Só nós dois



***SPOILERS DE HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE***


Capítulo 24 – Só Nós Dois


- Sua mãe deve gostar muito de cuidar das flores – comentou Remus, enquanto caminhavam pelo jardim dos Tonks. Devia ser perto das duas horas da tarde, e todos estavam dentro de casa, com a exceção de Remus e Tonks.
- Ah, sim. Ela faz isso desde que me conheço por gente, e também me manda ficar longe delas desde a mesma época – falou ela, rindo e sentando-se no balanço. Ela esperava que Remus sentasse no balanço ao lado, mas, ao invés disso, ele começou a balançá-la lentamente. A surpresa a fez soltar uma risadinha.
- Que foi? – perguntou ele, notando a expressão dela. – Não gosta de balançar?
- Claro que gosto – respondeu ela, inclinando-se um pouco para poder ver o rosto dele. – É só que percebo que não o conheço totalmente, Remus. Você consegue me surpreender. Não pensei que fosse o tipo que me balançava, pensei que se sentaria no balanço ao lado.
- Talvez uma semana juntos não seja o que podemos chamar de tempo necessário para conhecer alguém – disse ele, olhando fundo nos olhos dela.
- Não – concordou, em tom definitivo. – Mas nos conhecemos há quase dois anos. E eu estou apaixonada por você há mais ou menos um ano e meio.
- Não posso negar que eu talvez esteja apaixonado há mais tempo que você – falou ela, enquanto Tonks olhava para uma rosa em suas mãos, particularmente bonita e grande, que ela havia pegado do jardim enquanto andavam por ele, minutos antes. – Ao menos espero que esteja se surpreendendo positivamente.
- É claro que sim – respondeu Tonks, como se aquilo fosse óbvio. – E eu tenho certeza de que minha família pensa o mesmo. Só espero que eu não esteja surpreendendo você de forma negativa.
- É claro que não – respondeu ele, ainda balançando Tonks. – Você só me trouxe coisas positivas até agora.
Tonks olhou para Remus, que parou de balançá-la de repente, e a auror lhe deu um sorrisinho maroto.
- Sua família é encantadora – continuou ele, balançando-a novamente. – Mas eu ainda acho que eles deviam saber o quanto antes sobre minha condição de lobisomem.
- Talvez seja a coisa certa fazer – falou Tonks, após um breve momento de silêncio. – Mas eu... eu acho que eu devia contar. Eu acredito que eles aceitarão, mas tenho... receio da reação inicial da notícia. Eu preferiria que você não estivesse lá quando eu contasse.
- Estou acostumado com rejeições – retrucou ele.
- Mas eu, não! – sussurrou Tonks, exasperadamente. – Eu não quero que você sofra, Remus, e eu preferiria cuidar disso sozinha. Por favor, me deixe fazer isso sozinha. Se você estiver lá, eu... Posso acabar falando o que não devia.
Dessa vez, quem parou foi Tonks, e não Remus. Ela virou-se e fitou-o por alguns instantes, esperando uma resposta.
- Falar o que não devia? – repetiu ele, sem realmente entender.
- Se você estiver lá, e a reação deles não for tão conveniente – começou ela. –, é provável que eu os magoe tanto quanto eles me magoarão.
- Entendo – falou Remus, por fim. – Se é assim que você acha melhor... Só peço que não demore. É importante que saibam o quanto antes.
- Posso contar ainda hoje, se quiser – sugeriu Tonks. – Você poderia sair antes que eu, e eu conto para eles. Eles, afinal, não fazem idéia de que estamos praticamente vivendo juntos.
- Praticamente? – repetiu ele, rindo.
- Bem, nós não estamos morando juntos, mas desde que estamos juntos, eu tenho passado mais tempo na sua casa do que na minha – respondeu Tonks, sorrindo. – E eu espero que você não tenha problema algum com isso, porque eu não tenho por que reclamar.
- Eu, muito menos – falou ele, percebendo que ela chegava mais perto dele, e então virando o rosto.
- Remus, por que, pelas barbas de Merlin, desde que chegamos aqui eu não ganhei um beijo sequer? – perguntou Tonks, puxando o rosto dele pra perto do seu, rindo. – Se é por causa dos meus pais, admito que eles não ficariam tão felizes, mas tampouco ficariam aborrecidos. E já estamos sozinhos há um tempão.
- Eu prefiro não causar uma má impressão logo de cara – respondeu ele, um tanto sem-jeito.
- Então eu o desafio a me beijar – falou ela, com um sorriso presunçoso nos lábios. – E eu não quero uma coisa pequena, você sabe que aqueles não têm graça. Bem, eles têm, sim, mas eu prefiro os mais calorosos – ela riu gostosamente, enquanto Remus lançava a ela um sorriso um tanto... Lupino. – Vamos, Remus, ninguém está olhando.

