A Maldição da Serpente
Queira cantar a manhã
Se a noite morrer,
Por espinhos crucificada
Entre pecados do ser.
Adeus sombras vãs
De crueldades passadas!
Adeus sacrifícios santos!
Adeus almas penadas!
Pois manhã é vida,
É ouro divino,
É diurna estrela dourada
Do teu destino.
Eis a vitória, corrida
De casa em casa morada,
Sem silícios ou dores
De fé apregoada.
E que maldito seja
Aquele que a noite habitar;
Nada mais é que morto,
Que criatura crepuscular!
- Estás bem? – inquiriu, voltando-se para Karina e amparando-a. Estava mais pálida de que horas antes, e continuava a tremer como varas verdes. – Professor Lupin, ela não está bem!
- Parece estar em estado de choque – murmurou Lupin, ajudando Harry a sentá-la no chão. – As suas recordações não deveriam ser das melhores, para ter ficado tão afectada.
- É melhor levá-la para a enfermaria – opinou o estranho que se lhes reuniu depois de ter comunicado que era seguro deixarem o Expresso de Hogwarts.
- Não é preciso, eu estou bem – murmurou uma voz fraquinha, quase inaudível, mas que todos ouviram muito bem.
- Não, faz o que…
- O professor Dumbledore está a chegar! – informou Harry aliviado. Por que razão demorara tanto tempo? O que o teria retido?
Para um homem da sua idade, Dumbledore corria com uma velocidade razoável. Atrás de si vinham a professora McGonagall e o professor Snape.
- Remus! O que aconteceu? – perguntou, enquanto se debruçava sobre Karina.
- Eu estou bem – murmurou a aluna de Durmstrang, tentando livrar-se das pessoas que a rodeavam.
- Esperavam por nós, possivelmente ao mando de Voldemort – informou Lupin calmamente. – Eram muitos e eram… diferentes.
- É melhor explicares-me isso mais logo, no meu gabinete. Já pedi ao professor Flitwick que informasse o Ministério, foi um incidente muito grave.
- Mas como é que eles entraram e como…
- Como é que não demos conta? – inquiriu Dumbledore olhando Harry pensativamente – Esperamos alguém que não veio no Expresso, as protecções estavam inactivas num lugar específico. Foi por aí que os dementors entraram.
Harry comprimiu os lábios enquanto tentava encaixar tudo correctamente. Outro professor? Iria substituir quem? Seria um traidor por ter dado a informação da sua ida para o castelo?
- Não vale a pena ficarmos aqui ao frio. Os alunos podem dirigir-se para o castelo em segurança e sem nada a temer. Severus, recolhe uma amostra desses mantos que se encontram no chão e a senhorita... – disse, dirigindo-se para Karina. – Como se sente?
- Ah... já estou bem, obrigada – respondeu, soltando um suspiro.
Dumbledore ainda a olhou com o azul dos seus olhos perscrutadoramente, até que concordou.
- Sim, um pouco de alimento e repouso fará bem à tua pessoa. Harry, depois gostaria de falar contigo. Quando estarás disposto a isso?
- Pode ser agora! – respondeu Harry confuso.
- Óptimo. Remus, poderias ficar com a senhorita, enquanto eu e o Harry trocamos umas palavrinhas no meu gabinete?
- Sim, claro, Sr. director, vá descansado.
- Minerva, conduz os pequenos para as carruagens – e dito isto se afastou com Harry a segui-lo de perto.
Harry nunca se encontrara na escola enquanto esta estava tão vazia, mesmo que fosse por pouco tempo, por isso impressionou-o uma vastidão tão sombria e silenciosa.
- Pulgas fritas com caju – murmurou Dumbledore para a gárgula que se animou instantaneamente e se desviou para o lado dando-lhes passagem. Pulgas fritas com caju? Harry não conseguiu evitar um pequeno sorriso de divertimento.
Subiram a escada em caracol em silêncio, tal como tinham feito durante todo o percurso, e Harry voltou a entrar naquele gabinete incrível que não tinha mudado nada desde o último ano. Harry reviu Fawkes, adormecida no seu poiso. Era uma lindíssima fénix, com uma plumagem cor de fogo que o ajudara há muito tempo. O Chapéu seleccionador não se encontrava à vista, possivelmente levado para algures, para ser guiado até ao grande salão para selecção dos alunos do primeiro ano. Num armário ao fundo da sala, Harry, apesar de não ter a certeza, sabia que se encontrava o pensatório, uma espécie de bacia onde se podiam guardar pensamentos e recordações.
- Senta-te Harry – pediu Dumbledore, ocupando o seu lugar com um ar extremamente cansado.
Harry obedeceu-lhe, e depois de se acomodar, ficou a olhar para as mãos, esperando que Dumbledore lhe dissesse o que tinha a dizer.
- Então, as férias foram interessantes?
- Ah... – murmurou Harry desprevenido por uma pergunta tão casual. – Foram... foram normais.
- Espero que isso seja bom – disse Dumbledore sorrindo amavelmente. – E tens alguma coisa para me contar? Algo que te preocupe?
O director observava-o por cima dos seus óculos com lentes em forma de meia-lua atentamente.
