Entre duas.
Um arrepio de medo percorreu todo o corpo de Hermione, e um frio terrível a fez tremer inteira. Aquilo era mais estranho do que ela imaginou que aconteceria. E, o pior, ela não sabia como reagir ao assunto. Ela estava ali, parada atrás da porta branca como um fantasma e ao mesmo tempo estava lá, de frente para Rony, conversando com ele em voz baixa.
A Hermione que conversava com Rony usava roupas diferentes que ela, mas definitivamente aquelas eram suas roupas. Ela usava uma capa da viagem que a Hermione atrás da porta já usara muitas outras vezes, quando ia visitar os pais durante as festas de fim de ano.
"Eu estou usando um vira tempo?"
Essa foi a primeira coisa que ela conseguiu pensar, depois de tentar colocar sua cabeça no lugar. Mas a idéia parecia meio improvável. Hermione achava que jamais seria tão imprudente assim para usar um vira tempo e ainda conversar com o Rony do passado, ainda mais sendo vista por ela mesma. Além do mais, ela tinha quase plena certeza de que todos os vira tempos tinham sido destruídos em sua visita ao Ministério, quando eles estavam no quinto ano e nenhum deles foi restaurado.
Foi então que um flash de entendimento passou pela sua cabeça: a poção polissuco fabricada no calabouço da casa de Snape, a invasão inexplicável à sua casa e, principalmente, o plano desconhecido de Draco Malfoy. Quase como prevendo o futuro, Hermione encostou o ouvido na porta para ouvir melhor e a única voz que percebeu foi a de Rony e ele parecia muito assustado.
- Você está me dizendo que a poção que nós pegamos é uma "poção da imortalidade"? E que Draco vai usá-la para matar Harry?
- Sim. – Hermione estremeceu ao ouvir sua própria voz. Que história era essa de poção de imortalidade? – Vim correndo te procurar. Harry deve estar em perigo agora! Você tem que beber... – antes mesmo de tentar ouvir o final da frase, Hermione já sabia o que estava acontecendo: Draco estava disfarçado como ela e inventara uma desculpa para Rony beber a poção Impera.
- Não! – Hermione empurrou a porta com força e entrou apontando sua varinha para o peito de Draco, que retribuiu o gesto. Rony pareceu estar mais confuso do que há poucos segundos. – Rony, não ouça o que ela está dizendo. É Draco está passando por mim, Ron!
Se não fosse pela situação de extremo perigo, Hermione teria gargalhado da situação que se seguiu. Rony olhava com uma expressão de pura incredibilidade para ela, a encarava por uns segundos, e virava para Draco, o olhando com a mesma concentração e dúvida, como se assim pudesse descobrir quem era a verdadeira Hermione. Enquanto isso, as duas Hermiones apontavam suas próprias varinhas uma para a outra.
- Não Rony. – dessa vez foi Draco quem falou. – Eu sou a verdadeira Hermione! Ele está tentando te confundir. – Rony não respondeu nada. Parecia realmente não saber em quem acreditar.
- Ron, por favor. Não acredite no que ele está dizendo. Eu revelei o efeito da poção, e você não pode bebê-la! – Ela tinha um fio de desespero na voz. Como provar para Rony que ela era a verdadeira?
- Você tem que bebê-la, Ron. – a imitação de Draco de seu jeito carinhoso de tratar Rony, deixou Hermione irritada. – Ele está mentindo.
- Como vou saber? – Rony perguntou encarando Draco. – Como vou saber quem é você Hermione?
- Acredite em mim Ron. – Os olhos de Draco se encheram de água e Hermione estremeceu de raiva. Rony jamais agüentaria ver alguém chorando. Ele provavelmente cederia a Draco.
- Ronald. – Hermione chamou com urgência na voz. E ele a encarou, meio assustado pelo tom de voz desta Hermione. – Francamente, você não pode cair nessa armadilha.
- Eu... – Rony parecia entrar em parafuso.
- Eu encontrei Snape. Ele me contou o que a poção faz. Rony, ela é uma poção dominadora, como uma maldição imperius. – A voz dela era firme e destemida, o que contrastava totalmente com a outra Hermione, que deixava rolar lágrimas sem parar em seu rosto.
- Você não pode ter se encontrado com Snape. – a voz embargada de Draco era realmente convincente. Mas seus olhos tinham um brilho de medo que podiam entregá-lo. Hermione pensava em um jeito desesperada de como fazer Rony perceber o detalhe. – Ele sumiu desde que saiu de Hogwarts.
- Isso é verdade. – concordou Rony olhando para Hermione, a desafiando a explicar aquilo. Ela não podia acreditar o quando o seu amigo era fácil de ser manipulado, principalmente por uma mulher chorando.
- Céus, Ronald! Eu fui a Floreios e o encontrei no Caldeirão Furado. Acredite em mim...
- Não, Ron. Acredite em mim. – Draco rebateu, com um brilho mais intenso no seu olhar. Aquele brilho de puro desprezo que ele sempre mantinha no olhar. – Seria muita coincidência não? É a pior história que já ouvi alguém inventar.