Ted Tonks observava de vez em quando a filha passeando pelo jardim com o namorado. Não que ele estivesse suspeitando de alguma coisa; era quase inevitável estar sentado diante da janela e, sabendo que Dora estava lá, não olhar. Foi com um pouco de surpresa que, quando ele se encaminhou para janela, viu a filha e o namorado se beijando. Ele não esperava isso de Remus, mas não podia dizer o mesmo de Nymphadora. Ela gostava de chocar, e, conhecendo a filha como conhecia, tinha quase certeza de que a idéia fora dela. Se é que havia uma idéia.
Ele rapidamente virou-se e tornou a encaminhar-se para a sala, onde o resto da família se encontrava.
- Por que voltou tão depressa? – perguntou Cetus, rindo. – Por acaso Dora estava dando uns amassos no jardim?
Ted murmurou alguma coisa ininteligível com a boca, o que fez o filho rir.
- Vocês acham que com esse aí vai durar? Porque os outros não duraram muito tempo... – comentou Cetus, pensativo, enquanto suas duas filhas passavam correndo pela sala e já sumiam da vista dele.
- Não sei se vai durar... Eles são muito diferentes... Remus é um homem muito distinto, um cavalheiro... Mas Dora não é o que podemos chamar de dama. Pelo menos não naturalmente – falou Melanie.
- Eu acho que vai durar – falou Andrômeda, de repente. A resposta dela surpreendeu a todos. – Ele esteve aqui no verão passado, e eu tenho certeza de que isso não é recente. Ela só o trouxe aqui hoje porque, provavelmente, as coisas estão mais sérias do antes. E aprovo totalmente o relacionamento deles. A diferença de idade não é pequena, mas ambos são adultos o suficiente para saberem disso. Eu não conheço a renda de Remus – acrescentou ela. – mas Nymphadora ganha o suficiente para ela, e acredito que deva bastar para ele. só tem uma coisa que eu não entendo...
- O quê? – perguntou Melanie.
- Eu não sei, parece que falta alguma coisa nessa história toda – respondeu ela, pensativa.
- Eu espero que ela continue com ele. Melhor do que os outros – falou Ted, voltando ao assunto e sentando-se numa poltrona e pegando o Profeta Diário que estava na mesinha. – E suas filhas – ele apontou para o filho, de repente. – que não me venham daqui a alguns anos me apresentar a dois americanos vulgares.
- Meu caro pai – começou Cetus, sério. –, acaso conhece algum americano que comprove essa sua teoria maluca de quê americanos são estranhos, vulgares e malucos?
- Conheci um americano há muitos anos – respondeu Ted, de má vontade. – Ele era tudo o que podemos chamar de maluco, vulgar, estranho, e coisas piores, sem dúvida.
- Não nego que são estranhos – falou Andrômeda. –, mas não podem ser todos assim, tão ruins. Não ligue para o seu pai, querido. Você sabe que ele ainda tem algumas manias trouxas não muito aprovadas por mim.
Tonks e Remus chegaram à sala naquele momento, o que fez todos pararem de falar.
- Não precisam se preocupar em esconder o que falavam de mim e de Remus – falou Tonks, sorrindo. – É que ele já está de saída.
- Mas, já? – perguntou Andrômeda, levantando-se de um salto. – Ora, vamos, Remus, tem certeza de que não quer ficar para o chá?
- Não, mas obrigado do mesmo jeito. Eu já me demorei demais – falou Remus.
Andrômeda insistiu mais um pouco, mas logo Remus já estava trocando apertos de mão e ‘adeus’ com todos, com a promessa de aparecer novamente. Desejou boa viagem à Cetus e Melanie, e se encaminhou com Tonks para a lareira.
- Nos vemos à noite, então? – perguntou ele, em tom baixo.
- Claro – falou ela, rindo marotamente, algo que apenas ele pôde ver.
Eles se beijaram brevemente, e em seguida Remus já estava sendo engolido por chamas verde-esmeralda.
Tonks encaminhou-se para o sofá mais próximo, e mal se sentara pôde perceber que os olhos de todos estavam fixados nela. Na mesma hora, ela levantou o olhar e perguntou, com um meio sorriso:
- Por que está todo mundo me olhando? O meu dente está sujo, por acaso? – ela deu uma risadinha nervosa.
- Não, não é nada – negou Cetus, rapidamente. – Estávamos só nos questionando quanto tempo você e Remus durarão. Falta a sua opinião, Dora. Você e Remus ficarão bastante tempo juntos?
A pergunta a pegou de surpresa, desprevenida. Afinal, era uma coisa que nem mesmo ela pensara ainda. O irmão percebeu a agitação dela, e disse:
- Não precisa responder se não quiser. Mas, antes de qualquer coisa, sou obrigado a dizer que gostei dele, e que acho que ele realmente gosta de você.
- Acha mesmo? Porque... Bem, vocês não conhecem todos os detalhes da história, e há uma coisa particularmente interessante nela – falou Tonks, sem parar para respirar.
Todos na sala ficaram em silêncio, esperando Tonks continuar. Tudo o que se podia ouvir era os passos das meninas correndo no jardim. Como não sabia por onde começar, Tonks permaneceu quieta por um instante, mas Andrômeda estava impaciente:
- Ora, vamos, pare de fazer drama, Nymphadora!
Ela resolveu ser direta. Talvez fosse o pior. O estrago seria o mesmo de qualquer jeito.
- Remus é um lobisomem.
Se a atmosfera da sala antes era de silêncio, este agora era mortificante. Andrômeda apenas soltou uma exclamação mínima com a boca, bem como Melanie. Cetus ficou boquiaberto por meros segundos, e depois, parecendo temer o que estava por vir, ficou sério e de repente as listras do sofá lhe pareceram interessantes. Ted, que lia o jornal, deixou este lhe cair um pouco das mãos, e fitava a filha com seriedade. Ele foi o primeiro a falar.
- Você o ama, Nymphadora? – chegava a ser estranho ouvir o pai chamá-la pelo primeiro nome completo.
- A-amo, sim – gaguejou ela, surpresa com a calma do pai. Mal ela pensara que poderia ter sido pior, Andrômeda começou a falar, levantando-se energicamente.
- Um lobisomem! Era só o que me faltava! – exclamou a mãe, olhando para a filha com uma expressão mesclada de vergonha e medo. – Era bom demais pra ser verdade! Eu bem achei que ele era perfeito demais, era bom demais...
- E se ele morder você, Dora? – perguntou Cetus, em um sussurro pouco audível.
- Se ele a morder? – repetiu Andrômeda, sem dar tempo para a filha falar. – Ela vira o que ele é, um monstro! Ah, meu Deus, Nymphadora, eu podia esperar qualquer coisa, menos isso de você! Parece que não tem noção do perigo! Mete-se em sociedades secretas, luta com Comensais, vê Você-Sabe-Quem, e, agora, namora um lobisomem! Eu devo esperar o quê, cachorros como netos?
Tonks, na mesma hora em que a mãe parou de falar, levantou-se, ficando cara a cara com ela.
- Não fale assim do Remus – começou, os olhos enchendo-se de lágrimas.
- Não falar assim dele? – repetiu Andrômeda, em tom debochado. – Ele provavelmente só está com você para se aproveitar da sua inocência, conquista você, pois sabe que não conseguirá ninguém para si, e você acabará magoada depois disso tudo...
- Não se atreva a julgá-lo, mamãe! – falou Tonks, com as lágrimas já escorrendo. Ela não podia esperar reação pior do que aquela. – Eu passei o último ano sem conseguir me metamorfosear, rir, ou mesmo viver direito, pelo simples fato de que ele, Remus, o aproveitador, não queria que eu sofresse por causa da real condição dele! Eu o amo, mãe, e não importa o que vocês digam ou façam em relação a isso, o que sinto por ele não vai mudar! Achei que você, mais do que ninguém, entenderia isso!
Andrômeda ficou chocada ao ouvir aquilo tudo. Nymphadora começou a chorar desesperadamente na frente deles, se jogando no sofá atrás dela. Ninguém teve coragem de falar alguma coisa, ninguém teve coragem de consolá-la, temendo a reação de Andrômeda. Mas ela não pensava na cena, ela pensava no que sua filha acabara de dizer... Ela estava sendo um reflexo de sua própria mãe quando falava do homem que a filha amava como se este fosse um monstro, a mãe que ela tanto desprezara por não aceitar o seu amor, o seu casamento com um nascido-trouxa... O que sua mãe fez com ela, ela estava fazendo à Nymphadora.
Andrômeda sentiu as lágrimas virem aos olhos; parecia que sua mente queria punir a si mesma, pelas coisas horríveis que disse para uma pessoa que ela amava tanto. Sentiu-se suja, contaminada pelo preconceito de toda a sua família, coisa que ela nunca sentira. Ela tentou balbuciar algumas palavras, mas nada saiu de sua boca. Todos estavam olhando para ela; ela sabia que o relacionamento da filha não era o esperado por ninguém, mas ninguém iria julgá-la ou proibi-la por isso.
Antes que pudesse se controlar, a Sra. Tonks correu escada acima, do mesmo jeito que fizera há tantos anos atrás, quando seu grande amor fora ameaçado e proibido.
Tudo aconteceu muito rápido: Cetus fora atrás da mãe, Amanda e Susan apareceram na sala, querendo saber o que houve, e Melanie saiu arrastando as filhas, para estas não atrapalharem. Só se podia ouvir o choro de Nymphadora Tonks, as mãos cobrindo o rosto coberto de lágrimas.
- Dora – falou Ted, a expressão séria e preocupada em seu rosto, enquanto sentava-se ao lado da filha. – Não fique assim.
- Eu não podia esperar reação pior, papai – murmurou a auror, enquanto o pai a abraçava. – Eu sinto muito não ter sido o que vocês queriam que eu fosse, sinto muito não fazer o que vocês querem que eu faça... Mas eu n-não posso evitar!
- Dora – chamou ele, largando o abraço e ficando cara a cara com a filha. – Nada de desculpas. Eu admiro o que você é, admiro o que você faz, admiro a coragem que você tem em assumir um relacionamento assim. Sendo seu pai, não preciso esconder o meu desgosto, pois sempre imaginei você com a melhor das pessoas. E, para mim, ninguém jamais será bom o bastante para merecê-la. Mas se você o ama, eu nada tenho a dizer. O amor é a maior das forças, e quem sou eu para ir contra ele?
- Ah, pai – falou Tonks, chorando mais ainda.
- Se você o escolheu, é porque ele é digno de você. E se ele é digno de você, o considero um genro mais que digno para mim – falou Ted. – Agora, não há motivo para chorar. Sua mãe verá que está errada, provavelmente já viu. Vai ver que logo tudo voltará ao normal.
Tonks esfregou os olhos, parando de chorar, embora continuasse fungando.
- É melhor ir ao banheiro lavar o rosto – aconselhou o pai. – Tenho certeza de que Remus não vai gostar de vê-la nesse estado quando voltar.

