usada por Rony e sorrindo deitou-se em sua cama. Ter o apoio do ruivo a deixava mais calma e ela podia finalmente pensar no plano que tivera mais cedo sobre o julgamento.
Hermione passou boa parte da noite acordada pensando em cada detalhe do que ela deveria fazer na manhã seguinte. Quando o sol começou a aparecer pela janela, a Sra. Weasley apareceu chamando todos para tomar café. Hermione levantou-se com dificuldade, com a sensação que havia dormido só alguns minutos. Vestiu sua melhor roupa e desceu até a cozinha, onde Harry, Gina e Rony já tomavam café. Os dois estavam vestidos com seus melhores ternos e Harry tinha quase conseguido dominar seu cabelo rebelde. Rony a olhou com preocupação, mas Hermione apenas sorriu de volta, admirada pelo ruivo. Seu terno era preto com uma camisa branca e uma gravata azul, que faziam com que a cor de seus olhos ficasse mais forte ainda. Ele ficava muito bonito daquele jeito, pensava ela enquanto se sentava para comer.
- Dormiu pouco Mione? – perguntou Harry com a mesma expressão de preocupação de Rony.
- Estou tão ruim assim? – devolveu com uma pergunta, em um tom bem humorado. Os dois bruxos sorriram de volta.
- Você está linda minha querida. – Molly se aproximou, a servindo com um copo enorme de suco de abóbora e inúmeras torradas.
- Obrigada. – respondeu Mione corando.
- Então seremos inocentados hoje? – perguntou Harry, ainda sorrindo.
- Espero que sim. – respondeu. Ela sabia que o que Harry queria perguntar era se o plano dela estava de pé e ela apenas confirmou. Uma reviravolta no seu estômago a deixou ligeiramente nervosa.
- Vai dar tudo certo. – Rony parou de comer por um segundo para afirmar sua confiança em Hermione. Olhou para ela, sorriu e voltou a devorar suas torradas.
Os quatro terminaram de tomar café e se prepararam para aparatar no Ministério. Ainda faltava um bom tempo para o horário marcado para o julgamento, mas era melhor que chegassem adiantados. Gina os acompanharia até o calabouço onde seriam julgados, mas não estava permitida a entrar com eles e assistir ao julgamento. Ela teria que esperá-los de fora.
Quando aparataram no salão de entrada no Ministério da Magia, Hermione olhou para o seu relógio: eram oito horas. O julgamento seria dali à uma hora e eles podiam descer tranquilamente até o calabouço e esperar. Andando pelos corredores até o elevador, Hermione sentiu que todos os bruxos os estavam encarando. Esse, provavelmente, seria o julgamento mais esperado do ano.
Eles desceram corajosamente os andares pelo Ministério até o setor dos Mistérios, onde já estiveram no quinto ano. Andaram pelo corredor escuro e viraram à esquerda, onde desceram mais alguns lances de escada, para um andar ainda inferior. Chegaram à porta do calabouço marcado e esperaram, em silêncio, os minutos passarem. Quando o relógio de Hermione marcou exatamente nove horas, a porta do calabouço se abriu e os três bruxos entraram um após o outro, sem saber o que viria a seguir.
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