Essência Sanguínea



O dia é negro
E o coração escurece
Perdendo-se no erro
De que a alma padece.

Espero e nada vejo…
Caminho e nada encontro!
Quem vê invejo,
Quem encontra desencontro.

Suplico e reclamo,
Devolvo o abandono.
Diabólico é o engano
E o abandono assombroso.

Digo-me insatisfeito
Quero infinitamente mais:
A revolta do defeito,
As lágrimas que chorais.

- Sabes, cheguei a uma conclusão.

Eram seis da manhã do dia um de Setembro na antiga mansão Riddle que há cerca de um ano não sabia o que era descanso. Este velho casarão entoava uma melodia de terror e morte. Vira pouco, mas o que vira chegara para deixar os seus alicerces fracos de medo.

Apesar de ser Verão, um frio gélido inundava o ar, sufocando o espírito de quem entrasse nessa sala tão pouco acolhedora de que humildemente se ocuparam, sem ter em conta toda a restante casa.

Diante de uma lareira incandescente como o fogo do Inferno de Hades, encontrava-se um ser que já nem homem se sentia… era algo superior, mas não um deus, ainda.

- Ai sim? E que conclusão esplêndida é essa? – perguntou Voldemort calmamente observando as chamas.

- Só há uma maneira de descobrir essa infeliz criança. É mais que visível que nada sabemos sobre ela: não sabemos o sexo, a idade, se é considerada órfã ou se foi adoptada, se é de Dumstrang, Hogwarts ou outra escola...

- Então...

- Então a única forma de sabermos é através da Essência Sanguínea – concluiu o jovem de olhos lilases.

Voldemort nada disse. Também já tinha pensado nessa dificuldade, e nas poucas maneiras que havia para a superar sem levantar suspeitas. A Essência Sanguínea era uma dessas hipóteses, mas seria notada, apesar de possivelmente não a associarem. E o que menos lhe agradava nesse método de identificação era a possibilidade de ser enganado, ou que se soubesse mais do que ele desejava. No sangue poderia vir toda a vida da pessoa, como uma autobiografia inconsciente.

- Não te vão enganar – declarou Raphael categoricamente, e o Lord das Trevas ficou cada vez mais convencido de que ele lhe lia a mente. – Eu próprio fá-lo-ei. Só preciso de...

- Sim, eu sei. Precisas do meu sangue – rosnou Voldemort contra-vontade, levantando a manga da túnica e fazendo um corte profundo no pulso com a própria unha. – Bebe, mas depressa. Não tenho prazer nenhum em te oferecer o meu sangue, bem o sabes.

O rapaz sorriu ao ver o sangue brotar do punho de Voldemort como se de uma fonte se tratasse. Apressou-se a ir de encontro àquele alimento que o deixava embriagado só de cheirar, e pegou no pulso cuidadosamente levando-o à boca, enquanto Voldemort continuava a olhar para a lareira, com os olhos frios de contrariedade, sendo difícil descortinar os pensamentos que o assolavam nesse momento.

- Chega – ordenou o Senhor das Trevas tentando desviar o pulso, começava a sentir-se fraco com a perda de sangue. – Chega!!!

Puxou o braço com força, sentindo os dentes anormalmente afiados de Raphael rasgando-lhe ainda mais a carne.

- Pensei que fosse mais amargo – comentou Raphael, lambendo os lábios deliciado.

- Maldito vampiro... – praguejou, apontando a varinha ao braço sobre o qual escorria fluidamente a substância vermelha que lhe sustenta a vida. Invocou um feitiço que cicatrizou a chaga e, quando voltou a olhar Raphael, este tinha desaparecido.

- Que criança! – observou Voldemort, voltando-se novamente para a lareira.
Estranhamente por cima desta iam aparecendo palavras escritas a... sangue?
- Raphael! Que brincadeira de mau gosto é esta? Desaparece daqui e vai fazer o teu trabalho – ordenou Voldemort enfurecido, enquanto as palavras se sucediam, sem que este se desse ao trabalho de as ler.