*~*

Eram quatro e meia da manhã. Remus Lupin não conseguia dormir. Ele havia cochilado, mas nada do sono vir. Talvez a culpa fosse doas acontecimentos daquele dia. Afinal, não é sempre que a família da sua namorada fica sabendo que ele é um lobisomem.
Tonks havia ficado, obviamente, abalada com a reação, principalmente, da mãe. Hipócrita, como ela mesma definiu. Ele, no entanto, ficou até aliviado em saber que o resto da família não fazia objeções alguma a ele. Era óbvio que ele sentia um pouco de receio por estar com Tonks, mas ele não conseguia ignorar o fato de que estava feliz pela primeira vez em muitos anos.
Ela dormia pacificamente ao seu lado, com um pequeno sorriso nos lábios. Ele gostava de observá-la quando ela dormia; ela sempre parecia tão calma, e ali, com ela, era quase como se o mundo inteiro estivesse calado, esperando Nymphadora acordar e dizer ‘Bom-dia!’ para ele, com aqueles olhos brilhantes e aquele sorriso que era, para ele, como o sol da manhã. Incrível como ele não conseguia pensar em como conseguira viver sem aquilo.
Eles eram muito diferentes. E ambos estavam cientes disso. Mas havia alguma coisa desde início. Desde que se conheceram, houve alguma coisa. Quase como uma faísca do que estaria por vir. Como se um vislumbre do que estaria por vir passasse pelos olhos deles. E, agora, ele já não conseguia viver sem esse vislumbre. Ele precisava estar com Tonks. E ele tinha certeza de que ela precisava estar com eles.
Ela era exasperada, ele era calmo. Ela era desastrada, ele era cuidadoso. Ela era metamorfomaga e ele era um lobisomem. Afinal, o que eles viriam a ser juntos? Estava mais do que na hora de descobrir... Nos últimos tempos, ele estava sendo o que ele julgava há alguns meses que jamais devia acontecer: ele estava sendo egoísta. Apesar disso, ele não conseguia sentir-se mal ou arrependido; a felicidade de Nymphadora parecia ficar sempre mais a mostra do que qualquer outro sentimento dele. Era difícil, no entanto, aceitar a idéia de que a felicidade dela era graças a ele. Ele, que sempre tentou evitar todos, não querendo que ninguém se machucasse ou se magoasse por sua causa. Era difícil, mas ele aceitava. Do mesmo jeito que ela o aceitava. É, com certeza Nymphadora estava mudando a vida dele de um jeito melhor do que ele poderia esperar.
Ele gostaria de saber o que James e Sirius falariam se o vissem desse jeito. Ele soltou uma risada mínima. Ele lembrou-se do quanto Sirius caçoava de James quando este começara a namorar Lily. James, afinal, deixava de sair com os amigos para sair com ela, e isso já era mais que qualquer evidência de que ele estava apaixonado. Sirius teria ficado particularmente feliz com aquilo, ele tinha certeza disso. Ele se lembrou de quando o amigo lhe pedira para ser padrinho do casamento deles... Se houvesse um casamento, infelizmente Sirius não poderia ser o padrinho.
Ele também lembrou-se de uma situação vivida há muito tempo atrás, quando os quatro marotos se reuniram em um pub qualquer e James contou que se casaria em breve. Todos acreditavam que Sirius seria o próximo da lista, mas o animago negou prontamente e disse não ter dúvidas de que Remus seria o próximo a se casar. Na verdade, Sirius disse que Remus seria o próximo e último maroto a se casar. Na época, ele jamais teria considerado a hipótese, mas nos dias de hoje, quem sabe? Se fosse assim, ele provavelmente seria o próximo, conforme a previsão de Sirius, e também seria, provavelmente, o último. Ainda assim, ele chegou à conclusão de que Sirius possivelmente teria se casado, se não fossem as circunstâncias que tomaram liderança na sua vida, que fizeram Sirius ficar trancafiado em Azkaban por tanto tempo e, depois de sua fuga, ele ser o homem mais procurado da Grã-Bretanha.
Naquele momento, Tonks mexeu-se inquietamente ao lado dele, que se surpreendeu ao ouvi-la falar, com os olhos fechados:
- Remus, não se esqueça de me lembrar que temos reunião, amanhã...
Ele olhou rapidamente para o relógio no criado-mudo. Ainda não era exatamente a hora que Tonks costumava acordar, e era muito menos um comentário que ela costumava fazer assim que acordasse. Não era a primeira vez que Tonks falava enquanto dormia...
É, ele não podia dizer que não estava feliz. Ele estava muito feliz. E sua namorada parecia tão feliz quanto ele...
Namorada. Não era uma palavra que tivesse algum impacto. Era incômoda, pensou Remus. Não fazia jus ao que ele e Tonks sentiam. Não combinava com eles. Bem, é claro que Tonks era namorada dele, mas havia alguma coisa que não fechava o contexto... Ele já era um pouco velho para ter uma namorada, pensou ele, mas se Tonks ouvisse isso, ela certamente que começaria um sermão dizendo que ele não era velho, e blá, blá, blá... Talvez ela estivesse certa, mas ainda assim a palavra não combinava.
Esposa, por outro lado...

