Recordações II



Baila belo sorriso, dança insano,
Nesses olhos de mel,
São olhos de inocente esperança,
Olhos doces de criança!

Baloiça boneca de trapos,
Infância de criança pequena,
Nos seus castelos de areia…
Derradeiro canto de sereia.

E corre e rebola… É ardente!
Inconsciente no seu viver.
Inconsciente das lágrimas derramadas,
Essas comovidas almas abraçadas…

Abraçadas no brincar,
No rir, no olhar…
Abraçadas às fadas,
Em doces mãos embaladas.

“Como era bela aquela criança que abanava as mãos e os bracinhos frágeis na sua direcção, com uma face rechonchuda e rosada, e uns olhos azuis de um brilho de safira, deitada num berço de uma doce simplicidade pálida, sobre uma coberta que condizia com os olhos do bebé. Sorria-lhe… e como era tocante aquele abrir de boca suave e etéreo quando bocejava! Sentia os olhos a encherem-se-lhe de lágrimas! Há quanto tempo não sentia aquilo?

Ergueu-a do berço cuidadosamente e aconchegou-a entre os seus braços carinhosamente, algo que pensara já ter desaprendido, se alguma vez o soubera. O bebé, ainda sorridente, passou-lhe as mãozinhas delicadas pela túnica negra e depois pela face pálida. Como eram macias e meigas aquelas mãos sensíveis!

Tocou-lhe ao de leve com os lábios no cimo da cabecinha repleta de fios de cabelos negros tal como os seus foram um dia.”

Passos leves fizeram as tábuas do soalho gemerem dolorosamente de velhice, queixando-se por uma restauração, e o Lord das Trevas saiu do seu transe momentâneo, olhando em volta vagamente e regressando ao livro que tinha começado a ler antes de começar a vaguear pelas suas memórias.

Era Raphael Flanders.

- Ouvi dizer que já tinhas regressado da tua... jornada. Tens aqui o que querias – declarou, com os seus olhos lilases a brilhar sob fraca luz da sala, o que lhe dava um aspecto sobrenatural de predador.

Voldemort ergueu o olhar do livro de capa negra que tinha entre as mãos e que fingira ler, ao ouvi-lo entrar. Fechou-o entre as suas mãos pálidas de dedos incompreensivelmente compridos e finos, onde se podia ler “Vivo na Morte” a letras douradas mas já gastas, e fitou o jovem que tinha acabado de entrar.

- Bem, para ser sincero não é bem o que tu querias, mas o que eu e os meus homens conseguimos obter – corrigiu sob o olhar perscrutador de Voldemort, enquanto lhe estendia um pergaminho com um aspecto velho.

Voldemort pegou no pergaminho calmamente e observou-o com uma atenção que pareceu exagerada ao jovem.

- Foi muito difícil encontrar isso, parece que o apagaram do mapa e das mentes das pessoas. É incrível! – observou Raphael, aproximando-se da janela e olhando para a rua escura e deserta.

- Dumstrang ou Hogwarts, dizes? – murmurou Voldemort pensativamente.

- São possibilidades, as mais prováveis – respondeu, encolhendo os ombros. – Isso se tivermos em conta a possibilidade de nem vivo estar… mas por Merlin! Como é que eles fizeram isto? Apagaram imensas mentes!

- Não… não foram assim tantas… poucos o conheciam – disse, continuando a olhar atentamente o pergaminho. – O que me intriga foi uma das pessoas ser eu.

- E eu!

- Mas está decidido. Levaremos isto até ao fim. E este assunto fica só entre nós os dois.

- Não tenho intenção nem vontade de o divulgar, como bem sabes. É um assunto demasiadamente pessoal – declarou, observando Voldemort pelos cantos dos olhos. – Se não me engano pensas da mesma forma.

- Não valeria a pena dizê-lo. Mas mudemos de assunto. Possivelmente, não tarda o Wormtail estar a ouvir à porta.

- Por que que ainda não te livraste dele?

- Porque, apesar de tudo, ainda sei ser grato e foi graças àquele vermezinho que eu estou aqui, hoje. Se não passar dos limites sobreviverá; caso contrário, não terei piedade. E levando em consideração que ele está em divida para com o meu principal inimigo, o que não me convém muito, principalmente pelo facto de o Dumbledore o saber, digamos que ele corre sérios riscos de vida – observou o Senhor das Trevas com um sorriso ao canto da boca.

- Mas então, vamos com o plano para a frente?

- Claro que vamos.

- E já pensaste no que vais fazer quando o encontrares?

Voldemort passou a mão pela face e as pálpebras cerraram os seus enigmáticos olhos vermelhos.

- Não, não sei. Tenho só um esboço, mas nenhum plano pré-definido. A ideia é acabar com o Potter primeiro, a lâmina da minha vontade fica cada vez mais afiada e espera pelo seu sangue. Depois logo se vê… provavelmente matá-la-ei, essa criança é o meu ponto fraco.

Os olhos lilases de Raphael obscureceram-se como se as Trevas os cobrissem. Não gostava do rumo que aquela missão estava a tomar. Nunca fora, nem nunca seria sua intenção matar a criança, sendo ela o que é a ele.

- Estou a ficar sem paciência para estas buscas infrutíferas, Raphael.

O jovem soltou um suspiro, que Voldemort ignorou.

- Sem paciência… - disse, pegando na varinha e apontando para a porta. - … para incompetentes! Crucius!

Do outro lado da porta ouviu-se um grito de dor, provindo de um corpo a ser torturado, o corpo de Wormtail. A tortura decorreu durante alguns segundos, enquanto o Senhor das Trevas continuava a ler o pergaminho.

