O primeiro dia de aulas



Fugaz arrepio de frio
É essa voz de maresia,
É esse olhar profundo,
Esses paços que dançam
Sem calor, sem alegria,
Numa antiguidade renovada
Em sorrisos que profanam
Num duplo gume de espada,
Que corta e recorta
O que fica da alma.

Como o sentes percorrer-te!
Queimar-te azedo de lado a lado
Num gosto desgostoso
Só em si assombroso
De latente apocalipse;
Um beijo que voa alado!
É divino, é sagrado,
Anjo negro do eclipse,
Amargo amor peregrino.
Que loucura, que desatino!

É fachada de mal,
É pureza de bem
Num interior de ninguém…
Não é nada nem tudo,
É anjo, belo anjo,
Pensamento que vai e vem.

No dia seguinte, Harry se levantou e sentiu que nada tinha dormido. Ficara até altas horas deitado a pensar em toda aquela história… a filha de Voldemort como sua colega… cinco torres construídas quando o inimigo poderia vir de dentro! E se estivesse ali para vingar o pai? Não… Dumbledore dissera que a rapariga era de confiança, que nem ela própria sabia que era filha de Voldemort… mas e se a maldade fosse genética? Já herdada?!

A noite passada pouco ou nada falara com Ron e Hermione, já que os dois estavam novamente aborrecidos um com o outro. Iria tentar essa manhã se fosse possível, apesar de não ter muita certeza.

- A primeira aula é Poções – lamentou-se Ron, observando o horário.

Estavam todos sentados à mesa dos Gryffindor, no grande salão, a tomar o pequeno-almoço e a professora McGonagall tinha acabado de distribuir os horários.

- É assim ton mau? – inquiriu Lena.

- Pior do que tu estás a imaginar – murmurou Harry, soltando um gemido.

Acabaram de comer os seus ovos mexidos, dirigiram-se para as masmorras e se sentaram nas últimas carteiras, o mais longe possível da secretária do professor. O resto dos alunos foi chegando pouco a pouco, entre eles Malfoy, que lhes lançou um olhar de ódio; Harry sorriu ao se lembrar do que Hermione lhe dissera no Expresso de Hogwarts, e que deixara Malfoy verde de raiva: tens certos problemas de desenvolvimento! Fora demasiado forte, e vindo de Hermione, deveria ter sido a maior humilhação que Draco tivera nos últimos tempos!

Por fim, entrou Snape, em último e da mente de Harry varreram-se todos os pensamentos relativos a Malfoy, centrando-se nesta figura negra. Durante as férias perguntara-se um sem número de vezes o que levara Dumbledore a confiar num ex-devorador da morte.

- Estou admirado por vos ver todos cá. Espanta-me o facto de alguns de vós conseguirem chegar até ao quinto ano – Snape interrompeu os pensamentos de Harry e fitara-o fugazmente enquanto dizia aquilo. - Irei começar por fazer algumas perguntas para ver o nível dos meus novos alunos – disse friamente. – E talvez testar a capacidade dos poucos que se aproveitam em Hogwarts.

- “Los mios nuevos alunos... blablabli blablabla” Ma quê tipo má stúpido! – comentou Lena sarcasticamente.

- Alguém me sabe dizer o que é uma Trixif? – perguntou Snape.

O braço de Hermione se ergueu logo no ar instantaneamente, e não foi o único. A mão de Lena também se ergueu, assim com a de Karl, e uma das pessoas que estavam com os Slytherin.

- O senhor – ordenou Snape para Karl.

- A Trixif é uma serpente muito venenosa da Macedónia.

Snape continuou as perguntas sem se dar ao trabalho de dar um sinal de aprovação, o que Karl Van Morth não levou nada a bem.

- Alguém conhece a Mortis vie?

Várias pessoas ergueram a mão.

- Há aqui alguém que a saiba fazer? – inquiriu Snape sorrindo friamente, como que adivinhando uma resposta o mais negativa possível.

Ninguém ergueu o braço.

- Há quem saiba, mas que não o quer admitir – disse Lena no seu sotaque espanhol-italiano, olhando para Karina com um sorriso malicioso e denunciador.

- Está calada – ordenou a amiga, deitando-lhe um olhar mortal.

- Stou calada porquê? – inquiriu Lena rebeldemente. – Tu tienes qui mostrar las tuas capacidades!

