Loucura



Capítulo 17

LOUCURA

Ao chegar à metade do caminho para o castelo, os passos de Andi cessaram. Ela se virou, voltando a caminhar para o lago.

Andi não sabia como agir, não sabia como poderia fugir das emoções que tomavam conta do seu corpo e a faziam soluçar com as lágrimas reprimidas.

Não pode ser! Simplesmente não pode

O seu parceiro de dança imaginário, aquele que homem algum jamais conseguiu superar – não podia ser Snape! Era cruel demais!

Como ele pôde ousar entrar naquela dança e pôr um rosto em sua fantasia? Andi se recusava a
deixar ser ele; ela não permitiria que fosse ele...

Desgraçado!

Como um homem que aparentava ser tão frio, tão distante e tão amargo conseguia lhe fazer sentir como se estivesse derretendo por dentro quando a abraçava; quando a beijava? Como Snape pôde, de repente, fazê-la sentir tudo aquilo? Sim, porque ele esteve lá. Andi se lembrou dos lábios dele nos seus; de como as suas costas haviam retido o calor das mãos dele...

... lembrou que o seu corpo sentiu-se consumido pelo dele...

Oh! Isso não pode estar acontecendo!

... com necessidade. Ela precisava dele... Ela...

Andi chegou às margens do lago e encostou a sua testa no tronco do salgueiro... Naquela noite, não poderia culpar flor alguma pelo que estava sentindo.

Ela não podia se sentir daquela maneira por alguém que apenas concordou em ficar no mesmo cômodo que ela por estar seguindo ordens; que era tão dócil quanto uma cobra cascavel... Como podia ter sido ele a dançar com Andi há alguns momentos, fazendo-a sentir-se tão... tão... inebriada pelas emoções?

Não... isso deveria ter acontecido porque ela estivera pensando em Snape apenas alguns instantes antes da música começar. Isso deve ter invadido e atiçado a sua imaginação... certo?

Freneticamente, ela pôs os fones de ouvido, ligou o discman e colocou na música.

Colocando as mãos em suas costas – exatamente como fora feito antes –, Andi fechou os olhos e começou a se deixar levar pela música, numa tentativa de trazer de volta o clima que Alice sempre a proporcionava; mas ele não veio – os seus nervos estavam muito abalados e muito próximos do seu limite para que ela conseguisse ser hipnotizada pela canção.

Resignada, Andi recostou-se à árvore e fechou seus olhos enquanto ouvia à música; quando ela chegou ao fim, colocou-a para tocar de novo, e de novo, e de novo.

"... The only strings that woo me here

Are tangled up around the pier.

And so a secret kiss

Brings madness with the bliss.

And I will think of this

When I'm dead in my grave.

Set me adrift and I'm lost

Over there

And I must be insane

To go skating on your name

And by tracing it twice

I fell through the ice

Of Alice."

Mas, quando o solo de sax começou, algo aconteceu. Andi sentiu o seu sangue correr mais rápido em suas veias e um arrepio cruzar a sua espinha. De repente, ela tinha a mais absoluta certeza de que ele estava por perto.

Cheia de esperanças, ela entreabriu os olhos, ansiosa para não perdê-lo de vista dessa vez. Espiando por entre seus olhos, conseguiu vê-lo parado um pouco há sua frente, entre ela e o lago – sua silhueta dramaticamente disposta contra a lua-cheia e o céu índigo.

Ele não se movia.

Você está me observando, Professor?

Por alguns instantes, ela admirou como ele a observava; sentindo o ar se esvair de seus pulmões por estar olhando para ele enquanto a canção ecoava em seus ouvidos. Quando a música acabou, Andi abriu completamente os olhos, tirando os fones de ouvido.

Mirou-o, seu coração batendo forte.

Snape começou a andar em sua direção, trazendo consigo algum tipo de vestimenta.

- Eu não quis assustar você, Srta. Carver. Eu lhe chamei, mas você não me ouviu...

- Eu estava usando esses fones – ela disse, mostrando os fones de ouvido e quase sem voz. – Eu estava ouvindo... uma música...

