Incertezas
Capítulo 25 – Incertezas
Remus Lupin acordou de um modo estranho aquela manhã. O dia anterior não fora fácil para ninguém; a operação realizada para buscar Harry Potter tinha furos demais, e acabaram sendo descobertos. Perderam Olho-Tonto para sempre, e Mundungus estava desaparecido. Era evidente que o vigarista saíra da operação por ser um covarde, mas não era culpa dele que Olho-Tonto estava morto.
O problema maior para Remus foi que, embora ele estivesse profundamente triste pela morte de Moody, que sempre foi um bom conselheiro e podia ser considerado um bom amigo, sua morte fora muito sentida por Tonks. Em pouco mais de duas semanas de casados, ele nunca vivera noite pior que aquela. Sua esposa chorou por um bom tempo. Era péssimo vê-la chorar. Pior do que qualquer coisa, pensou ele.
Mas, quanto ao modo com que ele acordou aquela manhã, fora por causa dela. Já que não dormiu quase nada naquela noite, ele estava muito cansado, apesar de que o sol já raiava por entre as cortinas do quarto. Tudo o que ele pôde ouvir foi Nymphadora saindo da cama e correndo para o banheiro, cuja porta fechou violentamente. O barulho que veio a seguir não era nada bonito.
Preocupado, ele se levantou rapidamente, e rumou para o banheiro. Ele esperou um instante, e depois bateu três vezes pacientemente na porta. Ele ouviu Dora xingar baixinho, e perguntou:
- Nymphadora, você está bem? É a terceira vez em dois dias que acontece isso.
- É c-claro que não estou bem, Remus, acabei de colocar todo o jantar para fora! – gritou ela, do banheiro.
Ele estranhou a agressividade dela, mas não teve muito tempo para pensar nisso. Podia ouví-la vomitar novamente, e ouviu também batidas na porta. Decidiu não falar nada para ela; era provável que fosse algum membro da Ordem querendo informações da próxima reunião. Assim, ele fora em direção à porta.
Olhando pelo olho-mágico que a porta do apartamento trouxa tinha, ele pôde ver as pessoas que ele menos esperava no mundo, e também as que ele menos gostaria de ver naquele momento. Rufus Scrimgeour se achava parado à porta, juntamente com a abominável Dolores Umbridge e mais uma bruxa e um bruxo que ele não conhecia.
Antes que pudesse perguntar quem era, o bruxo que ele não conhecia falou em tom baixo e calmo, já que estavam todos em domínios trouxas:
- É o Ministério da Magia. Assunto urgente.
- Só um instante – pediu Remus, calmamente.
Ele entrou no quarto e vestiu a primeira roupa que viu na frente, de um modo tão rápido que ele não teria conseguido normalmente. Sem falar novamente com a esposa, ainda trancada no banheiro, ele abriu a porta para os visitantes, sem, no entanto, deixar espaço suficiente para entrarem.
- Presumo que o senhor seja Remus Lupin – falou o Ministro da Magia. – Estamos aqui para falar com o senhor e com sua... esposa.
- Eu sinto em desapontá-los, mas minha esposa não está se sentindo muito bem para receber visitas hoje – falou Remus, em tom calmo, embora não ousasse dar um único sorriso.
- É assunto urgente, Sr. Lupin – falou Dolores Umbridge, em um tom falsamente simpático. – É de extrema necessidade que precisamos falar com vocês hoje.
Ele não teve escolha senão abrir a porta por completo, e todos os representantes do Ministério adentraram o apartamento. Ele fez um sinal para que se sentassem, e assim o fizeram. Ele podia ver o desgosto por trás dos olhos de Umbridge, e ele não via motivos bons para tê-los ali. Era provável que fosse alguma coisa muito prazerosa para ela, já que seria um extremo sacrifício para alguém que odeia mestiços visitar a casa de um.
- Eu vou chamar Nymphadora – falou Remus, entrando no quarto.
No momento em que fechou a porta do quarto, a do banheiro se abriu, mostrando uma Nymphadora branca, de tanta palidez.
- Desculpe por ter gritado com você – falou ela, fracamente.
- Não tem importância, amor – falou Remus, rapidamente, beijando a testa dela. – Mas temos visitas. O Ministério está ali querendo falar com nós dois.
- Ministério? – repetiu ela, surpresa.
- É.
- Vamos ver o que é, então – falou ela, secamente, abrindo o guarda-roupa.
- Não demore muito, quanto antes saírem daqui, melhor.
Ele seguiu para a sala, e logo Tonks já estava lá também. Ela sentou-se ao lado de Remus, sem dirigir o olhar ou a palavra a qualquer um que estivesse na sala.
- Vocês querem alg... – começou Remus, mas a esposa o interrompeu.
- Eles não querem nada, Remus. O que tiverem que falar, falem logo, por favor – falou Tonks, em tom falsamente simpático, para o Ministro.
Um tanto desconcertado, Scrimgeour olhou para Umbridge significativamente, que fez um sinal para o homem que havia falado com Remus primeiramente.
- Viemos aqui por mais do que um mero motivo – começou o homem. Ele tinha uma voz baixa e calma, embora expressasse certo nervosismo. Devia ter uns vinte e oito anos, e pelo olhar que lançou à Tonks, ele teve certeza de que se conheciam. –, e é importante que nos respondam a tudo corretamente. Primeiramente, há testemunhas de que vocês estiveram presentes na batalha que matou Albus Dumbledore em Junho passado.
- Testemunhas? – repetiu Tonks, secamente. – Quem lhes contou isso, os Carrow? Era só o que me faltava estarem se aliando a Comensais da Morte.
- Isso não importa, querida – falou Umbridge, sorrindo falsamente para Tonks, que retribuiu com um sorriso ainda mais falso, se é que isso era possível.
- Vocês negam estarem presentes na batalha que matou Albus Dumbledore? – perguntou o homem.