Toda a turma olhava naquela direcção.

- A menina sabe? – inquiriu Snape espantado.

- Não, definitivamente não faço a mínima ideia – respondeu Karina, olhando para as próprias mãos.

Harry franziu as sobrancelhas, no esforço de descortinar o que se passava por detrás dos olhos azuis de Karina Riddle.

- Karina, por amor di Dieus!

- Helena, deixa-a em paz – ordenou Petro num tom reprovador.

- Petro! – Disse Lena em tom de advertência.

- O Petro tem razão, Lena, não a maces – pediu Karl.

- Karl Van Morth! A Karina sabe e tien qui mostrá-lo! Io sei qui les pais dela falicieram, mas isso nom é razão para ela estar assim! A Karina tien qui reagir! – disse Lena a alto e bom som.

- Lena cala-te – rosnou-lhe Karl furioso.

- Pobrezinha da Droviski – riu-se uma rapariga de Durmstrang, mas que se encontrava junto dos Slytherin, ironicamente. – Os pais dela morreram há duas semanas, não foi?

- Tu não te atrevas a falar aqui dos meus pais! – gritou Karina, levantando-se súbita e violentamente.

- Huuuu! Que medo! Já estou a tremer – riu-se a rapariga ironicamente.

- Karina, acalma-te, ela só está a tentar irritar-te – murmurou Petro.

- Cala-te tu, vesgo, estou a falar com a Droviski – ordenou a rapariga friamente.

- Eu digo-te quem é o vesgo, sua... – rosnou Karina, tirando a varinha do bolso e apontando-lha, acto que fez a rapariga se assustar e empalidecer.

- A menina baixe a varinha, já! – ordenou Snape. – Não quero confusões na minha aula, e se querem discutir vão para a rua. Perceberam?

Karina baixou a varinha lentamente, ainda fitando a rapariga com uma raiva que metia medo, e se sentou com um ar furioso, enquanto a outra a olhava com ódio.

- O ambiente está quente – murmurou Hermione para Harry.

- Se houver brigas destas em todas as aulas de Poções talvez possamos matar algum Slytherin sem se notar – riu-se Ron.

Harry não respondeu aos amigos, ficando a remoer em tudo o que se passara.

- Karina, tu tienes qui ti controlar. Já sabis como ela é – aconselhou Lena.

- Falar é fácil. Só de olhar para aquela convencida dá-me vontade de... – disse Karina fazendo um gesto no ar com as mãos.

- Silêncio! – gritou Snape. – Não irei tolerar novamente este tipo de comportamento na minha aula, e o professor Karkaroff saberá deste incidente.

Harry olhou para Petro que se encontrava sentado ao lado da temperamental Karina. Continuava de óculos escuros… porque seria? Teria alguma deficiência nos olhos que queria esconder? Ou algo mais estranho?

Depois da atribulada aula de Poções, foram para Defesa Contra as Artes Negras com o professor Lupin e o professor Louis, o que, para todos os Gryffindor, era um eterno alívio.

Entraram na sala e foram para os seus lugares habituais, as primeiras carteiras, à frente de Lupin.

- Sejam todos bem vindos. Para quem não me conhece, sou o vosso professor de Defesa Contra as Artes Negras, e me chamo Remus Lupin e este – disse, indicando o professor Louis - é o professor Cristopher Louis que me acompanhará nas aulas, sendo ele, não um ajudante, mas um professor tal como eu, e não haverá diferença alguma entre nós – declarou Lupin amavelmente. – Penso que nem todos aqui dentro se conhecem, por isso gostava que pelo menos os alunos de Durmstrang se apresentassem.

- OK, começo io – voluntariou-se imediatamente Lena, sem ninguém lhe pedir nada, o que levou os alunos a sorrirem. – Io sou a Helena Vivan, sou Espanhola e tieno 15 anos – apresentou-se Lena sorridentemente.

- Eu sou o Petro de lo Rio, tenho 15 anos e sou Italiano – informou Petro. – Só mais um pormenor, que poderá ser incómodo para alguns de vós… ah… eu sou cego.

- Incómodo? Porquê? – quis saber Lupin, como se o rapaz não tivesse dito nada demais.

- Bem... porque há quem não se sinta muito à vontade na minha presença – murmurou.

- És uma pessoa totalmente normal! – observou o professor Louis. – Vá continuando.