Ele se aproximou mais. O seu coração batia cada vez mais rápido enquanto ela procurava alguma coisa no rosto dele – qualquer sinal do que há pouco tinha acontecido; implorando silenciosamente para que ele a tomasse em seus braços e confessasse que, sim, ele estivera dançando com ela há algum tempo e que ele precisava possuí-la, naquele momento, naquele exato minuto, e apenas... apenas... arrancar as roupas dela, a jogar no chão e...

- É melhor você entrar. A lua está cheia e já é quase meia-noite; é perigoso ficar aqui fora.

Andi deu um passo para a esquerda, sem quebrar o contato visual.

- Bem aqui, Professor, eu tive uma experiência extraordinária... Eu acreditei estar dançando com um homem. Foi tão real... eu pude sentir o calor da mão dele em minhas costas, o calor dos beijos dele e... e...

Snape aproximou-se mais dela, mostrando a vestimenta que trazia consigo – um grande triângulo de tecido.

- A lua-cheia e o recente veneno que você recebeu podem enganar a sua mente, Srta. Carver.

Ele foi para trás de Andi e depositou a veste sobre seus ombros. O tecido era frio, mas certamente a protegia da brisa que uivava dentre as árvores.

A mente dela estava tão concentrada na dança, no beijo, que Andi sequer percebeu a inesperada demonstração de cavalheirismo. Ausente, ela agarrou-se às pontas do xale e virou-se para ele.

- ... eu senti algo. Algo que eu nunca senti antes, e isso me assusta; assusta porque eu sei nunca mais vou sentir novamente! E isso simplesmente está me enlouquecendo.

Andi tinha os olhos cerrados, pesados e lacrimejados, procurando no rosto de Snape por... qualquer coisa... qualquer emoção ou lembrança, mas ele simplesmente se virou, acenando para que ela o seguisse de volta ao castelo.

Pelas margens do lago, Andi caminhava tão próxima a ele quando a sua ousadia permitia. A lua refletia-se na água, grilos cantavam e um casal de corujas voou por cima de suas cabeças... Era um cenário romântico perfeito.

- Espere só um momento.

Andi parou e se voltou para absorver todo aquele cenário – tentando guardar aquela lembrança em sua cabeça antes que deixasse aquele lugar para sempre.

Oh, a quem você que enganar, Andrea? Você está enrolando só para poder ficar aqui, perto do Professor Snape, e dividir com ele esse momento. E, sejamos sinceras, você está o dando a oportunidade de... você está esperando que ele...

- Não é lindo? – ela sussurrou.

Silêncio.

- Professor? – Andi se virou para olhá-lo, sabendo que estaria banhada pela luz do luar, sabendo que seus olhos estariam brilhando a sua pele estaria perolada.

- Eu... Eu nunca me importei muito em prestar atenção.

Preste atenção agora! Oh, preste atenção agora.

Se existisse algum cenário perfeito para continuar o que começara durante a dança, era aquele. Se Snape não dissesse ou fizesse alguma coisa naquele momento, nunca mais faria. É verdade, Andi também poderia fazer alguma coisa, mas ela não tinha certeza se realmente fora ele em seus braços... Snape era o único que sabia. Ela não podia arriscar.

- ...onde alguns vêem beleza, eu apenas vejo perigo.

Ele a encarava, suas costas contra a lua, seus olhos negros brilhando à meia-luz. Eles estavam hipnotizados. Andi se sentia deslizar em sua direção – tanto que de fato teve que dar um passo para se manter equilibrada. Deu um passo na direção dele.

- Isso não lhe toca nem um pouco? Isso não acende nada dentro de você? – Ela não
conseguia tirar os olhos dos deles, seu coração batendo muito forte.

- Eu...

Fora imaginação dela, ou Snape tinha deslizado em direção a ela?

- Não há poesia em você, Professor? – ela sussurrou.

De repente, o rosto dele endureceu dramaticamente.

- Não – ele disparou. – Meu
vocabulário tende a me deixar na mão quando eu estou cara-a-cara com um lobisomem. Podemos, por favor, voltar ao castelo...?

Eles voltaram a caminhar.