- Não – responderam os dois, juntos.
- Por que estavam presentes?
- Eu estava trabalhando naquela noite – começou Tonks. – Era a auror de plantão, Dumbledore me chamou, e eu fui. Não era a primeira vez que isso acontecia.
- E o que ele lhe disse ao sair?
- Disse que pretendia ir ao Cabeça de Javali tomar um drinque – respondeu Tonks, no mesmo tom seco, embora sincero.
- E quanto a você, Sr. Lupin? – perguntou o homem, dirigindo-se a Remus.
- Recebi uma coruja de Dumbledore naquela tarde, pedindo para que fosse à escola – respondeu ele. Ao ver que sua resposta não fora satisfatória, continuou – Não pude falar com ele naquela noite, nos desencontramos.
- E por que você acha que ele o chamou para guardar a escola dele? Você nada tem a ver com Hogwarts – perguntou Umbridge, de repente, com aquela voz estridente. Sentado ao lado da esposa, Remus viu os pulsos dela se fecharem violentamente; não era de hoje que Tonks abominava Umbridge.
- Imagino que seja pelo simples fato de que o diretor confiava em Remus – respondeu Tonks, antes que o marido pudesse falar qualquer coisa.
- Vocês também foram vistos lutando na batalha dentro do Ministério da Magia, no ano passado – perguntou a mulher que estivera escrevendo até agora, folheando uma papelada que tinha à mão. Devia ter a mesma idade do colega que estivera lhes fazendo perguntas até agora. – No relatório escrito por você, Nymphadora Tonks...
- Lupin – corrigiu Tonks.
- ...diz que você havia voltado naquele dia mais tarde para o Ministério para entregar um relatório que havia esquecido – continuou a jovem, como se não tivesse sido interrompida. –, fato confirmado por Kingsley Shacklebolt, que estava fazendo hora extra naquele momento. Olho-Tonto Moody teria sido chamado por vocês dois ao verem uma movimentação no Ministério. Também diz que você não tinha conhecimento do por que de Sirius Black e Remus Lupin terem aparecido junto com seu mentor. Por que não questionou Moody sobre Black?
- Pelo simples fato de que eu já sabia que Black era inocente – respondeu Tonks.
- Quem lhe informou isso?
- Remus Lupin.
- Como se conheceram?
- Remus era amigo de Moody, Moody era meu mentor – falou Tonks, em tom de tédio. – Isso é meio óbvio, não acha, Penélope?
- E como você ficou sabendo disso? – perguntou a mulher chamada Penélope para Remus. – No relatório que o professor Dumbledore nos enviou, ele comenta que sabia da intenção dos Comensais de atrair Harry Potter para o Ministério, e que por isso enviou você e Sirius Black para lá. Sabe como Dumbledore chegou a essa conclusão?
- Não, não sei.
- Por que não pergunta para ele? – perguntou Tonks, sobressaltando a todos. – Estão nos questionando coisas que todos queremos saber. Sinto muito, mas nunca soubemos o que se passava na mente de Albus Dumbledore. Afinal, o que vieram fazer aqui? Eu entreguei relatórios sobre ambas as batalhas, explicando detalhadamente tudo o que eu fiz, soube ou ouvi. Certamente que não é sobre o que fomos fazer lá que querem saber. Eu sei bem como são os interrogatórios do Ministério sendo que eu mesma fiz vários deles. Portanto, pulemos o papo-furado de sempre e perguntem logo o que querem saber. Responderemos o que pudermos.
Houve um silêncio repentino na sala; tudo o que podiam ouvir era a respiração um do outro. Nymphadora respirava profundamente, e por isso Remus sabia que ela não devia estar passando bem de novo.
- Queremos saber quem matou Albus Dumbledore – falou o Ministro, pela primeira vez desde que se sentaram.
- Severus Snape – respondeu Remus, com simplicidade.
- Como sabem que foi ele? Olhem, temos indícios de que Harry Potter estava com Dumbledore quando este foi morto. Foi Harry Potter quem lhes contou? – perguntou Scrimgeour novamente.
- Deduzimos que foi Snape – respondeu Remus calmamente. – Ele foi o último que desceu da torre, não nos ajudou na batalha e fugiu depois. Se não tivesse sido ele, certamente que não teria fugido.
- Você partilha a mesma informação, Nymphadora?
Tonks apenas acenou com a cabeça, sem falar mais nada. Ela estava empalidecendo novamente...
- Não têm mais nada a dizer quanto a isso?
Ambos balançaram a cabeça negativamente.
- Pois bem, vamos ao próximo assunto, possivelmente o principal motivo que nos trouxe aqui – recomeçou Scrimgeour. Mal ele falou, Nymphadora saiu correndo da sala, obviamente à procura de um banheiro, já que tinha sua boca tapada com uma das mãos.
- Há quanto tempo ela está desse jeito? – perguntou Penélope, parecendo preocupada.
- Alguns dias, mas hoje está pior – respondeu Remus, limitando-se a um pequeno sorriso para a moça.
- Não é nada contagioso, espero? – perguntou o homem ao lado de Penélope.
- Acredito que não – respondeu Remus. Ele percebeu que Umbridge o observava de forma instigante, como se soubesse de alguma coisa que ele não sabia. – Vocês... Podem começar a falar sobre o principal motivo que os trouxe aqui.
- Precisamos esperar Nymphadora Tonks – falou o homem.
- Lupin – corrigiu novamente Nymphadora, que acabara de chegar à sala.
- Está se sentindo bem, querida? – perguntou Umbridge, sorrindo.
- É óbvio que não – falou Tonks, dessa vez sem dar sorriso algum. – Podem recomeçar.
- Vocês oficializaram uma união não-permitida pelas leis da magia britânica há algumas semanas – falou Umbridge. – Diante disso, você não são casados perante a lei.
- Diante de que lei, exatamente? – perguntou Tonks, fracamente.