- Eu sou o Karl Van Morth, e sou muito esquisito. Sou alemão, o meu nome é holandês e falo melhor espanhol – disse Karl alegremente.

- E eu sou a Karina Droviski, sou russa e tenho 14 anos – disse Karina.

- E é la melhor aluna de Durmstrang – informou Lena.

- ‘Tá... deixa-te de falar sobre mim. Fala sobre outra pessoa qualquer! – pediu Karina, revirando os olhos.

- OK, OK. Sabem, lo Karl é mucho esquisito mesmo. Sabiam qui’ele gosta comer caracóis? Aquilo é horrível! – disse Lena.

- A Karina e o Petro também gostam de comer caracóis! – defendeu-se Karl. – E se não gostas o problema é teu! Não tens que andar para aí a falar disso! Não tem… lógica!

- La Karina disse para io falar de outra coisa – defendeu-se Lena.

- Ela só não te mandou calar porque é tua amiga – observou Karl sarcasticamente.

Lena baixou a cabeça amuada.

- Também não é caso para tanto – notou Karina. – É só que estamos numa aula e os professores querem trabalhar.

Ron olhou para Harry, erguendo as sobrancelhas de espanto. Era sempre bom saber que havia pessoas piores que eles.

À saída da aula Lena se dirigiu a Harry sorrindo alegremente.

- Olha Harry, podias dar-me lo tieu autógrafo? – perguntou.

- Para que queres o meu autógrafo? – quis saber Harry confuso, cada vez compreendia menos daquela gente.

- Para lo caso dê io algum dia star na miséria poder tier alguna coisa para vender. É que devem pagar caro – disse Lena na brincadeira.

- Bem, é uma razão plausível, por isso penso que te poderei dar o meu autógrafo – riu-se Harry. – Mas não sei se valerá alguma coisa.

- Io stava a brincar – disse Lena. – É só mesmo para ficar de recordacion.

Karl olhava-os, enquanto bocejava sem se dar ao trabalho de pôr a mão à frente da boca.

- Agora vamos almoçar, não é? – inquiriu, olhando para o relógio.

- E depois temos Cuidado com As Criaturas Mágicas – recordou Hermione.

- E temos que aturar novamente os Slytherin – resmungou Ron entre dentes.

E se dirigiram para o salão para um apetitoso almoço. Pelo caminho Harry imaginou como seria difícil para Petro poder estudar e ser um feiticeiro, sendo ele cego. Não haveria cura para a cegueira? Se estivesse no seu primeiro ano em Hogwarts, provavelmente pensaria que sim, mas agora sabia que nem tudo era possível.

Após o almoço, quando chegaram todos junto da cabana de Hagrid, viram que os Slytherin já lá estavam, incluindo o deficiente mental do Malfoy, que lhes sorriu cinicamente.

- Então, Potter, não nos apresentas a tua namorada? – perguntou Malfoy, vendo Helena ao lado de Harry, que vinha a conversar com ele animadamente.

- Não perdes tempo nenhum Vivan, foste-te logo agarrar ao Harry Potter – observou a rapariga que se tinha metido com eles em Poções.

- Cala-te cobra! Porque quando abris la boca lo chiéro é horrível – ordenou Lena mordazmente e olhando-a friamente – É tu tambien, loiro oxigenado – disse para Malfoy, que, de imediato, se parou de rir.

- A tua namorada é muito saidinha da casca – observou, tirando a varinha do bolso. – Precisa de uma lição.

- É melhor baixares a varinha, ou quem te dá uma lição sou eu – avisou Karina, avançando lentamente para eles.

- Como se eu tivesse medo de ti – riu-se Malfoy.

- Não te metas com ela, pode fazer contigo algo irreparável – murmurou a rapariga que se estava a meter com eles, o que o fez baixar a varinha.

- Karina, mia heroína! – disse Lena agarrando-a pelo pescoço. – Salvaste-me da cobra-cascavel!

- Lena, estás a ofender as serpentes – reprovou Karina. – Quantas vezes já te disse isto?

Helena desmanchou-se a rir e a outra rapariga ficou verde de raiva, enquanto Malfoy as olhava furioso. Harry observou-a atentamente. Cada vez mais Karina lhe fazia lembrar Voldemort: uma maneira calmamente autoritária de falar, uma inclinação para serpentes... mas…

- Boa-tarde meninos! – cumprimentou Hagrid, dirigindo-se para lá com um cavalo alado. – E sejam muito bem vindos alunos de Durmstrang. Este é o Phillip, um abraxan. Neste período estudaremos cavalos alados! Quis arranjar um Lithian para a aula mas...

