A penseira



Quando Hermione entrou pela porta do calabouço, um arrepio de medo percorreu sua espinha e um frio intenso percorreu todo o seu corpo. Parecia que toda a sala circular e escura estava rodeada de dementadores, prontos para levar os três culpados diretos para Askaban. Mas, depois de respirar fundo uma ou duas vezes, ela percebeu que não passava de uma ilusão.
A sala era em forma circular e era tão alta que Hermione não poderia dizer como era seu teto. As paredes eram feitas de pedra escura e úmida, dando a impressão de já estarem nas celas da prisão dos bruxos e não apenas no julgamento. Tochas espalhadas pelas paredes iluminavam um pouco o lugar, dando a imagem de rostos fantasmagóricos em todas as pessoas.
Bem de frente à porta de entrada, no fundo do salão circular, uma pequena arquibancada em forma de semicírculo estava cheia de gente, a maioria delas ocultas pela escuridão do lugar. No degrau mais baixo estavam sentados o Ministro da Magia e o chefe da Seção dos Aurores à sua direita. No mesmo degrau, porém mais obscurecida pela falta de luz, Hermione levou um susto ao perceber a figura imponente de July Scotland. Ela tinha uma expressão dura e fria no rosto, o que fez Mione tremer. Ela jamais sairia ilesa do julgamento.
No centro do calabouço havia um tipo de palco também circular e três cadeiras descansavam sobre ele. Harry e Rony dirigiram-se em silêncio e sentaram-se nas cadeiras que ficavam dos lados, mas Hermione permaneceu em pé de frente à sua cadeira, que ficava no meio. O Ministro da Magia levantou-se após a leitura inicial do processo por um assistente de júri.

- Antes de começarmos, gostaria de deixar claro que fui surpreendido por essa acusação que recebi. – ele fez uma pequena pausa. Hermione podia ouvir o tom de voz totalmente decepcionado vindo dele. – Jamais imaginaria ter que julgar minha própria assistente majoritária, Srta. Granger, juntamente com o auror mais famoso de todos os tempos, Sr. Potter e seu mais fiel amigo e futuro auror de nosso Ministério, Sr. Weasley.
- Senhor... – a vergonha tomou conta de Hermione e ela tentava se explicar. Mas, apenas com um gesto em sua mão, o Ministro pediu que se calasse.
- Espero que tudo isso seja apenas um mal entendido. – concluiu de forma cansada. – Finalmente, daremos continuidade ao julgamento. Sr. Finns?

O assistente levantou-se novamente e começou a ler o pergaminho onde estavam registradas todas as acusações contra os três réus. Hermione sentou-se em respeito ao Ministro, mas ainda sentia seu rosto arder de vergonha. Aquilo não parecia ser real. Mas ela tinha um plano de defesa e o seguiria até o fim. O plano tinha que dar certo, ou seus melhores amigos estariam com suas carreiras em grande risco.
Após o término da leitura monótona do assistente Finns, o Ministro colocou seus óculos de meia lua e analisou alguns papéis, em silêncio. Todos os outros bruxos pareciam ter prendido a respiração e nenhum som era emitido, até que ele olhou para frente, e perguntou calmamente.

