Alice



Capítulo 16

ALICE

Antes de sair do castelo para iniciar a última caminhada pelos jardins, Andi voltou ao seu quarto e foi até a sua mochila. Pegou o Discman, que, para a sua surpresa, ainda funcionava. Imediatamente pôs os fones de ouvido e encaminhou-se para o lago, enquanto era consumida pela música que fluía em seus ouvidos.

Até aquele momento, Andi não tinha percebido o quanto sentia falta de música... Mal lembrava como era bom escutar algo cantado por outra pessoa – era certamente bem melhor que ouvir apenas o som do próprio piano, como aconteceu durante todo o tempo em que ela esteve em Hogwarts... E algumas das suas músicas preferidas, de seus cantores favoritos, estavam naquele CD.

Ela vagou pelo lago, escutando as musicas, vendo a lua-cheia refletir-se na água e imaginado se aquele cenário seria tão belo no lado trouxa do arco.

Bem, eu poderei conferir isso amanhã, quando estiver voltando para casa...

... De repente, Andi se imaginou do outro lado do arco, vendo nada além das ruínas do castelo... Sabendo que o Professor estaria em algum lugar, cuidando da sua vida... Tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe...

A mera idéia a fez sentir-se ligeiramente tonta.

Andi precisava admitir: algo estava acontecendo. Alguma coisa dentro dela tinha mudado e a fazia pensar em Snape de uma forma diferente – tanto que a idéia de voltar para casa deixou nela um grande vazio.

Mas ela não devia se sentir assim. Era inútil; ridículo.

De fato, houve alguns momentos em que Andi pensou que ele talvez estivesse mostrando um pouco de interesse – quando ele abriu a porta para ela naquela tarde, por exemplo, ele se mostrou bastante surpreso e seus olhos brilharam de tal forma que ele pareceu ter ficado feliz em vê-la... Mas ele logo fez um desagradável comentário sobre a sua aparência, então...

... e, tudo bem, talvez ela o tivesse afetado na noite do Diamante da Noite... Mas a maioria dos homens héteros teria sentido a mesma coisa ao ver o corpo de uma mulher através de um vestido molhado.

Ao lembrar-se da expressão que viu nos olhos dele naquela noite, fogos de artifício pareceram disparar dentro dela.

Em se tratando de qualquer outro homem, Andi teria tomado esses fatos como sinais do seu interesse... Mas aquele não era qualquer outro homem, logo tentar chegar a tal conclusão não fazia sentido algum. Aquele era o Professor Snape – frio, intocável e extremamente desinteressado.

Ela olhou para o horizonte, olhos começando a marejar.

E, mesmo sendo frio e intocável, Snape tinha se sentado em sua cama para limpar o frio ungüento do rosto dela... e, mesmo com sua mente confusa, Andi havia reconhecido o quão diferente era a maneira que ele a tocava, comparada ao do dia em que ela chegara à Hogwarts...

... ele tinha deixado a sua cama por ela... cuidado dela...

Andi riu.

... ele até mesmo pedira para ela uma torrada no estilo dos trouxas, naquela tarde, mesmo quando o fazer claramente o irritou!

Caminhando pelas margens do lago, Andi abraçou-se. A tempestade tinha mudado o tempo. Ainda estava quente, mas uma brisa gelada cortava os jardins da escola, fazendo a sua pele se arrepiar.

Andi finalmente chegou ao carvalho e suspirou, recostando-se a ele. Olhou para aquela bela vista. Sentiria falta...

... disso.

Naquele instante, uma música que Andi não lembrava estar no CD começou a tocar. Era uma música que ela adorava, mas que não escutava muito... Apenas momentos muito pessoais e especiais mereciam aquela música.

Ela saiu de perto da árvore e pressionou o botão que fez a canção recomeçar.

Alice, de Tom Waits.

A letra era incrivelmente triste, mas tão bela... A musicalidade era lenta e muito sonhadora...

Exatamente como acontecia todas as vezes que Andi escutava a música, seus olhos se fecharam e ela começou a se deixar levar pela melodia. Suas mãos juntaram-se em suas costas e, como sempre, o seu parceiro de dança imaginário se juntou a ela.

Andi nunca via o rosto daquela pessoa... Ele era alguém que sempre aparecia do nada quando a música começava e sumia tão-logo ela terminava. E ele jamais vinha para qualquer outra música – apenas para Alice.

Andi imaginou os braços dele a abraçando... Colocando os seus nos ombros dele... Segurando a sua mão direita e trazendo-a para perto do seu corpo enquanto eles dançavam... A bochecha dele se pressionava levemente contra a testa dela, sua boca perto da sua orelha.

Ondas de calor e emoção que cresciam dentro dela enquanto seus corpos se moviam ao som leve e sensual era bem maior do que o que encontrava quando dançava com um parceiro real. Andi jamais dançara Alice com um homem de verdade, pois ainda não tinha conhecido ninguém que lhe provocasse sensações parecidas àquelas que o seu parceiro secreto a proporcionava.

Ele era especial. Ele era... especial.

O calor da noite aguçou seus sentidos. A música era hipnótica; os sentimentos que cresciam nela eram intoxicantes. Uma tímida lágrima apareceu no canto dos seus olhos quando o solo de sax finalmente começou... E o estado de consciência de Andi estava tão alterado, que ela realmente levantou as mãos para abraçar o pescoço imaginário...

...E ela sentiu a solidez do corpo se reafirmar em seu abraço... e a respiração gentil dele contra a sua orelha... e a aspereza do seu queixo enquanto se moveu pela sua pele, seus rostos permanecendo em contato enquanto ela inclinou sua cabeça para cima, olhos ainda fechados, lábios apenas um pouco longe dos dele.

As mãos em suas costas a puxaram levemente para perto. O primeiro toque entre os lábios foi tão leve, que uma brisa talvez tivesse brincado entre eles. Lentamente, levemente, suas bocas se juntaram e ela derreteu-se no gosto sensual, delicioso e dele. No calor crescente dos seus corpos. No sentimento que aquilo era simplesmente... certo.

Andi tomou fôlego e seus olhos se abriram – ela cambaleou para trás.

O clima se quebrou com a chegada do fim da música e Andi se encontrou completamente sozinha às margens do lado.

Seus olhos vagaram freneticamente pelo gramado, pelo lago, e até mesmo dentre as distantes árvores.

Ela estava sozinha.

Mas aquele beijo...!

A sua mão trêmula foi até os seus lábios, e ainda os encontrou úmidos. Seu coração batia forte, sua pele tinha se tornado fria. Era verdade, ela nunca se deixara levar tanto por aquele clima antes, mas ela também nunca tinha sido deixada com o vestígio do beijo de seu parceiro secreto ainda brilhando em seus lábios... O gosto dele ainda estava forte, em todos os seus sentidos...

... e o cheiro daquele corpo era tão familiar...

Estremecendo em choque, Andi se abraçou e começou a caminhar de volta para o castelo, sentindo-se confusa, tonta e com um pouco de medo.

XxXxXxX

Reviews, por favor...

Bjus no coração da Lara, que betou mais esse capítulo... e, é looogico, para as minhas queridas e idolatradas leitoras que revisaram, a Lua Mirage2, a Sandy Mione, a Shey e a Olívia.

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