O enigmático jovem reapareceu a um metro de distância de Voldemort, por precaução, e sorriu-lhe.

- Lê bem estas palavras, pois elas são a tua sentença – declarou no seu tom de brincadeira, não deixando fugir o seu belo sorriso quando Voldemort lhe apontou a varinha ao peito. Tinha perdido toda a paciência que reservara ao longo de anos.

- Avada Kedavra! – proferiu.

Um raio de luz verde explodiu da ponta de sua varinha, um objecto inundado da magia mais negra que o mundo mágico já conheceu, e embateu no peito de Raphael, que o olhou espantado, até este se dissipar.

- O Senhor das Trevas deveria aprender a controlar os seus nervos. Agir quando a raiva e a cólera nos subjugam é perigoso, porque o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro – observou Raphael sacudindo a camisa negra impecavelmente limpa, que vestia nesse momento. – E como vês, a minha imortalidade vai bem para lá da tua, por isso não voltes a fazer isso, não me queiras ver a perder a paciência, que ninguém o queira ver! Agora convido-te a ler o que escrevi – disse, como uma semi-vénia.

Voldemort retomou ao seu estado de frieza, mas nos seus ouvidos ainda pesava a ameaça que Raphael Flanders tão ousadamente lhe fizera.

As palavras por cima da lareira reflectiam um poema enigmático, herança do seu criador.

“Sou servo do doce sangue que embalo,
Sou órgão que toca, maldito.
Ressoo para ouvires o meu canto,
Para ouvires os acordes da dor
Daquele bem que desdito
Se dá pelo nome de Amor.

Longe de tudo, perto de ti,
Segredo o pensamento abençoado.
Hei-me então aqui,
Espero avidamente pelo fim
Do dolorido amor predestinado.

E bato, bato, torno a bater;
Insisto por insistir.
Bato insistentemente por viver
No peito que não me quer ouvir.

Lord Raphael Alexander Flanders”


Sentiu a aura do jovem desaparecer da mesma forma que tinha surgido, num vagar repentino de uma corrente de ar. Quando voltou a olhar para trás ele tinha-se extinguido no antigo e profético ar que preenchia a mansão Riddle.

*


Harry, Hermione e a família Weasley, se dirigiram para a plataforma 9 e 3\4 apressadamente. Como acontecia normalmente, iam em cima da hora do comboio partir.

Num gesto automático, atravessaram a barreira que separava a paragem do expresso de Hogwarts das dos indiferentes muggles. Ao chegarem, viram, para sua surpresa, que o comboio de locomotiva vermelha tinha aumentado um pouco, e que a plataforma estava cheia de pessoas que Harry nunca tinha visto na vida.

- O que é isto? — Inquiriu Ron franzindo as sobrancelhas. — Por que que estão aqui tantas pessoas? Isto está cheio!

- Vocês saberão quando chegarem à escola, ou, talvez, quando entrarem no comboio, que será o mais provável. — Respondeu Mr. Weasley sorrindo enigmaticamente.

- Se estas pessoas forem todas para Hogwarts, vamos ganhar bom dinheiro. — Murmurou Fred a George.

- Podes crer maninho. — Riu-se George.

- O que estão vocês aí a magicar? — Perguntou Mrs. Weasley desconfiada, com Fred e George tudo era possível.

- Só estávamos a comentar que com toda esta gente era melhor entrar-mos logo para arranjarmos lugar. — Disse Fred.

Fred e George, pelo o que Harry sabia, continuavam a sua eterna ideia das Magias Mirabolantes dos Weasley, e estavam mais que preparados para abrir uma loja de brincadeiras mágicas, mal acabassem este último ano. Não se sabia era se isso seria bom ou mau.

- Sim, têm razão meninos. Já têm tudo? Não se esqueceram de nada?

- Não, mãe – respondeu Gina laconicamente de tão habituada que estava à pergunta.

- Espero que sim. Estou cansada de todos os anos vos ter que mandar qualquer coisa de que se tenham esquecido. – lembrou Mrs. Weasley reprovadoramente. – Então adeus a todos e portem-se bem. — Despediu-se Mrs. Weasley, e deu um beijo a cada um. — Mas mesmo bem, senão arrependem-se! E vocês os dois não façam asneiras!