- A cláusula cento e cinqüenta e sete do Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas determina que...
- Aquela que proíbe o casamento com criaturas não-humanas? – perguntou Tonks, com jeito inocente. – Essa lei me proibia casar com algum fantasma, grindylow, duende ou centauro, mas eu não vejo como um lobisomem entra no meio disso. A não ser que Remus seja um sereiano e não me contou, mas eu acho que teria notado se o caso fosse esse.
- A lei diz claramente que humanos não podem se unir com não-humanos...
- Incrível que diga isso, pois Remus é tão humano quanto qualquer um de nós – falou Tonks. – Eu não me casei com ele na Lua cheia, e, pelo que me lembro, não me casei com um lobo, casei com um homem.
- Ele não é humano! – exclamou Umbridge, dando uma risadinha idiota no final. – Ele é um lobisomem, não é humano! Não consigo nem imaginar no que resultará a união de vocês!
- Ele não é humano uma noite por mês – disse Nymphadora, calmamente. – No restante do tempo, ele é uma pessoa normal.
- É mestiço.
- E por acaso o casamento com mestiços é proibido? – questionou Tonks, levantando um pouco o tom de voz. – Seria realmente um grande preconceito, já que eu própria tenho sangue mestiço. Pelo que eu me lembro, o casamento com gigantes não é proibido, e o resultado disso é bem maior do que o de um casamento com um lobisomem, se é que me entendem – comentou ela, ironicamente, o que fez com que a mulher chamada Penélope escapasse uma risadinha.
- O casamento com gigantes é permitido, mas não devia ser.
- Essa cláusula que a senhora falou anteriormente – interrompeu Remus – fala claramente que o casamento com lobisomens não é permitido?
- Na verdade, não, mas está praticamente subentend...
- Não fala – respondeu Penélope, de repente. – Proíbe o casamento com as criaturas que a Sra. Lupin falou anteriormente, mas não há menção alguma sobre lobisomens.
- A Srta. Umbridge fala isso porque ela é uma solteirona convicta e sabe que não tem chances matrimoniais de fato – interpôs Tonks, com calma, de repente. –, por isso quer estragar os casamentos que pode, como o nosso, Remus. Eu não a culpo por não se casar. Afinal, não é culpa dela que tenha uma cara que lembra horrivelmente a de um sapo – e foi aí que Remus e Penélope tiveram que conter as risadas. A situação não era boa, mas Tonks conseguia fazê-la se tornar irônica. Remus conseguiu se manter sério, mas Penélope foi obrigada a colocar uma das mãos na boca.
- Ora, sua insolentezinha... – começou Umbridge, puxando a varinha e levantando-se, mas Tonks fora mais rápida e já estava em pé, com a varinha em mãos.
No mesmo instante, Scrimgeour se levantou.
- Parece haver um pequeno mal entendido por aqui – falou Scrimgeour em tom solene. – O casamento com lobisomens, ao que me parece, é um assunto que tem que ser levantado. Enquanto isso, temo que nada possa fazer.
- Um assunto que tem que ser levantado? – repetiu Tonks, já não tão calma. – O senhor espera levantar assuntos banais como esse com que finalidade? Estamos em guerra e o senhor se preocupa com casamentos? Sem ofensa, Ministro, mas eu me caso com quem quiser. Se o meu casamento for anulado, não poderei ficar feliz, mas minha vida não mudará muito quanto a isso – ela abaixou a varinha abruptamente, indo à direção da porta e abrindo-a. – Acho que já terminaram o que vieram fazer por aqui. Queria poder dizer que senti prazer com a visita de vocês.
Um a um, todos os que antes estavam sentados na sala de estar foi saindo, até que sobraram apenas Remus, ainda sentado no sofá, Tonks e Penélope. Ele viu que as duas mulheres trocaram algumas palavras na saída, mas ele preferiu não se meter. Aquela não era uma boa visita para começar o dia.
- Ah, eu me sinto péssima – falou Nymphadora, deitando-se no sofá ao lado do de Remus. – Quase dormi quando falaram daquela batalha no Ministério, e eu sinto muito ter saído aquela hora sem discrição alguma. Se bem que eu não me importei, eles não merecem tamanha consideração.
- Não foi nada – ele sentou-se ao lado dela. – Dora, você não acha que devia ir ao hospital?
- Não – negou Tonks desviando o olhar dele. – Eu não estou me sentindo tão mal a ponto de ir ao hospital.
- Alguma coisa você tem – teimou Remus, olhando diretamente nos olhos dela assim que ela o olhou novamente. – Não é normal passar mal assim. Desde que chegamos em casa ontem, já foram três vezes. E eu sei que você não estava bem n’A Toca, estava mais pálida do que estava agora de manhã.
- Eu acho que sei o que eu tenho – falou ela, sentando-se. Ele a dirigiu um olhar questionador. – Deve... Deve ter sido alguma coisa que eu comi. Molly disse que pode ser outra coisa, mas eu... Eu acho que foi alguma coisa que comi. Quando isso acontecia, minha mãe preparava um chá e eu melhorava.
- Devia ir até a casa de seus pais hoje, então – aconselhou Remus. – Eu e Bill vamos dar uma olhada novamente para ver se achamos o corpo de Olho-Tonto. Enquanto isso, você pode ir até lá. Apesar de que eu tenho a impressão de que vamos demorar um pouco procurando.
- Não tem problema, desde que você volte vivo – falou Tonks, sorrindo. – Eu vou parecer muito preguiçosa se dormir aqui e agora?
- Não, mas está quase na hora do almoço – falou Remus, olhando para o relógio fixado na parede. – Com fome?
- Bastante – respondeu ela.
*~*
- Oi, pai – falou Tonks, quando a porta da casa de seus pais lhe fora aberta.
- Boa tarde, Dora – falou Ted, fechando a porta e abraçando-a. – Tudo ocorreu, bem, suponho? Harry Potter disse que havia Comensais...