- Isso pode arranjar-se – declarou Karina num tom em que não se diferia qualquer tipo de sentimento ou emoção.

- Ai sim? E como? São muito raros de se encontrar e o seu dom d’invisibilidade dificulta imenso a captura d’um espécime – notou Hagrid confuso.

- Desde pequena que tenho um, os meus pais ofereceram-mo. Neste momento encontra-se na Floresta Proibida. Se o quiser mostrar na aula, basta-me assobiar e ela juntar-se-á a nós – informou.

Hagrid sorriu de contentamento ao ouvir Karina dizer isto e incitou-a a assobiar para chamar o cavalo. Foi um assobio longo, seguido por mais dois que se repercutiram até as entranhas da floresta. Alguns segundos depois, um cavalo apareceu a correr vindo da Floresta Proibida e parou ao lado de Karina.

– Este é o Twarin. – apresentou.

- Mas que bonito! – elogiou Hagrid, no entanto denotava-se uma certa desilusão. – Mas desculpe dizer-lho, isto não é um Lithian...

- É um Lithian sim, senhor. Só que eu não posso andar pela rua com um cavalo com asas, como é óbvio – defendeu-se a aluna de Durmstrang. Apontou-lhe a varinha e disse: Finit Encantatem.

Faíscas saltaram da ponta da varinha e envolveram o cavalo que, à primeira vista, parecia apenas... um cavalo. Logo começaram a surgir asas dos lados laterais, como se elas simplesmente tivessem estado invisíveis.

- Mas que belo Lithian!! – exclamou Hagrid, e agora sim, muito entusiasmado. – E p’lo que vejo é das melhores raças! Um jovem adulto.

- Tenho-o desde que sou pequena – repetiu, passando a mão pela crina do cavalo. – E desde que ele era bebé.

- A vossa colega...

- Karina – informou esta sorrindo-lhe, o que tornou a sua face soturna bem mais amável.

- A vossa colega Karina foi simpática em mostrar-nos o seu cavalo Twarin. – declarou Hagrid, muito mais alegre que os próprios alunos.

- Que interesse tem esse saco de pulgas? – perguntou Malfoy com frieza.

- Os Lithians são cavalos-alados muito raros – informou Hagrid. – E ter um para vos mostrar já é um milagre.

- Para mim é um animal nojento – observou com a sua típica rudeza, o que fez Harry controlar-se ao máximo para não lhe saltar em cima.

- A única coisa nojenta aqui és tu – ripostou Ron interferindo.

- Cala-te parvo – ordenou a rapariga de Durmstrang em tom superior.

- Tenho a leve impressão que a conversa ainda não che...

- Meninos, chega! Deixem-me dar a aula por favor! – pediu Hagrid.

Os três se calaram, mas lançavam olhares fulminantes de um para o outro.

- É melhor não nos metermos no assunto deles – aconselhou Harry. – Esses estrangeiros são esquisitos.

- O Malfoy não é estrangeiro...

- E Harry, a Karina, o Petro, a Lena e o Karl são boas pessoas – informou Hermione. – Aquela Clarice é que é horrível.

- Tu conhece-los assim tão bem? – inquiriu Ron, olhando-a com um ar estupefacto. – Até o nome da rapariga sabes! Como é que eu não sei?

- Se não estivesses com tanta atenção nas pernas da Lena talvez pudesses ter reparado que eu falo com eles – comentou Hermione azedamente.

Ron corou até a raiz dos cabelos e olhou para o chão, furioso.

No fim da aula, e isto foi depois de Hagrid pedir a Karina para lhe deixar ficar uns tempos com Twarin, Lena e os outros passaram por Harry, Hermione e Ron.

- Agora é aritmancia, non é? – perguntou Lena.

- Aritmancia para uns e Adivinhação para outros – informou Hermione. – Eu tenho Aritmancia.

- Io e lo Karl tambien – disse Lena. – La Karina e lo Petro tienem Adivinhaçon.

- Então separamo-nos aqui – concluiu Harry e não sabia se devia praguejar ou agradecer por Karina ter a mesma aula que ele. – Nós subimos e quando voltar-mos a descer já venho com uma pena de morte em cima.