*~*


- Acho melhor nem lhe oferecer ajuda, Molly – falou Tonks, após a reunião da Ordem n’A Toca, enquanto Molly fazia o jantar; poucos membros ficaram para o jantar. Estes incluíam Tonks, Remus, Kingsley, Olho-Tonto e Mundungus. – Assim lhe pouco o trabalho de recusar.
- Se assim acha melhor, querida, eu só tenho a concordar – falou a Sra. Weasley. – Como andam as coisas com Remus?
- Ah, está tudo ótimo. Ele está meio calado hoje, mas está tudo normal – falou Tonks, sorridente. – Meus pais ficaram sabendo da condição do Remus ontem, e eu achei a reação deles péssima. Mas Remus insistiu que poderia ter sido pior.
- Você não esperava que eles fossem ficar felizes, esperava, Tonks? – perguntou Ron, que estava sentada ao lado da auror na mesa. Tonks percebeu que Ginny, provavelmente, havia dado um chute no irmão por debaixo da mesa, a julgar pelo olhar de reclamação que ele lançou a ela, mas Tonks não se importava; ela sabia que, às vezes, podia ser mais inconveniente do que Ron.
- É claro que não – respondeu Tonks, indiferente. – Mas eu esperava mais compreensão da parte deles. Onde está a Hermione?
- Em casa – respondeu Ginny, antes que Ron pudesse abrir a boca. – Ela disse que quer ficar com os pais por enquanto, mas acho que na semana que vem ela chega.
- E ainda temos que ver como iremos pegar o Harry – falou Tonks, pensativa. – Acho que você vai ter que esperar mais um pouco antes de vê-lo, Ginny.
- Não me incomoda a espera, quando já se sabe o que virá – respondeu a garota, secamente.
Tonks estranhou a frieza da garota, mas sua mente não teve tempo de pensar muito sobre isso; ela olhou ao seu redor brevemente, mas não viu Remus em lugar algum. Todos estavam ali, na cozinha, papeando, mas Remus não estava lá. Tonks estranhou a falta dele, mas não se alarmou. Provavelmente ele havia ido ao banheiro, ou qualquer coisa do gênero. Ao invés disso, ela aproveitou que ninguém falava com ela e resolveu dar uma volta pelo jardim.
Mal ela saiu, viu a figura de Remus caminhando um pouco à frente; ela ficou surpresa, mas sorriu. Ela não conseguia imaginar por que Remus estava ali, no silêncio de seus pensamentos, e pensou em não interromper. Mas ela realmente gostava da idéia de caminhar sorrateiramente pela noite com Remus. Afinal, que mal podia fazer?
Ela continuou andando quietamente atrás dele. Quando ela ia encostar os dedos nas costas dele, com o propósito de um susto, ele se virou, sorrindo.
- Sabia que você é um grande estraga-prazeres? – perguntou Tonks, fingindo decepção.
- É, acho que sabia – respondeu ele. – O que faz aqui?
- O mesmo que você faz, eu imagino – respondeu Tonks, irônica.
- Pensei em dar um passeio – falou ele, dando mais uns passos à frente.
- A julgar pelo mistério em sua voz – começou Tonks, caminhando junto com ele –, eu diria que você quer ficar sozinho. Eu não me importo de voltar, antes que você diga qualquer coisa.
- Não, fique – falou ela, pondo o braço ao redor dos ombros dela, continuando a caminhar.
- Fico feliz com isso, já estava achando que você estava ficando enjoado de mim – falou Tonks, embora estivesse um tanto surpresa com o ato dele.
- Isso não poderia ser possível – acrescentou ele. Tonks encostou a cabeça no ombro dele, em silêncio. Ficaram assim por alguns instantes, até que Tonks disse: - Não sei se já lhe disse, mas eu sempre gostei de gnomos.
- Disse, há muito tempo atrás, na primeira vez que viemos aqui com a Ordem – comentou Remus.
- E você não perde uma, hein? – falou ela, sorrindo. – Sabe, quando eu tiver uma casa só minha, eu não iria querer um jardim lindo, florido e quase intocável como o de minha mãe. Eu iria querer um jardim bonito, óbvio, mas eu gostaria de gnomos nele. Se chamam o jardim monótono de Dona Andrômeda de “cheio de vida”, é porque não viram esse. Afinal, flores têm vida, mas gnomos dão mais atividade a tudo.
- Podemos ter um jardim assim, um dia – falou Remus, enquanto ainda observavam os gnomos.
- Quando a guerra acabar, e eu voltar a trabalhar no Ministério – contrapôs ela, de má vontade. Ela percebeu que ele não entendera o que ela falou, e continuou: - Não que eu não trabalhe mais no Ministério, é claro. Mas é só uma questão de tempo até me demitirem. Eu já dei muito na vista, e isso não é de hoje. Logo os Comensais tomarão o Ministério, e eu não trabalharei mais lá. Se depender de mim, vou embora antes disso acontecer.
- Não é uma coisa muito racional.
- E desde quando eu me importei em ser racional lá? – interpôs Tonks. – Eu fui trabalhar lá pelo simples fato de que eu queria ser alguma coisa útil para a sociedade. E não existem outros lugares na Grã-Bretanha que têm aurores, existem? Não haverá problema em voltar quando a guerra acabar. Em todo caso, não se surpreenda se eu aparecer no seu apartamento dizendo que fui demitida.
- Tentarei não me surpreender – disse o lobisomem, parecendo pensativo, como se não soubesse o que dizer.
Que ele não esteja querendo terminar, pensou Tonks, ao ver a expressão no rosto dele. Era provável que ela tivesse feito uma careta ao pensar nisso, pois ele a olhou e perguntou, de um modo gentil e parecendo preocupado:
- O que foi?
É o Remus, Tonks, mesmo se ele terminar com você, ele vai continuar sendo gentil, e preocupado, e super-fofo...
- Nada, não – respondeu ela, tentando disfarçar. – É só que... Eu estava tentando adivinhar no que você estava pensando, só isso. Está meio quieto, hoje.
- É que... Bem, eu tomei uma decisão importante, hoje – falou Remus, ficando de frente para ela.
Pelas calças de Merlin, não seja a decisão que eu estou pensando...
- Fale, então, que decisão importante é essa – pediu Tonks, tentando parecer informal e não muito curiosa.
Não tenho muita certeza se quero saber que decisão é essa...
- Nós estamos juntos há pouquíssimo tempo – começou ele. E eu estou começando a ter palpitação, analisou a auror. – E sua família não aceitou o nosso relacionamento da melhor maneira possível...
- Isso é óbvio, mas não vejo por que se preocupar – retrucou ela, tentando não transparecer a confusão que sua mente estava.
Talvez ele só esteja querendo comentar sobre nosso relacionamento.
Ou, talvez, ele esteja querendo terminar. Afinal desde que finalmente ficamos juntos, praticamente não nos separamos...
Eu não o culpo por isso, não me canso da companhia dele.