- Mas que tolice sem nexo é esta? – inquiriu subitamente Voldemort com uma gargalhada irónica e rompendo com a maldição que angustiava Wormtail até as entranhas.

- O quê? – perguntou o jovem confuso.

- O Harry Potter presente na lista? Raphael, isto é de muito mau gosto…

Raphael revirou os olhos e voltou a suspirar.

- Tens que ver mais além do que se te apresenta à vista. O menos improvável pode acontecer, e nada é impossível. – Voldemort mirou-o com um olhar sarcástico. – Pelo que vejo continuas a ser o tolo Tom Marvolo Riddle – observou o jovem com um sorriso. – E sempre o serás enquanto usares o nome de Lord Voldemort! Pois isso que te chamam, foi formado a partir do teu antigo nome, todas as letras lhe pertenciam. A sua essência continua lá, dissimulada.

Isto foi como um balde de água fria para o Senhor das Trevas.

- Estás a desafiar-me?! – sibilou Voldemort levantando-se do seu cadeirão. Os seus olhos vermelhos como brasas quentes deixavam escapar ondas de cólera.

- Por Drácula, não! Mas o meu raciocínio tem lógica…

- Não tem cabimento algum! Eu desmantelei o meu nome para sempre! É como… como… como o Ministério da Magia destruído e com os destroços construir-se uma sede para os meus seguidores…

- Seguidores esses que te podem trair. Nada é finito, ó Senhor das Trevas! Nada se pode prever, porque tudo está em constante permuta. Até aqueles em quem confiamos mais às vezes nos apunhalam.

- Referes-te a alguém em particular?

- Penso que não…

- Então qual é o porquê desta conversa? – perguntou Voldemort voltando à sua típica fria calma.

- Estava a fazer uma analogia, para perceberes a lógica da minha teoria – esclareceu Raphael com um sorriso que qualquer jovem consideraria atraentemente encantador, mas Voldemort desviou o olhar com um esgar de fúria e fixou um espelho à sua frente.

Olhou cada pormenor da sua face pálida, dando especial atenção aos seus tão característicos olhos escarlates com negras pupilas de gato. Lembrou-se do seu aspecto aos dezassete anos: jovem e belo, ao contrário do que era agora, assustador mas impressionante. Sorriu. Gostava do seu aspecto digno de um Lord das Forças Negras, e ele era o melhor dos melhores, entre os vivos e os mortos.

- Incrível essa tua vaidade. Sempre a tiveste, mas será que sempre a irás ter? Que dilema… - riu-se o rapaz de olhos lilases como se lhe tivesse lido a mente.

Voldemort começava-se a irritar seriamente com aquele ser. Demasiado presunçoso!

- Para tua informação, nunca poderia ser o Harry Potter, por razões do meu conhecimento e depois… – murmurou como reflectindo no que ia dizer, mas arrependeu-se. – Quero ficar sozinho, preciso de pensar – declarou friamente.

- Pensas demais! Devias…

- Cala-te! Desaparece! – rosnou Voldemort com a paciência a esgotar-se como o tempo de um condenado à morte.

- Como quiser, majestade – os olhos brilharam intensamente enquanto encenava uma vénia e desapareceu como uma brisa fresca.

Voldemort voltou a olhar para o espelho e viu… viu a imagem da pequena criança, a sua face rosada e os seus olhos azuis reflectidos. O seu sorriso nunca se apagaria do seu espírito. No seu pescoço repousava um medalhão dourado… o medalhão! Era a única forma de identificá-la! Se ainda estivesse viva, se estivesse daquele lado do mundo, se estivesse ali perto… tantos ses!
Tocou no espelho levemente com os seus dedos compridos, onde se reflectia a antiga imagem e esta desapareceu do espelho como que assustada com o toque frio da sua gélida mão.

O Senhor das Trevas sentiu-se envelhecido e dirigiu-se para a sua poltrona negra acabando por mergulhar nos seus pensamentos, nas suas memórias recortadas e espalhadas pelo vento nos ermos recônditos da vida.

“A criança continuava nos seus braços, embalada com o tom dos seus olhos. Como não se assustava se até Voldemort os achava repletos do sangue das suas vítimas?

Voltou a colocá-la no berço ao lado de uma roca e de um urso de peluche e cobriu-a com a colcha aconchegante. O seu olhar dirigiu-se para a roca que repousava ao lado do bebé. Tinha ao centro uma esfera negra que emitia luminosidades douradas que a envolviam. Muitos dos que viram esse brinquedo diziam que era um pouco do universo que se vislumbrava, chamavam-lhe a “janela do universo”, mas Voldemort sabia que não era nenhuma janela, mas um pouco do próprio infinito Universo. Um presságio, uma protecção, uma bênção, uma maldição… quem saberia?

E o bebé continuava a sorrir, enquanto dormia. Talvez a sonhar com ele… com um assassino? Impossível…”

Que delírio (que encanto!)
É o riso acriançado.
Brinca para sempre, enfim,
Brinca em sonhos de jasmim,

No seu paraíso de magia
Colorido de cores inexistentes,
Alegre de felicidade. É um prado
Esse belo jardim encantado.

Também tu, também eu,
Nos deixamos levar nesse olhar,
Divino laço que se entrança,
No riso da pequena criança.

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Autora: bem, espero que tenham gostado... eu gostei, é o meu capitulo favorito!
Bigada pelos coments que fizeram, e comentem, vaum fazer uma escritora feliz =D
bjx**

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