- Claro, mãe, esteja descansada. — Respondeu Fred.

- O seu pedido é uma ordem. — Gracejou George com uma semi-vénia.

Enquanto Mrs. Weasley fazia questão de dar dois beijos de despedida em cada filho e admoestá-los, Harry observava os desconhecidos que os rodeavam. Muitos deles olhavam os alunos de Hogwarts de soslaio, como se só estivessem ali por especial favor. No entanto outros admiravam o expresso com curiosidade, assim como as pessoas que os rodeavam e que lhes eram desconhecidas, tal como Harry fazia nesse momento.

Depois de também ele receber dois beijos na cara e um “cuida-te e não te metas em sarilhos”, dirigiram-se para o comboio rapidamente, antes que partisse.

Acenaram incessantemente para não receberem nenhuma reprimenda quando se voltassem a ver e partiram em busca de lugares livres, e, se possível, um compartimento, mas parecia que estavam todos cheios. Foram ter ao último compartimento que era o que estava mais vazio, pelo motivo de ser o maior. Estavam lá quatro pessoas desconhecidas, dois rapazes e duas raparigas, que pareciam ter a mesma idade deles.

- Vocês deviam ver, aquela porcaria rebentou na cara do Leopold e ainda salpicou a Clarice toda! Ficaram lindos. — Comentava um rapaz loiro, rindo-se às gargalhadas.

- Eu estava lá mas, como é óbvio, não vi nada. — Disse um moreno que usava uns óculos escuros que lhe ocultavam os olhos.

- Pois, eu também não vi. Devia ter sido um espectáculo. — Murmurou uma rapariga de cabelo preto e uma pele muito clara.

- Si io tivesse lá ainda mi podia tier sujo! — Argumentou uma rapariga loira de sotaque espanhol.

- Lena, por amor de Deus não me venhas com essa conversa! — Pediu o rapaz loiro.

- Entrou alguém. — Murmurou o rapaz de óculos escuros.

Olharam os três para a entrada e repararam em Ron, Harry e Hermione. A conversa estava tão interessante que lhes passou ao lado o facto de o compartimento poder ser ocupado por mais alguém.

- Podemos ficar aqui? — Perguntou Harry.

- Sim claro! — Disse a rapariga loira sorrindo-lhes alegremente. — En tottos los casos lo comboio pertence-vos.

Os três se acomodaram, sem dizer uma única palavra, por estarem em presença de estranhos, mas a rapariga loira dirigiu-se-lhes mal o fizeram.

- Lo mio nome é Helena Vivan. — Apresentou-se. — E los mios amigos son lo Karl Van Morth, lo Petro de lo Rio e la Karina Riddle.

*


Se Raphael não conseguisse encontrar a criança, o único que o poderia ajudar seria Salazar Slytherin...

Voldemort olhou pelo vidro iluminado da janela. As árvores e as casas passavam como o tempo que tudo levava um dia ao som do fim. Nessa altura ele aí estaria, e sorriria para aqueles que nada tinham e que a morte levaria sem piedade… a morte ou ele! A diferença não seria muita, já que ambos tinham mais parecenças que gémeos verdadeiros. Enquanto isso apreciaria o que um dia viria a ter. A idéia parece não ter lógica, mas depois de o ter, que interesse tinha o mundo?

Lamento por não o ter,
Lamento por desconfiar.
Nada mais pode haver
Que me possas dar.

O que és não interessa,
Não o quero saber!
Mas minha alma inquieta
O teu espírito quer ver.

Nada que dizes é vão.
Vejo o mundo no olhar,
Vejo no teu coração
O inocente sonhar.

Pois és tudo o que há,
O sensível sorrir,
És a vida que dá
Ao coração que sentir.

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Autora: Bem, espero que tenham gostado e que continuem a ler! Vão-me vão fazer muiiitooo feliz!!! e já agora, deixem um comentario... nem que seja pequenino...
bjx***

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