- Conte-nos o que vocês faziam naquela manhã em Spinner's End.
- Nós lemos os relatórios sobre o atentado a trouxas e achamos algumas pistas peculiares – foi Harry quem respondeu. – E fomos até o local averiguar.
- Foram até a cena do crime com a permissão de seu superior? – perguntou um bruxo oculto nas sombras.
- Sim senhor. Eu mesmo conversei com o comandante Hart antes de entrarmos na casa. Entramos na cena do crime com devida autorização. – Respondeu Harry, com clareza na voz.
- Com ou sem autorização de seu superior, Hermione Granger não deveria estar te acompanhando. – uma bruxa falou mais ao fundo.
- Sim, mas Hermione era uma fonte de conhecimento indispensável para as nossas suspeitas e achei prudente que ela nos acompanhasse. – respondeu, com a mesma firmeza na voz.
- Então ela simplesmente resolveu se passar por uma auror?!- perguntou com certo deboche na voz o mesmo bruxo oculto nas sombras.
- O fato de Hermione ter se passado por outra bruxa não está em julgamento hoje. - Rony falou pela primeira vez, e a firmeza de sua voz fez com que o assunto fosse mudado.
- Que tipo de pistas peculiares o senhor achou que o resto do esquadrão não teria conhecimento, senhor Potter? – a voz fria do comandante Hart ecoou pelas paredes.
- Os dois suspeitos de terem cometido o crime batiam exatamente com os perfis de dois bruxos que conhecíamos bem durante nossa formação em Hogwarts. - Harry respondeu, com a mesma frieza que havia recebido a pergunta. – E eles poderiam nos fazer a ligação com um bruxo foragido há muitos anos: Draco Malfoy.
- Então vocês entraram na casa, e se sentiram no direito de levarem dois caldeirões cheios de poções para procurarem seu antigo inimigo de escola? – a voz do comandante estava carregada de ódio, e quando Harry levantou-se para responder, Hermione achou melhor intervir.
- Nós não levamos poção nenhuma daquela casa, senhor Ministro. – Hermione decidiu ignorar o olhar furioso do comandante dos aurores. – O que aconteceu, na verdade, é que o próprio Draco Malfoy voltou à cena do crime para buscar suas poções.
- Ora, Draco Malfoy, um foragido, entrando na cena do crime e roubando dois caldeirões bem debaixo dos narizes de todo um esquadrão?! Francamente! – o comandante Hart levantou-se, tamanha sua indignação, mas o Ministro da Magia pediu para que se acalmasse.
- A acusação que você está fazendo é muito grave, senhorita Granger. Espero que tenha como provar tudo o que está dizendo. – ponderou o Ministro, ainda com a voz calma.
- Eu posso explicar senhor. – respirou fundo, sabendo a confusão que causaria com suas próximas palavras. – O que eu vou lhe dizer agora é muito sério, eu sei, mas tenho provas suficientes para tal. – confessou sinceramente. – Draco Malfoy estava escondido no antigo calabouço de Severo Snape fabricando duas poções ilegalmente. As poções que desapareceram eram uma Poção Polissuco e uma Poção Impera.

Quando terminou sua frase, Hermione pode ver como o clima no salão circular mudou. O silêncio pesado transformou-se em um instante com os bruxos do júri cochichando um com os outros. Muitos a olhavam com expressões de incredibilidade, mas a maioria deles a olhava simplesmente com espanto no rosto. O Ministro estava ligeiramente pálido e Hermione imaginou o que deveria estar passando por sua cabeça. Provavelmente essa poção devia ter sido esquecida por todos desde que Voldemort se fora. E foi ele mesmo quem se dirigiu a ela.

- Impera? Mas essa poção foi extinta desde que Aquele-que-não-deve-ser- nomeado foi derrotado.
- Sinto informar ao senhor, mas a poção não foi extinta. – Ela estava pronta para dar o último golpe. – Muito pelo contrário. Aparentemente, alguém influente no Ministério a achou interessante demais para ser negligenciada. – e repetiu as palavras que ouvira de Snape.
- Quem? – foi a única coisa que o pálido Ministro conseguiu dizer.
- Vou deixar que o próprio Draco Malfoy conte ao senhor toda a verdade. – e com um giro em sua varinha, um pequeno pedestal de pedra apareceu em sua frente, com uma bacia igualmente de pedra em seu topo. Qualquer um poderia reconhecer a antiga penseira de Dumbledore.

Com a varinha apontada para sua própria têmpora, Hermione tirou um fiapo prateado que parecia ao mesmo tempo um gás muito denso ou um líquido meio ralo e o depositou dentro das águas da bacia. Murmurou um velho encanto que conhecia em voz baixa e a fumaça prateada encheu o calabouço por um segundo. Quando a densidade da fumaça diminuiu, todos puderam ver uma imagem meio desfocada de uma cozinha suja e abandonada.
Como se fosse um tipo de holograma mal sintonizado estavam de pé Hermione, Harry e Rony em frente a uma mesa de aspecto precário. Nela estava sentado um Draco Malfoy inconsciente e amarrado e Gina apareceu se aproximando dele. Ela derramou um líquido incolor em sua garganta e não falou nada, mas ficou claro que estava lhe dando a poção da verdade. Então, a voz de Harry apareceu como se tivesse sido sintonizada por alguma rádio.