- Eu acredito que não há porque se preocupar, mas ainda assim fico com um certo receio de... – falou ele, mas logo parou abruptamente. – A sociedade não irá nos ver com bons olhos...
- Nunca me viram com bons olhos. O cabelo rosa acaba com a impressão de qualquer um – interrompeu Tonks.
- ...e eu duvido muito que nosso relacionamento seja permitido...
- Ele não precisa ser. Sempre digo que, quando proibido, o gosto é melhor.
- Ainda assim, não tenho dúvidas quanto ao afeto que sentimos...
- Que bom, nem eu.
- E é aí que a minha decisão chega, apesar de você ter me interrompido sempre que pôde – analisou ele, quando Tonks abriu a boca para falar mais alguma coisa, mas parou ao ver a cara de riso contrastada à expressão séria que ele tinha.
- Eu não...
- Eu pensei muito sobre isso, Nymphadora, embora possa parecer que não.
- Não me chame assim, sabe que não gosto.
- Espero que você pense sobre isso antes de qualquer atitude impulsiva, aquelas que você faz com tanta freqüência.
Por Deus, fale logo o que é antes que eu tenha um ataque do coração!
Ela esperou pacientemente, até que ele tirou uma caixinha do bolso e abriu, mostrando um anel com um pequeno diamante em cima.
- Me dá a honra de se tornar minha esposa?
Tonks emudeceu. O que falar? Era óbvio, mas a mente dela ainda estava digerindo a informação. Ela pensando que ele iria terminar, quando, na verdade, queria casar com ela? Era coisa demais pra um único dia. Ainda assim, sua mente estava a mil por hora.
Remus quer casar comigo. Eu e Remus, casando. Eu e Remus, casados. Ela se tornaria a Sra. Lupin e eles morariam juntos de uma forma que sua mãe chamaria de mais digna. Claro que existia o fato de que, dessa maneira, ela iria ser demitida. Mas isso ela já sabia. Ela iria querer um casamento pequeno e simples. Mesmo porque não era muito bom dar na vista naquela época. Isso que as notícias correm.
- Se você não quiser, eu entendo – começou Remus, mas Tonks não o ouvia. Ela ainda estava muda, e as palavras dele eram meramente grunhidos. – Afinal, eu sou um lobisomem e...
Teriam sorte se os Comensais descobrissem o casamento uma semana depois de ter acontecido. Isso se Remus estava falando em casamento. Está bem, esposa é uma parte de um casamento, mas talvez ele estivesse se referindo a um noivado longo e sem data prevista para um casamento. Dessa forma, eles teriam que esperar a guerra acabar, isso se não morrerem nela. Sempre havia essa possibilidade.
A menção da palavra morte na mente da auror fez com que ela parasse de sonhar e voltasse para o mundo real, com Remus dando vários argumentos sobre ela não aceitar o pedido dele.
-... E seus pais ainda não aceitaram, você seria demitida mais cedo que nunca, e...
- Se você acha que eu não vou aceitar – começou ela, sorrindo abertamente, o que fez com que um misto de alívio e aflição transparecesse no rosto dele. –, é porque não pode estar em seu juízo perfeito!
Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, Tonks se aproximou e, quando ele foi beijá-la, acabaram caindo no chão, com Tonks em cima dele. Trocaram um único beijo, até Tonks começar a gargalhar descontroladamente.
- E eu que pensei que você estava querendo terminar! – falou ela, rindo novamente.
- Terminar? – repetiu ele, embora risse um pouco.
- É, você estava quieto demais, achei que estava insatisf...
- Calma aí, esquecemos a parte principal do pedido – interrompeu Remus, levantando-se e estendendo a mão para que ela pudesse se levantar também.
- Achei que a parte principal do pedido de casamento fosse o “aceito” – comentou a auror, agora rindo de maneira mais discreta. – Ou a noite depois do pedido.
Ele a olhou, sorrindo marotamente, enquanto ela tinha um sorrisinho presunçoso.
- Ah, é claro! A parte mais importante é colocar o anel – falou Tonks, ao ver Remus pegando a sua mão direita e colocando o anel no dedo carinhosamente. – A noite depois do pedido é importante, mas tem valor bem menor que o impacto que o anel causa sobre o resto do mundo, imagino. Imagino que muitos noivos deixam isso pra noite de núpcias, não? É uma pena que com a gente isso não cole mais. Não que eu me arrependa, é claro.