- Eu... quer dizer... penso que não – respondeu Harry, mas subitamente ocorreu-lhe aquele estranho encontro que tivera com Voldemort. Dumbledore iria com certeza adverti-lo pela sua inconsciência, mas seria melhor contar, poderia servir de alguma coisa. – Bem, por acaso até há, professor. Há um mês... encontrei-me com o Voldemort por acaso.
Dumbledore olhou estupefacto, mas nada disse.
- Eu e o Ron, quando estávamos a viajar por um botão de transporte multi-funcional. O Voldemort estava numa espécie de floresta tropical, com um homem que não reconheci, mas que não parecia boa gente. Ele teve oportunidade de nos matar, mas não o fez, disse que iria esperar... que não queria que o seu trabalho fosse vão... ou uma coisa desse género.
- Entendo... mais nada?
- Penso que não.
O professor Dumbledore ficou durante uns minutos a pensar e só depois falou.
- Isto é só uma suposição, mas penso que o Voldemort estava numa floresta australiana, o grande país dos animais imprevisivelmente perigosos. Foi pedir auxílio a Xibuanga, um feiticeiro negro exilado, para elaborar uma poderosa maldição, a Maldição da Serpente – fez uma pausa para que Harry assimilasse tudo o que tinha dito. – Os dementors que vistes hoje eram diferentes do normal?
Agora Harry percebera onde Dumbledore queria chegar.
- Sim! Eles falavam serpentês e tinham uma língua bífida! E... e estavam mais resistentes. Foi preciso a Karina explodir com um grande número deles para os vencermos.
- A Karina? Não me recordo de quem seja... mas o principal do que te quero dizer é: tem cuidado. Isto foi só o princípio e receio que te atacarão novamente mais cedo ou mais tarde, mas não sei como... E não te posso proteger por essa razão, a Maldição da Serpente tem um efeito muito vasto. Tem muita atenção a todos os que te rodeiam e mantém o Sirius perto de ti, seja em que altura for. O faro canino consegue captar coisas inimagináveis – e isto não era um conselho, era uma ordem.
- Sim, professor. Levo-o para as aulas também?
- Sempre que puderes, e sempre que o professor não se importe.
Harry tentou pensar em algo para dizer, mas nada lhe ocorreu.
- Bem Harry, estás dispensado para ir jantar e para depois ouvires aquelas belas e esplêndidas informações que todos os anos tenho a dar – disse o professor amavelmente. – Eu não desço já, tenho umas coisas para organizar.
- Então até já, professor – despediu-se.
Ergueu-se e caminhou até a porta. Ao tocar na maçaneta prateada lembrou-se de algo.
- Professor, no expresso de Hogwarts conheci uma aluna de Durmstrang, a pessoa que nos ajudou a combater os dementors, cujo nome é Karina Riddle Droviski. Acha que pode ter alguma coisa a ver com o Voldemort?
- Era aquela rapariga a quem os dementors incomodaram tanto? – perguntou Dumbledore com um sorriso cúmplice.
- Sim...
- Bem, não me parece que seja má pessoa, sinceramente eu era capaz de confiar nela. Tu não, Harry?
- Bem... não sei... mas talvez seja improvável que tenha alguma coisa a ver com Voldemort, seria óbvio demais.
- E é exactamente assim que penso que Voldemort pensará se algum dia se deparar com ela, possivelmente dirá: é óbvio demais. Ele nunca gostou muito do óbvio – observou Dumbledore continuando a sorrir.
- Isso quer dizer...
- Isso quer dizer que não podemos julgar alguém pelo seu nome – completou Dumbledore olhando para o tecto. – E sim, Miss Droviski tem alguma coisa a ver com Voldemort. Miss Droviski, ou Miss Riddle, como preferires, é filha do Voldemort.
Harry olhou Dumbledore chocado.
- Mas garanto-te que é uma óptima pessoa e... penso que confias na minha palavra. Só gostava que me fizesses um favor. Não contes nada disto ao Ron. Ambos sabemos que irá ser preciso ele ter uma grande confiança em Miss Droviski para não a “discriminar”. E a própria Karina não sabe nem suspeita do seu parentesco com Voldemort. Neste momento as únicas pessoas que sabem somos eu, tu, e o professor Karkaroff. Por isso conto contigo para não contares a pessoas indevidas.
- Sim, professor.
- Óptimo! Agora vai descendo para o salão que eu já lá irei ter.
Ressoa encarnada,
Em lâmina rasgada,
Maldição desferida, desfeita,
Forjada, mas imperfeita.
Ronda em punhais
A vida. São eles mortais.
Espreita e espera,
Passeia em passos de fera.
Pensas longe, está perto
Esse engodo secreto.
E ri-se da insensatez…
Oh! Uma eterna malvadez.
Enfim sentes marchar direito
O sangue ferido do peito,
A traição não traída…
És inconsciente da vida.
Dorme então em pranto,
Em ponto morto, enquanto
Sou, em memórias da mente,
Latente e vil serpente
Rastejando em tom cadente,
Enganando lentamente,
Numa língua delicada,
Bífida maldição encarnada.
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Autora: Bem, muito obrigada por darem atenção a esta coisa a que chamo fic, é muita caridade da vossa parte =D bem, espero que tenham gostado e que comentem, please!!! bjx***
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