Então era assim. Ele não sentia nada, enquanto ela se sentia tal qual um baralho em meio a um ciclone.

Andi não podia fazer aquilo... Ela não conseguiria andar perto dele, como se tudo estivesse normal. Estava lutando contra um crescente nó em sua garganta, e percebeu que estava bem perto de uma grande sessão de choro, que jamais aconteceria na frente dele.

- Desculpe... eu tenho que ir... – ela conseguiu balbuciar e, segurando a barra do seu vestido, correu de volta para o castelo, as lágrimas deslizando pelo seu rosto.

Ela entrou em seu quarto e recostou-se à porta. Sua cabeça parecia pronta para explodir... Ela não conseguia suportar aquilo!... Estava enlouquecendo.

Rolando seus olhos para cima, ela curvou-se e chorou desesperadamente para expiar a sua dor.

O que ela tinha feito para merecer essa terrível peça que Deus estava pregando nela?

Aqui está você, Andrea, e aqui está o homem que eu escolhi para você! Aqui está o seu homem misterioso, aquele que deveria ser especial. Bela brincadeira, não? Bem, aqui está a pegadinha... vocês sequer existem no mesmo mundo! E, mesmo que existissem, o coração dele está enterrado em baixo de uma tonelada de gelo. Hahahaha. Serve-lhe bem, por ser um completo desperdício de espaço. Eu nunca soube o que fazer com você, Andrea. Afinal, você só existe porque a sua mãe deu uma rapidinha enquanto eu não estava olhando...

Jogando o seu discman na cama, ela foi até o banheiro.

Alvo Dumbledore chegaria amanhã, e ele a ajudaria. Andi se sentia segura quando ele estava por perto... Se ela pedisse, com certeza o diretor a levaria para algum outro lugar até que pudesse ir para casa. Ela não conseguiria encarar Snape novamente, não se sentindo daquela maneira... Agora, era impossível se comportar como uma pessoa normal.

Ela se olhou no espelho. Seus olhos, agora, estavam rosados; seu rosto estava inchado e duas bolas vermelhas eram vistas nas maçãs do seu rosto.

Deus, estava deplorável!

Agora Andi não podia fazer mais nada, senão ir pra cama – mesmo quando dormir estivesse completamente fora de questão. Ela teria que deitar acordada, contar as horas até a manhã chegar e evitar Snape o máximo possível.

Resignada, ela começou a desatar o nó no xale – e parou.

O que era aquilo que Snape tinha colocado ao redor dos ombros dela?

Aquele não era o seu xale – ela sequer tinha um xale!

Andi olhou para o tecido e congelou. Prateado, com bordas douradas...?

Aquela... aquela era a toalha de mesa da Vidente...

A Vidente!

De repente, ela se lembrou das palavras da Vidente.

Alice é importante. Ela traz a questão que você quer respondida...

Alice era a música!

E a pergunta que ela sempre fazia quando
dançava ao som de Alice era “quem é o homem misterioso que sempre dançava com ela?”.

Na lua-cheia ela responderá a sua questão.

Tivesse sido real ou imaginário, a pergunta tinha sido respondida – o seu parceiro misterioso era Snape.

Ela lhe trará clareza. Ela lhe trará um sinal para que você confie em sua intuição...

E não podia haver um sinal maior do que Snape a entregando a toalha de mesa da Vidente!

E o que a intuição de Andi a dizia?

Dizia que aquilo não havia sido um sonho ou uma alucinação... Que Snape realmente tinha, de alguma forma, ido até seus braços naquela noite; e, de alguma forma, a beijado.

... e antão Andi se lembrou de mais uma coisa – algo muito importante que acontecera logo após ter sido picada pela mosca-tigre.

Ela prendeu respiração com a epifania, e correu do seu quarto para a porta de Snape.

XxXxXxX

Reviews, por favor...

Bjus para a Lara, que, sim, betou mais esse capítulo. E, naturalmente, para o pessoal que leu e revisou: a Renata, a Lua Mirage2, a Shey, a Olivia Lupin, Sandy Mione, Milly, Judy Snape e a nathsnape.

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