- Ora, vamos, Ron, a gente só vai dar uma volta pela vila – falou Fred, enquanto escapavam dos olhos da Sra. Weasley. – Vamos voltar antes que mamãe perceba.
- Eu realmente não acho que seja uma boa idéia – falou Ron, enquanto saíam da casa pela porta dos fundos. – Duvido muito que mamãe não perceba, ela tem estado com os olhos bem abertos desde que eu e Ginny chegamos...
Ao saírem, Ron ficou com o rosto completamente vermelho ao fixar os olhos em algum ponto à sua direita, ainda que Fred e George não tivessem reparado.
- Ah, se quer ficar, fique, eu não vou impedi-lo – falou George, impaciente. – O que diabos está olhando?
Antes que Ron pudesse falar qualquer coisa, os gêmeos puderam ver o que afligia o irmão. Não era nada imprevisível, mas possivelmente podia ser estranho para ele ver o ex-professor se atracando no jardim da casa deles com uma amiga da família jovem e, óbvio, muito bonita.
- Sabe, George, eu sempre digo pra qualquer um que estiver dando uns amassos – falou Fred, em um tom alto o suficiente para eles ouvirem. – que temos lugares mais privados, se é que me entende.
- É. Mas quando a coisa está indo longe demais – continuou George. – Eu digo pra largarem sofás e irem direto para um quarto, se é que me entende. Temos quartos, aqui, sabem.
Ele falou aquilo e Remus e Tonks viraram-se e chegaram mais perto. Daquela vez, ambos estavam um tanto sem-jeito, embora também sorrissem de forma controlada.
- Sabemos disso, George, obrigada – falou Tonks, escondendo a mão com a aliança no bolso, discretamente.
- Que vieram fazer aqui fora? – perguntou Remus.
- Não o mesmo que vocês vieram fazer, disso eu tenho certeza – falou Fred, sorrindo.
- Então acho que deviam voltar para dentro – aconselhou o lobisomem, também sorrindo calmamente. – Nunca se sabe o que pode acontecer fora de casa em dias como esses.
Assim, todos voltaram para a cozinha d’A Toca, alguns desapontados e outros totalmente felizes.

*~*


- Já pensou em algum lugar para o casamento?
- Remus, são sete horas da manhã e você vem me falar em preparativos para o casamento?
Nymphadora escondera a cabeça debaixo do travesseiro. Como podia acordar tão estressada? Fazia uma semana que estava noiva, e aquela semana já havia sido cheia o suficiente; procurar um vestido, escolher padrinhos, fazer os convites que, apesar de poucos, traziam muita incomodação... Isso sem contar em como trabalhar no Ministério estava sendo maçante. Ainda tinham uma semana pela frente, mas tudo o que faltava era escolher o local. E ela mal havia acordado, já estava sendo abordada quanto a isso.
- Eu sinto muito se incomodei – falou Remus, e em seu tom Tonks pôde perceber que ele estava tão aborrecido quanto ela.
- Remus, me desculpa – pediu Tonks, vendo que ele estava realmente chateado. – É só que... Eu tenho me sentido péssima a semana inteira, e você não imagina o quão frustrante é achar um vestido de noiva que eu realmente goste, ainda mais com minha mãe no meu ouvido dizendo para eu pensar bem em como quero tudo... É que eu não entendo bulhufas sobre como se prepara um casamento. Se bem que não deve ser fácil pra você também.
- Não deve ser tão difícil quanto o que você tem que fazer.
- Ao menos vai ser bem simples. Eu não iria querer como o da Fleur vai ser. Ugh! – falou Tonks, com cara de desgosto. – Só falta colocar pavões de gelo na recepção e cisnes voando na hora do beijo para o casamento dela se tornar o mais espalhafatoso da Grã-Bretanha. Quanto ao lugar... Por que não fazemos na casa dos meus pais? Mamãe já perguntou se eu não queria que fosse lá, mas não pude responder porque a droga do vestido que eu estava provando ficou preso e eu acabei caindo com ele.
- É, poderia ser lá.
Tonks sorriu rapidamente, mas o sorriso desapareceu quando ela viu as horas. Em breve devia ir trabalhar, e estava ali, papeando com o noivo.
- Ai, meu Merlin – falou ela, pulando da cama e abrindo o guarda-roupa a procura de roupas. – Eu tenho que estar no Ministério às sete e meia, Kingsley tem que entregar alguma coisa...
Ela colocou as primeiras roupas que viu, e Remus seguiu para a cozinha enquanto ela se arrumava.
Remus a esperou para tomar café, o que não demorou muito, porque Nymphadora atrasada era rápida o suficiente para não ser mais atrasada. O que mais o chamou a atenção era que ela parecia um tanto mais pálida que o normal e que caíra no primeiro passo que deu adentro do cômodo. Não que fosse anormal, mas é que nem nos próprios pés ela havia tropeçado daquela vez.
- Nymphadora, você está bem?
- Só... Só um pouco tonta, nada de mais. Deve ser essa coisa do casamento – falou ela, beijando-o brevemente e sentando-se ao seu lado.
É, devia ser coisa do casamento.