Lena ficou a olhar para Harry espantada, não percebendo absolutamente nada.

Harry e Ron seguiram o seu caminho seguidos por Karina e por Petro que iam de braços dados.

- Será que eles são namorados? – murmurou Ron a Harry.

- Não sei, mas se estás interessado porque não perguntas? – inquiriu Harry sarcasticamente, olhando o amigo com divertimento.

- Achas que estou interessado naquela magricela que parece a Branca de Neve? – perguntou Ron indignado. – Claro que não! Perguntei por curiosidade. Como andam sempre os dois juntos, de mãos ou de braços dados pensei...

- Ron, o rapaz é cego, precisa que o guiem – fez notar Harry.

- Sim, mas se reparares como ele fala com a Karina, notas um certo toque de carinho, de... talvez amor – arriscou Ron, encolhendo os ombros.

- Não te conhecia essa vertente tão sensível! – riu-se Harry. – Mas a mim parece-me que a Karina só o acha, mesmo, um amigo.

Chegaram à torre da professora Trelawney e subiram pelo alçapão para a tão típica enfumarada sala que os deixava completamente afogueados.

- É bom ver-vos aqui, meus queridos. A minha bola de cristal disse-me que este ano teríamos alunos novos, e aqui estão eles. Também me disse que a doença que a põe pálida é contagiosa – disse seriamente para Karina.

Ron deixou escapar uma gargalhada fora do controlo.

- Mas que piada – comentou Karina friamente.

- Estou a falar mais sério que nunca, minha querida – informou a professora num tom de “cataclismo eminente”.

- Eu sou pálida por natureza – respondeu Karina. – Se a senhora fosse à Rússia ou a países que ficam bem para norte ou onde está um frio terrível, veria muitas pessoas com a minha “doença” – ironizou.

- É uma constipação muito grave – disse a professora Trelawney, num tom muito preocupado, não percebendo ao que ela se referia.

- E os chineses sofrem de febre-amarela, não? É que eles são assim amarelados. – comentou Karina, revirando os olhos.

Começaram todos a rir-se e a professora riu-se também.

- A menina é muito engraçada, não haja dúvida. Mas comecemos a nossa aula. Hoje falaremos de geomancia, e como todos sabemos, a geomancia é a arte de conhecer o futuro lançando pedrinhas ou punhados de terra e interpretar as formas que fazem ao cair.

- Sabemos? – inquiriu Ron num murmúrio a Harry. Este encolheu os ombros.

- Bem meninos, vão ao armário buscar as pedras azuis e as pretas – ordenou a professora Trelawney. – Agora façam pares e sigam as instruções do papel – declarou a professora, e com um golpe da varinha apareceram dois folhetos por mesa.

- Aqui diz que só temos que concentrar-nos, mandar as pedrinhas para este prato e observar as figuras que fazem – declarou Harry lendo o folheto. – E que belas figuras fazemos nós.

Ron riu-se.

- Isto parece um bocado as folhas de chá. Vais ver, daqui a nada a professora Trelawney vem aqui, vê nas pedras que eu vou lançar uma caveira e é a tua morte – concluiu Ron.

- Então, eu lanço primeiro – voluntariou-se Harry, que não queria morrer tão depressa.

Lançou as pedras e ficou a observá-las.

- Isto parece um queijo. Se calhar, amanhã vais comer queijo ao pequeno-almoço. Mas assim parece... um gorila. Deves andar à porrada com o Crabbe.

- Meu querido – disse a professora Trelawney, aparecendo repentinamente, como por magia, atrás dele. – É uma ovelha, o que não é bom sinal, porque essa ovelha, por o que vejo, é um lobo disfarçado, o que significa que aparecerá na tua vida...

- A mim parece-me um cogumelo – opinou Dean. – Ou uma bomba atómica. Talvez te caia uma em cima – riu-se.

- Uma quê? – inquiriu Ron confuso. – Uma bomba ato-quê?

- Quanto a mim não me parece nada – disse uma voz friamente.

- Isso é porque o senhor não possui a Visão – declarou asperamente a professora Trelawney, virando-se para trás.

- Disso não tenho nenhuma dúvida – comentou Petro. – Sou cego desde os seis anos de idade, por causa de uma poção que me caiu em cima.

A professora ficou a pensar, durante uns segundos, o que dizer.