- Havia, acredito que grande parte deles foi atrás de nós ontem – disse Nymphadora. – Olho-Tonto... Está morto.
- Olho-Tonto? – repetiu o pai, e ela não pôde evitar as lágrimas que vinham aos seus olhos. Ted notou, e disse – Dora, você está bem? Está muito pálida.
- Eu não tenho me sentido muito bem ultimamente – respondeu a filha, esfregando os olhos. – Cadê a mamãe? Eu queria falar com ela.
- No jardim – respondeu Ted, olhando no relógio as horas. – Eu vou indo, filha, Arthur disse que precisava falar comigo, alguma coisa a ver com a moto de Hagrid...
- Tudo bem, pai, a gente se vê – falou Tonks, vendo o pai ir embora e rumando para a porta dos fundos.
Ela abriu a porta calmamente, e viu Andrômeda regando as plantas. Era uma coisa que ela fazia desde que a filha era pequena. Assim que a viu, Andrômeda sorriu e foi caminhando em direção à porta.
- Não sabe como estive preocupada! – falou a mãe, abraçando-a. – O garoto Potter nos disse que havia Comensais. Parece ser um bom garoto, embora o fato de eu ser uma Black pareceu tê-lo incomodado. O garoto quase me atacou, a sorte é que ele estava sem varinha. Aquilo não me deixou muito satisfeita, é óbvio, e depois disso o garoto me pareceu meio arrogante.
- O fato de ser uma Black certamente que não o incomodou. Foi provavelmente alguma semelhança sua com Bellatrix, o que é real, já que vocês são parentas próximas – ela tomou cuidado em não falar a palavra “irmã”, pois se tinha uma coisa que a mãe ou ela não gostavam era ter alguma com Bellatrix Lestrange.
- É, suponho que sim – falou Andrômeda, com desgosto, indo para a cozinha e levando a filha junto. – Aceita um chá? Porque você não parece muito bem, filha. Aconteceu alguma coisa? – Tonks não pôde nem pensar em recusar, porque antes que pudesse abrir a boca, Andrômeda já havia pegado uma xícara e já estava enchendo-a de chá.
- Na verdade, mamãe – começou Tonks, respirando fundo. –, eu acabo de vir do St. Mungus.
- St. Mungus? O que houve? – perguntou a mãe, com olhar preocupado. – Está tudo bem com você? Ou Remus, ele...
- Está tudo bem. Pelo menos com o Remus – respondeu Nymphadora, tomando um gole do chá. – Eu... Eu acho que posso estar grávida.
Andrômeda não demonstrou nenhum sinal de surpresa ou apreensão, apenas fitou a filha, séria.
- E...? – completou Andrômeda, um tanto indiferente.
- Não está surpresa? – exclamou Nymphadora, impaciente. – Você devia me perguntar por que, ou no mínimo me consolar, se for esse o caso...
- Por que eu a consolaria? – questionou Andrômeda. – Se for assim, não é uma coisa ruim. Isso já havia passado pela minha cabeça no dia de seu casamento. Mas fui um tanto ingênua ao pensar que estava enganada. Então, foi no St. Mungus para ter certeza, imagino. O que eles disseram?
- Primeiro me olharam como se eu fosse uma lunática quando eu perguntei se lobisomens podiam ter filhos – falou Tonks, tirando um pequeno envelope do bolso. – Depois me disseram que não havia casos documentados sobre isso e fizeram um exame. Então me entregaram esse envelope.
- E você não abriu? – perguntou a mãe, enquanto a filha deixava o envelope em cima da mesa.
- É óbvio!
- Então, abra – falou Andrômeda. O tom dela parecia quase uma ordem...
- Eu não sei se quero – falou Tonks, sem sequer olhar para o envelope.
- Por que esse drama, minha filha? – perguntou Andrômeda, pegando o envelope. – Se você estiver, de fato, grávida, vai ter que saber mais cedo ou mais tarde.
Ela continuou sem falar nada.
- Se você não abre, eu abro – falou Andrômeda, rasgando o envelope.
- Não, eu... Eu vejo.
Andrômeda entregou o envelope rasgado para ela, e Tonks olhou com pesar para aquilo. Ela não podia estar grávida, simplesmente não podia...
Ela não estava se sentindo particularmente bem durante toda a semana, mas achou que aquilo fosse apenas um mal-estar momentâneo, nervosismo diante de tantas atribulações nas reuniões da Ordem. No dia que buscaram Harry, no entanto, ela estava se sentindo ótima; não estava nervosa ou qualquer coisa do gênero. Tinha confiança de que tudo acabaria bem, apesar dos furos no plano, e de Moody falando que todos podiam morrer a qualquer instante.
O plano não funcionou do jeito que deveria, e ela não podia negar que não se sentiu bem quando os Comensais chegaram (como se alguém tivesse se sentido bem quanto a isso). Sentiu-se repentinamente tonta, e sua sorte foi que Ron estava ali para ajudar. O pior aconteceu quando estava n’A Toca, onde sentiu-se muito mal. A sorte foi que apenas Fleur e Molly notaram. E não demorou muito para Molly falar sobre uma possível gravidez. A verdade é que Tonks não se surpreendeu com aquilo; era uma coisa que já havia passado pela cabeça dela mais de uma vez.
- Vai abrir ou não? – perguntou Andrômeda, impaciente. Pelo visto ela ficara pensando tempo demais.
- E... E se for positivo? – perguntou Nymphadora, vacilante.
- Meio óbvio, não? – perguntou Andrômeda, com sarcasmo. – Você está grávida, se for positivo. A não ser que esteja achando que tem um lobo na barriga. O que não é impossível, de fato.
- Mamãe, dispenso piadinhas a esse respeito - o humor um tanto negro da mãe fez Tonks se levantar bruscamente, indo até a pia, com o envelope ainda na mão.