"- Draco Malfoy está me ouvindo?
- Estou ouvindo perfeitamente, Potter.
- A poção já deve estar fazendo efeito. Vamos descobrir tudo o que pudermos antes de entregá-lo ao Ministério.
- Porque você queria fazer Rony beber a poção Impera?
- Rony ficaria sob meu comando e terminaria os meus planos para mim.
- Que planos?
- Matá-lo.
- Céus...
- Apenas por vingança Draco?
- Seu amado Potter acabou com a minha vida. O que você acha?
- Como você conseguiu fabricar a Impera? Você roubou do Ministério?
- Eu SOU o ministério, sangue ruim! Eu fui contratado para desenvolver essa poção dominadora para seus amados governantes, para SEU AMADO chefe!!! Eu sou um Inominável. Apenas peguei um pouco emprestado para acabar com Potter.
- Quem tem conhecimento sobre o seu trabalho Malfoy?
- Hart.
- O chefe da Seção dos Aurores?
- Ele mesmo, Potter.
- O Ministro tem conhecimento disso?
- Provavelmente não.
- Hart então nos acusou de roubar a poção para encobrir a própria falcatrua. Certo Malfoy?
- Não responderei mais nada a você sangue ruim."


As duas últimas palavras de Draco ficaram ecoando pelas paredes durante algum tempo, e a imagem da cozinha da Casa dos Gritos, assim como a fumaça prateada desapareceram no ar do calabouço. Todos olhavam para o vazio sobre a penseira com olhar perplexo. Todos, menos o comandante da seção dos aurores, que parecia que explodiria, de tão vermelho que estava.

- Você está mentindo! – explodiu Hart. – Essa memória está alterada!
- Estou cedendo minha memória para qualquer bruxo que queira averiguá-la. – respondeu Hermione, triunfante. – Ela é autêntica.
- Vamos verificar sua memória. – falou mais calmo o Ministro. – Mas pelo o que eu conheço sobre a área, essa memória parece perfeitamente autêntica. – falou dirigindo-se ao comandante Hart.
- Você não pode estar me acusando senhor Ministro! – o comandante parecia encurralado e furioso.
- Posso, e estou. – respondeu calmamente o outro. – Teremos que suspender esse julgamento até que as provas sejam estudadas e...
- Nunca! – berrou o comandante Hart. – Jamais deixarei que me prendam!

O comandante jogou um feitiço em Hermione, mas errou por pouco e ele acertou em cheio o pedestal em sua frente, que explodiu em milhares de pedaços. Em seguida ele tentou aparatar de onde estava, mas o Ministro da Magia lançou um contra feitiço bem a tempo de impedi-lo. Por puro desespero, o bruxo pulou as arquibancadas e saiu correndo em direção à porta do calabouço, mas foi estuporado pelos guardas bem antes de poder sair. A atitude beirando à loucura do chefe dos aurores deixou Harry, Rony e Hermione mais perplexos que todos os outros.
Depois que a confusão se acalmou, o próprio Ministro da Magia se aproximou dos três bruxos, que ainda estavam sobre o palco no centro do calabouço e cumprimentou um por um, com um sorriso no rosto.
- Vocês prestaram um grande serviço ao Ministério da Magia. Agradeço e tenho a alegria de dizer que foram considerados inocentes de todas as acusações.
- Hermione está livre do julgamento sobre falsa identidade, senhor Ministro? – Rony perguntou, enquanto recebia os cumprimentos. O estômago de Hermione deu um pulo de ansiedade pela resposta.
- Sinto muito, mas não podemos tirar essa acusação. – disse sinceramente o Ministro. – Mas garanto-lhe que o resultado desse julgamento irá te ajudar, queria Hermione.
- Obrigada senhor. – Hermione forçou um sorriso, mas a alegria de ter sido absolvida dissipou-se quase instantaneamente. Ela ainda teria um julgamento que poderia a levar para Askaban. Mesmo sem perceber, Hermione foi levada para fora do salão pelos dois amigos, para se encontrarem com Gina e contarem tudo o que havia acontecido.

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