- Peço perdão, meu querido – disse a professora. – Não sabia que o menino... pensei que os óculos fossem só por estilo... por vaidade...

- Então a senhora antes de falar poderia consultar a sua bola de cristal, para não ofender ninguém – observou Karina sarcasticamente. – E nas pedras que o Harry lançou só vejo unicamente uma aranha, o que poderá ser sinal de receber dinheiro.

- Tens a certeza? – perguntou Ron rapidamente.

- Não. O futuro é uma coisa muito difícil de prever, e é lógico que posso estar errada.

- As tuas previsões estão sempre certas, mesmo que só aconteçam daqui a dez anos – riu-se Petro.

- Cala-te que eu não pedi uma opinião – murmurou Karina. – Porque não lanças as pedras ao Harry? – inquiriu a Ron.

Este fez o que Karina disse e ficaram a olhar para as pedras atentamente, até que a professora Trelawney soltou um grito de horror e levou a mão teatralmente ao peito.

- Meu Deus! É uma caveira! Significa a morte de alguém! De si, meu filho! – disse Trelawney assustada.

- Eu não disse? – murmurou Ron. – Vais morrer não tarda nada.

- Não me parece. A figura que aí está parece falar de Dementors – disse Karina atentamente.

- E que figura vês? – perguntou Harry curioso.

- A mim parece-me uma flor – murmurou Ron. – O meu amigo vai florir…

Harry deu-lhe uma cotovelada para o amigo deixar de dizer besteiras e escutou o que Karina tinha a dizer.

- Bem, é... é... um cão? – murmurou.

- Um cão? – perguntou Trelawney espantada. – Vês um cão nas pedras? Um cruel talvez?

- Não. Vejo-o ao seu lado. – respondeu Karina, sorrindo para um cão preto enorme. – E sem dúvida muito bonito. Olá pequenino, o que fazes por aqui?

- Pequeno? – murmurou Trelawney assustada. – O que faz este monstro aqui? Parece um Cruel! Acho que não me estou a sentir bem...

- Si... Snuffles, o que fazes aqui? – perguntou Harry estupefacto.

Snuffles ladrou e apoiou as patas no joelho de Harry.

- Hoje a aula está dada por terminada – declarou Trelawney. – E aconselho a menina a respeitar-me, porque durante este ano serei sua professora, minha jovem.

– Só estava a dar a minha opinião.

- E aconselho-a a si, professora Trelawney – declarou Petro. – Para se respeitar alguém é preciso ter-se respeito por essa pessoa, e a senhora não tem respeito pela Karina. Vamos.

Karina deu o braço a Petro e saíram os dois da sala de aula.

Harry também saiu, seguido de Ron. Desceram até uns andares abaixo e entraram numa sala de aula vazia.

Snuffles voltou à forma humana e sentou-se numa secretária.

- É bom voltar a ver-vos rapazes – disse, sorrindo-lhes. – Desde ontem que não vos punha a vista em cima.

- Mas aparecer assim na aula da Trelawney... – murmurou Harry.

- A mulher ficou tão lixada! – riu-se Sirius. – Mas outra coisa, Dumbledore autorizou-me a andar pelo castelo livremente e dormir na sala comum dos Gryffindor, ou mesmo num dormitório.

Harry soltou um gemido. Tinha-se esquecido completamente do que Dumbledore lhe dissera com a história de Karina! Tinha que andar sempre com Sirius, mesmo nas aulas.

- Boa notícia! Vai ser bom poder ter-te por lá.

- E vais assistir às aulas? – perguntou Ron.

- Se me apetecer, porque não? – inquiriu Sirius.

- Até as do Snape? – perguntou Harry rindo-se.

- Principalmente essas. Vou adorar atormentar-lhe a vida – murmurou Sirius com um sorriso malicioso.

Ouviram vozes do lado de fora da porta e calaram-se.

- Io non acredito. Si fossi io já lhe tinha saltado en cima – disse a voz de Lena.

- E dizes tu para eu não me irritar – riu-se Karina.

- Ninguien devia duvidar dês las tuas previsions, tu és una grande vidente – declarou Lena.

- Lena, eu erro metade das vezes! – fez ver Karina.

- E acertas a outra metade – disse Helena chateada. – E tambien consegues ver o passado.

- Às vezes prefiro não ver nada – murmurou Karina.