- Eu não sei se vou ficar feliz se estiver – desabafou Tonks, respirando profundamente.
- E por que não? Não é a época ideal, mas um bebê é sempre bem-vindo – falou Andrômeda em tom pensativo.
- Por vocês, sim! Pela Ordem, também! Por mim, talvez! – exclamou Tonks, empalidecendo. – Mas para o Remus... Ele vai se sentir culpado. Vai achar que a criança vai ser um lobisomem como ele! Ah, eu não quero nem pensar no que ele vai dizer...
- Ele vai ter que aceitar, é natural – disse Andrômeda. – Pelo que sei, não se faz um bebê sozinha...
- É, ta, eu sei – disse a filha, fechando os olhos compulsivamente e abrindo-os novamente. Em seguida, sentou-se de volta e abriu o envelope, antes que pudesse mudar de idéia.
Ela mal leu o que estava escrito antes do quadradinho com o símbolo do St. Mungus. Seus olhos se focalizaram rapidamente no “positivo” escrito em vermelho. Ela largou o envelope em cima da mesa e, apoiando os cotovelos nela, tapou os olhos com as mãos.
- Isso é um sim ou um não? – perguntou a mãe, ironicamente, ainda que não tenha tocado no envelope. – Nymphadora, se você está chorando, é uma mãe de primeira viagem um tanto desnaturada...
- E eu lá tenho cara de mãe? – perguntou ela, os olhos vermelhos e com lágrimas escorrendo. – Você há de convir comigo, mamãe, eu não tenho a menor inclinação ou vocação para...
- Acha isso agora, depois vai se acostumar com a idéia – falou a mãe, levantando-se e caminhando em direção à filha. Ela deu um abraço, fazendo a filha parar de chorar. – Você não tem que ficar triste. Esse bebê vai trazer esperança para mim, para o seu pai, para você... E até mesmo para Remus. E não me venha com essa de que não tem vocação para isso. Você lida muito bem com crianças.
- É diferente quando a criança em questão é seu filho – retrucou Tonks, levantando-se de repente. – Não sei com que cara vou contar ao Remus. S-sinceramente, mamãe, não sei como isso pôde acontecer...
- Bem, eu sei – falou Andrômeda, ainda em tom um pouco irônico. – Talvez o entusiasmo de vocês tenha sido um pouco grande demais, e acabaram esqueceram de tomar algumas providências... Sei disso porque foi assim que você nasceu, lembro como se fosse hoje...
- Hã... Poupe-me de detalhes, sim? – pediu Tonks, dando uma risadinha nervosa.
*~*
- Nymphadora, o que está fazendo? Está nervosa, ou alguma coisa assim? – perguntou Remus ao olhar para mim de repente e ver que eu estava mezendo compulsivamente nas minhas unhas.
- Nervosa? Não, é claro que não, por que estaria? – eu perguntei, obviamente transparecendo o meu nervosismo. Ótimo. Agora, além de minha mãe, não consigo mentir para Remus. Não que eu quisesse, mas...
Achei que ele fosse me perguntar mais alguma coisa, mas ele apenas me deu um beijinho e deitou-se na cama que eu já estava deitada, pegando o livro que ele estava lendo e acendendo a luz do abajur. Imagino que o simples fato de que eu não tive que sair mais correndo para o banheiro desde que chegamos já tenha melhorado o humor dele e diminuído a preocupação. E isso é realmente engraçado, já que agora que eu estou ciente do que me faz ficar estranha, aquilo não está mais me fazendo ficar estranha. Se bem que ele só me deu algumas horas de trégua; quero só ver o que vai acontecer de manhã, quando eu acordar...
Desde que havíamos chegado da casa dos meus pais eu tenho tentado contar a mais nova novidade. Simplesmente não consigo. Primeiro fiquei andando pra lá e pra cá no meio da sala, até que Remus apareceu me perguntando o que estava acontecendo. Então eu parei de falar de repente durante o jantar, e ele me perguntou o que estava acontecendo. A cada vez que ele pergunta, mais nervosa eu fico e menos consigo fingir que nada está errado. Eu sei que não posso esconder dele; mas fica tão difícil...
Eu duvido muito que ele goste da notícia. Mas quem sabe eu ainda não o conheço o suficiente pra isso... Só vou saber quando contar. Mamãe achava que eu devia contar assim que o visse! É óbvio que ela não tem a menor noção da gravidade da situação... Eu mesma tive que convencê-la, assim que Remus aparecesse, a desistir da idéia de, já de cara, desejá-lo os parabéns pelo “herdeiro”, como ela mencionou. É claro que ela está contente com a notícia, mas ela estava um tanto ferina quanto a condição de Remus ser um lobisomem hoje. E ela ainda o tratava com um pouco de arrogância e desdém, embora sempre educada. Aquilo simplesmente me fazia ficar aborrecida ao extremo.
E agora ele me via inquieta do jeito que sei que estou e me pergunta se estou nervosa. É óbvio que estou nervosa. E ele sabe disso. Ele sempre sabe o que estou sentindo. E ele está me lançando olhares furtivos de quando em quando. Será possível que eu atraio tanta atenção assim? Bem, se eu não atraísse a atenção do meu marido, o amor da minha vida, eu começaria a ficar preocupada... Ótimo, agora eu estou começando a ficar emotiva demais.
Esses olhares me cansam. São olhares preocupados. Talvez Remus ache que eu esteja ficando louca de verdade. Não, provavelmente não é isso. Ele só quer saber o que está me preocupando, e é muito possível que ele ache que eu tenho alguma coisa a contar. Coisas a contar eu tenho, só que queria não ter... E eu odeio ficar preocupada e, mais ainda, ver Remus preocupado comigo. Afinal, não há por que. Ele nem sabe por que. Só eu sei. E eu não suporto esconder coisas de Remus... Se bem que essa é a primeira coisa que escondo. E não é nem uma coisa. É alguém. E a idéia de ser responsável pela vida de outra pessoa me assusta. Me assusta demais. Eu mal me tornei responsável por mim mesma...