*~*


Três dias para o casamento. Três dias. Em apenas trinta e seis horas ele estaria casado com Nymphadora Tonks. Apenas isso. Tudo estava sendo feito em perfeito sigilo, poucos membros da Ordem seriam convidados, e seria muito difícil alguém estragar o casamento. Era muito pouco provável que os Comensais da Morte descobrissem do casamento antes deste acontecer, mas Remus tinha certeza de que logo saberiam.
Ele estava caminhando tranqüilamente pelas ruas de Hertford, a caminho da residência dos Tonks, onde sua noiva estava. Andrômeda insistira para a filha ficar lá até o casamento, apesar de que ambas ainda não haviam se recuperado da discussão de alguns dias atrás. Elas se falavam normalmente, apenas com alguma polidez, e Andrômeda continuou tratando Remus com grande gentileza, embora seu tom fosse um tanto seco quando se dirigia a ele. Ted era o único que falava com Remus normalmente, mostrava grande prazer em ver a filha casar e tentava fazer o que podia para ajudar no casamento, embora, geralmente, seus esforços eram preferidos bem longe dali, já que Ted atrapalhava mais que ajudava, ainda que suas intenções fossem as melhores.
Assim que chegara ao portão da casa, e dera um breve aceno com a mão para a tia tão odiada de Tonks que estava na casa ao lado, ele percebera que algo não estava bem. Alguém estava chorando. E, ao não ser que ele estivesse muito enganado, aquele choro era de Nymphadora. Batendo com urgência na porta, logo reconheceu a voz do sogro perguntando quem era. Após algumas palavras dele, a porta fora aberta e ele viu sua noiva aos prantos em um dos sofás da sala, com Andrômeda ao seu lado.
- O que houve? – perguntou Remus, sem entender, para Ted, enquanto chegava perto de Tonks.
- Ela foi demitida – respondeu o sogro, em tom triste, embora calmo. Tonks fora demitida e estava chorando? Mas há pouco mais de uma semana ela havia falado que não se importaria se isso acontecesse! – Pelo que consegui entender, ela perdeu o controle e gritou com o ministro. Acho que tinha algo a ver com o testamento do Dumbledore, ou qualquer coisa do gênero.
Remus meramente fez que sim com a cabeça, sem entender realmente. Se aquilo era, novamente, coisa do casamento, era melhor que eles se casassem muito em breve, pois o stress de Tonks já estava indo longe demais.
- Dora, não há motivo para chorar – falou ele, agachando-se e ficando de frente para ela, enquanto Andrômeda já havia, aparentemente, cansado de tentar dizer qualquer coisa, e murmurou alguma coisa com ‘fazer um chá’, para tentar acalmar a filha.
- Ah, Remus – gemeu a jovem, abraçando-o de repente. – Eu não sei o que deu em mim, não me controlei, quando vi já estava t-tudo perdido... Nem esperei Scrimgeour me falar qualquer coisa, e-eu já sabia que não trabalhava mais lá...
- Dora, não tem problema. Acontece – murmurou ele, embora ela continuasse a chorar tanto quanto antes. – Você mesma disse que não se importava em ser demitida, era uma coisa que prevíamos, lembra?
- Eu fui uma idiota – sussurrou Tonks, tentando parar de chorar.
- Eu fui um idiota em termos muito piores do que os seus, e eu consegui superar, não consegui? – perguntou ele, sorrindo calmamente. – Acho que você se lembra muito bem disso. Nós dois sabemos que não demorará muito para o Ministério cair, e é melhor você não estar lá quando isso acontecer. Quando essa guerra acabar, pois ela irá, sim, acabar – acrescentou ele diante do olhar descrente dela. – você voltará para o Ministério e será muito mais feliz quando isso acontecer do que era nos últimos tempos. Tudo bem?
Ela maneou um ‘sim’ com a cabeça, enxugando as lágrimas com as costas da mão. Após alguns instantes em silencio, ela murmurou que precisava ir ao banheiro e saiu calmamente da sala, na mesma hora que Andrômeda chegava, trazendo uma bandeja de chá.
- Graças a Merlin alguém conseguiu para-la – falou a Sra. Tonks, sentando-se, para estranhamento de Remus, ao lado dele. – Ela anda meio estressada ultimamente. Lembro-me do meu casamento. Eu também havia ficado bem estressada nos preparativos do meu casamento, considerando que vinham muitos trouxas, e a mãe de Ted gostava de fazer comentários e dar opiniões. Sem ofensa, querido.
- Não ofendeu – falou Ted, por cima de seu jornal.
- As sogras podem ser bem chatas quando querem, ou mesmo quando não querem – falou ela, em tom simpático, embora não convenceu Remus. Como Tonks vivia comentando, ela ainda era uma Black. E, como ele gostava de lembrar, era prima de Sirius. – E eu juro que vou tentar com você, Remus, ainda que não seja novidade alguma que eu não simpatize nem um pouco com a sua condição.
- Eu acharia estranho se a senhora simpatizasse, pois mesmo quem vive com essa condição não simpatiza. Eu mesmo desprezo essa condição – falou Remus, com polidez.
- Então, Remus, conseguiram resolver o modo como buscarão Harry Potter? – perguntou Ted, obviamente não gostando do rumo da conversa.
- As coisas são mais difíceis do que pensamos a princípio – respondeu Remus. – Precisamos estar disfarçados e, o principal, ter um lugar para mandar Harry pegar a chave de portal para os Weasleys. Não pode ser ao ar livre, muito menos na casa de algum dos membros da Ordem, já que estamos todos sendo monitorados. Isso sem contar a proteção constante e o perigo de saberem. O espião deles não está mais conosco, mas nada indica que ele era o único entre nós.

*~*

- Ai!
- Se você parasse de se mexer, não iria doer tanto.
Fazia mais de uma hora que Nymphadora Tonks estava trancada naquele quarto se aprontando para o seu casamento. O vestido já estava pronto, mas Andrômeda havia inventado de apertar uma parte, o que tornou a peça simplesmente pequena demais para a ex-auror. Para isso já foram vinte minutos de tortura absoluta, com Andrômeda Tonks e Molly Weasley tentando consertar o maldito vestido.
Depois disso, havia ainda a escolha da cor dos cabelos de Tonks, cuja opção de Tonks havia sido cabelos loiros, mas Andrômeda teimou que ela devia parecer o mais natural possível em seu casamento. Tonks cedeu, mas disse que devia ser encaracolado. Para ajudar, Hermione e Ginny chegaram para gerar mais um cinflito de opiniões. Todos os convidados já haviam chegado, mas ela ainda não estava pronta. Cada uma dizia um penteado diferente, e tudo estava ficando cada vez pior.
Aquilo deixaria qualquer um estressado. Por fim, Tonks parou a discussão de todas dizendo que iria querer os cabelos cacheados e compridos, sem nada extravagante. Só que Andrômeda insistiu em colocar mais algumas presilhas, e outras coisas que Tonks geralmente não colocaria nos cabelos, e esta, cansada de argumentar, cedeu, enfim. Molly, Ginny e Hermione desceram, e sobraram apenas mãe e filha.
- Eu estou tentando, mas não é fácil ficar parada sabendo que em uma hora você vai estar casada – enfatizou Tonks, sorrindo calmamente.
- Como se você não soubesse como é – interpôs Andrômeda, em tom calmo demais. – Estava praticamente morando com Remus antes de esse casamento acontecer.
- Não estive! – exclamou Tonks, indignada, e levando um puxão de cabelo na mesma hora em que tentou se virar, fazendo-a parar de falar.
- Só espero que você saiba bem o que está fazendo – falou Andrômeda, mudando rapidamente de assunto. – Casamento é coisa séria, você vai passar o resto da sua vida ao lado do Remus, e eu não quero que fique infeliz, ou angustiada, ou mesmo arrependida por isso...
- Mãe – chamou Tonks, séria. – eu tenho certeza do que estou fazendo. Eu não sei quanto tempo eu tenho, mas eu quero passar o resto desse tempo ao lado do Remus. Não me importa como. Só quero que você se sinta feliz por mim, porque eu estou mais feliz do que você poderia imaginar. Eu o amo demais, mamãe, e o que eu mais quero é estar com ele.
- Desde que não esqueça de sua mãe enquanto for casada, e me mantenha informada sobre qualquer coisa, tudo bem. É difícil engolir a idéia de um lobisomem com você, mas já não é mais idéia, é fato – comentou a mãe, sorrindo. – Lembro-me que, quando você era pequena, comentou que casaria com um lobisomem, aparentemente Sirius havia lhe dito que conhecia um e você invocou que casaria com o tal. Nunca imaginaria que isso de fato aconteceria.
- É – concordou Tonks, enquanto Andrômeda pegava o spray e passava nos cabelos da filha.
Sues pensamentos iam para Sirius, em como ele estaria feliz se estivesse ali, em como ele, provavelmente, estaria ao lado de Remus naquele exato momento, dizendo alguma coisa idiota ou consoladora diante do atraso da noiva. Antes que pudesse pensar em qualquer outra coisa, sentiu um mal-estar terrível, e sentiu que estava empalidecendo, já que a mãe começou:
- Nymphadora, você está b...
- E-eu não estou me sentindo muito b-bem – falou a filha, saindo do quarto com a mão na boca.
- O que houve com ela? – perguntou Ginny, que acabara de subir as escadas no instante em que Tonks saíra do quarto.
- Está nervosa, presumo – respondeu Andrômeda, continuando no quarto, enquanto Ginny rumou para o banheiro. – Logo vai passar.
Não passaram dois minutos e Ginny voltara, com cara de quem não tinha uma notícia muito boa para dar.
- Sra. Tonks, acho que ela não está muito bem mesmo.
Mal a garota terminara de falar, Nymphadora apareceu atrás dela, não tão pálida quanto antes, embora estivesse com a aparência um tanto doentia.
- Nymphadora, querida, você está bem?
- Estou, sim – respondeu ela, sentando-se novamente na cadeira de antes. – Foi só um mal-estar repentino, talvez seja nervosismo...
- É provável que seja – falou Andrômeda. – Querida, você conseguiu bagunçar ainda mais seus cabelos.
- Faz algum aceno com a varinha pra arrumar – pediu Nymphadora, impaciente. – Já devo estar mais atrasada do que devia, não estou, Ginny?
- Só um pouco. O bastante para o seu noivo achar que você não quer mais casar – falou Ginny, rindo. – Mas papai já disse pra ele parar de se preocupar.
- Nymphadora, querida, acha mesmo que isso é suficiente? – perguntou Andrômeda, de repente, virando para que a filha pudesse se ver no espelho.
O vestido dela era normal: branco, com brilho – influência de Andrômeda na escolha – justo até a cintura e depois era mais largo. Não era um vestido de contos de fada, pomposo e grande; era simples, bonito e ficava bem nela. Os cabelos, cacheados e castanho-claro, estavam cheios de brilho, resultado do feitiço da Sra. Tonks, e presos por um grampo de cada lado.
- Está lindo, Tonks – comentou Ginny, olhando para a amiga.
- Está ótimo, mamãe – falou Tonks, abraçando a mãe. – Agora, se não se importam, devíamos descer. Tem um casamento me esperando. E eu, modéstia à parte, ele não funciona sem mim.
Assim, Tonks foi descendo as escadas, e Ginny comentou com a Sra. Tonks:
- Ela não parece estar muito nervosa.
- De fato – falou Andrômeda, com o olhar vago. – Melhor irmos, senão é capaz de Nymphadora entrar antes de nós duas.