Para o maior desespero de Hermione, Rony parecia concordar com as palavras de Draco. Ele olhou para ela com um olhar ainda mais duro, a desafiando que continuasse explicando para poder cair em contradição. Isso jamais aconteceria porque a história era verdadeira, mas Hermione temia que aquela discussão sem sentido durasse horas até que, em algum momento, Draco aproveitaria algum momento de distração dos dois para atacar. Rony tirou sua varinha do bolso e a segurou com força, apontada para baixo, ainda pensativo. Foi quando Hermione decidiu que levaria ao extremo para convencê-lo de sua história.
- Me faça qualquer pergunta. – Ela o olhou no fundo dos olhos. – Posso te responder qualquer coisa.
- Não seja tolo Rony. Aposto que ela já sabe tudo sobre mim. – rebateu Draco. E Hermione pensou que isso era exatamente o que Draco deveria ter feito com ela. Provavelmente perguntar qualquer coisa a ele surtiria o mesmo efeito.
- Como nos conhecemos? – pergunto Rony apressado, sem muita convicção.
- Você estava no vagão com Harry e eu entrei perguntando por Trevo, o sapo de Neville. – Respondeu quase automaticamente, lembrando perfeitamente do rosto dos amigos há muitos anos atrás.
- E ainda disse que você tinha uma sujeira no nariz. – completou Draco, quase sorrindo. – Essa qualquer um poderia saber. – Hermione gelou. Aquilo comprovava que Draco estava preparado para perguntas. Provavelmente pesquisou tanto que saberia mais detalhes que ela mesma.
Por uns instantes tudo o que se pode ouvir foi a respiração pesada dos três bruxos em pé na cozinha. Hermione já sentia seu braço doendo de tanto manter a varinha estendida e apontada para Draco e tinha medo de acabar cedendo à dor em pouco tempo. A falsa Hermione ainda mantinha um rosto molhado pelas lágrimas, mas mantinha a varinha firme apontada para o peito da outra. Rony olhava para as duas com a mesma expressão de dúvida no rosto. Hermione achou que o momento merecia atitudes drásticas.
- Rony. Há um jeito de descobrir quem fala a verdade. – Rony olhou para ela com curiosidade no olhar.
- Como? – perguntou.
- Revele meus segredos. – Hermione falou com um fio de voz. Ela sabia que Rony entenderia muito bem o seu recado. Ela havia lhe explicado no sétimo ano que o feitiço de revelação funcionava também com seres humanos e ele usaria nela, revelando seus segredos.
- Mas... – ele parecia em dúvida, mas levantou sua varinha ligeiramente em sua direção.
- Confie em mim Ron. – ela olhava diretamente no fundo de seus olhos azuis. – Revele meus segredos e verá que não estou mentindo.
Apesar de ter estudado o feitiço no sétimo ano, poucos bruxos sabiam o efeito real de um revelas secreti em um corpo humano, mas Hermione havia se interessado tanto nele que procurou saber mais e descobriu. O feitiço, se lançado em uma pessoa, revelava o que de mais importante e secreto que havia em sua mente, no exato instante em que a pessoa fosse enfeitiçada. Portanto, era apenas Rony lançar o feitiço e ela se concentrar em algo que pudesse ser entendido por ele, que tudo estaria acabado.
O coração de Hermione disparou quando percebeu que Rony agora erguia a varinha apontada firmemente para o seu peito. A falsa Hermione observava tudo atônita, sem entender o que estava realmente acontecendo. Draco provavelmente não se deu ao trabalho de pesquisar a vida acadêmica de Hermione, afinal ele cursou as mesmas matérias que ela.
Hermione fechou os olhos com força e se concentrou naquilo que não saía de seus pensamentos há muitos dias: o dia em que Rony a beijou em sua sala. Aquilo era um acontecimento muito recente e íntimo demais para Draco saber, imaginava ela. Com todas as suas forças, Hermione ficou passando e repassando a cena daquele beijo em sua mente, tentando se concentrar em como havia se sentido e tudo o que pensou naquela hora. Finalmente, abriu os olhos e confirmou que Rony deveria jogar o feitiço.
- REVELAS SECRETI! – Para a surpresa das duas Hermiones, Rony gritou o feitiço, mas virou rápido a apontou sua varinha para a falsa Hermione antes disso. Um jorro saiu de sua varinha e atingiu Draco no peito, que cambaleou e pareceu confuso.
Como se fosse um fantasma, o corpo de Draco apareceu onde estava antes a falsa Hermione, e sua expressão de susto era indiscutível. Ele permaneceu em forma de Draco durante apenas alguns segundos, mas tempo suficiente para perceber a poção azul brilhante escondida sob sua capa. Aos poucos, a forma fantasmagólica de Draco Mafoy foi desaparecendo, e a antiga forma de Hermione voltou ao normal.
- Petrificus Totalis. – Hermione ainda apontava a sua varinha para Draco, e ele ficou paralisado ao receber o feitiço dela. Como um bloco grande de gelo, desabou no chão, e permaneceu deitado com a expressão de susto, ainda disfarçado de Hermione Granger. Rony o encarou por uns segundos e olhou para Hermione, sorrindo.
- Obrigado. – disse simplesmente.
- Porque não lançou o feitiço em mim? – Hermione perguntou, cautelosa.
- "Francamente" e "confie em mim Ron". – respondeu rindo. – Só você Hermione me fala esse tipo de coisa. – Hermione apenas sorriu de volta, e imaginou que devia ter corado levemente. Rony voltou a olhar para o corpo estendido da falsa Hermione. – Temos que chamar Harry.
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