Eu murmuro que estou com sede e vou pra cozinha tomar água. E pensar um pouco. Sem olhares furtivos daqueles olhos tão fascinantes... E eu não acredito que, mal estou casada, já estou reclamando do meu marido. E a culpa é minha. Eu tenho que contar. Ele tem todo direito de saber. E é isso que ele quer, que eu conte o que está me preocupando, me deixando nervosa... O que me deixa nervosa é que eu estou esperando um bebê! Oh, Merlin, isso parece difícil de aceitar mesmo quando eu penso... A vida dele depende de mim! Ou dela, afinal poderia ser uma menina... Nunca pensei se gostaria de ter um menino ou uma menina. Seria bom ter um de cada. Ah, pelo amor de Deus, eu estou quase querendo outro filho antes de ter o primeiro! Eu realmente não estou raciocinando direito...
- A julgar pelo seu sorriso e pela mão tampando os seus olhos – falou a voz de Remus, me assustando e fazendo eu quase deixar cair o copo de água no chão. –, eu diria que você acabou de pensar em alguma coisa que você gosta e não queria pensar nisso ao mesmo tempo.
- Sou assim tão previsível? – eu perguntei, correspondendo o sorriso dele.
- Apenas depois de um pouco de convivência – respondeu ele, chegando perto de mim e me abraçando.
Era óbvio que ele ainda estava preocupado. Possivelmente estava achando que eu ia começar a chorar por alguma coisa boba e inútil. Isso estava acontecendo muito ultimamente, e, juro, depois que eu paro de chorar e percebo a idiotice que estava fazendo, eu consigo rir de mim mesma pela situação ridícula. Eu sou um pouco tola às vezes. Não sei como Remus ainda consegue me aturar.
Eu apenas o abracei de volta. Era quase como se eu sentisse o amor que vinha de nós dois. Ou três. Droga, agora eu não consigo pensar em nós dois. Porque logo seremos mais que dois. A não ser que Remus não me queira mais. Ou eu perca o bebê. Ah, eu tenho que parar de pensar em tragédia. Cadê uma madeira pra eu dar três batidinhas? Papai sempre disse que era bom... Mas isso deve ser mais uma superstição trouxa. Pelas minhas contas, o bebê nascerá em Abril e... Pelas calças de Merlin, eu já estou ficando tão acostumada com a idéia de ter um bebê que já estou pensando até na data de nascimento!
- Eu menti quando disse que não estava nervosa – eu comecei, finalmente criando coragem. – A verdade é que eu estou muito nervosa. E eu realmente preciso dizer o porquê disso, mas... Bem, é melhor você se sentar.
Remus largou o meu abraço e me olhou, um tanto surpreso. Sem perguntar nada, ele se sentou, e eu continuei em pé. Algo me dizia que isso era o melhor a fazer; ver a reação dele por completo, antes que qualquer coisa aconteça. E antes que eu perca a coragem de falar, o que não é impossível. Não é à toa que eu não fui pra Grifinória...
- Então, Remus, quando você foi se encontrar com Bill hoje... Eu fui para o St. Mungus. Eu tinha uma suspeita do que poderia ser a minha, aparentemente, doença – eu expliquei, e ele nenhum sinal de aborrecimento deu. – O fato é que eu fui até o St. Mungus porque eu achei que poderia não estar doente. E a parte boa é que não estou! – eu dei uma risadinha nervosa, embora Remus continuasse a ficar sério.
- Não está doente? Então o que voc... – começou ele, mas eu não o deixei terminar.
- Remus, eu estou grávida.
A reação inicial de Remus foi bem simples: não houve reação. Era como se ele esperasse que eu gritasse “Primeiro de Abril!” a qualquer momento. É realmente uma pena, mas eu não estou brincando...
- Queria poder dizer que é brincadeira – eu falei, sem conseguir me controlar, sentando ao lado dele e tampando os olhos com a mão, exatamente como fiz na cozinha de minha mãe. Eu não queria mais olhar para ele, ver a reação dele. – E eu sinto muito por isso ter acontecido, eu sei que essa é a pior época possível pra se ter uma criança e nós nunca nem havíamos conversado se iríamos querer ou não.
- Não é sua culpa – murmurou Remus, me puxando pra perto dele de repente. – Quer dizer, a culpa é nossa, fomos irresponsáveis em algum ponto. E a conseqüência disso vai vir dentro de alguns meses.
- É, eu sei – tudo bem, a reação dele não foi ruim. Mas não foi boa. Ah, eu não consigo me controlar, sou tão boba que já estou às lágrimas de novo! – Ah, R-Remus, olha pra mim, eu não tenho a menor vocação para ser mãe, eu nem sei do que um bebê precisa, e eu vou ter que trocar fraldas e cuidar de coisas nojentas, sem contar que a vida de um inocente depende de mim, e...
- Eu vou ser pai – murmurou Remus, em tom de surpresa.
- É, e será um ótimo pai, mas e eu? Que tipo de mãe tem cabelo cor-de-rosa? – eu perguntei, um tanto desesperada. – Eu vou desapontar a todos, espero que o bebê seja como você, Remus, calmo e quieto e inteligente, melhor do que ser um desastre natural como eu...
- Você será uma ótima mãe, eu tenho certeza disso – falou ele, fracamente.
Eu fiquei um tanto surpresa com o tom de certeza que ele tinha em sua voz. A voz de Remus sempre me tranqüilizava. E fiquei mais surpresa ainda quando ele me deu um beijo caloroso, daqueles que eu tanto amo. Talvez ele quisesse me mostrar que estava comigo o tempo inteiro. Que me amava não importa como. Mas ainda assim... Alguma coisa me dizia que tudo estava bom demais. É claro que essa minha intuição foi esquecida após mais alguns beijos e Remus me dizendo que devíamos voltar pra cama.