- Mas se tu tienes un dom, tienes qui lo desenvolver! OK? – perguntou Helena cruzando os braços.

- Não posso – murmurou Karina.

- Nom podes ou nom quieres? – perguntou Lena. – É que son coisas mui diferentes.

- Porquê que não vão jantar enquanto eu vou para a sala comum dos Gryffindor ler um livro? – perguntou Karina para desviar a conversa.

- Não vens connosco porquê? – perguntou Petro.

- Não tenho fome – respondeu Karina simplesmente.

Passou-se um bocado antes de se começar a ouvir vozes de novo.

- A Karina anda tão estranha – murmurou Karl. – Desde que os pais morreram não é a mesma.

- Mas ela vai tier que superar la morte dos pais! – disse Lena. – Podíamos tientar arranjar-lhe um namorado. Que tal?

- Não me parece boa ideia – disse Petro. – Ela rejeitá-lo-ia, não?!

- Se soubiermos escolher bien non o rejeitiará – afirmou Lena.

- Faz o que quiseres. E em quem é que estás a pensar? Alguém de Durmstrang ou de Hogwarts? – perguntou Karl curioso.

- Hogwarts, talvez – disse Lena. – São todos desconhecidos.

- Vê em quê que te vais meter! Isso pode dar para o torto e ainda destroças o coração de algum rapaz. Não que me importe!

- Karl, confia em mim. Io sou una mestre nisto e, conheço la Karina – declarou Lena. – Poderá demorar tempo, mas resultará, na boa.

Ouviram-se passos a afastar-se e Sirius, Ron e Harry saíram da sala de aula, com Sirius já na sua forma canina.

- Eu é que gostava de arranjar uma namorada como a Lena – suspirou Ron sorrindo.

- Pára de sonhar acordado! – pediu Harry, já meio enjoado com a conversa do amigo.

Encontraram Hermione à entrada do salão.

- Então Mione, o que fazes por aqui? – perguntou Ron.

- Estava só à vossa espera. Olá Snuffles! – cumprimentou, passando-lhe a mão pela cabeça. Sirius ladrou para a cumprimentar e abanou a cauda feliz por vê-la.

- E também queria lembrar-vos da BABE – disse Hermione caminhando para o seu lugar.

- Oh não! Pensei que tivesses acabado com isso! – disse Ron meio desesperado. – Os elfozinhos querem lá saber dessa baba!

- Ron! É BABE! Brigada de Apoio ao Bem-estar dos Elfos! – quase gritou Hermione. – E temos que arranjar mais membros.

- Tu não vais perguntar aos alunos de Durmstrang se eles querem ser membros, pois não? – perguntou Harry com um mau pressentimento.

- Por acaso vou. Eles compreenderão a causa de tudo isto, é para o bem dos elfos domésticos. E ajudarão com certeza.

- Eu não tinha tanta certeza – murmurou Ron a Harry.

Depois do jantar Hermione tinha arranjado mais um membro para o BABE, Helena. Esta, quando Hermione lhe explicou o que era a BABE ficou entusiasmadíssima.

- Eu, pura e simplesmente, não acredito – disse Ron com a boca semi-aberta, olhando Hermione e Helena que iam à frente deles. – Isto é de loucos!

Entraram na sala comum e sentaram-se no sofá a olhar para a lareira. Karina estava sentada numa poltrona a ler um livro, parecendo não notar a presença de ninguém que a rodeava.

- Karina, ‘tá tudo fixe? – perguntou Karl, sentando-se ao seu lado. – O que ‘tás lendo?

- Feitiços fatais, de Leo Vanish – respondeu Karina, mostrando a capa.

- Ah… deve ser muito interessante – observou Harry, olhando-a de lado como se a rapariga estivesse a praticar algum crime. Definitivamente, não era todos os dias que se encontrava alguém a ler um livro sobre feitiços fatais.

Harry e os outros deitaram-se eram onze e meia, mas, apesar disso, Karina ficou lá, a continuar a leitura do seu livro e a fazer sabe-se lá mais o quê…

Só demora-se a alma
Num aconchego do destino.
E tu que adormeces ao vento,
Um dia eleito, escolhido,
Pensa em sonhos, que te embalo,
Pensa no futuro que te espera,
Pensa num feliz e triste passado.

****************

N.A.: Espero que tenham gostado XD e que comentem mto mto mto! bjs***

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