Eu não estava tão nervosa assim. Sentia apenas um frio no estômago, nada mais que isso. Se bem que, descendo a escada com todo esse cuidado, e papai me estendendo a mão e dizendo que eu estou linda, só me falta um desmaio para completar a ansiedade que tinha. Mamãe e Ginny passaram rapidamente por nós.
- Não precisa ficar nervosa, tente não cair e, por favor, tente não correr – avisou Andrômeda. – E você só pode beija-lo quando estiverem realmente casados, nada de beijar logo que chegar perto dele.
- Eu já estive em outros casamentos, mamãe – eu disse, respirando fundo.
- Melhor prevenir do que remediar – retrucou Andrômeda, se adiantando para o jardim. – E boa sorte.
Ginny apenas me lançou uma piscadela com o olho, e seguiu mamãe para o jardim.
Eles esperaram mais alguns instantes, até que papai perguntou:
- Pronta?
- Mais do que nunca.
Eu mal podia ver onde estava indo. Meus olhos olhavam em todas as direções, e era meu pai que a guiava. Eu não estava nervosa, essa era a verdade. Bom, talvez só um pouco. Estava mais ansiosa que nervosa, isso era fato.
Assim que chegamos ao jardim, eu não consegui olhar para os convidados, ou para a decoração, ou qualquer outra coisa; meus olhos eram só para Remus, bem como os dele eram para mim. O problema era que, com meus olhos em Remus, o chão foi esquecido, e eu conseguiu tropeçar no vestido e cair ali, no meio do corredor.
Ouvi alguns resmungos e umas risadinhas vindas dos Weasleys – afinal, não é sempre que uma noiva cai estatelada no chão. Antes que papai pudesse me ajudar, eu já estava em pé, e não pude conter uma risadinha nervosa. Deve ter sido engraçado, porque papai riu junto comigo. Passei a mão rapidamente pelos cabelos, para tirar os fios do rosto, enquanto mamãe soltava uma exclamação de desgosto. Não pude evitar em olhá-la. Sua exclamação podia ser de desgosto, mas ela parecia bem feliz ao me ver inteira.
Sempre achei casamentos chatos e sem-graça. Não via a menor emoção em ficar ali, vendo um qualquer falar qualquer coisa, e depois os noivos se beijavam, e fim da história. E, juro, pensei que meu casamento seria apenas mais um desses chatos e sem-graça.
Eu jamais havia pensado como os noivos se sentem ao verem um ao outro, tão distantes e tão próximos, ao mesmo tempo. Minha vontade era agarrar Remus no instante em que fiquei ao lado dele, mas eu esperei. E fiz bem em esperar, porque o beijo que Remus me deu no momento em que estávamos oficialmente casados foi o melhor beijo que eu havia recebido até aquele momento.
Mal ouvi os parabéns de todo mundo, apenas agradecia a todos o tempo inteiro. A única parte ruim é que eu não imaginava que os noivos tivessem tão pouco tempo para se falar. Consegui algumas palavras de Remus durante o jantar e a dança, mas o restante do tempo sempre tinha alguém para atrapalhar. É claro que foi realmente hilário Olho-Tonto perguntar para minha mãe se ela ainda cultivava alguns hábitos dos Black, já que ela que havia feito o jantar, e também foi engraçada a seriedade do meu pai em relação à Remus. Ele sempre quis me ver casada e feliz, e tenho certeza de que eu estava assim. Mamãe ficou atrás de mim muito tempo, achando que eu ia me embebedar, suponho; ela disse que noivas não devem ficar bêbadas em seus casamentos, e diante de tanta chateação eu acabei por me contentar com um mísero gole de vinho da taça de Remus. Isso porque ela me viu, e, portanto, não pude continuar.
Ainda assim, sou obrigada a admitir que a melhor parte do meu casamento foi, com certeza, quando a festa já havia acabado e sobramos só eu e Remus.

*~*~*

N/A: Capítulo chegoou... Espero que gostem ^^
A menção de Andrômeda sobre a Tonks querer casar com um lobisomem no capítulo tem numa shortfic minha; quem quiser dar uma olhada, o nome é Um Conto de Fadas. Se não quiserem, tudo bem >.<
Brigada por todos que comentaram e espero que continuem a comentar.
Beijão

Ju Tonks

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