*~*
A Toca estava anormalmente cheia naquela noite. Após uma reunião da Ordem, muitos resolveram ficar para jantar, e mal havia espaço para sentar. Entrementes, Nymphadora Lupin desabafava com Molly Weasley, perto do fogão.
- Não tenho do que reclamar, mas – começou ela, olhando rapidamente para os lados para ter certeza de que ninguém ouviria. – é só que ele não fala muito, e eu sei que ele não está feliz. Desde que contei, ele está muito quieto. Triste. E eu não posso dizer a mesma coisa, eu não estou triste por isso, a princípio fiquei, e apesar de não me sentir totalmente feliz com isso, não posso dizer que estou triste. Já me acostumei à idéia e até tenho me interessado pelo assunto. Mas eu sei que ele pensa diferente, só não falou nada ainda.
- Ele não parece triste – contrapôs Molly, olhando de relance para o lobisomem, sentado um pouco a diante.
- E parece feliz, por acaso? – perguntou Tonks, olhando para ele. Ele percebeu o olhar dela, que sorriu, mas logo ambos desviaram o olhar. – Eu o conheço, Molly. Ele está se sentindo culpado, eu sei que está. E você bem sabe o que Remus faz quando se sente culpado. E é disso que tenho medo.
- Ele não tem por que se sentir culpado – comentou a Sra. Weasley. – Devia estar feliz, uma criança traz grandes esperanças... E pouquíssimas pessoas sabem, isso ajuda, creio eu.
- Pode ser – concordou a metamorfomaga, ainda que de má vontade. – Ele mencionou a visitinha camarada do Ministério, ontem. E me dói saber que ele ainda parece ter dúvidas sobre o nosso relacionamento. Há momentos que ele parece estar absorto em nós, como se tivesse certeza de que nada poderia nos separar... Mas às vezes ele parece ter tantas dúvidas...
- Eu se fosse você, querida, não me deixaria levar por pensamentos negativos – aconselhou Molly. – Não era a sua cara ficar insegura quanto às coisas. Remus é consciente do que faz, e ele a ama. E eu não preciso lembrá-la disso.
- Não – falou Tonks, um tanto mais tranqüila. –, não precisa.
- Está muito quieto, Remus – falou Kingsley. – Se eu fosse você, estaria felicíssimo.
- É complicado, Kingsley – falou Remus, em tom fechado. – É triste dizer isso, mas eu não estou nem um pouco satisfeito com a minha situação.
- E por que não?
- É só que... Eu sou um lobisomem. Fui extremamente irresponsável. Como pude deixar isso acontecer? – perguntou ele, como que para si mesmo.
- Você está indo pelo mesmo caminho de antes, Remus – disse o auror, não gostando do rumo daquela conversa. – E nós dois sabemos que o caminho de antes não trouxe nada de bom para ninguém.
*~*
O casamento de Fleur e de Bill foi arruinado. Tudo ficou bem, no final, mas o casamento dos sonhos de Fleur não saiu como planejado. Sobrou uma bagunça total, resultado dos muitos feitiços; o Ministério e os Comensais já haviam ido embora, e não houve nenhuma tragédia. Os restantes estavam bem, embora cansados e alguns foram feridos, mas nada grave. Fleur chorava numa cadeira ao canto, amparada pela Sra. Weasley, Bill e a Sra. Delacour. Charlie, Fred e George tentavam fazer a confusão parecer menor colocando algumas mesas e cadeiras em seus devidos lugares. Logo não havia muito o que fazer; os noivos agora casados já estavam partindo e Remus e Tonks voltaram para casa um pouco antes deles.
O dia seguinte não foi nada bom; foi com grande choque que Tonks recebeu a notícia de que os Comensais estiveram na casa dos pais dela. Eles estavam bem, apesar de tudo. O dia já teria sido bastante cheio apenas com isso. Mas assim que chegaram em casa, após um jantar na casa dos Tonks, a parte realmente horrível havia começado, tanto para Remus, como para Tonks.
- Você não devia ter ficado para lutar, ontem – disse Remus, de repente, quando ele e Tonks se sentaram no sofá.
- O que queria que eu fizesse, voltasse para casa? – perguntou Tonks, aborrecida, embora estivesse calma.
- Na sua situação, seria o mais racional a fazer – retrucou o lobisomem. – Poderia ter acontecido alguma coisa.
- Não aconteceu. Lutei ontem, teria lutado hoje, se fosse preciso, e vou lutar no mês que vem, se precisar – falou Tonks, cruzando os braços, teimosamente. – Não havia pensado nisso antes. Talvez... toda essa coisa de ter um bebê me impeça de lutar.
- Talvez? – repetiu Remus, impaciente, embora eles ainda conversassem em tom baixo. – Eu tenho certeza disso. Ter um bebê não é tão bom quanto você pensa, Nymphadora.
- Você acha que eu gosto, Remus? – perguntou Tonks, aumentando significativamente o tom de voz. – Acha que eu fiquei feliz quando soube? Sou eu quem vai ficar com uma barriga do tamanho de uma melancia dentro de alguns meses!
- Eu jamais desconsiderei o que você vai passar – falou Remus, em tom baixo. Ele se levantou e caminhou pela sala de modo impaciente. – Mas eu realmente duvido muito que você não goste mais disso do que eu.
- Pois eu também duvido, ainda que não devia! – exclamou ela, ainda em tom alto, levantando-se também. – O bebê não é meu, é nosso, e nós dois devíamos estar felizes com isso, mas parece que só eu vejo algo de bom nessa situação!
- E se a criança for um lobisomem? – questionou ele. Ele finalmente estava falando para ela o que ele tinha em mente há dias. - É muito provável que isso aconteça.
- Não, a criança não vai ser um lobisomem – retrucou Tonks, com convicção. – Não sabemos se isso é um fator que pode se tornar heredit...
- Mas e se for? – perguntou o lobisomem, novamente. – Eu já estou vendo o que essa maldição que eu tenho está fazendo com você, imagine com o nosso filho!
- Não está fazendo nada de mais comigo! – exclamou ela.
- Está, sim – teimou ele. – Eu não consigo parar de pensar no que me deu para casar com você, Tonks.
Tonks rapidamente se sentou de novo. Ele estava arrependido... Ele a chamara de “Tonks”, coisa que não fazia há muito tempo...
- Está... Está dizendo que se arrependeu de ter casado comigo? – ela perguntou, sentindo as lágrimas virem aos seus olhos.
- É, estou – respondeu Remus, virando pra ela de um jeito um tanto brusco. – Eu só atrapalhei a sua vida. Seus pais não apóiam a nossa união, assim como mais da metade da população da Grã-Bretanha! O que fizemos foi quase proibido, Tonks.
- Por que está me chamando de Tonks? – perguntou ela, sem se conter, enquanto as lágrimas deslizavam pelo seu rosto.
- Eu estraguei a sua vida – desconversou ele, ficando de costas para ela. Seu tom já não era brusco ou insensível; era calmo e consciente. Isso só fez piorar a visão que Tonks tinha daquela conversa. Ela ficou em silêncio por pouco mais de um minuto, até que Remus virou-se para ela de repente. – E vou estragar a vida de mais alguém se continuarmos com isso.
Ele seguiu para a porta, calmamente. Tonks se levantou bruscamente, e parou na frente dele no momento em que ele estava colocando de volta a capa.
- Aonde você vai? – perguntou ela, olhando-o com seriedade. As lágrimas já não mais caíam; pareciam ter secado. O tom dela foi frio e sereno.
- Não sei. Procurar Harry, talvez – respondeu ele, sem fazer muito sentido. – Pra um lugar onde eu não atrapalhe mais a sua vida.
- Atrapalhar a minha vida? – repetiu ela, pegando a capa também. – Eu vou junto com você.
- Não vai, não – teimou ele. – Terminou, Tonks. Não posso mais fingir que isso dará certo.
- Mas está dando certo! Será que você não percebe? – perguntou, em tom desesperado. – E o que será desse bebê, hein? Ele precisa de um pai, Remus. Ele precisa de você!
- Vai encontrar alguém – ele tentou ir para frente, mas ela o impediu.
- Não comece com aquele discurso idiota de novo! Então, é isso? Você está me abandonando? Você está nos abandonando?
- Vai ser melhor para todos.
- Sendo assim – agora as lágrimas voltavam. Ela fez um aceno rápido com a varinha, e um minuto depois duas malas voaram ao lado deles. Tonks fez mais um aceno com a varinha e as malas desapareceram. –, eu vou embora. Estarei na casa dos meus pais, para quando você se arrepender de tudo o que disse esta noite, conseguir me encontrar. E tome cuidado.
Ela abriu a porta e rodopiou ali mesmo, no corredor daquele prédio trouxa, sem dar a mínima caso alguém visse.
*~*
- Quem é? – perguntou a voz um tanto zonza de Ted Tonks por detrás da porta.
- Nymphadora Lupin, sua filha, embora eu já não tenha tanta certeza de que ficarei com o sobrenome de casada por um bom tempo – ela fungou. – Ex-auror, grávida de pouco mais de um mês...
- O que houve? – ele abriu a porta, mostrando um roupão e uma cara de quem estava cochilando há algum tempo. – Sua mãe acabou de levar as malas para cima, disse que você devia vir a qualquer momento...
- Bem, eu... – começou ela, entrando na casa, mas Andrômeda apareceu de repente.
- Vocês brigaram? – perguntou ela, séria.
- Antes que eu fale qualquer coisa – começou a metamorfomaga. –, eu só queria pedir que não houvesse comentários do tipo “Eu bem que avisei”. Tudo bem, mamãe?
Andrômeda assentiu.
- Brigamos – ela continuou imóvel. Sentia que, se se mexesse, desabaria numa questão de segundos. – Ele fez o que eu mais temia que fizesse. Se sente culpado por mim, pelo bebê... Diz que estragou a minha vida e não quer estragar a de mais alguém.
O casal Tonks ficou em silêncio por alguns instantes, obviamente que temendo que qualquer palavra fizesse a filha desatar a chorar. A reação que ela teve, no entanto, os surpreendeu. Foi calma o tempo inteiro.
- Ele vai voltar, eu sei que vai – falou Nymphadora, e os pais puderam ver as lágrimas virem aos olhos dela. – É provável que amanhã ele apareça aqui pedindo desculpas. Eu o conheço, sei que vai voltar.
- É claro que vai, filha – falou Ted.
- É, vai, sim – murmurou ela, visivelmente lutando contra as lágrimas. – Mamãe, se importa se eu ficar aqui?
- É claro que não – respondeu Andrômeda, rapidamente. – As suas malas já estão no seu quarto.
- Então, boa noite – ela sorriu fracamente, subindo as escadas.
Talvez Remus estivesse certo, afinal. Talvez eles não fossem dar certo. E certamente que não darão se ele continuar confuso e arrependido. Mas ela não pode dizer que não tentou. E, agora, ela já não pensava mais nela, ou em Remus; havia mais alguém no mundo dela que seria muito importante e que precisaria dela. Com ou sem Remus.
*~*~*~*
N/A: Agradeço pelos comentários, e espero que comentem de novo, né! Sim, haverão spoilers do livro 7. mas admito que não seguirei o livro totalmente, pois eu abomino aquele livro. Não que seja ruim, mas há coisas péssimas nele. Eu quase morri quando li em julho passado ;O
Enfim, espero que gostem do capítulo.
Beijos
Ju Tonks
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